Quando infelizmente completei os dois meses que me foram dados, pela doutora Gleice, eu não acreditei que eles finalmente tinham se esgotado. Eu aguardei ansiosamente pelo retorno dele, eu esperei desesperadamente por uma resposta, mas ela não chegou, nunca chegou, as coisas continuaram como se nunca tivesse enviado uma carta para ele. Naquele dia, eu acordei inquieta, apreensiva e decepcionada. Acho que decepção é a palavra correcta, eu fiquei muito decepcionada comigo mesma Porque, naqueles meses eu fiz tudo ao meu alcance para tornar a minha loucura real, mas não fiz nada para me curar dela, o fiz todo o possível para tentar provar que Haru era real, mas não fiz absolutamente nada, para tentar viver o real, não fiz absolutamente nada, para tentar me conectar ao mundo real, a Antônio, tentar melhorar o meu relacionamento com o meu pai, com a minha amiga, eu não fiz nada, eu continuei sendo a mesma Érica de antes. Mas depois de nada ter acontecido, eu decidi que depois da consulta daquela semana, eu tentaria viver o real, eu ligaria o f**a-se no Haru, tentaria algo com Antônio que se misturava cada vez mais apaixonado por mim. Talvez o estivesse usando para esquecer alguém, mas eu estava decidida a não ficar de mãos atadas novamente.
«Cara Érica, aos poucos, eu estou descobrindo a sua história, estou descobrindo o quão incrível você é, tu és igual a um livro com capa e contracapa, onde a cada pagina que leio, me apaixono cada vez mais... desejo a voce um dia maravilhoso. Bom dia! »
Ele enviou uma mensagem linda para mim, demostrando todo seu suposto amor, enquanto eu sofria por não ter recebido uma carta de um fantasma ou uma loucura da minha cabeça.
« Bom dia amigo, um bom dia para você também » repliquei com frieza, não quis suscitar falsas esperanças nele.
Não teve a pretensão de ser fria com ele, contudo, não achei conveniente abarrota-lo com meus problemas, como o daria uma chance se cada pensamento meu, cada uma de minhas células estava conectada á Haru? Não podia cometer tal desventura com ele. O egoísmo seria tanto de minha parte que, minha alma ficaria abarrotada de culpa.
Ainda presa em meus devaneios, Continuei a arrumação pelo meu quarto, que a aquela altura, se igualava a uma pocilga, a sujeira era tanta que, a qualquer momento algumas vestes transformariam-se em lagartos.
Em algum momento, fui interrompida, pois, era chegado o derradeiro momento de enfrentar a doutora Gleice, porém, eu tive que assistir as minhas aulas primeiros, saímos de casa ( eu e o meu pai), ele me deixou no mesmo lugar de sempre e de lá fui caminhando para a faculdade, assim que cheguei a escola, fui recebida por um abraço quente e aconchegante e cheiroso diga-se de passagem.
— Bom dia,flor — cumprimentou com seu típico tom alegre, ainda presa em seus braços, ele deixou um beijo estalado em minha testa e me encarou sorrindo.
— Bom dia florindo! — tentei responder no mesmo tom, mas a mistura da pressão entre a culpa de estar traindo um fantasma e o impacto de sua beleza, me estava deixando sem reação.
— O que foi, está tudo bem? — indagou preocupado, levantado a minha cabeça. Ele passou as mãos por entre o meu rosto e investigou o mesmo.
— Está sim, por quê? — tentei disfarçar me fazendo de desentendida, mas não funcionou ele continuou com a mesma expressão de antes.
— O seu sorriso não chegou aos olhos, está tudo bem mesmo? — insistiu na questão novamente. Ele me conhecia tão bem que, eu nem sequer conseguia disfarçar a minha tristeza perto dele.
— Claro, está tudo óptimo e melhorou agora que eu te vi — eu joguei verde, para ver se desse modo, conseguia distrai-lo e realmente consegui, um sorriso lindo pintou seus lábios, ao escutar as minhas palavras, um sorriso tão lindo que iluminou tudo ao nosso redor e por alguns instantes, eu realmente me esqueci do maldito prazo dado pela doutora Gleice.
