Ravena
Arrumei minhas coisas chorando muito, me despedi de Thom e Luiza aos prantos. Não conseguia parar de chorar um minuto sequer.
Arian informou que o casamento aconteceria no sábado.
Fui a viagem toda chorando, por mais que eu tentasse ser forte, não conseguia, a tristeza e o desespero estavam me consumindo.
Arian não se importou nem um pouco com o meu choro, do jeito que estava ficou, sequer perguntou se eu precisava de alguma coisa.
Cheguei na Albânia e fiquei instalada em um apartamento, Agon que me mostrou tudo, pois assim que pousamos meu marido simplesmente sumiu.
Fiquei sabendo que estaria nesse apartamento porque ainda não podia ficar na casa de Arian, para não dar motivos para as pessoas falarem.
Pois bem… Hoje eu me casei. Sim, isso mesmo, me casei.
Não foi uma cerimônia romântica, apesar de que a decoração estava surpreendemente linda, mas o casamento foi tão triste. Chorei do momento que Thom me levou ao altar até o final da cerimônia.
O pânico estava estampado em minha face. Antonella e Martina se solidarizaram com meu estado, mas infelizmente nem elas e nem ninguém pode fazer qualquer coisa por mim.
Arian, agora meu marido, não falou nada além dos votos tradicionais do casamento. Nosso beijo foi um selinho tão rápido que nem tenho certeza se ele encostou realmente os lábios nos meus.
Não foi assim que sonhei com o meu casamento. Mesmo sabendo que as coisas aconteceriam exatamente assim, sonhei com um casamento feliz e muito romântico. Sonhei que as lágrimas que derramei hoje seriam de alegria e não de medo.
Queria tanto viver uma vida normal…
Agora eu sei que estarei ligada a Arian até os últimos dias da minha vida. Na máfia não existe divórcio. Pergunto-me se aguentarei tanto tempo ou se morrerei de tanta tristeza.
Não cortamos o bolo junto, não brindamos ao nosso casamento, não dançamos e muito menos tiramos fotos. Enfim, não é um casamento no qual eu queira me lembrar.
Apesar de tudo, devo confessar que a beleza do meu marido não me passou despercebida. Arian estava muito sedutor com seu terno azul marinho, cabelos perfeitamente alinhados e aquele cheiro… Ah que cheiro! Ele é um homem muito cheiroso.
A aliança também é muito bonita, toda delicada, a minha com algumas pedrinhas, me agradou bastante.
Não tenho dúvidas que as pessoas perceberam que nosso casamento não era uma ocasião feliz. Eu mesma não consegui disfarçar e Arian então… Aiai. Ele mesmo não faz questão de nada!
Fiquei até surpresa que ele fez os votos corretamente, foi a vez que mais o ouvi falar.
É frustrante demais.
Desejei que a cerimônia durasse para sempre, pois sei que a partir do momento que tudo isso acabasse, eu diria tchau definitivamente a minha vida antiga, e não estou falando apenas por causa de um sobrenome a mais no meu nome e de uma aliança no dedo, estou falando porque deixarei minha família, meus amigos e minha profissão para trás.
Minha identidade foi apagada, agora não sou ninguém além da esposa de um mafioso, a esposa de Arian.
Pergunto-me porque esse homem me escolheu? Por que fez isso comigo?
Um dia, escreve aí, um dia terei coragem de perguntar o motivo e ele me dará uma resposta.
Saímos da cerimônia sem falar uma palavra e agora estamos chegando onde eu acredito ser a casa de Arian.
Foi tão, mas tão doloroso me despedir do Thom, da Luiza, Martina e Antonella. Pensei que fosse desidratar de tanto chorar.
Meu vestido foi simples, branco tradicional, justo, de alcinha simples, não quis cauda nem nada, foi bem simples mesmo, com um véu pequeno e deixei os cabelos soltos mesmo. A Luiza que me maquiou, optei por uma maquiagem bem clarinha. Sabia que ia chorar muito e ia ficar toda borrada.
O carro passa por um portão enorme, anda mais um pouco até chegar em frente a uma mansão, mas uma mansão enorme mesmo e finalmente estaciona.
Arian sai do carro e Agon abre a porta para mim.
— Obrigada. — forço um sorriso.
Estou tão triste que nem consigo disfarçar.
— Vai ficar tudo bem. — Agon sorri carinhosamente.
Apenas aceno e vou andando atrás de Arian.
A porta da casa dá umas três de Arian e olha que ele é gigante. A casa é realmente enorme!
Quando entro na sala me surpreendo por encontrar uma decoração tão moderna, pensei que fosse encontrar tudo em tons bastante escuros, mas não, é tudo muito bonito, cores vivas, bem moderno mesmo.
— Nossa, sua casa é linda! — elogio.
Arian se vira e pela primeira vez hoje vejo que ele realmente está prestando atenção em mim. Agora sim ele está me olhando, verdadeiramente. Antes seus olhos não estavam tão fixos em mim como agora.
Apesar de estar com medo, sentir meu coração batendo acelerado e meu corpo todo tremer com o que está por vim, decido me distrair um pouco e falar sobre a casa dele.
— Vou te mostrar seu quarto.
Arian vira-se de costas para mim novamente e começa a subir as escadas.
Ele tem as costas bem largas, certamente deve passar horas e horas na academia.
