Arian Radici
O casamento finalmente aconteceu, não terei mais aqueles velhos chatos do conselho no meu pé, insistindo para que eu me case. Segundo eles, um homem para comandar uma máfia precisa ter uma família, uma esposa e filhos. Que bizarro!
O que será isso vai acrescentar na minha vida? E na maneira que comando o meu império? Chega ser absurdo!
Detesto todos aqueles velhos chatos. Não fazem nada, absolutamente nada, exceto exigir e assegurar que as tradições sejam seguidas de geração a geração.
O casamento foi insuportável, terrivelmente insuportável. Uma tortura seria mais fácil de aguentar. Os velhos chatos do conselho toda hora querendo conversar e me bajular.
E as fotos? Terrível!
Ainda bem que casamento só acontece uma vez na vida (assim eu espero), ou então, não suportaria.
Estou no apartamento em que Ravena ficou localizada quando chegou aqui, até pensei em deixá-la por aqui, mas a mansão é mais segura e confortável.
Vou dar um tempo de resolver as coisas no escritório lá de casa e começar a resolver por aqui mesmo, no apartamento. Agon até trouxe algumas coisas do escritório para mim nesta manhã.
Depois da conversa que tivemos ontem, não encontrei Ravena pelos corredores da mansão, acredito que ela não tenha saído mais do quarto.
— Arian? — Agon entra no apartamento. — Matteo e Hugo chegarão daqui a pouco para a reunião. — assinto. — Você deveria estar em lua de mel e não resolvendo as coisas da máfia.
— Que bobeira. — pego um copo de água e bebo.
— Não é bobeira. Como vai fazer para enganar o conselho?
— Enganar? — arqueio uma sobrancelha.
— Eles são tradicionais, vão exigir uma prova da consumação do casamento.
Sinto vontade de gargalhar, mas apenas balanço a cabeça e abro um pequeno sorriso irônico de canto de lábios.
— Não vou fazer isso.
— Porque não consumou o casamento.
— Mesmo se tivesse consumado.
Agon é a pessoa que mais converso na vida. Nem mesmo com meu irmão eu tive tanta conversa.
— São tradições, Arian.
— Não vou expor minha i********e com a minha esposa. Se eles quiserem, que acreditem na minha palavra, ela é o suficiente.
Agon ri.
— Pelo menos tomou café da manhã com sua esposa antes de vir para cá hoje?
— Não a vi.
— Como assim não a viu? Tudo bem que sua mansão é enorme, mas vocês se casaram ontem.
Dou de ombros.
— Sabe pelo menos se a menina comeu, se está bem?
— Não.
— Arian, precisa se atentar a essas coisas, ela ainda não conhece nada por aqui.
— Quando sentir fome, ela vai encontrar a cozinha.
— Coitada dessa menina — Agon fala rindo. — Precisa ser mais simpático.
— Eu sou.
Afirmo mesmo sabendo que isso é mentira.
— Você amadureceu muito rápido, Arian. Precisa relaxar um pouco e começar a viver.
— Sem tempo.
Guardo o copo e vou para a sala. Agon me segue e se senta no sofá à minha frente.
— Vai ficar deixando ela em casa sozinha?
— Pensei que Merita podia ir lá às vezes.
— Claro, vou falar com ela, tenho certeza de que ela vai ficar feliz.
Merita é a esposa de Agon e uma mulher legal, acho que ela e Ravena se darão bem e ela poderá fazer companhia para que a menina não se sinta tão sozinha.
— Ótimo.
— Mas sabe que isso não é o suficiente, não sabe? Você é o marido dela, precisa fazer companhia a sua esposa.
— Você faz? — questiono.
— Claro Arian. Quando não estamos viajando ou em missão volto para casa para dormir com minha esposa. — Agon mora a duas casas da minha. — As poucas folgas que tenho, passo ao lado dela e se caso tiver um tempinho durante o dia é para lá que eu corro, porque quero ficar perto dela e sei que ela precisa de mim, assim como eu sinto a falta dela, ela também sente a minha.
