Dia seguinte

1388 Words
Sete horas estou em pé. Não perguntei o horário que iniciarei meu trabalho na cozinha, mas acredito que cedo, por isso me levantei a essa hora. —Bom dia, levantou-se cedo. —Norma diz com um sorriso tomando o café tranquilamente. Eu sorrio para ela. —Eu esqueci de perguntar a hora que começo na cozinha. —Murat costuma tomar café lá pelas nove horas. Então, oito horas você se levantando está bom. Ele não costuma comer muito no café da manhã. Você verá que com Murat é tranquilo, ele almoça bem, mas dificilmente aqui, ele faz suas refeições em restaurantes. Só no final de semana mesmo, e às vezes nem isso. Já seus pais que, aliás, chegarão hoje, são idosos, então não tem hora para acordar. Você então os servirá quando eles estiverem à mesa. —Está certo. —Agora tome seu café tranquilamente. Tranquilidade é algo que desconheço. Primeiro com a minha família monstro. Meu pai era um infeliz, um homem que vivia com um copo de bebida na mão. Sempre caído no sofá melancólico e por aí vai... Sou de uma família abastada financeiramente, quando meu pai morreu não recebemos nossa parte na herança, pois na verdade o que tínhamos de valor mesmo é o casarão West e que ficou em poder da minha mãe. Com a morte dele, ela trouxe seu amante para dentro de casa, eu tinha dez anos na época. Com uma aposentadoria gorda de meu pai ela tem vivido. Então eu o conheci meu padrasto de perto, bem de perto. Com uma mão na minha boca para eu não gritar, ele... Bem... não quero me lembrar disso e mesmo porque isso ocorreu apenas uma vez, no outro dia eu o esperava com uma faca quando me ele fez uma nova visita. Então eu o ameacei, disse claramente que ia contar para todo mundo caso ele tentasse algo comigo novamente. Que eu ia fazer um escândalo. Acuado, ele nunca mais me pegou desprevenida. A porta do meu quarto estava sempre trancada e eu sempre armada. Quando eu e meu irmão entramos na fase adulta resolvemos sair de casa. Finalmente. Chega de ter que dividir a casa com aquele escroto arrogante e minha mãe fútil que só queria me arrumar homem rico. Alugamos juntos uma casa, m*l sabia eu que meu irmão tinha saído por motivos nada nobres. Ele era uma pessoa complicada, um viciado em drogas pesadas, traficava também para manter seus vícios e pagar as contas. Descobri isso depois. Ele mentia para mim que trabalhava em uma indústria como gerente de vendas. Um dia chegou a notícia, eu estava no hotel nesse dia. Sem preparo nenhum para receber um baque tão grande, os policiais me disseram que ele foi encontrado morto em um beco sem saída. Então veio a revelação da própria polícia, meu irmão andava com traficantes. Claro que minha mãe me culpou por ter feito a cabeça dele para sair de casa. A d***a de tudo isso é que um dia, saindo do hotel que eu trabalhava, topei com ele na calçada e ele me apresentou a um desses caras que ele saia. m*l sabia eu que esse homem era o chefão da máfia que ele trabalhava. Depois que ele morreu, não demorou muito eles vieram atrás de mim e eles me ameaçaram. Arthur devia uma grana alta para eles. Eu cheguei a procurar minha mãe e pedir ajuda, mas a dama de gelo se negou a me ajudar: "Vocês não saíram da minha vida? Não quiseram viver a vida de vocês? Então agora se vire! Bem... então veio Murat, um balsamo para os meus dias. Mas depois que transamos dei me conta que eu que ia acabar como meu irmão. Eu já estava começando a colocar os pés pelas mãos. Ficar com Murat naquele dia me mostrou claramente isso. Assustada, inclusive com meu jeito, não fiquei para ver o que ia acontecer, vim para Londres com duas malas e o salário daquele mês e uns acréscimos, já que eu não tinha muito tempo no Hilton. Solto o ar. —Você está tão longe. Tão pensativa. Sorrio para Norma. —Eu estava pensando na vida. —Pensamentos