Mudei meu telefone para que o Ricardo não me ligasse mais, passei a não passar mais pela portaria da escola onde costumávamos nos encontrar. Ele insistia em enviar recados por meus colegas da escola. Enviava-me cartas, mas eu não as lia, eu as ignorava, estava decidida a esquecê-lo, a apagar aquela noite da minha memória.
Minha menstruação não veio naquele mês e nem no seguinte e passei a sentir muitos enjoos, vomitava todos os dias na escola quando passava pela cantina. A Estela não se sentava mais ao meu lado na sala de aula e não nos falávamos mais.
Aprendi a conviver com aquela sujeira do meu corpo, aprendi a conviver com as mentiras que faziam parte do meu passado. Tia Carla e o Sr. Colis estavam sempre cercando o meu dia a dia, para garantir que eu não encontrasse mais o Ricardo. Eles não poderiam correr o risco de que eu os enganasse novamente, eles precisavam cumprir a ordem dos meus pais, que não podiam imaginar o que tinha acontecido meses anteriores. Eu perderia minhas regalias e, quem sabe, até o dinheiro de pagar o serviço do Sr. Colis e a tia Carla, embora não fosse o mais importante, porém, meus pais falavam que, se eu os desobedecesse, iriam embora e eu ficaria sozinha, eu não podia correr esse risco, eles eram tudo o que tinha na vida.
Era o dia de provar meu vestido de formatura, o vestido não cabia em mim, estava apertado na barriga, estávamos a três meses da minha formatura do Ensino Médio. A costureira pediu à tia Carla para que ajustasse minha dieta para eu não ganhar mais peso, pois chegaria um momento em que não conseguiria mais ajustar meu vestido. Quando a costureira saiu do meu quarto, a tia Carla pediu para que o Sr. Colis a acompanhasse até a porta, pois ela precisava falar comigo sozinha. Ao fechar a porta para a costureira sair, a tia Carla olhou nos meus olhos e foi logo disparando:
— Você usou camisinha naquela festa?
Surpresa e com vergonha de responder àquela pergunta, eu apenas balancei a cabeça dizendo que não. Tia Carla já estava com uma voz trêmula, que mostrava o seu desespero, e fez uma nova pergunta:
— Quantos meses sem menstruar?
Eu engoli minha saliva com dificuldade e fui contando mentalmente os meses que não sangrava, com lentidão no corpo de quem estava entendendo aonde aquela conversa chegaria, respondi de novo apenas com o sinal dos dedos, mostrando o número dois com os dedos indicador e médio.
Nunca a tia Carla tinha falado comigo naquele tom. Nós não tocávamos mais no assunto desde aquele dia. O cheiro doce do Ricardo estava na minha pele e todos os dias a batida da música embalava meus pesadelos. Todas as noites eu me lembrava dos nossos corpos embalados em um mesmo ritmo, eu conseguia me lembrar em detalhes daquela noite e a voz dele entoando o "morena" era combustível para meu sangue ferver. Tia Carla, com uma voz desesperada, terminou:
— Vamos fazer logo esse exame, arrume-se que iremos à cidade do lado fazer o exame. Sairemos em 15 minutos.
Ela saiu do quarto com a cabeça baixa e andou como se carregasse um peso, fechando a porta sem forças. Fizemos o exame e o resultado foi positivo. Eu estava grávida. Uma gravidez leiloada por drogas. A sujeira do meu corpo tinha gerado um ser humano que não tinha culpa da minha irresponsabilidade. Eu precisava salvar aquele bebê, eu não podia permitir que ele fosse sujo, o pecado era só meu, eu não podia deixar que meu filho vivesse em pecado.
Como iria dizer para meus pais? Como iria dizer para o Ricardo? O Sr. Colis e a tia Carla choravam muito ao ler o resultado. Voltamos para casa em silêncio, ninguém conseguia dizer uma só palavra, o desespero de nós três era notório. Buscávamos uma forma de explicar aquilo aos meus pais, uma forma de salvar aquele bebê.