Percebo que estou ficando para trás e praticamente saio correndo para tentar alcançar suas pernas grandes.
Como o vestido não é muito apertado e não tem cauda, não fica difícil andar ou até mesmo praticamente correr com ele. O salto que escolhi também não é enorme.
É uma escada em L, acho que é mármore na cor branco Thassos, com um corrimão lindíssimo e luzes na escada.
A casa de Arian é realmente um luxo.
No andar de cima é possível ver várias portas. Ele abre uma delas e se eu pensava que a frente da sua mansão, a sala e a escada eram belissímos, estou surpresa com a beleza desse quarto.
— Uau! — exclamo. O quarto é enorme, com uma porta de vidro enorme que dá para ver uma varanda bem bonita. — Que casa linda! Que quarto lindo!
— Suas coisas já estão arrumadas.
Já sabia disso, horas antes do casamento Agon passou e buscou todas as minhas coisas.
Ando até o closet e fico confusa ao ver só as minhas roupas ali.
— Onde ficam suas coisas? — pergunto ao voltar para o quarto.
— No meu quarto.
— Esse não é o seu quarto?
— Não.
— Vamos dormir separados? — questiono e ele arqueia uma sobrancelha. — Olha, sei que nosso casamento não foi dos melhores e que a gente é bem diferente, mas sei lá, podemos tentar…
Não quero viver um inferno.
— Tentar o que?
— Ah, sei lá, Arian. — sinto minhas bochechas corarem — A gente poderia passar um tempo juntos, se conhecer, conversar mais. Por exemplo, quase não sei nada sobre você, seria legal se eu pudesse te conhecer mais.
— Não tenho tempo.
Arian não tem qualquer expressão no rosto, fica muito difícil entender o que ele sente.
— Entendo que tenha o seu trabalho e tudo bem, podemos fazer isso na sua folga. — proponho.
— Não tenho folga.
Quase reviro os olhos, veja bem, eu disse quase, me segurei bastante para não fazer isso.
— Tudo bem, Arian. Então como faremos isso?
— Não faremos.
— Não faremos? Mas acabamos de nos casar, você quis casar! — elevo meu tom de voz nessa parte.
— Quer que eu te mostre onde fica a cozinha?
Uh o quê?!
Como consegue mudar de assunto com tanta facilidade e nem se importar com o que estamos conversando? Estamos falando sobre nossas vidas, poxa!
— Não quero que me mostre onde fica a cozinha, Arian. Quero conversar com você e entender como as coisas vão ficar entre a gente.
Esperava qualquer coisa, menos que ele virasse as costas para mim e começasse a sair do quarto.
— Arian? — chamo e ele não responde, mas para na porta do quarto. — Por que você não conversa comigo? Não me explica as coisas?
— Que coisas? — vira-se e me encara novamente.
— O que eu tenho que fazer? Tomar banho e te esperar?
Não quero parecer ridícula, mas não sei nada. Luiza me disse que após o casamento eu deveria estar preparada para a nossa primeira noite, mas Arian nem me tocou, não falou nada. Como vou saber que horas isso vai acontecer?
— Faz o que quiser.
Respiro fundo.
— Por favor, facilita minha vida — sinto meus olhos se encherem de lágrimas. — Não sou experiente e nem tão vivida como você, não sei perceber as coisas nas entrelinhas, preciso que você me fale com clareza.
— O que quer que eu fale?
Arian parece estar sem paciência.
— Nós nos casamos, o que vem agora?
— Quer saber se vou fode-la? — arregalo os olhos com o seu tom e sua pergunta rude. — Não.
Sua resposta me deixa atônita.
— É… Eu… Não… Quero dizer… — pigarreio. Estou gaguejando feito uma tola. — Só queria saber como vão ser as coisas. — abaixo a cabeça.
— Descanse. — ele abre a porta.
— Arian? — o chamo novamente. — Você não quer nada comigo, não é?
— Não. — responde sem pensar duas vezes.
Sei que deveria estar agradecendo, mas é muito r**m ouvir isso de um homem que acabou de se tornar seu marido.
— Por que quis se casar comigo então?
Ele dá de ombros e fica em silêncio.
— Vai me trair? — Arian semicerra os olhos. — Sei que acontece muito isso nesse meio e como você não quer nada comigo…
Ele me interrompe.
— Não.
— Não vai me trair? — questiono para ter certeza da sua resposta.
— Não vou.
— Mas você acabou de falar que não me quer. Como vai fazer? Ficar sozinho?
— Exatamente.
— Dúvido. — ironizo e reviro os olhos.
— Duvida de quê?
Questiona, com suas duas sobrancelhas grossas arqueadas.
— De que você vai conseguir manter sua fidelidade sem querer nada comigo. — cruzo os braços.
— Sou eu que controlo meus instintos e não eles que me controlam.
— Por que não vai me trair? — continuo perguntando.
Não quero que ele saia do quarto sem me dar respostas.
— Por que a trairia? — devolve a pergunta.
Como isso me irrita.
— Arian… — bato o pé no chão igual uma criança birrenta.
— Estamos casados, fidelidade é o mínimo que posso te dar, e acredito que seja tudo que consigo dar.
É a única coisa que ele responde e sai do quarto, fechando a porta e me deixando totalmente confusa com tudo, absolutamente tudo!