tristes então? Eu aperto os lábios e aceno um sim. Ela acena para mim com compreensão e não diz nada. Acho que Rose contou a minha história para ela. Depois do café começo a ajudar Norma na cozinha com os quitutes que serão servidos logo mais à noite para a festa de boas-vindas pela volta dos pais de Murat de viagem. Conforme os minutos do relógio avançam eu vou ficando mais nervosa só de pensar em revê-lo. —Já pode colocar a mesa, Ester. —Claro. —Paro imediatamente de fazer os barquinhos com a massa. Ela receberá na última hora os recheios. Isso para que ela não perca a crocância. Lavo as minhas mãos na pia e as enxugo e começo as minhas viagens até a sala de jantar levando tudo para a mesa, na verdade quero colocar tudo antes que ele apareça. Ansiosa e tensa, sou rápida para ajeitar tudo que Norma separou para levar. O café fresco, os pães caseiros, a geleia, o suco de laranja, a manteiga e o patê de azeitonas pretas. A porcelana, os talheres eu já havia colocado antecipadamente. Tudo pronto saio da sala de jantar e aliviada e entro na cozinha, me sento e continuo a fazer a modelagem. —Você é muito habilidosa. —Norma diz quando vê a quantidade que fiz. —Ah, obrigada, mas acredito que você que é uma boa instrutora. —Não acho. Você é muito ágil também. —Por que eles não contratam buffet? —Pergunto modelando a massa. Norma ri. —Porque eu me especializei em comida turca que é uma das mais ricas do mundo. Depois desses barquinhos assados, faremos alguns recheios e você entenderá o porquê eles não contratam ninguém de fora. —Hum, agora entendi. Sino tocando na sala de jantar. Olho para Norma sem entender. —Murat está chamando. Ela passa os olhos pela cozinha e vê a leiteira no fogão. —Você não colocou o leite na jarra? Engulo em seco. —Não! Esqueci! —Leve já para ele! Deve ser por isso que ele está chamando. —Ela diz despejando o leite numa linda jarra de porcelana que combina com a xícara que está sobre a mesa. Droga! Como eu fui esquecer do leite! Eu a seguro pela alça e com ajuda de um pano térmico a apoio em outra mão. Entro na sala. Primeiro me deparo com sua cabeleira n***a, meus olhos descem e dão com seus ombros largos dentro do terno n***o. Avanço e de r**o de olho percebo que Murat está lendo um papel. Quando ele me vê o coloca de lado, posso sentir seus olhos me observando enquanto coloco a leiteira no descanso. —Serviço quase completo. —Ele diz. Sou obrigada a encará-lo. Sua aparência é magnífica com a camisa branca e a gravata cinza-chumbo. Consigo manter meu rosto impassível, embora não consiga controlar um arrepio que passa pelo meu corpo. No hotel tive contato com executivos, mas nem de longe eles impressionavam tanto como Murat. Ele tem uma postura altiva, e lindo como ninguém. —Serviço quase completo? Falta alguma coisa? —Forço minha voz a sair num tom normal e consigo. Seus olhos se demoram no meu rosto então seu sorriso vai se abrindo lentamente. —Se tivesse a capacidade de ver as cenas que pensei, ler meus pensamentos saberia que o que me falta, mas isso te faria corar, iluminaria esse seu rosto, lindo por sinal e que você sabe usar muito bem. Ele então me dá uma piscadela sexy. Odeio o formigamento que suas falas me provocam, fico parada olhando para ele, tentando fazer meu cérebro colaborar para rebater seu atrevimento, mas as palavras não vêm. Incapaz de esboçar uma reação imediata— até mesmo balbuciar algo — permaneço encarando os olhos negros do cara mais arrogante e cheio de si que já conheci. Sinto o meu rosto queimar com a minha demora em reagir, uma vontade de provar a ele ao contrário, numa antítese de sentimentos, pois sei que ele está certo. Esse homem mexe comigo e eu só tenho a fugir antes de ser novamente uma vítima de seu feitiço.
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