Ao chegar à nossa casa, o Sr. Colis ligou para meus pais que estavam em Lisboa. Eles não pediram para falar comigo, não quiseram saber como eu estava, muito menos, quiseram saber quem era o pai, apenas ordenaram que o Sr. Colis e a tia Carla me mandassem para um sítio e contratassem uma professora particular para eu terminar meus estudos, eles não queriam que a cidade soubesse da minha gravidez. Eles não se importavam com meus sentimentos, apenas queriam manter a discrição do meu segredo até completar vinte anos, que mais parecia uma data limite para se libertarem de mim.
Fomos morar em um sítio e dissemos, na cidade, que eu havia passado no vestibular fora de época em outra cidade, então, para que eu fosse me acostumando com a nova moradia, era preciso se mudar o mais breve possível. Era a mentira tentando neutralizar outra mentira, pecado em cima de pecado. Infelizmente eu não tinha outra escolha, eu havia trilhado aquele caminho, agora eu precisava salvar meu bebê da vida suja do Ricardo e do ódio dos meus pais.
Meus pais pagaram para que pudesse fazer as provas à distância sem precisar frequentar a escola. Frequentei médicos de outras cidades para que não se espalhassem a notícia da minha gravidez. Em um exame de rotina, eu descobri o sexo do meu bebê, era uma menina. Tia Carla e o Sr. Colis seguravam as minhas mãos quando descobri e juntos decidimos chamá-la de Alice. E assim se passaram oito meses, escondida, vivendo em um sítio junto do Sr. Colis e da tia Carla, recebendo amor e carinho e descobrindo o amor verdadeiro que morava em meu ventre.
Nesses oito meses, meus pais não foram me visitar e não queriam saber do sexo da criança, eles passaram a me ignorar como filha e apenas respondiam com as obrigações financeiras. Eu ainda tinha esperança de que eles me perdoassem quando eles conhecessem a Alice, ela seria pura, ela não viveria em pecado.
A Alice me fazia sentir mais limpa. Ela me trazia paz. Todas as vezes que me lembrava da batida do meu corpo no corpo do Ricardo, a Alice mexia em minha barriga, como se me trouxesse para o presente, me salvando daquele pesadelo, da sujeira que o pai dela havia feito em minha vida. A Alice viria ao mundo para me mostrar o amor verdadeiro, puro e cheio de verdades.
Era dia de feira e o Sr. Colis, como de costume, foi fazer a feira com a lista feita por tia Carla. Ela tinha o maior cuidado de colocar todos os alimentos que o médico pedia para eu comer por conta da Alice. Nesse dia, a tia Carla precisou acompanhar o Sr. Colis, ela estava resolvendo a papelada dos meus estudos que foram feitos particularmente no sítio.
Antes de eles saírem, como era hábito, deram-me um beijo e trancaram todas as portas para me deixarem segura. Eu ficava pouco em casa sozinha, eles evitavam me deixarem sozinha com medo de uma intercorrência na gravidez. Nós acreditávamos que, naquele local, eu estaria segura, longe de todos e de tudo que pudesse me fazer m*l.
Deitada na cama, lendo um romance que havia iniciado há poucos dias, ouvi a porta da sala se abrindo e estranhei eles terem voltado tão rápido.
— Já voltaram? Vocês não aguentaram a saudade de mim, não foi?
Sorri do que falei e não tive resposta, achei estranho e fui ouvindo as pegadas mais próximas ao meu quarto. Levantei-me da cama para olhar o que teria acontecido para que eles voltassem tão rápido. Fui interrompida pela voz marcante do Ricardo:
— Eu realmente não estava mais aguentando de saudade de você, morena. Como você adivinhou?
O Ricardo apareceu na frente da porta do meu quarto. Os olhos esmeraldas que antes brilhavam de desejo, agora brilhavam de ódio. O cheiro doce do perfume dele invadia meu quarto trazendo as lembranças daquela noite e eu comecei a sentir náuseas, eu tinha repúdio dele. Meu corpo não respondia aos meus comandos e a adrenalina, que antes corria no meu sangue, deixava-me estática, inerte, sem reação pela raiva, pelo ódio, pelo medo. Eu o odiava!
