Capítulo cinco

2081 Words
Entrar naquela sala de aulas para mim, não era só vencer a minha timidez, mas era também vencer a minha ansiedade, era vencer a todas aquelas vontades estranhas que se misturavam de uma só vez, causando uma verdadeira avalanche dentro de mim. Inspirei e expirei várias vezes antes de entrar dentro da sala, depois da vergonha que passei perto do meu mais novo colega que quase matei, ganhei um pouco de coragem e decidi entrar na minha mais nova causa de crises de pânico, a sala de aulas da turma de medicina de dois mil e Dezoito. Assim que entrei na sala de aulas, só precisei dar uma olhada para saber quem o Antônio era, para além dele, todos os outros colegas só deram uma rápida olhada a porta e voltaram a ficar concentrados em seus afazeres. Antônio deu uma olhada a porta, sorriu e acenou para mim, como se fôssemos melhores amigos. Na noite em que eu quase matei ele, eu não prestei atenção no quão ele era lindo, mas naquele primeiro dia de aulas, não só olhei para ele, como devorrei ele com os olhos, a beleza dele era tão impactante que, arrancava alguns fôlegos de mim. — Oi colega, eu sou o Antônio novamente — disse com um sorriso lindo que facilmente iluminaria uma cidade inteira, não que eu estivesse imaginando um romance com ele, mas ele tinha um sorriso bonito, não só o sorriso, mas ele todo, a presença dele, o perfume dele, tudo nele exalava beleza. — Oi, eu sou a Érica — respondi sem olha-lo nos olhos novamente, com que cara eu olharia para ele? Depois da cena que fiz no portão, não só no portão, e se ele descobrisse que a louca que quase o matou na noite passada, estava na frente dele? — Oh! Érica, não precisa ficar envergonhada — disse aproximando para que só eu ouvisse o que ele tinha para contar. Quando se aproximou de mim, foi impossível não sentir o perfume dele com clareza, ele tinha um cheiro único, uma mistura estranha de café e folhas de limão, uma mistura estranha que nele parecia perfeita. — Também fiz o mesmo no dia em que vim fazer a matrícula — ele sussurrou suavemente no meu ouvido, como se fosse um segredo realmente importante. As notas de sua voz grave, atingiram directamente as borboletas em meu estômago e naquele momento eu só conseguia pensar no quão eu estava ferrada por estar assim só com um sussurro no ouvido. — Você já disse isso, mas não ajudou muito, por acaso mais alguém viu o meu pequeno show?— questionei com o pouco de energia que existia no meu cérebro, parecia que ele tinha roubado todo o meu senso de raciocínio só com um simples e maldito sussurro. — Não — retrucou com um sorriso bobo, mas por mais bobo que fosse, eu queria mais daquele sorriso bobo. — Então esse será o nosso segredo?— indaguei rezando para que ele guardasse o meu segredo vergonhoso. — Sim — concordou e logo em seguida piscou o olho esquerdo, uma piscadela que facilmente arrancou uma batida do meu coração, como o meu coração podia ser tão bobo? Ele só piscou e eu já estava boba. — Obrigado — agradeci boba e logo em seguida entramos na sala de aulas. Existe uma série de coisas que fazem com que duas pessoas se tornem amigas, uma delas são: um inimigo em comum e um segredo compartilhado. As chances de eu Antônio nos tornamos amigos eram muito prováveis. Até aquele momento, eu já tinha me esquecido de estar entrando numa sala de aulas nova, com novas pessoas, novas manias e novos amigos, a conversa com Antônio tinha me distraindo de forma positiva. Assim que entramos na sala de aulas, cada um se sentou num lugar diferente, a carteira dele, era a segunda na fila a seguir da minha. Eu me sentei e fiquei quieta, não me considero uma pessoa introvertida, mas não sou uma pessoa que faz amizade com facilidade, até por quê, toda a vez que tento falar com alguém, meu estômago dá uma de doído e me faz passar vergonha. Outra pior coisa de primeiros dias de aula, é se apresentar para uma turma cheia de pessoas desconhecidas, sinceramente