De mãos dadas, nós dois entramos na sala de aulas e não durou muito tempo o professor de biologia celular entrou, o mesmo deixou um tema e debatemos sobre. Mesmo que o meu corpo estivesse presente na sala de aulas, a minha boca participando do debate, a minha mente, se encontrava em outro lugar, em outro continente até, eu só queria voar dali e tentar o maldito Italiano e dar um soco nele. Terminado o debate, entrou o professores de anatomia assim terminaram as aulas. Saí da sala, pronta para devorar o meu lanche, até que Antônio veio falar comigo.
— Ei joaninha, posso falar com você? — Indagou apreensivo como se tivesse, algo realmente importante por me falar, o que podia ser tão importante ao ponto de deixá-lo tão nervoso.
— Ei estranho, já estás a falar, o que é? — repliquei m*l humorada.
— oh!oh!oh! Fica calma — ele tentou amenizar a situação. Ergueu os braços como sinal de paz, contudo, aquilo não mudou nada no meu humor.
— Oh! Desculpa, estou esfomeada e quando fico assim, o meu humor não é um dos melhores — me desculpei sem graça, não quis ser m*l criada, mas naquele momento eu queria que o mundo se f**a-se.
— Pois então coma, eu espero por você — ele sentou-se do mundo e esperou que eu comesse.
Eu tentei comer nas calmas, mas a presença inebriante dele do meu lado, me estava deixando embriagada e s*******o do certo e errado. O perfume dele, estava impregnando todo o ambiente ao nosso redor e eu só conseguia pensar no quão tentador seria, passar o meu nariz em seu pescoço. Continuei comendo, de forma morosa é óbvio, fiz todo o possível para atrasar o meu o lanche, sabia do que ele ia falar, não queria imaginar, só de imaginar sintia um bolo no estômago, o que diria caso ele se declarasse? Eu não queria perder um amigo, mas também não queria ganhar um namorado. Eu prometi seguir em frente caso Haru não retornasse, mas não estava preparada para começar isso de imediato.
— Bom, eu acho que você não vai terminar logo esse seu lanche, o que acha de darmos uma volta, o que tenho para falar não pode ser feito aqui — ele nem sequer esperou pela resposta, ele me pegou pelo braço e me conduziu até um jardim próximo da faculdade de medicina, o jardim fica logo ao lado da faculdade.
— Talvez você estranhe a minha súbita mudança de humor e comportamento, mas existe uma razão para tal, olha, eu não sei como falar isso, mas eu vou — ele começou gaguejando, não sei o que me deu naquele momento, mas eu não fiz nada para impedir aquilo.
— Desde o dia em que vi você pela primeira vez, me pego admirando você, seu sorriso, suas caretas, até a sua zanga — ele fraquejou um pouco, pois, sorriu ao se recordar de alguma coisa — Desde aquele dia, em que você quase me matou no telhado da casa do Hilan, eu desejo ver você feliz e sorrindo — tudo que foi dito depois de ele ter mencionado a quase queda no telhado, eu não escutei, parecia que eu estava presa num lup daquela cena, de nós dois caídos no terraço da casa de alguém que eu nem sequer sabia o nome.
— Me desculpe, eu não quis m***r você, foi um acidente — fui logo me desculpando com a maior cara de p*u que, podia fazer naquele momento. O que eu tinha para dizer? Eu quase fui responsável por um acidente mortal.
— Esse não é o caso, eu preciso que me escute — ele calou a minha boca com um dedo entre os meus lábios. Aquilo foi suficiente para que eu ficasse quieta pelo resto da conversa.
— Desde aquele dia, eu quero ver você sorrindo e feliz, quando você chorou na aula de psicologia, meu peito doeu imensamente, nunca antes tinha sentido tamanha dor antes — as palavras me recordando da aula de introspecção, fizeram com que algumas lágrimas minhas ficassem preparadas para descer — Você deve estar se perguntando. “o que eu fiz, para além de chorar?”— concordei abanando a cabeça para cima e para baixo.
