Capítulo Dez

2346 Words
Em uma outra vida, eu seria a sua garota, nós manteríamos todas as promessas e seríamos, nós contra o mundo. Em uma outra vida, eu faria você ficar, para não ter que dizer que você foi aquele que foi embora. ( Katy Perry — The one that got away). —————————————————————— Aceitar o inexistêncialismo de Haru, parecia uma coisa fácil de se fazer, parecia que era só desligar um botão dentro de mim e pronto, mas não era isso, eu precisava de um tempo, um tempo não, muito tempo. Eu estava disposta a fazer tudo ao meu alcance para esquecer Haru, mas eu sabia que não seria uma batalha fácil. Assim que chegamos a casa, jantamos juntos ( eu e o meu pai), conversamos sobre vários assuntos, dentre eles como andava a minha vida na faculdade de medicina, conversamos sobre o trabalho dele e alguns temas banais. O nosso jantar foi agradável, rimos como nunca antes desde que a minha mãe morreu, depois que a mesma morreu, cada um sofreu do seu jeito, papá se fechou no trabalho e eu me puni e culpei. Para ser sincera, mesmo que Haru não fosse real, sonhar com ele tinha tornado as coisas na minha vida Muito melhores, se o meu pai não tivesse me encontrado chamando por ele naquela noite, acho que todas as coisas que aconteceram depois daquela noite, não teriam acontecido. Sonhar com Haru foi como um efeito borboleta, uma pequena acção que desencadeou grandes acontecimentos na minha vida, mesmo que os acontecimentos fossem imperceptíveis no princípio, depois de alguns dias eu fui percebendo que foi bom, Haru ter feito parte da minha vida. Depois da derradeira carta, eu tive o mês da abstinência. O momento de abstinência, é quando nos privamos de algo que gostamos bastante e fazemos com frequência, essa coisa pode ser benéfica ou não para nós. A minha abstinência era basicamente, tentar parar de pensar em Haru, tentar viver como uma pessoa normal e parar de escrever cartas para ele. Eu sentia uma necessidade compulsiva de escrever para ele, mesmo sabendo que não teria um retorno. O primeiro mês de abstinência não foi fácil para mim, como podia ser? Primeiro: Eu parei de falar com Antônio, pois não queria que ele criasse espectativas dum possível romance entre nós, eu fiz exatamente o que não podia fazer, me afastei da única pessoa que parecia me amar mesmo com todos os meus problemas mentais. A distância que criei entre nós, o afectou imensamente, o olhar de tristeza sempre que eu desviava o caminho ou o evitava na sala, só aumentou a dor em meu peito. Sim, eu fui louca, eu piorei o meu sofrimento, estava sofrendo em dobro, porque, mesmo que me custasse admitir, eu estava apaixonada por Antonio e afasta-lo por causa de alguém que nem sequer era real, era muito pior que todas as minhas crises por Haru. segundo: Estava proibida de escrever para Haru e as minhas mãos coçavam por isso, todas as manhãs daquele mês, eu senti vontade de escrever milhares de cartas para ele, o chamado de todos os nomes horríveis possíveis, eu sentia vontade de insultar ele por me estar a deixar maluca, eu quis insultar a família dele, quis eu amaldiçoar ele. Mas a quem amaldiçoaria? Haru não era real. Terceiro: Estava me sentindo uma drogada em fase de abstinência, existe pior coisa que a abstinência? O que o drogado sente estando sob o efeito de qualquer d***a, é mil vezes pior estando na abstinência, o corpo torna-se sensível e parece que qualquer coisa, faz você precisar daquela d***a como nunca. Eu precisava dele, eu precisava das respostas dele, eu precisava mais do que nunca que ele fosse real. Quarto e último: As minhas crises de abstinência era dolorosas demais, eu sonhava todos os dias com ele e sabe o que eu percebi? Ele devia ser um espírito vingativo, a minha família deve ter feito alguma coisa no passado e o fantasma veio a busca de vingança e estava me usando para tal, porque não existia uma explicação plausível para o que estava acontecendo comigo, ou ele era um maldito fantasma vingativo ou a minha mente era ferrada demais. (...) Um dia qualquer no mês da abstinência, tive um sonho com ele, aquele sonho deixou-me indisposta. No sonho, eu estava de volta ao jardim e Haru estava lá mas, no meio do sonho eu consegui ver o rosto dele, mas o rosto não era dele, era o rosto do Antônio. Então sim, Haru era um espírito vingativo. Nesse mesmo dia na faculdade, Antônio tentou falar comigo, eu fugi igual