eu estava rezando para que esse momento não chegasse nunca, mas infelizmente, ele chegou, quando o professor entrou na sala de aulas, eu pensei que não fosse acontecer tal coisa, afinal de contas, nós estamos na universidade, isso terminou no ensino secundário. Foi o que pensei, até o que o professor pediu que eu me aprestasse. Quando as palavras do professor tornar-se claras para mim, senti um frio na barriga como se tivesse comido um iceberg, as loucuras no meu estômago começariam e eu não conseguiria soltar uma palavra sequer. — Bom dia, chamamo-me Érica Isabel Langa, sou estudante á tempo inteiro e terminei o ensino médio em dois mil e dezassete na escola secundária de Nkobe — falei tudo o mais firme possível, eu não sou uma pessoa tímida e não gosto que pensem que sou tímida, mas a ansiedade faz você ser tímido, mesmo que sem querer. Eu me impressionei por ter conseguido falar sem gaguejar naquele dia, mas até quando duraria a minha coragem? Geralmente quando conhecemos alguém, temos um vislumbre do que essa pessoa possa ser, em primeira instância, quando alguém tem uma rápida conversa comigo, a pessoa Sempre tem a impressão de uma possível timidez de minha parte, mas eu não me acho tímida, sou uma pessoa reservada, não confio facilmente nas pessoas e isso faz com que as pessoas pensem que sou tímida. Naquele primeiro dia de aulas, o professor de anatomia foi o único a entrar na sala e deixou um trabalho para fazer em grupos e como não tinha mais nada para fazer, arrumei as minhas coisas para voltar para casa, para falar a verdade, eu estava fugindo, eu não queria falar com Antônio nem com mais ninguém, a minha quota de socialização tinha esgotado para um dia inteiro de aulas. — Já vai? — gritei assim que escutei a voz grave perto do meu ouvido. Eu não sei se gritei pelo susto que levei ou porque fantasiei alguma coisa s*******o. — Meu Deus! Me desculpa, assustei-te? — Indagou com pesar, o rosto dele estava transtornado de preocupação, mas mesmo assim ele não deixava de ser fofo, como alguém conseguia ser fofo mesmo não fazendo nada? — Sim, assustou-me — concordei com uma mão no peito. Não que fosse necessário responder, sendo que o meu grito deixou isso bem claro, mas eu precisava falar para deixar as coisas claras. — Perdão, não foi a minha intenção — pediu e logo em seguida cossou a cabeça, ele parecia extremamente envergonhado e culpado, eu queira fazer carinho nele para deixá-lo tranquilo, mas eu não podia tinha que ficar longe dele, ou ele descobriria que a pessoa que tentou m***r ele fui eu. — Está tudo bem, então deseja alguma coisa? — questionei simples e seca. Não queria ser m*l educada mas, não queria que ele pensasse que éramos amigos, só porque tínhamos um segredo em comum, além do mais, eu precisava ficar bem longe dele ou outro segredo meu seria revelando — Bom gostava de saber se podemos caminhar juntos até a paragem? — questionou coçando a cabeça. Comecei a pensar que aquilo fosse um tipo de tique nervoso. Eu sabia muito bem qual resposta dar a ele, mas parecia que a minha boca tinha vida própria e única coisa surgiu na minha mente naquele momento foi. — Claro, por quê não — concordei sorrindo feito uma boba que estava sendo, se eu estava sendo burra? Sim estava sendo, mas em minha defesa, naquele momento o calor estava afectando o meu raciocínio lógico e o facto de ele estar tão próximo de mim, não estava ajudando em nada. « Porque você não o conhece burra, e se for um assassino? E se ele descobrir que está com a cara toda arranhada por sua causa » censurou o meu subconsciente que estava completamente certo em me alertar, mas eu dei onde ouvidos? Não. Saímos juntos da faculdade até a paragem do museu, nesse percurso, descobri que Antônio não só era bonito como também era inteligente, gostava de animes, fã de cultura japonesa e um amante de literatura contemporânea e para completar o pacote de Crush literário perfeito, ele era