Capítulo Dezassete

2034 Words
Observei Haru partir e não fiz nada, o que eu podia fazer? Não o conhecia, estava confusa e decepcionada comigo mesma, por ter sido tão mimada e mesquinha, expulsando talvez a única pessoa que, talvez me amasse. Primeiro, eu fui capaz de partir o coração de Antônio sem o menor problema, sem medo nem remorso, fiz tudo com esperança de recomeçar com Haru e naquele dia, eu estraguei tudo com Haru também. O destino é uma c****a e o karma é seu fiel ajudante. No caminho de volta para casa, os acontecimentos voltaram a minha mente, numa espécie de deja Vu. Desde o primeiro sonho, até o primeiro contacto, ao fazer isso, percebi que, Haru nunca tinha confirmado ou negado a aparência que inventei, ele só me deu a corda e eu me enforquei sozinha. Na verdade, desde o início, eu estava me enforcando e afundando sozinha. Sem muito o que fazer na igreja, saí dalí, com a minha cara cheia de vergonha e deslavada. Assim que, cheguei em meu bairro, não fui directo para a minha casa, eu precisava desabafar e bater em alguém, ao invés de ir a minha casa, mudei a rota fui a casa da Isabel, eu precisava entender o que estava acontecendo e desabafar também. A caminhada até lá, durou um pouco mais de, cinco minutos, assim que, cheguei lá, chamei por ela. — Isabel! — gritei do lado de fora do portão, não queria um encontro com o endemoninhado do Boby. Aquele cão, não era de Deus, aquela coisa tinha o próprio capeta dentro dele. — Érica! Como está? — Isabel respondeu, assim que me viu, a expressão dela estava estranha, algo me dizia que ela sabia de tudo. Seu tom de voz parecia neutro, mas ele saiu neutro demais, como se tivesse treinado para sair daquele jeito. — Ai, nem te conto — deixei escapar num sussurro, já dentro do quintal de sua casa. Isabel veio até mim e colocou suas mãos em meu ombro, sua pele estava quente ela estava trémula, ela sabia de algo. — Vamos entrar, e você me conta lá dentro sobre o que, está te Afligindo — falou, me conduzindo para o seu quarto. Ela me empurrou e ficou a minha atrás. Entrei em sua casa, em passos calmos e vacilantes, eu esperava que, ela não soubesse sobre o meu encontro “casual” com Haru, eu esperava mesmo. — Então, quais são as novas? — questionou assim que, entramos em seu quarto. Ela se sentou em sua cama e sorriu. O sorriso foi tão falso e nervoso, que foi impossível não notar que ela estava escondendo alguma coisa. Uma das vantagens de ser uma pessoa quieta, é que você consegue perceber o que ninguém consegue. Você perceber os pequenos sinais de mentira, nada escapa aos seus olhos, nem um mísero sinal de mentira consegue escapar a isso. Eu sabia que ela estava escondendo algo de mim. — Ai, você não vai acreditar, é coisa de filme — soltei, num suspiro — Adivinha, quem eu encontrei na baixa? — questionei tipo quem não quer nada. O semblante dela, não mudou quase nada, ela sabia de tudo. Mesmo que sua face, continuasse neutro, o corpo falou por si, ombros erguidos e tensos, para piorar ela engoliu em seco. — Uhm! Não sei — ela murmurou, tentou fingir uma cara de surpresa, mas falhou miseravelmente, a boca dela disse que, não, mas o corpo disse sim. Ela afirmou que não sabia de nada, mas as sombrancelha erguida falaram o contrário. — Você já sabia? Como pode fazer isso — acusei logo de cara, não a dando espaço para se defender. Andei de um lado para o outro, nervosa e chateada por ela ter escondido algo do tipo de mim, a melhor amiga dela. — Sabia de quê? — tentou desconversar, fazendo a cara fria que costumava fazer quando mentia. Ela continuava mentindo, mas o corpo não a acompanhava. — Pará de mentir, eu te conheço muito bem, e sei que está mentindo para mim — berrei furiosa, e talvez magoada. — Ai