o d***o foge da cruz, depois me senti muito m*l por isso, eu queira falar com, mas primeiro, tinha que resolver meus problemas com Haru, naqueles dias eu estava me sentindo igual a Katy Perry Na música " The one that got away". Essa música, retratava o meu dilema e a minha história com Antônio, Porque, se eu pudesse numa outra vida eu seria a garota dele e faria ele ficar comigo até o fim e seríamos nós contra o mundo, mas não foi isso o que aconteceu, aquela era a minha vida e eu não era a garota dele e nem de ninguém, como podia ser a garota de alguém estando apaixonada por um fantasma? Quando voltei para casa, fiquei sentada, com as mãos fazendo comichão, pois, estava com uma vontade louca de escrever outra carta para ele, eu sei que estava sendo ridícula e estava agindo como um drogado, mas o que eu podia fazer? Parecia que a minha doença não tinha cura. Sabia que iria me arrepender, sabia que não devia escrever outra carta, mas foi mais forte do que eu, no final ficaria com o coração dilacerado por não receber uma resposta positiva dele, mas eu não consegui, eu escrevi outra carta para ele. Carta da abstinência Caro Haru! Hoje eu completo três meses da minha abstinência, Sim abstinência, sabe por quê? Porque o que eu sinto por você não é normal, eu prometi para a minha psicóloga e para mim mesma que não mais pensaria em você, e que não escreveria outra carta para você, mas eu sou uma maldita drogada, eu estou embriagada, bêbada de amores por você, eu tentei me tratar eu juro, mas eu não resisti, como uma drogada em fase de abstinência eu sofri uma crise, e não resisti e escrevi esta carta para você, sabe eu estou me sentindo como os personagens do filme "Prisão sem grades". Porque, eu estou amarrada a essas correntes invisíveis, eu acho que perdi a cabeça, porque eu encontro conforto em seu silêncio, eu quero me libertar dessa prisão sem grades que é amar você, mas eu não sei como. ericaisabellanga@gmail.com Terminei a carta, saí de casa até os correios de Maputo, enviei a carta. Depois de enviada a carta, perambulei pela cidade, andei de lá pra cá sem rumo e quando me cansei, resolvi entrar no jardim Tunduro Sentei no antigo banco em que eu e Antônio, costumávamos sentar. Sim, estava sendo dramática. — Eu sabia que te encontraria aqui — virei-me assustada ao escutar a voz dele, lá estava ele, lindo mais que nunca, trajado numas calças jeans pretas e uma camisola preto e branco da marca " Nivaldo Tiery" e umas sapatilhas Nike brancas. Como eu podia continuar apaixonada por um demônio, tendo alguém como ele na reserva? É sério, o meu eu de dezoito anos foi alguém extremamente burro. —Antônio — sussurrei baixinho, impactada com sua beleza, sua postura calma ao estar diante da pessoa que partiu o coração dele, realmente me surpreendeu. Seu jeito tímido não estava mais tão evidente, ele parecia selvagem, o cabelo despenteado, as maçãs do rosto bem definidas, seu pomo de Adão saliente e eu não duvido que se levantasse o moletom ele teria uma fileira de gominhos salientes. — Eu mesmo, como você está? Parece triste — questionou aproximando e se sentando do meu lado, mesmo depois de partir o coração dele, ele ainda se importava comigo. — Eu estou bem — murmurei com calma, inspirei seu perfume de pura cafeína e tive que me controlar para não passar o nariz em seu pescoço. — Não esperava encontrar-me aqui, não é? — disse sorrindo envergonhado. Ele estava envergonhado, como podia estar envergonhado? Eu é que devia me envergonhar por partir o coração dele. Claro que eu não esperava, estou fugindo de você como o d***o foge da cruz — retruquei para mim mesma. — Sim, eu não esperava — admiti envergonhada. Abaixei a cabeça tomada pela vergonha, eu estava muito envergonhada. — Érica! Eu peço perdão pelo que aconteceu naquele dia — ele se desculpou por ter se confessado, por me ter feito o favor de gostar de mim, mesmo eu sendo completamente ferrada, como alguém podia ser tão modesto? A vergonha tomou tanto conta de mim que, o interrompi antes que ele continuasse. — Antônio — chamei por ele, para tentar justificar alguma coisa, mas o que diria? — Shiu! Deixe-me continuar — falou colocando um dedo em meus lábios como forma de me calar — Como ía dizendo, eu sinto muito, muito mesmo por tê-la assustado naquele dia, não era a minha intenção, não quis pressiona-la, por favor não vamos acabar com