Ele tinha descoberto meu esconderijo e minha gravidez. A Alice já se mostrava através de minha enorme barriga, nunca tinha contado para ele que teríamos um fruto daquela noite de pecado, sabia que estava errada em esconder minha gestação, afinal, a filha era dele também, mas eu o odiava, ele era impuro e foram essas condições que meus pais estabeleceram para mim, eu precisava viver no silêncio para salvar a Alice das minhas escolhas do passado.
Ele foi se aproximando de mim sem mover seus olhos que buscavam a todo instante se fixar nos meus e com a mesma voz grave, que costumava antes me entorpecer, disse:
— Morena, quanto tempo?! Você achou mesmo que eu não te encontraria aqui nesta casinha, longe de tudo e de todos?
Respondi fixando meus olhos nos dele como resposta, eu não podia me esconder daquela raiva, eu não queria que ele sentisse que eu tinha medo, eu precisava ser forte pela Alice.
— Ricardo, o que você faz aqui? Vá embora! Não quero mais nada com você.
Ele foi chegando mais perto e seus olhos foram ficando mais vermelhos. Ele me respondeu:
— Procurei por você a cidade toda. Procurei em vários sítios. Não foi fácil descobrir que este sítio era seu também.
O sítio estava no nome do Sr. Colis, meus pais diziam que tinham feito isso para pagar menos impostos. Desta vez, parado, mantendo uma pequena distância de mim, ele continuou:
— Sumiu, não me atendeu mais, mudou de endereço e ainda mandou acabar com o meu trabalho, você tá pensando que é quem?
Ele queria um acerto de contas. Meu coração disparou, coloquei a mão sobre meu ventre, tentando proteger a Alice.
— Eu não pedi para fazer nada com você, apenas me afastei de você e de tudo que me fazia m*l.
Eu estava pesada da gestação e não conseguia ter movimentos rápidos, mas sabia que precisava fugir dali. Os olhos dele estavam vermelhos de fúria e a cada palavra que ele dizia, mas eles se tingiam, o verde-esmeralda estava ficando coadjuvante do vermelho de ódio. Resolvi me levantar da cama para sair daquele quarto, eu precisava de ajuda. Mentalmente comecei a planejar minha fuga. Meu celular estava na sala, eu apenas precisava sair do quarto, trancá-lo e ligar para o Sr. Colis.
Fui me levantando lentamente e ele me observava. Minhas mãos estavam grudadas na Alice como se eu tentasse niná-la, diminuir a sensação de terror que invadia o meu corpo e chegava até a minha filha. A Alice começou a mexer, bater insistentemente na minha barriga. Antes que eu conseguisse dar meu primeiro passo para a fuga, ele me interrompeu com uma voz calma:
— Você não vai fugir de mim de novo!
Ele tirou a arma da cintura. E apontando a arma para minha cabeça continuou:
— Você é ingrata! Fiz uma festa para você, te fiz gemer, te dei prazer, dei a seus amigos maconha de graça e depois você fugiu de mim! Eu disse, naquela noite, que você seria minha para sempre, você nunca vai fugir de mim. Se você não for minha, não será de ninguém.
Ele diminuiu nossa distância e a arma tocou minha barriga. A Alice continuou mexendo, ela tentava sobreviver da forma dela, ela empurrava a arma. Eu coloquei a mão na arma e a empurrei. Ele revidou, me dando uma tapa no rosto com a outra mão.
— Se você tentar isso de novo, eu perco a paciência de vez.
Sua voz era de ódio, ele não era mais o Ricardo com quem eu me encontrava na frente da escola. Eu tentei manter a calma e com a voz baixa, disse:
— é sua filha, Ricardo, você não seria capaz de fazer m*l a ela, você não seria capaz de me fazer m*l.
