—Uma colher por favor?
—Ah, claro!
Vou até a gaveta e pego uma colher de sobremesa e lhe entrego. Nossos dedos se tocam e eu me arrepio inteirinha.
Eu me afasto dele. Minha vontade é ver sua reação ao comer o manjar, mas eu saio da cozinha e vou para a sala de jantar retirar a mesa. Tremendo retiro a porcelana da mesa e entro na cozinha. Murat já está no final da sobremesa. Eu coloco a porcelana na pia e me viro para ele, quando ele finaliza, não resisto e pergunto:
—E então? Gostou?
Ele ri e afasta o pratinho com apenas a calda que ficou.
—Sinceramente? Não sei por que o nome manjar? Manjar me lembra nome de algo muito bom, algo que se serve a um rei, a príncipes. E essa sobremesa parece uma papa dura de coco.
Eu não consigo deixar de rir, achando graça em suas palavras. Murat me olha de um jeito estranho bem atento ao meu rosto.
—Ah e se gostasse de ameixa, teria gostado do pudim. Eu soube disso só depois que tinha feito a sobremesa. Então, realmente, ele por si só não é uma sobremesa que conquista. Mas sim a união dos sabores, pudim, a calda e a ameixa.
—Bem, Ester, se queria me impressionar, falhou! É isso. Da próxima vez, siga as receitas que Norma te passa. Não precisa me conquistar pelo estômago. Eu sou conquistado pelo carácter, por outros atributos mais nobres.
Impressioná-lo! Essa é boa! Que cara ridículo!
—Não fiz para te conquistar, mas deixa para lá, não vai acreditar mesmo. —Digo de um jeito seco, pois não gosto do olhar estranho que ele está me dando. A intensidade nos seus olhos é grau mil. Ele me observa demoradamente.
—Hum, deve ser isso então. Mesmo assim, siga as receitas de Norma. Entendeu? —Ele diz de um jeito prepotente. — Ela sabe tudo que eu gosto.
—Sim—Digo, bem séria.
Ele se levanta se agigantando na cozinha e eu tenho que erguer meu rosto para olhá-lo nos olhos. Ele dá um passo na minha direção e eu gelo. Ele é incrivelmente bonito e a maneira em que ele se comporta sugere que ele sabe disso muito bem.
—Por que deixou o hotel?
—Eu...estava para sair.
—Sabia que te procurei depois?
—Verdade? —Pergunto séria, mas ofegante.
—Você é muito bonita. Ester, embora esteja muito magra. Ao invés de correr atrás de um homem rico, deveria ter tentado a carreira de modelo. Teria se saído muito melhor.
—Sou muito baixinha. —Digo secamente, não gostando desse papo.
Espera aí! Ele disse de eu estar atrás de homem rico?
Eu o encaro severamente.
—Eu não estou procurando homem rico nenhum.
Ele me corta:
—Sabe, Ester. Não digo passarela, mas seu rosto é lindo. Seria bem aproveitado em comercial de maquiagem, tinta de cabelos...
Eu ando para trás quando ele ergue a mão para tocar a minha cabeça.
—Permita-me? —Ele pergunta com a mão no ar.
Eu assinto, quieta, imóvel enquanto ele se aproxima mais e retira o meu chapéu de chef e meus cabelos avermelhados caem como cascata nos meus ombros. E ele fica emudecido, olhando para eles.
— Por que fez isso? —Pergunto.
Seus olhos passam por meus cabelos como que fascinados.
— Naquele dia esqueci de perguntar. São naturais?
Eu dou um passo para longe dele.
—Sim, são. Agora se me der licença, vou cuidar da cozinha.
Pego a touca que ele depositou na mesa e depois de colocar os cabelos para cima a enfio na cabeça.
— O que está fazendo aqui Ester? Por que está tão nervosa? Está difícil lidar com seu desmascaramento? Achou que eu ia cair nessa de destino? — Ele se aproxima de mim com um sorriso predador.
Eu dou um passo para trás.
—Como? —questiono.
Ele sorri com prazer, como se estivesse se divertindo comigo. Isso me enche de ira. Dou mais um passo para longe dele, mas tropeço na cadeira que Murat tinha afastado para se levantar. Ela se vira e eu quase caio se ele não me tivesse amparado bem na hora. Sinto o choque do meu rosto no peito dele, que se aquece quando sinto o seu perfume masculino, maravilhoso que emana de suas roupas de sua pele. Meus cabelos cobrem parte do meu rosto, isso significa que o chapéu que eu estava usando saiu da minha cabeça.
Posso sentir a respiração ofegante de Murat se unindo a minha. Ele me cerca com seus braços.
Deus! O que ele está fazendo?
Eu ergo meu rosto e dou com seu olhar muito sério no meu.
—Então Ester? Essa sua quase queda para me fazer ampará-la nos braços e você se fazer de coitadinha, como fez no dia do hotel? Você aqui, assim, tudo destino?
—Solte-me, não é nada disso que está pensando.
Ele ri.
—Não? Não vai me dizer que seu desejo não é me enfeitiçar? Vai tentar me convencer que tudo é uma coincidência mesmo? Tudo tão conveniente para você...
Deus! Que cara arrogante.
—Claro que é uma coincidência. O senhor não me disse seu nome completo no hotel e vim para trabalhar para a família Çelik, nunca que imaginei que fosse a do senhor.
Ele ri.
—Você era da recepção Ester. Não checou meu nome completo? Quem era o homem que estava hospedado naquele quarto?
—Deus! Você está me deixando nervosa. Melhor o senhor ir. O que ainda quer aqui?
Ele sorri.
—O que acha que eu quero?
—Infernizar-me talvez, não...sei.
—Não sabe mesmo? Uma coisa é certa, não estou aqui porque gosto de comer na cozinha.
Eu quase morro com suas palavras. Ele me puxa mais para ele e eu sinto seu m****o tocando minha barriga enorme, grosso. Eu fico molhada só com o contato, isso porque sou totalmente inexperiente nesses assuntos, tenho vinte anos e nunca namorei firme com ninguém. Minha vida foi um caos tão grande que nunca tive tempo para pensar em namorado.
—Olha aqui! —Digo irada por ele pensar que eu sou fácil. Com um resquício de razão que eu encontro, eu o empurro. —Não sou essas empregadinhas que você come de sobremesa.
Estou ofegante, as pernas bambas. Seu cheiro maravilhoso ainda no meu nariz. Ele inclina a cabeça para o lado e me dá um sorrisinho.
—Teria fundamento seu posicionamento caso não nos conhecêssemos tão intimamente.
A pele do meu rosto queima, não só ela, meu corpo inteiro é consumido por uma subida onda de calor. Cautela! Esse homem é um rolo compressor, se você der brecha ele vai te usar, e depois passar por cima de você como se você não fosse nada. Precisa lutar, enfrentá-lo. Essa é sua única alternativa. Só dessa maneira você vencerá essa atração.
—Murat! Por favor, me deixa em paz. Eu não quero te conquistar se é isso que pensou. Farei meu trabalho bem feito e não falarei para ninguém sobre aquele dia, caso seja essa a sua preocupação. —Digo alisando meu avental com um gesto nervoso.