Permita-se viver”, “ de chances ao amor”
Essas foram as últimas palavras dele no e-mail, nos primeiros cinco minutos após a leitura do mesmo, não acreditei no que vi, reli o mesmo, uma, duas, três e ene vezes, com a esperança que, fossem os meus olhos me enganando, mas após ficar uma hora olhando para a tela e vendo que, o conteúdo não alterava, dei-me conta que, sim, aquilo era realmente o que eu estava lendo. Ele simplesmente, ficou conversando comigo por vários meses, como se tivéssemos algum tipo de relacionamento, podia não ser romântico, mas nós dois tinhamos alguma coisa. Eu sei que pode parecer exagero da minha parte, mas eu esperei realmente que ele fosse me pedir em namoro, mas isso não aconteceu, ele simplismente escreveu um e-mail que dizia. “volte para a terapia maluca” foi assim que me senti.
— Ele me deixou? — sussurrei para mim mesma. Continuava, não crendo nas palavras que eu lia e relia. Minha garganta já estava seca naquele momento e a respiração, eu nem conseguia controlar ela.
Saí de casa com o computador, precisava duma segunda opinião, afinal de contas, eu podia muito bem estar errada. Corri para a casa da Isabel, talvez os meus olhos me estivessem enganando, precisava duma segunda opinião, cheguei a casa da Isabel com a respiração ofegante e o coração dilacerado, mas bem lá no fundo tinha a falsa ilusão que, fossem os meus olhos me enganando.
— Isabel! — gritei já abrindo o portão duma forma afobada, não me importei nem um pouco com o cão encapetado dela.
— Aqui! — Isabel respondeu com o tom mais alto que o normal.
Entrei em sua casa correndo, meus passos eram rápidos e afobado, meu coração palpitava mais do que os tambores de xigubo, nas missas de domingo. Quando finalmente passei o corredor da casa dela, que pelo nervosismo pareceu extenso demais para mim, naquele momento, fui directo ao seu quarto.
— Então amiga, o que te trás a minha humilde casa? Duas vezes num mesmo dia? — questiona assim que, me viu entrando em seu quarto, ela estava de costas para mim e quando não dei uma resposta verbal, ela se virou e me encarou.
Minha garganta estava seca demais, tanto que afectou minhas cordas vocais e eu não consegui falar absolutamente nada, só virei o laptop e a entreguei. Enquanto ela lia o e-mail, fiquei andando de um lado para o outro, que nem uma barata tonta, minhas unhas já estavam totalmente destruídas e eu só queria chorar.
— Ah! O que é isso? — questionou apreensiva, virando o laptop em minha direção, ela parecia tão confusa quanto eu.
— Também não sei, pensei que estivesse sonhand, por isso vim até aqui, para que, me falasses se é ou não um sonho — murmurei chorosa, minha respiração estava irregular e eu queria gritar e chorar como se não houvesse amanhã. Isabel olhou para mim com pena e compreensão, mas o que ela podia fazer? Nem mesmo eu entendi o que aconteceu ali, ele simplismente jogou uma bomba na minha vida e sumiu, como se eu não fosse nada.
— Ele terminou contigo? — questionou em choque e aflita, ela voltou a ler o e-mail e olhou para mim com pena. Eu Não a respondi, o que eu podia falar?
“Olha amiga, ele não é meu namorado, eu é que, sou a boba iludida da história”
Não né, mas eu não imaginei nada, nós tivemos algo, naqueles meses, até a minha amiga notou isso. Então! O que ele fez, não fazia o menor sentido para nós duas.
— Parece que, sim — respondi, resolvendo enfrentar de uma vez por todas a minha mais nova realidade. Que era, um Haru filho da mãe que partiu o meu coração em questão de segundos e uma realidade sem Antônio, porque ele nem sequer queria me ver pintada de ouro.
— Eu sinto muito, não sei o que, falar nesse momento, eu não sei o que você está sentido — disse vindo me dar um abraço que, recebi de bom grado.