Ele me bateu de novo no rosto e sem perder o contato com meu rosto, seus dedos começaram a ir em busca do meu cabelo. Eu sentia dor, eu sentia terror. Ele segurou meus cabelos e agora a arma tocava a Alice com força, ele estava de novo nos machucando.
— Você me ama que eu sei, sua v***a!
Ele bateu com a arma forte no meu ventre e minhas mãos não conseguiram amortizar aquela batida. A Alice parou de mexer, ela não conseguia mais lutar contra aquele terror que tomava conta de nós duas.
— Ela é sua filha, como você pode ser capaz de fazer isso com sua própria filha? Você é um monstro!
Comecei a sentir uma cólica forte e o desespero de não conseguir salvar a Alice tomou conta de mim. Minhas lágrimas desciam pelo meu rosto, sem controle. Ele puxou mais meu cabelo e ordenou, com o puxão, que eu me ajoelhasse no chão. A arma foi subindo para minha cabeça, ela passava queimando cada área que tocava em mim. Ele parou a arma no meu queixo e continuou:
— Eu não tenho filha, nunca tive e isso que está dentro de você vai deixar de existir!
Ele estava determinado a matar nossa filha. Eu não sentia mais a Alice mexer, eu sentia dor em toda parte do corpo, então, com desespero, falei:
— Você acabou com minha vida, você é impuro, você mentiu para mim e todos os dias você acaba com a vida de dezenas de pessoas vendendo essas drogas. Você me causa nojo! Eu odeio você!
Ele puxou meu cabelo com mais força e eu gritei por socorro. Ele continuou sem se preocupar com o que eu gritava:
— Odeia nada, fiz você gemer, tirei todas as suas forças, te saciei e posso fazer muito mais, é só você arrumar suas coisas e ir comigo para longe daqui.
Ele se abaixou e colocou a arma na minha cabeça, puxou meus cabelos para trás levantando o meu rosto, então encostou a boca na minha e continuou:
— Vai dizer que você não está morrendo de desejo de mim? Porque eu estou de você!
Sem conseguir retribuir aquele toque, finalizei:
— Eu sinto nojo de você e de tudo que você representa!
Ele bateu com a arma no meu rosto e seus olhos estavam dominados pelo ódio. Ele puxou mais meu cabelo e eu inclinei mais minha cabeça para trás. Ele se posicionou na minha frente e encostou o seu nariz no meu e com a voz tremida da raiva falou:
— Vamos ver se depois que coisa sair de você, você não volta a me desejar. Você é minha e sempre será.
Eu gritava por socorro, o eco dos meus gritos e o choro no quarto me faziam ter mais desespero. Ele mantinha o seu rosto colado no meu, ele estava gostando de sentir o meu desespero.
— Pode gritar! A casa que você escolheu é escondida de todos que poderiam te salvar. Eu disse que você era minha, que ninguém ia ter o que eu tenho de você, VOCÊ é MINHA, ENTENDEU?
Ele gritava repetidamente que eu era dele e puxava meu cabelo para trás. A arma gelada queimava meu rosto.
Eu sentia cólica, eu sentia minha coluna apertar meu útero, a Alice estava em apuros. Minhas mãos ali paradas sobre minha barriga não tinham mais efeito protetor, eram inúteis. Ele disparou a arma, mas ela não funcionou, então, com raiva, ele desceu rapidamente as mãos para as pontas do meu cabelo dando um nó em suas mãos, me prendendo a ele, sem escolhas. Eu não tinha mais forças para gritar, eu só podia aceitar o que o passado trazia ao meu presente.
— Olhe para mim, quero que você se lembre de mim até o último segundo de sua vida. Você é minha!
Ele repetia aquilo como um mantra. Eu era dele e eu sentia que era mesmo, o pecado habitado no meu coração me prendia a ele. Todos os dias a batida daquela música soava nos meus ouvidos e embalava meu coração, e foi aí que eu decidi aceitar que eu tinha era vício e a necessidade de sentir o pecado correr por minhas veias.
