Capítulo 01

2007 Words
Gabriela narrando - eu estou indo pra nunca mais voltar - olho o bordel onde cresci pela última vez e saio correndo pela rua com apenas uma mochila nas costas Peguei o primeiro táxi que vi e fui para a rodoviária, eu precisava sair daqui o quanto antes, eu preciso sumir desse lugar e nunca mais voltar, não importa o que aconteça, ainda mais depois do que eu descobri horas atrás, eu não posso ficar aqui de jeito nenhum - qual o destino senhora ?- o rapaz no guichê me pergunta e eu paro alguns segundos pensando - Rio de Janeiro- foi o primeiro ônibus que vi na parada Paguei a minha passagem e entrei no ônibus que já ia partir, achei minha poltrona, abracei minha mochila e quando o ônibus saiu da parada as lágrimas desceram pelo meu rosto, eu estou saindo do lugar onde eu mais sofri na vida, estou indo pra um lugar onde eu não conheço ninguém, não conheço nada, com uma mochila e o peito cheio de esperança, pois é a única coisa que me resta Conforme íamos saindo da cidade eu chorava ainda mais, minha doce e calorosa Bahia, um lugar tão lindo, onde eu só fui ferida, de todas as formas, esse lugar se tornou o pior lugar do mundo pra mim, e eu pretendo nunca mais botar meus pés aqui Foram dois dias e meio de viagem, pois fizemos algumas paradas, quando eu acordei na última parada eu senti uma mão sobre o meu corpo, e era um velho nojento me alisando - você tá maluco seu merda - já fui pra cima dele - motorista para o ônibus, tem um assediador aqui dentro - eu grito e o ônibus para na hora - você está com a b***a toda virada pro alto, uma anca dessa não tem como - ele fala e eu rodo minha mão na cara dele Foi uma confusão gigante, os passageiro indignados, eu me sentindo ainda pior, ainda mais depois de tudo que eu já passei e o motivo pelo qual eu estou fugindo, tenho que passar por isso Deu polícia, o cara foi retirado do ônibus, algumas mulheres me acolheram, eu chorava por tudo, por toda bagagem que eu carrego, por toda dor que eu venho arrastando no peito - ai mãezinha, ai painho, como eu queria vocês do meu lado - falo olhando o sol nascendo e pego a correntinha que me acompanha desde pequena, é a única lembrança que eu tenho dos meus pais - ei menina, você aceita um pedaço ?- uma moça me oferece simpática um pedaço de bolo e eu n**o - não, muito obrigada - falo simpática com ela e ela se senta do meu lado - percebi você chorando a viagem toda, lamento o que aconteceu aqui no ônibus com você - ela fala e eu concordo forçando um meio sorriso - obrigada - falo seria sem querer muito assunto - você tá indo ao rio a passeio ?- ela puxa assunto comigo e eu n**o - estou indo de vez- falo e ela estranha o fato de eu estar apenas com uma mochila - já tem lugar pra ficar ?- ela pergunta e eu n**o - olha, eu estou indo pra minha casa no morro da providência, ela está muito tempo fechada, eu acabei de ficar viúva, e decidi voltar pro rio, se você quiser eu posso te ajudar, acho que é um recomeço para duas pessoas né ? - ela fala e eu fico analisando enquanto ela me conta a sua história Eu não conheço ninguém, ia chegar no rio completamente perdida, pelo menos eu achei uma pessoa que conhece o rio, e enquanto eu conversava com ela parecia que eu senti o cheiro do perfume que minha mãe usava, e entendi aquilo como um sinal, pois eu havia acabado de clamar por eles, e essa moça apareceu - vamos ?- ela fala quando chegamos na rodoviária novo rio Desço com a minha mochila e ajudo ela com as suas malas, pegamos um táxi, e a cara do motorista não foi nada agradável quando ela falou o local, e isso me deu um certo medo - eu não vou subir, só levo até a barreira - ele fala sério e ela concorda - como assim ? O que é barreira ?- eu pergunto confusa pra ela Ela me explica que lá é uma favela imensa, e que tem a barreira onde ficam os traficantes, controlando quem entra e sai do morro, como ela mora bem pra dentro na favela, e próximo a rua da boca, ele só vai até a barreira, porque na parte da frente tem vários prédios e é mais tranquilo, mas a casa dela foi fruto do envolvimento que ela teve com um homem a muito anos atrás, e como ele era do movimento, ele deixou essa casa pra ela, e ela mantém até hoje - você não se importa né ?- ela pergunta e eu n**o- não vai acontecer nada com você, pelo que minha comadre falou o dono daqui é um sebo e não dá nem bom dia para os moradores, apesar de pensar na qualidade de vida nossa - ela explica e eu fico super confusa mas me faço - depois de tudo que eu passei, isso não é nada, Eliana - eu falo e ela concorda me dando a mão Chegamos no morro e tinham vários homens armados a uma certa distância, ali eu fiquei com medo, mesmo sem demonstrar, fechei a cara e subi com a minha mochila nas costas e puxando duas malas dela - coe as dona pensa que vão onde ?- um menino magrelo com uma arma maior que ele para na nossa frente nos analisando dos pés a cabeça e para o olhar nos meus p****s - que isso em preta - ele fala comigo e eu reviro os olhos - tem como tu acionar o vitinho no rádio e avisar que a madrinha dele chegou ?