Sombra narrando
- eu não quero saber Sônia, o dinheiro está na conta, vocês usam como bem entender, usam como precisarem, mas eu não quero que me ligue, eu já falei a não ser que seja uma emergência- eu grito irritado e desligo a chamada jogando o celular na mesa
Odeio quando minha mãe me liga para falar besteiras, eu mando dinheiro suficiente para eles ficarem fora do rastro dos meus inimigos que não são poucos, eu vi minha família pela última vez quando a ratinha nasceu, o bichinha bonitinha, meu irmão fez um ótimo trabalho, fui na madrugada no hospital, vi a menina, e fui embora, foi uma visita de 30 minutos e eu fui embora, demorei mais no percurso do que com eles
Não gosto de expor minha família, não gosto de tê-los perto de mim, pois isso significa mais trabalho, mais dor de cabeça, e eu não tenho tempo pra essas palhaçadas
Eu já tenho muito problema, muita dor de cabeça, muito trabalho com esses valores inúteis, e não quero ver nunca mais a minha mãe tomando tapa na cara de cu azul, meu irmão desesperado trancado no fundo falso do guarda roupa, e eu na rua procurando meu pai pra saber se ele tá vivo
O pior dia da minha vida foi quando o bope subiu, e eu corr pra procurar meu pai, eu vi ele sendo morto, eu tinha apenas 14 anos, e aquela cena nunca mais saiu da minha cabeça
Ele fez sinal para eu me esconder dos cana, e eu fiz como ele mandou vendo o seu olhar de despedida e em seguida vi a pior tortura e covardia da minha vida, foi horrível, e desde então eu deixei de ser menino e virei homem
No dia seguinte eu cometi o meu primeiro homicídio, não apenas um, mas naquele dia eu matei 5 trairas, sem pena, sem remorso, todos com um tiro na cabeça e eu nunca sequer tinha pegado numa arma
Mas eu fiz pra honrar a memória do meu pai, eu fiz para vingá-lo, minha mãe me condenou, sofreu, por mim e por ele, pois eu segui um caminho que ela não apoiava, mas eu não ia abrir mão de algo que meu pai batalhou para ter que foi esse morro da providência
Hoje, eu não tenho dó de ninguém, eu odeio as pessoas, eu odeio conversas paralelas e sem sentido, jogar papo fora não é e nunca foi o meu forte, o único que me tira a paciência é o putao do Vitor, o menor que testa minha sanidade todos os dias, esse tem que agradecer muito a vida dele porque ele é o único que fala na minha cabeça e ainda tá vivo
- coe minha madrinha chegou, tô indo lá buscar ela - ele fala invadindo a minha sala e eu só encaro ele puto - vai comer uma b****a, tá muito nervoso hoje - ele sai batendo a porta e eu suspiro
Seguindo a recomendação desse babaca eu aciono a Emily, ela é garota de programa, tá nessa vida porque gosta do luxo e das coisas boas que ganha, então eu sempre contrato ela, faz um trabalho bom, não é das melhores, mas me satisfaz no mínimo
- oi- ela entra séria sabendo que eu não gosto muito de assunto
Eu afasto a minha cadeira e ela vem pra minha frente, dando uma voltinha e fazendo uma dança sensual mostrando o seu corpo e se gabando dos p****s novos que ela colocou
Não, eu não patrocinei, eu p**o o preço que ela cobra e pronto, não dou dinheiro a mais, não faço agrado, ela recebe pelo serviço que ela oferece, apenas
Ela se ajoelha na minha frente abrindo a minha bermuda e já engole o meu p*u que estava duro precisando ser aliviado
- patrão preciso desenrolar uma ideia contigo - o Vitor me chama no rádio e eu ignoro
Coloco a camisinha já que ela não estava conseguindo me fazer gozar e fodo ela com força em cima da minha mesa, ela não pode gemer, eu odeio gemidos e suspiros, uso ela e outras apenas como depósito quando não quero ficar no 5x1, apenas isso
- acabei - coloco o dinheiro sobre a mesa e vou pro banheiro jogar a camisinha fora e me limpar
- estarei viajando pela Europa por um mês, arrume outra pra ser o seu depósito - ela fala com nojo e eu grudo no seu cabelo
- eu te pedi alguma satisfação. ?, vaza - eu falo e ela sai rebolando aquela b***a gigante e me joga beijo debochado da porta e vai embora
- coe patrão, preciso falar contigo p***a - vitinho entra e eu já respiro fundo
- não posso fuder não, c*****o, o patrão aqui sou eu - falo e ele faz cara de deboche
- nem parece que transou- ele me provoca - escuta, minha madrinha chegou mas trouxe uma mina com ela - ele fala e eu já soco meus pulsos sobre a mesa o encarando