Não sabia o que pensar, não sabia ao certo o que, estava sentido, ele tinha me deixado? Certo, mas não derramei nenhuma lágrima por isso, passei o dia me convencendo que, podia sobreviver sem ele. Chegava a ser tóxica a forma que, o colocava como o meu centro, talvez o nosso término sem início, fosse algo bom para mim, para que, voltasse a tomar as rédeas da minha vida.
Após o e-mail dele, terminando tudo entre nós, bom! Ele não terminou nada, porque éramos só dois estranhos conversando através dum correio eletrônico, era eu quem estava num relacionamento. Perceber que, eu era tão dependente dele, fez soar um sino dentro da minha cabeça, eu não podia continuar com aquela loucura.
Duas semanas depois do nosso término, recebi uma notificação dos correios, fiquei receosa em primeira instância mas, depois, lembrei-me que, Haru falou sobre as cartas. Pensando nisso, resolvi sair de casa para buscar as cartas. Saí da minha casa, caminhei até a paragem e peguei um autocarro até a cidade de Maputo, desci na baixa da cidade fui até os correios, recebi minhas cartas e sem mais me aguentar, abri o envelope e lí as cartas.
Carta número um
— Cara senhorita Langa, espero que, ao receber está carta, a senhorita esteja a gozar duma boa saúde. Caso a senhorita tenha, enviado a carta para Itália, então, talvez eu seja o seu amante desconhecido. Primeiro, eu não acho que, sejas louca, um pouco s*******o? Talvez, afinal quem faria uma coisa dessas? Eu nunca faria tal coisa. Na verdade, se eu tivesse uma irmã mais nova e se ela fizesse tal coisa, eu com certeza daria uma verdadeira bronca nela. Bom! Não sei o que escrever, um beijo.
Alonso Haru Cassano, talvez o seu amante desconhecido.
A assim que, terminei a primeira carta, fiquei surpreendida com a beleza de sua escrita, me sentia uma burra, por ter escrito aquelas cartas tão feias, mas aquilo não amenizava a minha dor.
Carta número dois
— Cara senhorita Érica, sou eu outra vez, sua segunda carta chegou até mim, acredite, sua primeira carta não me assustou, impressionado? Talvez, como você mesma disse, “ Quem se apaixona por um sonho? ” Mas o que, me deixa mais impressionado, é o que provoca os seus sonhos? A senhorita está certa, de nunca termos nos visto antes? O cérebro humano não tem a capacidade de criar uma coisa dessas, tem certeza que nunca nos vimos?
Terminei a segunda carta com o coração apertado, eu sabia que ler aquilo não me fazia bem, mas mesmo assim, continuei lendo. Eu precisava colocar de uma vez por todas na minha cabeça que, Érica e Haru, como um nós, era coisa só dá minha cabeça.
Carta número três
— Cara senhorita Érica, espero que esteja a gozar duma boa saúde. Realmente, eu estranhei a sua ausência nessas duas semanas, eu me perguntei se a senhorita desistiu de mim. Devo parabeniza-la, por estar organizando sua vida profissional, estou muito feliz por saber que, a senhorita não desistiu de mim. Sobre as conclusões tiradas, vejamos. A primeira, se as cartas foram realmente enviadas para o lugar certo, então sim, eu sou real. A segunda, não, eu não sou comprometido. A terceira e última, minha cara amante desconhecida, eu não acho que, sejas louca, se este for o caso, então somos dois loucos aqui, pois, eu também tenho sido imprudente, por responder as cartas de uma estranho.
Terminei a terceira carta com muito raiva e tristeza, como ele podia ser tão amável nas cartas e nos e-mails, e ter terminado as coisas comigo como se eu não fosse nada. Ele se atreveu a sumir da minha vida, sem nenhuma explicação plausível e convincente.
