Capítulo Nove

2102 Words
Depois de correr igual uma maluca, não consegui enxergar nada mais para além de minhas lágrimas, mas eu precisei me aclamar, antes de de sofrer um acidente, eu precisava ficar calma, antes de me encontrar com a minha amiga. Antes da Antônio se declarar, combinei com a minha amiga Isabel de nos encontrarmos no King pie, seria uma verdadeira terapia para mim. Afogaria minhas lágrimas num pie, quente e de piripiri. — Ei estranha! Como está? — minha amiga estava sentada numa mesa, dentro do restaurante e acenava para mim igual a uma louca. — Estou óptima e você estranha? Já pediu?— questionei num tom um tanto falso para que ela não notasse que chorei, o que diria para ela? O rapaz mais bonito que alguma vez vi na vida, tinha se declarado para mim e eu tinha fugido dele? Dei o meu primeiro beijo da vida e estava surtando por isso? — Já, pedi o de piripiri para ti, tem algum problema? — questionou mexendo em suas unhas. Até aquele momento, ela não tinha notado a minha tristeza, mas mesmo não querendo chamar a atenção dela, eu queria muito desabafar com a minha amiga, eu precisava daquilo. — Não, me conta! Alguma novidade na Up? — dei-lhe um olhar sugestivo, eu sei, a maior burrice que alguém pode cometer, num momento em que se encontra triste é, fingir estar bem. Dizem que emoções não expressas nunca morrem, elas são enterradas vivas e saem da pior forma possível. Fiquei acumulando emoções desde a morte da minha mãe, estava com tanto medo de elas saírem de alguma forma h******l, como quando quase matei. — Uh! Tenho uma, tem um moço na sala de psicologia, mana! Aquele sim é um verdadeiro crush literário perfeito — começou tudo bem animada, num olhar de paisagem, ela claramente já estava apaixonada por ele, minha amiga tinha uma facilidade impressionante para se apaixonar por pessoas novas, mas na mesma proporção que ela amava, ela odiava. Uma verdadeira pessoa de escorpião, intensa em tudo. Quando ela se distraiu, com as novas novidades da faculdade, dei graças a Deus, pois se ela ficasse falando do moço de psicologia, esqueceria de mim e dos meus problemas que, eram muitos naquele momento. — Vocês já se falaram? Digo já conversaram? — questionei curiosa, mas com o objetivo de distrair ela do ponto da conversa. — Sim! Ele tem uma voz que, aaaaah! Me deixa de pernas bambas — ela se abanou, como se estivesse sentido calor, gritou chamando a atenção de outros clientes e eu quase me enfiei num buraco. — Shiu! Maluca, quer que nos expulsem? Você está apaixonada, senhor, vivi para ver isso, Isabel Da Graça apaixonada— repreendi usando as mãos para que ela ficasse calada, ela sorriu e abaixou a cabeça quando provoquei ela, mas a timidez dela, sumiu em questão de segundos, fui logo fuzilada por ela. — Uhm! Suca¹! Me conta, hoje você completa os dois meses que te foram dados pela doutora Gleice, o que dirá á ela? — o que eu mais temia aconteceu, ela tocou no assunto das cartas e nos prazos da doutora Gleice. Meu coração apertou em meu peito, assim que me recordei do que tinha feito com meu único amigo e crush real. — Uhm! Terei que conviver com isso — fingi mais uma vez estar bem, mas parece que a minha pouca animação despertou minha amiga. — Você está bem com isso? — ela parou de comer para me encarar, seu cenho estava franzido como se dissesse, atreva-se a mentir para mim. — Não, mas ficarei — retruquei com um sorriso forçando que mais pareceu uma careta do coringa, quem eu estava querendo enganar? Eu estava péssima e completamente destruída. — Claro que sim, você tem o Antônio na reserva né? — murmurou sugestivamente, erguendo as sombras numa dança engraçada. Mas foi só ela tocar no nome dele, para que o meu sorriso morresse na hora, o meu coração voltou a doer no mesmo instante. — Ah! Acho que não existe mais nenhum Antônio na reserva — murmurei envergonhada e com dor no peito. As imagens de Antônio parado que nem um i****a no jardim da