amiga desculpa, sim eu sei que, Haru está em Maputo e que, você encontrou com ele na baixa da cidade — confessou num sussurro cheio de culpa e tristeza. — Como soube? — questionei, sendo vencida pela curiosidade, não adiantaria de nada ficar zangada com a minha amiga, ela não teve nada a ver com os acontecimentos da igreja. — Antes de vir para Moçambique, Haru entrou em contacto comigo, através das minhas redes sociais, ele queria saber como você estava, e informar que, estava vindo — relatou a primeira parte da história. Eu já estava calma, ela também. Nos sentamos em sua cama. — Continua — pedi que, ela prosseguisse com o relato dos acontecimentos. — Então, quando ele chegou, ele pediu que, eu arrumasse um encontro entre vocês dois, por isso eu pedi que fosses a baixa hoje, para que, ele te encontrasse lá — relatou a última parte da história. Ao escutar a última parte do relato, fez-me perceber que, até aquele momento, eu não tinha pensado em como, Haru tinha chegado até mim na igreja, em como ele sabia o lugar exato onde eu estaria. O nosso encontro real, não foi mero acaso como costumava ser em meus sonhos. Naquele dia, para além do e-mail dos correios, eu fui a cidade Porque a minha amiga me obrigou a ir lá, com a desculpa de dar um start na minha vida, m*l ela sabia que eu, não dei um start, eu retrocedi e não foi pouco. — Uhm! Está bem, então vocês combinaram o encontro que, tivemos? — questionei após um tempo de puro silêncio. — Era a única forma de vocês se encontrarem sem desfazer o romantismo que, você tanto queria — explicou, juntando nossas mãos, ela parecia preocupada com a minha reação, mas eu não estava furiosa com ela ou Haru, a única pessoa culpada ali, era eu e mais ninguém. As palavras dela, só me fizeram enxergar a burrada que tinha feito na igreja. — Uhm! Entendo. Bom, graças a sua sugestão de passeio forçado, você já deve saber que, nos encontramos — falei sem muito animação, apertei as mãos dela, eu sentia vontade de chorar e gritar comigo mesma. — O que foi? Você não gostou? Não é isso o que queria? — questionou, até aquele momento, parecia que, Haru não tinha ligado para reclamar da desgraça que, tinha sido o nosso primeiro encontro. — Não sei, ele não é o que eu esperava, eu fui pega de surpresa — suspirei, deixando claro o meu descontentamento. Mas a quem eu estava querendo enganar? Eu gostei dele e muito, eu só estava inventando desculpas para justificar a minha atitude mesquinha. — Não é o que você esperava? E o quê você esperava? — questionou, o seu semblante desmontava descontentamento igual ao meu. Ela estava decepcionada comigo, eu estava agindo que nem uma criança mimada. — Eu não sei, no mínimo que, tivesse uma das coisas que, imaginei — tentei me justificar, mesmo sabendo que, não tinha razão. O que eu podia dizer? Não tinha uma justificativa para a minha atitude. — Érica! Está se ouvindo? Foi você quem não quis ver as fotos dele, você se colocou nesta situação — Isabel, praticamente lançou a verdade na minha cara. — A culpa é vossa, vocês me enganaram ao confirmarem as características que, imaginei — tentei fugir da culpa, mesmo sabendo que não tinha nenhuma razão. — Uhm! Uhm! Pará de arranjar culpados, foi você quem não quis ver as fotos, nós só seguimos e apimentamos o que, você queria. Existe coisa mais romântica do que a surpresa? — questionou, lançando um balde de água de fria na minha cara. — Ai! você tem razão, eu fui tão má com ele — sussurrei, ao aceitar o meu erro e burrice que, tinha cometido. Me lancei em seus braços e quis chorar e muito. — Ai amiga, o que você fez? — questionou, preocupada comigo. Isabel ergueu o meu rosto e me encarou muito séria e preocupada. — Eu gritei com ele, eu falei que, ele não