- o que eu te falei p***a? Estamos sob ameaça do bope, eu não vou deixar ninguém dentro da minha favela- eu falo irritado com ele - eu deixei sua madrinha porque ela é cria daqui, ela é da sua família, foi por consideração a você p***a - eu grito irritado
- ai namoral, só grita comigo depois que tu ver a peça, anda vem comigo - ele fala já saindo da sala e eu grito puto chamando ele
- namoral Vitor, na próxima que tu virar as costas pra mim eu vou te acertar um tiro de fuzil que tu vai se ligar no bagulho - falo e ele me ignora já em cima da sua moto
Eu subo na minha moto e vou até a casa de sua madrinha com ele, chegando lá vou entrando do meu jeito de sempre, na calada, não é atoa que meu vulgo é sombra
Quando vi uma preta de costas, uma b***a gigante, uma cintura minúscula que cabe em apenas uma mão minha, ela dançando e de repente ela vira rápido e me joga um balde de água
Eu fiquei sem reação, meu sangue ferveu na hora, eu sentia minhas veias se expandindo no meu corpo, e fui encarando ela com ódio, que de início ela recuou mas logo retomou a postura e veio na minha direção
- ah me desculpa, eu não te vi, chegou do nada - ela fala cruzando os braços e eu não sabia se matava ela ou se admirava seu rosto perfeitamente desenhado e seus p****s quase a mostra no top que ela vestia
- tá maluca c*****o voce sabe quem eu sou ?- eu grito enfurecido retomando a minha postura
- acho que é o patrão né vitinho ?- ela pergunta olhando pro vitinho que estava pálido sem reação - mas eu não tive culpa, você saiu entrando e estava atrás de mim, eu não tinha como imaginar - ela responde afiada fazendo meu sangue ferver de raiva
- o que você veio fazer no meu morro, garota, fala logo- eu enquadro ela - veio a mando de alguém ?- eu pergunto e ela n**a seria olhando nos meus olhos
Ninguém olha nos meus olhos, a não ser o Vitor, todos abaixam a cabeça pra mim, tem medo de mim, e eu gosto dessa sensação do medo que sentem, odeio que me enfrentem
- mandada nada, eu vim com as minhas próprias pernas, e a dona Eliana sabendo que eu vim para essa cidade sem rumo me estendeu a mão oferecendo ajuda - ela fala jogando o cabelo pra trás e cruza os braços - e pra ele que eu vou ter que contar toda a minha vida ?- ela pergunta novamente ao Vitor
- sim é pra mim- eu fico ainda mais próximo dela - qual seu nome primeiramente ?- eu falo olhando ela de cima pois é um toco de gente
- Gabriela, tenho 21 anos, nasci e fui criada em ilhéus e vim recomeçar a minha vida aqui - ela fala como se fosse simples
Mas o seu olhar é sombrio, carrega dor, medo, desespero, e se mostra desafiadora, eu aprendi muito a ler as pessoas em silêncio, eu sou um excelente observador
- veio pra cá por que ?- eu encurralo ela na parede e ela sustenta o olhar ainda nos meus olhos
- recomeçar a vida - ela fala e eu me irrito cerrando os punhos
- escuta aqui Gabriela, eu quero respostas concretas oh eu te coloco pra descer o meu morro - falo colocando minhas mãos para trás do meu corpo
- eu já lhe disse, precisava recomeçar do zero, e por que não o Rio de Janeiro?- ela fala toda cheia de marra me encarando
- eu acho bom você andar na linha, aprender a me respeitar, e não causar no meu morro, ou eu te mato, entendeu bem ?- eu falo apontando o dedo na sua cara e ela concorda
- só isso ? Posso continuar minha faxina ?- ela pergunta colocando as mãos na cintura e eu meço cada pedaço do seu corpo, que preta, pena que não me envolvo com mulheres do morro
- tá na sua responsa Eliana, se ela vacilar você será cobrada - eu falo com a madrinha do Vitor
- não, não, se eu aprontar eu serei punida, ela não pode pagar por qualquer coisa que eu faça, oxi, que ousadia - a Bahiana continua me enfrentando
- tu tá doida pra perder a língua né garota - eu falo bolado observando seus olhos claros e boca carnuda
- não, só que pelo que me falaram aqui é o certo pelo certo né ?- ela fala e eu respiro fundo e olho pro Vitor
- reza pra essa daí nunca cruzar o meu caminho, isso aqui não vai ficar assim - eu falo mostrando a minha roupa toda molhada e saio da casa puto indo pra minha casa me trocar e voltar pra boca
Hoje tem pagode pra melhorar, e eu vou ter que ir cumprir o meu papel e ficar lá como se quisesse estar para alinhar algumas coisas com aliados que virão até aqui para tratar de novos negócios