faculdade, me estavam perturbando imensamente. — O quê? Como assim? Me conta, o que aconteceu? — questionou preocupada, seus modo amiga preocupada e fofoqueira de plantão já estavam activos. — Bom! Ele se declarou e eu disse não, fim da história — resumi sem rodeios, mas extremamente envergonhada da minha atitude. — O quê? Porquê disse não? — gritou chateada, sua mão batendo fortemente na mesa da lanchonete. — Como porquê? Eu não posso ficar com ele, estando apaixonada por outro — falei como se fosse a coisa mais óbvia do mundo, mas qual outro? O outro era um fantasma, uma loucura, coisa da minha cabeça, eu estava dispensando quem sabe o amor da minha vida, por causa de um maldito sonho. — Mas o outro não existe, é só uma coisa da tua cabeça, você não pode parar sua vida por uma coisa que nem sequer é real, Érica! Você é jovem, bonita e inteligente, não pode continuar assim, você precisa parar com isso, Haru sendo real ou não, não pode te impedir de ser feliz, estando a sua felicidade com Antônio ou não, desde que você começou a escrever estas cartas, vive preocupada, triste e sempre que não recebe uma resposta eu vejo a decepção e mágoa em seu semblante — Isabel despejou toda a verdade em minha cara. As palavras dela, chegaram como um balde de água fria que eu precisava naquele momento, aquilo foi necessário para, o balde de água fria foi o que me acordou para realidade que, eu estava vivendo naquele momento, que era o inexistencialismos de Haru. Saímos do King pie e voltamos para casa, em todo trajeto de volta para casa, fiquei pensando em minha loucura espiritual, parece que essa era a única explicação para o que eu estava sentindo, talvez eu não precisasse dum psicólogo e sim dum padre exorcista ou um pastor. Assim que cheguei á casa, resolvi escrever uma carta, a carta derradeira e definitiva. Carta número cinco Caro amado Haru, hoje eu completo os dois meses dados por minha psicóloga. Eu sinto em dizer,mas,eu terei que terminar esse nosso relacionamento sem começo, eu prometi para minha psicóloga e para mim mesma que se, nesses dois meses, você não respondesse as minhas cartas, eu desistiria de você. Hoje o menino mais bonito e carinhoso que alguma vez demostrou sentimos por mim, confessou os seus sentimentos por mim. Sabe o que eu fiz? Eu fugi e sabe porquê eu fugi? Porque eu não posso amar outro, eu não posso amar outro, só a ti. Neste exato momento as minhas lágrimas estão molhando está carta, talvez ao recebê-la, as lágrimas já estejam secas então você não verá as minhas lágrimas. Agora, eu estou me odiando por nunca saber o porquê de você ainda estar preso em minha cabeça. ericaisabellanga@gmail.com Guardei a carta em minha pasta, enviaria no dia seguinte, naquele dia tinha uma consulta com a doutora Gleice, consulta esta que encerraria aquele capítulo da minha vida. — Filha, está pronta? — virei-me para a direção em que o mesmo vinha, o mesmo estava com a testa enrugada. — Sim papá,já estou pronta, vamo?— respondi, já me colocando em pé. — Óptimo, vamos — saímos juntos até o carro. — Érica, porquê a doutora Gleice esperou tanto tempo, para marcar outra consulta? — questionou o meu pai, eu sabia que um dia ele se perguntaria o porquê de esperar dois meses para uma nova consulta. — Uhm! Ela quis fazer um teste comigo e para tal ela me deu dois meses — tentei explicar, fazendo o possível para não mencionar o nome Haru. — Teste? Que dê? — questionou mais preocupado que antes. — Ah! Nada de mais, é só um novo tratamento que ela resolveu implementar — Respondi como se não fosse nada, tentando encerrar o assunto. — Uhm! Funcionou? Você está bem? Não tem mais nenhum pesadelo? — questionou mais preocupado que antes. Assim que suas questões chegaram em meus ouvidos, senti que o meu coração era um tambor de xigubo ¹. Eu estava bem? Acho que nunca estaria enquanto não soubesse se Haru era real ou coisa da minha cabeça, funcionou? Não, se ainda tinha pesadelos? Depois