fã de K-pop. Existe uma série de coisas que denunciam a personalidade de uma pessoa, uma dessas coisas é o gosto musical, o gosto musical de alguém diz muito sobre a pessoa, então se os nossos gostos musicais não fossem minimamente similares, as chances de nossa possível amizade existir seriam nulas. Eu não sou uma grande fã de K-pop, mas o facto de ele gostar desse estilo musical, ajudava muito na nossa possível amizade. — Chegamos, posso ficar aqui contigo, até o carro chegar? — Antônio questionou tenso, ele estava nervoso por minha causa, será que é porque ele descobriu que eu era a assassina. Com isso em mente, inventei uma desculpa qualquer, para escapar dele. — Ah! Infelizmente não, tenho que buscar minha amiga na Up¹⁰ — não era uma mentira, mas também não era uma verdade, era um meio termo entre tudo, eu precisava escapar dele, mas também precisava falar com a minha amiga, logo, não estava mentindo. — Oh! Está certo, então até amanhã — se despediu e foi até seu lugar. Ele me pareceu decepcionado, mas eu não podia fazer absolutamente nada por ele, eu precisava ficar longe dele. Saí da paragem rumo a universidade pedagógica sede, Isa estudava lá. Não havíamos combinamos nada, mas foi a única forma que encontrei de me livrar de Antônio. — Amiga! O que faz aqui? — Isa questionou animada, saltitando feito uma gazela bebé. Ela vestia roupas coloridas como sempre, uma calça jeans azul clara, uma camiseta cor de rosa, uma jaqueta branca e sapatilhas Nike também cor de rosa com detalhes brancos. — Depois te conto, vamos para casa — puxei-a pelo braço, querendo logo sair do museu, onde pudesse me avistar com Antônio. — uhm! Então? Conheceu algum futuro médico bonitão — questionou arqueando as sombracelhas, como se conseguisse ler todos os meus pensamentos. — Sim, bonito, alto, inteligente e fã de K-pop dá para você — concordei com um tom risonho e preocupado. Primeiro que ele era tudo de bom, segundo que eu tentei m***r ele, terceiro e último existia Haru nessa história toda. — Uhm! Pediu o número dele? — questionou animada, louca para me empurrar até ele com certeza. — Não, fugi dele — respondi e rimos juntas, eu só não sei se naquele momento o riso foi de graça ou desespero. — Porquê? Se é um Crush literário perfeito? — questionou indignada, olhando para mim como se eu tivesse duas cabeças, por um momento, eu senti vontade de dar um soco nela. — Você sabe por quê — respondi me referindo a Haru e aos dois meses que a doutora Gleice deu-me. — Fazer o quê né? Uns com tanto e outros sem nada — fez drama. Ficamos a espera do smartkika¹¹ de Nkobe, assim que o mesmo chegou, nos sentamos num canto, foi estranho termos conseguido lugar naquela lata de sardinha, afinal aquilo sempre chegava cheio, não importava a hora. ... Assim que completei um mês desde que enviei a carta para ele, comecei a ficar desesperada, Haru não respondeu as minhas cartas, eu vivia controlando o meu e-mail há cada segundo. Naquele um mês, Antônio e eu tornamo-nos muito amigos. Mesmo que eu tenha feito absolutamente tudo ao meu alcance, para ficar longe dele, parecia que existia algo unindo nós dois, nos colocando um no caminho do outro. Foi só colocarem, nós dois no mesmo grupo de trabalho para iniciarmos uma amizade que nos forçava a conversar o tempo inteiro, sobre tudo e mais um pouco talvez eu o tivesse julgado m*l no princípio, ele era um tipo de crush literário perfeito, bonito, alto, inteligente e fofo. Talvez eu não devesse pensar dessa forma, mas eu estava cogitando tentar alguma coisa, mesmo que ele não tenha se confessado para mim, a ideia de deixar Haru ir e tentar algo novo com alguém real, parecia realmente tentadora, mas quanto mais uma pensava nisso, mais a culpa me matava. ____________________________________ 10. Up ( Universidade Pedagógica de Maputo). 11. Smartkika (Como os machimbombos são popularmente chamados).
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