— Você não fez nada mesmo, além de chorar, naquele dia, você estava tão magoada e exausta que chorou e soluçou — ele chegou próximo de mim e me levou até próximo dele, uma mão minha em seu peito, sentindo seus batimentos cardíacos — Naquele dia, descobri que você é linda, mesmo chorando — ele fez um carinho em meu rosto e naquele momento, aquele instante eu me atrevi a esquecer da existência de Haru, só conseguia pensar no quão Antônio podia ser magnífico e o pulsar de seu coração não estava ajudando em nada.
— Mesmo sendo linda chorando, as lágrimas não combinam tanto com você — foi impossível não sorri quando ele sorriu para mim dizendo isso — Enquanto você chorava, eu quis abraçar você, mas eu não sabia como você reagiria a isso — eu certamente fugiria dele no primeiro instante e no dia seguinte fingiria demência e nunca mais olharia na cara dele.
— Desde aquele dia, eu percebi uma coisa, que nunca mais deixarei você chorar daquele dia e se chorar, apenas te abraçarei bem forte — foi impossível não me emocionar com essas palavras, mas a melhor parte estava por vir.
— Foi naquele momento que me vi completamente apaixonado por você, descobri que quero estar com você, todas as vezes que sorri, porque você fica linda sorrindo, quero estar com você todas as vezes em que chorar, porque quero te abraçar e enxugar suas lágrimas, porque me corta o coração saber que machucam você — seus olhos brilhavam como duas estrelas em minha direção, eu não conseguia pensar em absolutamente nada, só consiguia pensar no quão estava sendo burra ao descartar um deus grego igual Antônio, por causa de um fantasma que nem sequer existia. Eu estava igual as dorameiras esperando por um Oppa coreano de cavalo branco.
— Você está apaixonado por mim? — indaguei usando o único neoronio que ainda estava em funcionamento na minha cabeça. Antônio concordou com a cabeça — Como? Por quê? Eu sou maluca sabia? — as palavras foram saindo da minha boca sem controle, naquele momento eu só conseguia prestar atenção nos lábios dele estavam próximos dos meus e no quão eles pareciam apetitosos.
— Então somos dois loucos, porque eu estou completamente apaixonado por cada uma de suas versões — Antônio murmurou com um sorriso sugestivo. Antes que conseguisse falar mais nada, ele atacou meus lábios de um modo calmo e doce.
A forma doce e calma com a qual, os nossos lábios se conectaram, foi mágica e inexplicável. Sua mão esquerda deslizou até o meu quadril me puxando para mais próximo de si, conectando ainda mais os nossos corpos, a ponto de compartilhar o mesmo calor com ele. Ele sugou de forma calma meu lábio inferior e isso quase fez com que eu tivesse um treco. Deslizei minhas mãos até seu pescoço e me firmei nele, seu aroma de cafeína me embriagou tanto ao ponto de esquecer que estávamos num local público, o estalar de nossos lábios pareceu me despertar do transe e isso foi suficiente para interromper o momento.
— Antônio pará! Não podemos — tentei falar, mas estava tão ofegante que foi quase impossível falar.
— Por quê não? Eu estou apaixonado por você, não existe nenhum problema nisso — Antônio sussurro me aproximando ainda mais de seu peito.
— Eu vou partir seu coração, vou pisar nele, esmagar ele, ainda quer ficar comigo — dei todos os avisos possíveis, pois, o fim dele seria aquele.
— Eu não me importo, o meu coração já é seu — ele sussurrou se aproximando ainda mais de mim, como se não importasse com seu coração.
— Eu não posso fazer isso, eu vou ferir você, eu não posso fazer isso — sussurrei abanando a cabeça de um lado para o outro. Me afastei dele com medo de partir seu coração, naquele momento, eu não estava pronta para ficar com, eu precisava corrigir todos os problemas mentais que tinha.
Saí correndo dalí com o coração na mão, nem sequer olhei para seu rosto, estava tão envergonhada da minha atitude que nem sequer o respondi quando ele me chamou.
— Érica espera, não fuja de mim — Ele tentou vir até mim, mas saí dali feito o próprio flash.