— Vocês se gostam. — afirmo, justificando o motivo dele fazer tudo isso.
— Nós nos amamos, não é um simples gostar. Porém, o começo foi exatamente igual ao seu, casamos sem nos conhecer direito. Você precisa se dar uma oportunidade. Ravena parece uma moça tão bacana, e eu sei que você sabe disso, caso contrário não teria a escolhido. Ela só tem dezoito anos, você precisa estar lá para ensiná-la, apoiá-la e amá-la.
— Amar? — questiono.
De tudo que ele falou, esse foi o maior absurdo.
Agon ri, já sabendo o que acho disso.
— Você pode ser frio, pode até pensar que não tem um coração, mas você tem meu amigo, ele está aí, pulsando e bombeando sangue. Não se engane pensando que está imune ao amor.
— Quanta baboseira!
— Se tem tanta certeza de que não vai se apaixonar por ela, porque não se dá uma oportunidade de ao menos conhecê-la?
— Já sei tudo sobre ela.
— Você sabe sobre a vida dela, é diferente.
— Qual a diferença?
Agon bufa.
— Como você é difícil, credo.
— Estou tentando entender.
— Você sabe sobre o passado de Ravena, sobre tudo que ela viveu até hoje, mas você não a conhece Arian. Sabe qual a comida preferida dela? O doce que ela mais gosta? Qual a posição preferida dela para dormir? Os seus sonhos? Sabe sobre os sentimentos dela? Não! Você não sabe porque não conversa com a menina e não quer conviver ao lado dela.
— Por que eu ia querer saber dessas coisas?
— Porque ela é a sua esposa.
Apesar de achar tudo isso uma baboseira infinita, decido dar uma chance e ouvir o que Agon tem para sugerir.
— O que quer que eu faça?
Ele sorri abertamente com a minha pergunta.
— Permita-se conhecê-la.
— Só isso?
Apesar de usas essas palavras, só isso é muita coisa para mim.
— Sim.
Coço o queixo.
— Ela fala muito, igual você.
Agon solta uma gargalhada.
— As pessoas normais conversam, Arian.
— Ela fala pelos cotovelos. — reclamo.
— Mulher gosta de conversar.
— Não vou me deitar com ela. — pontuo.
— E porque não?
— Ela é delicada.
Agon arqueia as duas sobrancelhas e arregala os olhos.
— Não entendi, Arian.
— Pelo menos por enquanto.
Não sei explicar, mas não quero fazer isso com a garota, ela é delicada, toda meiga e sinto que estarei cometendo o meu maior pecado caso fizesse isso com ela.
É como se Ravena fosse um anjo e eu o próprio d***o, corrompendo-a.
Tenho certeza que o casamento já não foi dos seus sonhos e eu não sou o marido que ela desejou. Não posso levá-la para a cama, tirar a virgindade dela e depois sair sem falar uma palavra, sendo o homem rude e frio que sou. Isso seria demais.
— E vai traí-la?
— Não.
— Agora que não estou entendendo mesmo.
— Não posso dar nada para essa menina se não a minha fidelidade.
Agon sabe que eu tinha que escolher uma esposa, estava sendo pressionado e quando eu vi a Ravena, não sei explicar, mas dentro de mim, senti que ela era a mulher ideal para isso. Além de que a minha aliança com Hugo estaria mais firme que nunca, afinal, para Hugo, Thom é família, assim como Agon é para mim.
— E vai viver a vida toda no celibato? — o infeliz ri, se divertindo às minhas custas.
— Sou um homem e não um moleque de quinze anos, sei controlar meus instintos.
— Pois fique sabendo que eu estarei sentado na primeira cadeira, apenas assistindo de camarote toda essa história. — Agon continua rindo.
Não entendo o motivo de tanta graça, mas também não tenho paciência para questionar.
Apenas dou de ombros, encerrando essa conversa que já foi longa demais.
Depois da reunião, tentarei voltar para a mansão, caso Ravena fale alguma coisa comigo, tentarei responder da melhor maneira possível, sem ser tão rude, espero conseguir.