Capítulo 5: A Emboscada

1400 Words
Charlotte Dawson Estou há alguns minutos sentada sobre uma pedra as margens de um largo rio que encontrei enquanto corria, observo encantada a sincronia dos movimentos da água que desce pela correnteza furiosa, só percebi que saí das terras dos Wild Wolves quando cheguei aqui. Desde que saí do orfanato a minha mente busca freneticamente por uma saída para ajudar Thomas e Antony. Respiro fundo, olho para o céu e faço uma oração silenciosa para a Deusa da Lua em busca de ajuda. Finalizo minha prece e lembro-me do jantar na casa de dona Gloria, levanto-me e logo sigo o meu caminho, pois não quero chegar atrasada. Acabei indo longe demais para espairecer, então decido seguir por uma trilha abandonada para chegar mais rápido ao meu destino. O trajeto segue pelo desfiladeiro, sendo um local excelente para emboscadas porque não existe chance de escapatória da vítima. Depois de um tempo, sou surpreendida por movimentos logo abaixo de onde estou e imediatamente fico em alerta. Em seguida, vejo um lobo ferido sair de trás de uma árvore, ele dá alguns passos, mas acaba caindo, antes que eu possa fazer qualquer coisa, vejo quatro lobos o encurralar próximo ao penhasco. Constato que o lobo ferido é o ancião Elijah, os demais não reconheço, mas identifico a marca parecida com uma pulseira na pata esquerda de cada um, lembro-me de ter escutado certa vez que esta era a marca dos membros da alcateia Bloody Wolves. Um arrepio percorre a minha coluna só de pensar na maldade que esses selvagens fazem por onde passam. Fico aliviada pelo vento estar a meu favor e por isso os agressores ainda não perceberam a minha presença, tenho que pensar rápido e decidir o que fazer antes que a sorte mude. Pondero as opções, não posso simplesmente deixar uma pessoa para trás, também não consigo conectar-me usando o elo para pedir ajuda e, uivar é suicídio, já que os malfeitores também ouviriam e isso só pioraria tudo, além de não ter certeza se os guerreiros viriam ao meu socorro. Avanço sorrateiramente até um local mais próximo, vejo quando um dos lobos que parece ser o líder volta à sua forma humana e os outros o acompanham, inclusive o senhor Elijah. Estranho esse comportamento, por isso decido manter-me escondida e observar até que eu decida o que fazer. - Onde está o livro sagrado? – Ele pergunta com um rosnado. - Ele não está mais na nossa posse. – O ancião responde ofegante e a voz falhando pelo esforço recente. - Você acha que isso é uma brincadeira, seu velho? Irei conseguir o que quero e, se você não me disser, irei invadir aquela comunidade e destruir tudo, não pouparei ninguém. As mulheres serão nossas servas, crianças os nossos futuros soldados e os que não forem úteis ou rebelarem-se serão eliminados como insetos. – Finaliza com um riso de escárnio. - Você não pode fazer isso, Nikolai! Continua um covarde, assim como o seu pai. – Percebo que Elijah conhece o seu agressor porque o chama pelo nome. - Eu posso fazer o que quiser e ninguém será capaz de me impedir, aquele livro é meu por direito e o terei de qualquer jeito. - Você não tem direito a nada! Nunca será digno de tamanho poder. – O ancião fala sem hesitar. - Eu sou o único merecedor, por tudo que fizeram com o meu pai. - O seu pai era inescrupuloso, covarde e não respeitava as leis, teve o que merecia! O alfa Hayden foi misericordioso ao eliminá-lo, ele era desprezível e não merecia tanto, depois de todas as atrocidades que cometeu. – O que ele diz, desperta a fúria de Yuri, que responde com socos e chutes no homem caído. - Vou acabar com você, depois vou direto para aquela cidadezinha medíocre, não sobrará um único m****o vivo daquela sua matilha, não haverá misericórdia, depois vou atrás do cão sarnento que vocês denominam Supremo, darei a ele uma morte lenta e dolorosa. – Ele cospe essas palavras e parte para cima do ancião novamente. Essa última fala me faz pensar no perigo que se aproxima de todos os inocentes