- Eliana fala séria e o menor olha pra ela meio torto mas chama no rádio se afastando da gente - coe ele mandou tu aguardar dez que ele tá vindo e quer saber da preta aí que ela não tem autorização pra entrar não - o menor fala cheio de marra e eu olho pra Eliana - olha, eu não quero trazer problemas pra senhora, eu posso procurar um albergue ou qualquer canto pra eu ficar - eu falo e ela n**a - que isso menina, é que meu afilhado sabia que eu vinha sozinha, mas fica tranquila que isso aí eu desenrolo - ela fala e surge um homem numa moto gigante, armado até os dente também, e logo atrás um carro - coe dinha, lembrou da família ?- ele vem na direção dela e abraça a Eliana - como você cresceu garoto, olha isso - ela fala tocando seus braços e ele me encara - e essa daí é quem ? Não tava no combinado não em dinha - ele fala bolado me encarando feio e eu respiro fundo - essa é a Gabi, ela tá chegando na cidade agora, precisa de um lugar para recomeçar, e eu chamei ela pra vir comigo - Eliana fala e tal vitinho n**a - vai dar não tia, patrão tá bolado, não vai aceitar morador novo não, pra senhora voltar já foi maior desenrolado, só entrou porque é da minha família - ele fala firme com ela - olha, eu agradeço a sua ajuda, mas eu vou procurar outro lugar, de repente naqueles prédios ali da entrada onde a senhora me mostrou, não se preocupe - eu falo com a Eliana que fica sem graça - não minha filha, eu te convidei pra ficar comigo, você não conhece nada na cidade - ela fala e olha pro homem armado como uma súplica a ele - e aí dona tu veio sem mala sem nada ?- o homem para me encarando - vim recomeçar a vida, só tenho aqui meus documentos e algumas poucas roupas - eu falo séria com ele - tá fugida é?- ele pergunta e eu n**o - qual foi do rolo então ?- ele fala bolado - olha, se eu não vou ficar aqui, eu não tenho o porque te falar da minha vida - falo grossa com ele e me viro pra dona Eliana - tchau, boa sorte pra senhora, que dê tudo certo - eu falo abraçando ela - me dá seu número, você pode precisar de ajuda, essa cidade é muito violenta e perigosa - ela fala rápido e eu n**o - não tenho nem celular, mas a gente se reencontra, viu, muito obrigada pela ajuda até aqui - eu falo e o cara para na minha frente - sobe com ela, mas tu ficando aqui, tu não vai precisar falar da sua vida pra mim não, mas pro patrão sim, e eu quero ver tu meter essa marra aí Bahiana - ele fala com deboche - não tive marra nenhuma com você, só falei que não tenho que falar da minha vida pra uma pessoa que nem conheço - falo e ele da risada com deboche - tu não tem noção do que é o Rio de Janeiro, vai ser uma pena te ver perdendo esse cabelos lindos, cuidado com a língua se não tu perde ela também - ele fala e se afasta de mim falando algo com a Eliana e sobe o morro - vem minha filha, vou te contar mais sobre como funciona o morro - ela fala e entramos no carro e guardamos as coisas dela - seja bem vinda Bahiana, na favela, e no meu coração - o menino da barreira fala com a mão no peito e mirando na minha b***a e eu n**o com a cabeça - se liga no poder da preta, que isso, essa tem o molho - ouço outro menino comentar e reviro os olhos Já tinha escutado falar que carioca é folgado, mas folga é pouco, eles são ousados demais pro meu gosto Chegamos na casa de Eliana, e ela me explicou muitas coisas sobre o morro, como funciona, regras e tudo mais, eu já vi que talvez eu não consiga me adaptar aqui, mas eu preciso tentar, vou ter que arrumar um serviço, dar um jeito, e depois eu saio daqui - dona Eliana isso será temporário viu, hoje mesmo eu já vou sair pra arrumar algum trabalho - eu comento com ela que n**a toda feliz por estar de volta ao rio Ela me mostra o quarto, eu deixo a minha mochila, to o um banho de água gelada, coloco um short de tecido mais confortável, um top, e começo a lavar a casa todinha com a dona Eliana, dando aquela faxina de respeito na casa, porque como estava a muito tempo fechada precisava de uma boa faxina, e já fomos abrindo tudo, ouvindo nosso bom axé da Bahia, no volume máximo e cantando junto Dona Eliana é super acolhedora, meus pais ouviram meu clamor e mandaram a pessoa certa pra eu iniciar essa nova fase da minha vida Estava super distraída limpando a frente da casa, enchi um balde e joguei água pra lavar as paredes, e o chão, pois já havia varrido tudo e tirado os matos, quando acertei um homem que eu nem tinha visto entrar jogando um balde de água em cima dele todinho e congelei na mesma hora - c*****o patrão, mano - ouço a voz do tal vitinho e o homem me encara como se fosse me matar e já vem na minha direção bolado e eu engulo seco sentindo o meu corpo vacilar com medo do seu olhar frio e sombrio me encarando, furioso, todo molhado Eu não sabia o que fazer, senti medo, me senti acuada, o que me gerou um gatilho enorme sobre o que eu já vivi, e no mesmo tempo em que eu recuei eu voltei na direção dele ficando frente a frente com ele
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