—O que é inatingível? —Ouço a voz de Murat nas minhas costas. Minha respiração se agita. Sinto os pelos do meu corpo arrepiarem inteirinho. Eu me viro para ele. Seus cabelos estão um pouco bagunçados, o deixando mais sexy, se isso é possível. Sua testa está suada. Seus olhos se encontram com os meus e eu me viro para a pia e continuo meu serviço.
—O que faz na cozinha, Murat? —Norma o questiona.
—Meu pai sem querer derramou suco. Preciso de um pano para limpar.
—Pode deixar que eu limpo. —Norma diz antes de eu me prontificar a ir. Agarra então um pano que está em cima da pia e sai da cozinha.
—O que é inatingível? —Ele me questiona.
Eu me viro para ele, tento controlar minha respiração, mas falho miseravelmente.
—Nada que te diz respeito. —Minto.
Ele sorri com o canto dos lábios.
—Não? —Ele dá uma risada sexy. Parece não acreditar muito.
—Já não teve atenção suficiente lá na sala? O que quer comigo?
Ele ri.
—Hum, se eu te disser não vai prestar… —diz olhando meus lábios e depois meus olhos. Se vira e sai da mesma forma que entrou, como um tornado que depois de arrasar tudo sai deixando tudo destruído e o céu lindo, avermelhado, como se ele nem tivesse existido.
E eu fico a olhar para ele se movendo para fora da cozinha, com os lábios separados e ofegante. A cabeleira negraa, seus ombros largos e seu bumbum perfeito.
Viro-me para a pia!
Mas que merdaa! Que esse homem quer de mim?
Bem, eu sei o que ele quer de mim!
Digo olhando a esponja na minha mão com vontade de lançá-la longe. Ainda bem que não fiz isso, Norma entra bem nessa hora.
Dia seguinte...
Hoje é sábado. Meu dia será cheio. Presumo que Murat ficará em casa e isso significa que servirei a ele todas as refeições. Solto o ar com esses pensamentos e entro na cozinha, já me sentindo nervosa.
—Bom dia a todas.
Rose e Norma me olham sorridentes.
—Bom dia. Estava comentando aqui com Norma que Murat não acordou bem. Hoje você levará todas as refeições ao quarto dele?
Deus!
Quarto dele?
Isso está me cheirando armação.
—Rose, você poderia fazer isso?
Ele junta as duas sobrancelhas.
—Ester! Esse é seu serviço. Lembra? Eu estou sem uma empregada para arrumar os quartos, limpar os banheiros, varrer lá fora, tudo porque você está trabalhando na cozinha.
Imediatamente me sinto constrangida.
—Tudo bem. Eu levo—digo sem alternativa.
—Claro que irá levar! Você está sendo paga para ajudar na cozinha e servi-los. Bem, vou dar uma ajeitada na casa. E já pode providenciar o café dele e o antitérmico.
Assinto para ela. Ela então me explica aonde fica o quarto dele. Quando ela sai Norma se vira para mim.
—Por que não quer servir Murat?
Eu a olho por um tempo sem falas.
—Acho estranho entrar no quarto de um homem solteiro.
—Deus! Você realmente é um achado. Se fosse outra adoraria levar o café da manhã para ele. Bem, mas chega de conversa! Pegue o carrinho na dispensa coloque tudo que precisa e leve para ele.
—Está bem— Digo, resignada.
—Ah, não se esqueça do antitérmico. Ele fica numa caixa de prontos socorros naquele armário de duas portas, perto do fogão.
Eu faço tudo conforme Norma me pediu. Dessa vez coloco tudo no carrinho, inclusive o antitérmico. Quero fazer uma viagem só, então não posso me esquecer de nada. Vou deixar tudo lá e sumir, depois só irei buscar.
Murat
Passo as mãos nos olhos, buscando concentrar nos papéis que trouxe para casa, mas não consigo e os empurro para o lado. Não consigo me concentrar em nada.
Allah! Eu sou difícil ficar doente, mas quando fico me derruba. Minha garganta não dói, não estou com coriza nem espirrando, só essa maldita febre!
Jogo meu corpo para trás e caio nos travesseiros, estremeço de frio embora o quarto esteja numa temperatura boa.
O bom disso tudo é ver os cabelos de fogo entrar por essa porta me trazendo o café da manhã. Hoje quero ser mimado um pouco.
Batidas na porta.
Sorrio... eu pensando nessa feiticeira e olha ela aí.
—Entre —digo com rouquidão na voz e ajeitando meus travesseiros eu me sento me apoiando neles.
A porta se abre e Ester surge. Ela está usando aquele chapéu ridículo, mas nem isso tira a beleza do seu rosto, que é glorioso. Para não dizer perfeito. Acho lindas essas sardinhas castanhas que ela tem no nariz e que se estende até suas faces. Ela deve ter sido uma menina levada quando pequena. Uma pimentinha.
—Eu trouxe seu café da manhã —ela diz de forma bem seca.
Paciência, determinação levam ao sucesso e em matéria da conquista também. Por isso sorrio. Apesar dessa máscara séria, essa garota vibra quando nossos olhos se encontram. Isso é só fachada para me manter distante. Sei que ela pensa em me conquistar assim. Se fazendo de difícil, da coitadinha, da empregada maltratada pela vida.
—Ótimo. Trouxe o antitérmico?
—Sim, senhor.
—Então, traga aqui.
Ela se volta para o corredor.
Essa atitude fria dela já começa a me incomodar, principalmente quando ela me chama de senhor, embora eu já tenha falado que não gosto. E outra coisa, não cabe mais em nós esse tratamento. Será que terei que lembrá-la novamente com a minha boca na sua e minhas sedentas correndo seu corpo?
Fungo.
Nunca precisei de muita lábia para conquistar uma mulher e levá-la para a cama. Mas nenhuma das mulheres com quem saí nos últimos anos mexeu comigo ao ponto de eu dar um telefonema para uma segunda saída. Já essa garota parece uma droguinha linda, quanto mais se tem dela, mais se quer. No fundo fiquei feliz em revê-la. É só não cair nessa armadilha de me segurar.
Ela entra arrastando o carrinho. Um arrepio corre meu corpo inteiro quando ela fica ao meu lado e não é da febre e sim por sentir seu cheiro fresco. Uma mistura de xampu e o perfume que ela usa e que é dos bons. Não é um perfume barato. Isso eu tenho certeza. Isso comprova minha teoria que por baixo dessas roupas existe uma mulher interesseira.
—Bem, bom apetite.
Antes dela se virar eu rio e digo:
—Quero que fique para me servir. Pretendo tomar o café literalmente na cama. Está vendo meu closet? Do lado direito, na parte debaixo você encontrará o suporte.
Ester me examina. Seu rosto transparece sua desconfiança. No mínimo ela deve estar achando que é uma artimanha minha eu estar me fazer de doente para ela me servir no quarto.
Ela solta o ar.
—Tudo bem-diz como um soldado cumprindo ordens.
Ester se afasta e dou um sorriso de satisfação em vê-la cooperando.
—Ah, aproveita e me traga um cobertor, fica dentro de uma porta de correr—digo quando estremeço de frio novamente.