da nossa comunidade e, a imagem de Thomas, Antony e dona Gloria vem forte na minha mente, não posso controlar o ódio crescendo dentro de mim e sem pensar em mais nada saio do esconderijo em disparada na direção dos intrusos. Pulo sobre as costas do primeiro que ainda estava em forma humana e permanecia mais afastado dos demais, cravo as minhas garras traseiras nas suas costas como apoio e as dianteiras na sua jugular, forço o caminho pelo seu pescoço para separar a cabeça do corpo, sinto minhas garras cortarem carne, osso e tudo que estava próximo, enquanto estreito os olhos e observo o meu próximo alvo. Ouço um baque oco quando a cabeça colide com o chão, mas não perco tempo em olhar, deixo o corpo sem vida cair para o outro lado e já me preparo para um novo combate. Todos já se transformaram e cercam-me para sincronizar o ataque, aguardo até que façam o primeiro movimento, assim que um deles vem na minha direção, os outros o seguem e eu corro ao encontro do líder. Quando estamos próximos o suficiente esquivo-me do seu ataque e derrapo pela vegetação úmida, no processo estico as minhas garras e consigo atingi-lo na coxa direita, sinto algo queimando a minha cintura, mas não tenho tempo para verificar, giro o meu corpo acertando as patas no peito de um dos lobos lançando-o longe, simultaneamente, em que o outro tenta morder o meu pescoço. Saio do agarre do lobo que conseguiu ferir o meu ombro e ergo-me, estou ofegante e com ainda mais ódio por sentir dor, mas nada pode me parar nesse momento, lanço o meu corpo contra o oponente, giro no ar e cravo as presas na sua perna, sinto o gosto metálico invadir a minha boca e aumento o aperto até que consigo arrancar o seu m****o, ele grita de dor enquanto o despedaço. Viro a cabeça e vejo o lobo que chutei para longe se recuperando, antes que ele consiga se levantar me aproximo e finalizo o ataque. Olho ao redor a procura do líder daqueles vira-latas e percebo que o covarde fugiu, mas ainda consigo vê-lo virando-se e me dando um olhar cheio de ódio, ele segue o seu caminho mancando, dou alguns passos na sua direção, mas sou obrigada a parar quando ouço a voz do ancião. - Não vá minha filha. – Neste momento, retomo os meus sentidos e corro até Elijah. - Como o senhor está? O que quer que eu faça? – Falo verificando os seus ferimentos. - Quero que fique em segurança, ele tem muitos guerreiros que o acompanham e devem estar nas redondezas, não vá atrás deles. - Eu não irei, senhor. – Elijah me olha de forma diferente, não sei explicar ao certo, mas resolvo ignorar, a dor e o susto devem tê-lo confundido. - Você está ferida! Pela Deusa, a ajuda está a caminho, minha criança. – Ele diz arregalando os olhos ao olhar os meus machucados. Somente neste instante percebo o quanto estou ferida, fico tonta e sento-me ao seu lado para recuperar as forças e decidir o que farei a seguir, fecho os meus olhos, encosto na árvore e respiro fundo. Assusto-me quando ouço um uivo, tento levantar-me, mas não consigo, Elijah toca o meu braço para me acalmar e informa que são nossos guerreiros que vieram em nosso socorro, ele os chamou no início do ataque, mas como estávamos muito distantes, não chegaram a tempo de evitar o embate e capturar os inimigos. Permaneço no mesmo lugar, estou tão fraca que não consigo manter os meus olhos abertos. Sinto um toque suave na minha bochecha, abro os olhos e reconheço o rosto a minha frente, Justin fita-me com olhos preocupados, percebo também a presença de um homem e uma mulher que não reconheço, eles estão de pé e encaram-me com semblantes preocupados. - Charlotte! O que faz aqui? – Justin fala e olha o meu corpo, percebendo os ferimentos, noto surpresa e dor nos seus olhos. - Preciso levá-la ao hospital! - Ele fala olhando para o desconhecido, como se pedisse permissão para agir, depois de um aceno de cabeça do estranho, Justin me pega no colo e nesse momento tudo se apaga.
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