Susan Costello
Já faz um tempo desde que atendi a mesa daquele homem e tenho ficado o máximo possível do meu tempo ocupada para não ter tempo de pensar naquela loucura. Atendi algumas mesas, reabasteci o balcão, servi algumas meninas que fizeram a pausa e claro, fiquei nos fundos para descansar uns minutos.
Uma pausa é sempre necessária.
Fiquei bem no fundo da cozinha, vendo os homens prepararem os petiscos e entradas, e enquanto descansava, Hillary ficou no meu lugar. Fui ao banheiro, passei uma água no pescoço, retoquei a maquiagem e dei um jeito no cabelo. Diferentes das meninas que usam saias curtas, shorts até peças intimas* por aqui, eu sempre uso uma calça de couro preta e cumprida, uma blusa de alcinha em estilo cropped na cor branca e deixo os cabelos soltos caindo nos ombros.
Não falei muito de mim, mas, tenho quase 1,70 de altura, cabelos levemente cacheados, pele levemente morena, olhos castanhos claros, lábios um pouco carnudos e um sinal perto do lábio superior. Eu sou muito parecida com a minha mãe e a diferença, é que ela sempre foi um mulherão de chamar atenção. Ela é bem mais alta que eu, com curvas de chamarem atenção e bom, é o que me lembro dela. Faz anos que não a vejo. Nem ela e nem o meu pai.
Dele, eu puxei os olhos e a boca.
Ainda aqui em frente ao espelho, vejo nitidamente o rosto da minha mãe, mas balanço a cabeça para afastar qualquer lembrança. Vejo as horas no meu relógio de pulso digital e decido voltar para não dar problemas e já volto para o balcão. Disfarçadamente, olho ao redor e pela visão periférica, o homem da área vip está de pé tendo a visão completa daqui de baixo e já me sinto ser observada.
Eu odeio* essa sensação, mas não olho para ele!
— Ah, que bom que voltou! Você é cobiçada aqui, Susan! — Ágata fala liberando um suspiro forte e se escora no balcão. — Não sei como você suporta essa pressão.
— O que houve? — Pergunto sem entender nada.
— Esses clientes! Eles só querem saber da atendente de calça de couro gostosa..., sabia que é assim que eles te chamam? — Faço uma cara de nojo* e descontentamento. — Estou falando sério! Se você sair por um minuto já começam as perguntas do tipo: cadê a atendente de calça? Cadê a gostosa de couro? Eu prefiro ser atendido pela morena gostosa de couro. — Ágata conta revirando os olhos e seguro um riso da sua cara. — Desculpa, não é nada contra você, eu juro, é só que eles fazem questão de revirar os olhos ao dizer que você está ocupada. — Ela tenta se explicar fazendo uma expressão de desculpas.
— Por mim vocês atendiam todos eles e eu ficaria bem plena só aqui no balcão. — Digo de forma sincera e aposto que os assédios* parariam em pelo menos pela metade.
— É a sua cara! Nós já percebemos que não gosta de tudo isso, mas..., se desse uma chance, a sua beleza lhe deixaria rica. — Não aceito essas palavras dela e ela sabe bem disso. Todas sabem. — Mas, respeito a sua decisão..., posso sair?
— Claro, vai lá! — Ágata não pensa duas vezes e faz caminho de volta as mesas perto do palco.
O salão é dividido em algumas partes e as mesas da frente, são atendidas pelas garotas que dançam e fazem companhia aos clientes que pagam mais. Ágata e Hillary já fizeram o seu espaço ali e literalmente, são locais delas e são as que mais recebem. Muitos homens, vem aqui somente por elas. As danças delas e de outras garotas são a atração principal, os homens vão à loucura com elas e gastam muito dinheiro em uma única noite.
Começo a limpar o balcão e alguns homens se aproximam pedindo doses de tequila e vodca. Sirvo naturalmente e não paro de olhar as horas nesse relógio. O tempo hoje parece não passar de forma alguma e isso acaba me estressando um pouco. Sou acostumada com o movimento grande? Sim, já trabalhei em centenas de noites movimentadas, mas ultimamente até hoje, as coisas estão mais puxadas e tenho trabalhado o dobro.
É a sorte de ser filha adotiva do dono.
{...}
A madrugada chegou e por sorte, boa parte dos clientes já foram embora.
Já limpei boa parte das minhas mesas que estão vazias e estou agradecendo internamente porque logo vou tomar um banho e me jogar na cama. Há poucas meninas dançando no palco, a metade do salão para os fundos está vazio, mas, a área vip ainda está ocupada por aquele homem.
Fiz de tudo para não pensar nele nessas últimas horas, mas a todo instante ele me observava e os seus olhos seguiam cada passo meu. Mas felizmente, ele vai embora e vou me livrar dele. Coloco as cadeiras em cima da mesa depois de limpar, recolho os utensílios para levar para à cozinha e estou implorando para que os outros comecem a ir embora.
— Se quiser, eu assumo aqui! Pode só levar aquelas sacolas para fora? — Luiz pede e aceno com a cabeça.
Na mesma hora, os homens de cima começam a descer e outra vez, aquele fica bem no meio deles com um charuto na boca. Eles caminham para a saída, mas antes de passar pela porta, ele olha para mim e só vira para passar pela porta. Um deles se aproxima e simplesmente deixa um bolo enorme de notas no balcão e sai, sem esperar troco e nem diz uma só palavra.
Então eles vão embora!
— O que foi isso? — Pergunto completamente confusa e Luiz começa a contar as notas.
— Não sei..., mas..., caramba..., eles pagaram mais que o triplo do serviço. — Luiz diz abismado e sem acreditar, ele volta a contar mais vezes.
Essa noite foi a noite da loucura e a minha cabeça está latejando.
Dou meia volta para a cozinha e como Luiz pediu, pego os sacos de lixo que só tem embalagens e arrasto pelo chão. São bem leves e separamos dos restos de comida para facilitar na reciclagem, então, chego nos fundos para colocar no lugar e três carros passam na rua, porém, um deles para.
Levanto o primeiro saco para colocar na lixeira, depois o outro e novamente, aquela sensação de ser observada continua. Fico imóvel por alguns segundos e olho ao redor a procura de algo, mas o carro não está na ali e não vejo ninguém. Tudo está deserto e silencioso, e balanço a cabeça colocando o outro saco de lixo.
Agora falta pouco para eu me jogar na cama e esquecer essa noite maluca!