Enfurecido com a falha da arma, ele passou a me bater no rosto com ela. Eu passei a ficar anestesiada, sem forças e fui caindo no chão, eu não tinha mais forças para reagir, apenas tentava manter minhas mãos na barriga, na tentativa inútil de proteger a Alice. O sangue passou a escorrer do meu rosto, meus gritos não tinham mais potência. Ele esbravejava dizendo que eu era dele. Caída no chão, com os cabelos presos às mãos daquele covarde que me batia com satisfação, a batida daquela noite era recriada em terror em cada pancada dele. Ele parou e senti que ali ele iria atirar para acabar com aquele sofrimento meu e de minha filha que estava inerte. Ele desceu a arma para meu ventre que se contraía tentando expulsar a Alice. As minhas mãos que eram inúteis e fracas facilitavam que ele tivesse livre acesso ao destino dele:
— Tudo por conta de você.
Eu já não conseguia ver nada com clareza, só ouvia sons e via vultos, estava desorientada e sem forças, a dor já estava anestesiada, e ele começou a chutar sem parar minha barriga. Meus dedos tentavam apartar a força dos seus pés. Meus braços não tinham mais forças para parar aquilo. Eu senti um líquido sair de mim, já não sabia se Alice estava salva. De repente, ouvi uma sirene de polícia bem longe. Era um socorro. Alguém me salvaria. O Ricardo desatou o nó dos meus cabelos, abaixou-se no meu ouvido e sussurrou com uma voz cansada:
— Doeu? Não foi nem um terço do que senti quando você foi embora! Agora eu vou embora, mas eu volto para pegar o que é meu... Você é minha.
Eu estava sem consciência, eu não respondia mais nada. A sirene se aproximava e o Ricardo finalmente foi embora.
Acordei no hospital, na sala de cirurgia, uma luz forte refletia em meu rosto, que estava inchado e machucado. Tentei algumas vezes falar com o Sr. Colis que estava ao meu lado, mas não conseguia, eu não tinha voz, meus gritos tinham ferido minhas cordas vocais, eu só pude acompanhar aquele momento com dificuldade na visão. Estava desesperada em pensar que não teria mais a Alice ali comigo. Ouvia o Sr. Colis o tempo todo pedindo para eu não falar, para eu ficar calma. Meus olhos ardiam e resolvi fechá-los, na tentativa de reduzir minha aflição.
O Sr. Colis começou a fazer carinho no meu rosto, ele tentava não bater nas feridas abertas que eu tinha no rosto. Eu sentia que ele buscava percorrer espaços não machucados. Ele me deu um beijo na região de cima do meu cabelo, senti uma dor boa, ali estava machucado pela força que o Ricardo puxava meus cabelos, mas ao mesmo tempo senti amor na tentativa do Sr. Colis de me passar tranquilidade. Nem eu nem ele estávamos calmos, compartilhávamos ali aflição e sofrimento. O médico pediu para que eu fosse baixando o lençol que tapava minha visão da cirurgia, eu decidi abrir os olhos para ver o que o médico queria fazer. Ele me mostrou a Alice ali calada, assim como eu estava, ela estava pálida, não respirava, não mexia. O Sr. Colis começou a chorar e o médico disse:
— Tentamos salvá-la, mas não foi possível. O trauma foi muito grande.
Minhas lágrimas começaram a descer incontrolavelmente, sem voz, apenas gesticulando com os lábios, comecei a chamar por Alice, na tentativa que ela abrisse os olhos. Infelizmente ela não abriu os olhos amassadinhos que ela possuía, não chorou para mostrar o tom da sua tão esperada voz, ela não mexeu as mãozinhas delicadas que tanto gostavam de mexer empurrando minha barriga, não respirou, ela não sobreviveu. Alice lutou com todas as forças para ser salva, tentou afastar o Ricardo da gente, tentou sair de mim a todo custo para impedir que o Ricardo continuasse a nos machucar, ela tinha conseguido me salvar, mas eu não a salvei, ela estava morta.