nossa amizade — implorou triste, ele preferia me meter como amiga do que me perder em todos os sentidos. — Antônio, eu não estou chateada, eu, eu — tentei explicar o que estava acontecendo e o que estava sentindo, mas não encontrava uma desculpa plausível. Na minha situação o que você faria? — Érica, eu não quero perder você, eu não me importo de ser seu amigo para sempre, eu só não quero que te afastes de mim, eu me contento com sua amizade, só por favor não fique longe de mim — implorou mais uma vez. Seu olhar triste, sua voz triste, tudo nele parecia extremamente triste. Eu era a responsável por aquilo, eu parti o coração dele. Eu fiz ele estar naquela situação, eu fiz com que o único amigo que tinha, para além de Isabel, sofresse por mim e eu não conseguia ficar em paz com aquilo. — Antônio me perdoa, isso é tudo culpa minha — sussurrei arrependida do que estava fazendo com ele e comigo mesma, porque mesmo que fosse só um pouquinho, eu queria que ele fosse mais do que meu amigo. — Não você não tem culpa de nada, eu sou o único culpado, eu fui apressado e imprudente, não pensei em você nem nos seus sentimentos — Antônio uniu nossas mãos e levou até seu peito. Quando os nossos dedos tocaram-se, as minhas bochechas ficaram quentes, o clima estavam perfeito, estávamos num lugar perfeito com flores desabrochando e borboletas voando, tudo parecia perfeito, aquela parecia a minha chance de deixar Haru ir e tentar dar um passo com Antônio, tudo estava perfeito, o que podia acontecer de m*l? — Érica! Eu sei que prometi que só seremos amigos mas, eu não resisto á essa vontade de te beijar, eu quero te beijar, você não sabe como imagino esse momento, eu posso te beijar? — disse com a voz rouca, sua língua passou por entre seus lábios carnudos, aquilo provocou uma reacção muito quente dentro de mim. Ele queria me beijar, eu queria ser beijada? Sim queria, mas aquilo parecia tão errado, mas eu havia prometido seguir em frente e era isso que faria. Não respondi com palavras, apenas maneie a cabeça de baixo para cima. Eu sei que estava sendo precipitada, eu sei que precisava contar a ele sobre a confusão que era a minha vida amorosa, mas e se eu tentasse só um pouco, eu me feriria? Faltava tão pouco para que ele me beijasse, fechei os olhos esperando os lábios dele, eu já podia sentir sua respiração próxima á minha. Nos primeiros segundos em que, nossos lábios se encostaram, parecia que eu estava sonhando, a sensação de ser beijada por ele, era tão surreal que ofeguei e me colei ainda mais nele. Conduzi minhas mãos até seu pescoço e aprofundei o beijo, nossos lábios se encaixava perfeitamente que não parecia existir encaixe mais perfeito que aquele, suas mãos foram até a minha cintura e ele me apertou. Nossos lábios contornavam um ao outro de forma calma e sem pressa, sua língua deslizava timidamente até a minha e elas pareciam tão perfeitas juntas. Tudo parecia perfeito, até ele interromper o beijo. — O seu telefone está tocando — Antônio disse ainda próximo dos meus lábios e enquanto ele falava os lábios dele roçavam de leve os meus. Seu peito subia e descia de forma rápida, eu também estava no mesmo estado. — Ah! Uhum! — sussurrei sem muitos neoronios na cabeça, mas eles voltariam em poucos segundos. Ainda com o juízo perdido nos lábios de Antônio, peguei o celular e vi o que estava me irritando e interrompendo o meu momento romântico. Eu em toda a minha vida, não me preparei para o que estava por vir, dizem que depois da tempestade, vem a bonança. No meu caso, depois da tempestade, vinha o tsunami, de magnitude catástrofica, o tipo que ninguém sobrevive. Depois de finalmente me conformar que ele não era real, depois de finalmente aceitar seguir em frente com Antônio. O destino, o maldito destino, o filho da mãe do destino, me pregou uma verdadeira peça, digna de um musical Natalino. Em alto e bom tom, brilhava em meus celular, uma notificação que, recebi um e-mail, de alguém com o nome Alonso Haru Cassano. Okay, mas você pode dizer, bom! Ele é Alonso e não Haru, mas no nome dele, tem Haru e ele enviou um e-mail para mim, o que significa que, alguém recebeu as minhas cartas. Quais são as chances de seu namorado imaginário se tornar real? Quais são as chances de um demônio enviar um e-mail? Depois da tempestade vem a bonança? Ou um tsunami.
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