Devido a raiva que, se acumulou em meu peito, lancei todas as cartas em minha pasta e saí dos correios com raiva, usei a rota do banco de Moçambique, em direção ao jardim, após cinco minutos de caminhada, cheguei ao jardim. Sentei num banco qualquer, e inspirei o ar puro do jardim botânico, ficar muito tempo dentro de casa chorando não me havia feito bem, em duas semanas, eu talvez tivesse perdido uns cinco quilos e perceber isso deixou-me preocupada, isso me fez repensar sobre o meu amor por Haru, será que era mesmo amor? Ou obsessão, o meu mundo girava em torno dele, aquilo não era bom, ele nem sequer estava perto de mim e já tinha aquele tipo de poder sobre mim. Eu me sentia a própria Arlequina e ele era o meu Coringa, eu estava igual a ela que, se ele me pedisse para pular num tanque cheio de tinta, como o Coringa fez com ela, eu pularia sem exitar e esses pensamentos me assustavam.
Com os pensamentos a mil, saí do banco em que estava sentada e resolvi caminhar até a igreja para rezar e pedir a Deus que, tirasse aquele m*l da minha vida naquele momento. Afinal, o que aconteceu no princípio está acontecendo novamente, Haru estava atormentando a minha vida como no princípio, só que, ele não era apenas um simples sonho, ele era real, muito real e estava me deixando louca.
Saí do portão do jardim e caminhei até a igreja. No percurso, eu estava tão aeria em meus pensamentos que nem percebi, ao passar a casa de zinco, um dos monumentos históricos de Moçambique, ainda aeria nem percebi quando, cheguei as escadas da sé catedral, eu estava tão fechada em meus pensamentos que nem percebi que, tinha alguém a minha frente, alguém não, um murro de pedras, eu só fui perceber a presença do murro quando embati nele, só não caí porquê por sorte, uma mão toda tatuada impediu a minha queda.
— Ei! vê por onde anda! — gritei super irritada me desvencilhando do seu aperto desnecessário.
Mas por quê, eu estava irritada? Eu devia agradecer ao estranho por me ter salvo dum encontro amoroso com o chão. Mas não o fiz, naquele momento, eu estava revoltada com o mundo, eu só queria que, todos se explodissem, como eu estava explodindo.
— Andar na rua mexendo no celular não é muito inteligente — disse a voz, com um sotaque italiano muito forte e sexy. Escutar aquele sotaque fez-me perceber que o meu caso era grave, eu até escutava a voz dele na rua, eu nem sequer sabia como era a voz dele.
— E você não vê por anda? — respondi ríspida, eu não olhei o maldito murro de voz sexy e cheiro de campo após a chuva, então eu disse tudo olhando seus braços cobertos de tatuagens.
— Eu vejo mas... — respondeu o dono da voz, mas antes que continuasse o cortei.
— Mas o quê, por onde andam os seus olhos? — questionei no mesmo tô ríspido de antes, sem encara-lo com medo que, fosse alguém mais velho que obviamente acharia que, a sociedade estava perdida por ter jovens tão m*l educados, iguais a mim.
— Em você — ele disse calmamente, me assustando até certo ponto — Os meus olhos sempre estiveram e sempre estarão em você — quando estas palavras foram proferidas, reverberaram por meio de todos os meus muros que, fiquei a semana inteira construindo para me separar do real e do ireal, naquele mísero instante me recusei a aceitar que fosse ele.
— O quê? Como assim? Quem é você? — questionei, sem me atrever a erguer a minha face para encara-lo, me recusava a crer que, depois de duas semanas lutando contra a vontade louca de escrever para ele, o mesmo estivesse a minha frente, pronto para abalar a minha vida, num estilo sísmico de magnitude sete.
— Sou eu — retrucou sem muito esforço, estás duas palavras, fizeram mais estrago em mim do que qualquer outra tempestade, ou ciclone tenha afectando a minha vida.
Perdendo miseravelmente a batalha, atrevi-me a olha lo, e quando eu fiz tal coisa, o meu coração quase saltou pela boca. Seu cabelo escuro, desorganizado, braços tatuados, lábios carnudos e cor de rosa, seu queixo quadro e seus olhos negros, os mesmos que, costumava ver em meus sonhos, confirmavam os meus piores pesadelos, meus melhores sonhos e até um certo ponto, todas as minhas maiores esperanças, confirmando assim que a minha cura, não passou duma doce ilusão, ele continuava impregnado em meu corpo, coração, mente e alma, como uma maldita praga sem cura.