é o que eu queria, eu desprezei ele, dum certo modo, eu o expulsei da minha vida, por não se ajustar aos padrões por mim, estabelecidos — confessei a maluquice que, tinha feito. Passei as mãos em meu rosto e me escondi, estava tão envergonhada que queira ser enterrada viva. — Realmente, você foi muito burra, mimada e mesquinha — insultou sem nenhum remorso, ela largou o meu rosto e me empurrou no colchão. — Ei! Não precisa falar assim também — gritei ofendida, Isabel sabia ser c***l quando queria. — O quê? Eu não vou passar a mão na tua cabeça, você foi burra, mimada, mesquinha e preconceituosa. Se alguém, viajasse dum continente para outro por minha causa, nem que, fosse o ser mais f**o fisicamente, eu o daria uma chance de conhecer o seu interior — lançou mais outra bomba. As palavras dela, aumentaram a minha vontade de chorar e me entrar viva, eu fui muito mesquinha com ele. — Sim, você tem razão, eu fui burra, mimada, mesquinha e preconceituosa — assumi o meu erro, meus olhos se encheram de lágrimas e eu só queria um abraço da minha amiga. — Realmente — retesou — Érica, escuta, a beleza física, é uma coisa passageira e facilmente mutável, é igual as lagartas, um dia são lagartas e no outro são lindas borboletas e no final, viram **. O que eu quero dizer é que, você não pode se apegar as coisas físicas, um corpo, é só uma caixa que, carrega as verdadeiras belezas, caixas apodrecem, mas o que, fica aqui — tocou em meu peito — nunca apodrecerá porque o que importa em alguém, é o seu carácter e não seu queixo quadro — terminou, me deixando em choque e decepcionada comigo mesma. — Você tem razão, eu posso ter perdido o amor da minha vida, por ter sido fútil e mimida — sussurrei com pesar, minhas lágrimas caíram ainda mais e ela me abraçou para me tranquilizar. — Ai, não fica assim, eu tenho certeza que, Haru ainda está a tua espera, magoado, mas está a tua espera — tentou me animar. — Você acha? Eu acho que ele já voltou para Itália — me autodepreciei. Eu sempre fui mestre em me autodepreciar. — Eu acho que não, um passarinho me contou que, ele postou uma foto com uma legenda que claramente é uma indireta para você — falou virando o telefone, me mostrando a foto. Na foto, Haru está sentado nas barreiras da praia da Costa do sol, de frente ao mar, o pôr do sol refletido pela câmera, bate directo em seu rosto bonito e triste. A legenda deixa claro que é uma indireta. “ Só conhecemos uma pessoa, quando convivemos com ela, ou através duma pequena conversa com ela. Muitas das vezes, desejamos nunca conhecer o verdadeiro “ eu” das mesmas, pois, elas tendem a nos decepcionar e consequentemente machucar” — Isso claramente foi uma indirecta para ti — falou após ler o texto em voz audível. — Sim, foi, ele deve estar me odiando agora — concordei num sussurro. Me joguei em sua cama e escondi o meu rosto, eu queria chorar muito mais. — Então, me conta, o que mais aconteceu no vosso encontro? Teve algo bom? — questionou curiosa. Me levantou e limpou minhas lágrimas, o lado amiga preocupada foi substituído pelo lado, amiga fofoqueira. — Bom! Nos beijamos e discutimos, só foi isso — murmurei com a voz rouca, já estava um pouco calma, mas nem tanto. — O quê? Você teve seu primeiro beijo e reage assim? Como se não fosse nada? — gritou chocada — Me conta tudo — decretou. — Quem disse que foi o meu primeiro beijo? — murmurei com um sorriso nos lábios, aquela conversa seria longa. Os minutos seguintes, passaram-se comigo, relatando os acontecimentos passados á uma Isabel, faminta por novidades. Nos mesmo dia, ao voltar para casa, decidi corrigir o meu erro, e ignorar as coisas fúteis que, delimitei para um Haru perfeito.
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