dos sonhos, minha vida tornou-se um autêntico pesadelo. — Acho que funcionou, depois da consulta não mais tive pesadelos — menti. Não queria mentir, mas o que diria ao meu pai? Que estava apaixonada por um sonho? — Que bom, eu realmente fiquei preocupado depois que te encontrei a gritar naquele dia — respondi aliviada. — Já passou, o tratamento funcionou muito bem — forcei o sorriso para que ele cresse em minhas palavras. O trajeto até ao consultório da doutora Gleice, foi feito em silêncio, mas um silêncio agradável, num clima suave e sem previsão de tempestade. — Oi querida, como está? — a doutora Gleice cumprimentou, assim que me viu. — Boa tarde doutora, estou bem e a senhora? — cumprimentei com um sorriso forçado. — Ah! Eu estou óptima, boa tarde senhor Armando, como está? — cumprimentou á meu pai que estava alheio ao nosso diálogo. — Boa tarde doutora, estou óptimo e espero que a consulta de hoje ajude a minha filha, como tem ajudado ultimamente — papá falou todo esperançoso. — Assim será, vamos? — se dirigiu a mim e nos encaminhamos a sua sala, já na sala. — Então Érica, como realmente está? — questionou folheando o pequeno bloco de notas. — Eu não estou bem — retruquei num sussurro sôfrego. — Pôr quê? — indagou anotando algo em seu bloco de notas. — Bom! — suspirei — Primeiro, a senhora estava certa eu sofro de Fictosexualidade, segundo um menino gostou de mim, confessou seus sentimentos e eu fugi dele, terceiro e último, eu estou com muito medo de não conseguir amar alguém real por causa dele, meu namorado imaginário — falei tudo muito rápido. — Está bem, pelo que percebi, o seu Haru não respondeu às suas cartas, e supostamente você está apaixonada, é isso? — questionou anotando algo em seu bloquinho, não respondi com palavras somente abanei a cabeça. — Érica,você gosta do outro menino?— questionou olhando para mim, parei de brincar com as minhas unhas e olhei para ela. — Eu não sei! — sussurrei — Quando eu estou com ele, sinto-me tão bem em alguns momentos momentos parece até que o sol brilha mais, as palavras dele são como músicas para os meus ouvidos — falei sorrindo, mas o meu sorriso morreu assim que lembrei o que aconteceu na manhã daquele dia. — Pelo que percebi, você gosta dele — disse e anotou algo no caderno dela. — Eu gosto, mas — retruquei num sussurro, mas não terminei a frase pois senti como se tivesse um bolo em meu estômago. — Mas? — indagou esperando a minha resposta. — Mas, toda vez que sinto essas coisas eu me sinto uma traidora — respondi, e senti a garganta apertar. — Então você acha que não pode sentir isso tudo, porque está traindo o traindo? Haru? — abanei a cabeça concordando — Pensa da seguinte forma, você não o está traindo, até porquê vocês não têm nada e tem mais, você reconheceu que tem fictosexualidade, sendo assim, reconheces que Haru é uma fantasia, sendo o mesmo uma fantasia, não tem como ser uma traição — terminou e olhou para mim. Eu sabia disso tudo, mas o que eu podia fazer? Como falar para o meu coração que ele era uma ilusão que inventei? Como falar para mim mesma que Haru era só um personagem que criei? — Eu sei doutora, mas eu não consigo, não sei o que fazer me ajuda por favor — falei com desespero. — Oh! querida, Eu vou te ajudar eu prometo, faremos isso juntas — retrucou e logo em seguida me envolveu em seus braços. Saí da sala da doutora Gleice um pouco aliviada e decidida a dar fim a minha loucura, a doutora Gleice e Isa tinham razão, eu não podia parar a minha vida por uma loucura, não podia me sujeitar a tamanha loucura e insanidade. Aquilo era demais até para mim, até mesmo as dorameiras e minhas amigas leitoras seguiam suas vidas, sem pensar que seu crush literário fosse real, elas namoram mesmo tendo paixões platónicas por personagens inexistentes como Haru. Mas para mim, parecia que quanto mais pensava nele, mais ele se tornava real.
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