.•*¨*•.¸¸♪ Capítulo 6 ♪¸¸.•*¨*•.

1852 Words
.•*¨*•.¸¸♪ Aquele onde Renriel decide matar um rei ♪¸¸.•*¨*•. Quem diabos fez isso com você? Era o que ela queria perguntar. Como caralhos isso aconteceu? Mas no fim, o que isso tinha haver com ela? Não se meta. Era o que uma voz calma e fria continuava repetindo. Não era problema seu. Não era relevante. Não devia assumir como algo importante dentro de seus princípios. Você é uma pirata. Não existe honra para nós. Tentava se convencer, mas a imagem das marcas nas costas de Beerin, eram como um tapa em seu rosto. Elas eram como as de Lucien. Lucien havia sido um jovem nobre do leste; o segundo filho de um lorde incompetente e c***l. A família Amsel fez parte do ducado por dez longas gerações e o pequeno Lucien – filho de uma serviçal que foi forçada a deitar-se com o nobre duque de Amsel –, mesmo sendo um bastardo, foi arrastado para a mansão do duque e educado como seu principal herdeiro. Ao menos era isso que era contado para aqueles da alta sociedade. A verdade era que Lucien não passava de um peão. Uma criança com traços de seu pai – abusador –, que trazia para sua doce mãe – que adoeceu após o parto e nem mesmo conseguia ver a criança sem tentar contra sua vida –, o pior de seus pesadelos. Nada mais era que o escudo perfeito para manter o verdadeiro herdeiro do ducado de Amsel em segurança. Aden – seu irmão mais velho –, era aquele que deveria sobreviver. E mesmo que para a nobreza fosse Lucien o verdadeiro herdeiro de Amsel, na mansão do duque, não era segredo que Aden e seu pai maltratavam o pequeno bastardo. O transformando em diversão para todos, até mesmo os servos da região. Mesmo anos depois, mesmo com o poder de Sírius em seu corpo, ainda havia marcas das torturas pelas quais ele havia passado. Cicatrizes, manchas de queimaduras, tatuagens de símbolos de ocultismo. Então... como ela poderia ignorar? Como poderia fingir não ver as marcas no corpo daquele garoto, fosse ele o príncipe de Asaph ou um mendigo jogado aos cantos? A nobreza era podre..., mas como poderia acontecer com ele? Beerin não era o único herdeiro do rei de Asaph? Por que o maltratar? Quem poderia ter feito aquelas marcas? “Me diga, príncipe Beerin, você já navegou antes?” sondou, com o rosto apoiado em uma das mãos. Ele parecia perdido, como se sua questão o houvesse arrancado de algum devaneio, mas prontamente respondeu “Não. Eu nunca sai de Asaph”. Então como? Era o que Ren queria perguntar, mas a porta de sua cabine repentinamente se abriu e um Mark despreocupado apareceu. “Capitã... e eu achando que teria que acordá-la como de costume” brincou, abrindo um sorriso que fez sua bizarra cicatriz se contorcer de forma ainda mais assustadora que o comum. “Não posso depender sempre de você, querido Mark” devolveu gesticulando com uma das mãos. O imediato gargalhou, deslizando uma das mãos pelo cabelo “certamente, ficaria grato caso o fizesse, afinal estou quase de cabelos brancos”. “Ficaria muito interessante de cabelos grisalhos", Ren continuou. “Oh, não fale besteiras!” Mark riu. “Você sabe que falo a verdade” Ren zombou, mostrando a língua antes de falar “mas me traga o café da manhã, se eu tiver que ouvir marujos reclamando e gritando tão cedo, vou acabar jogando alguém do navio”. “Quanto mau humor, é quase refrescante” Mark disse de forma esnobe, olhando para Beerin que ainda parecia desconfortável. "Acho que trarei algo para a princesa também". "A idade anda te fazendo mais sábio, Mark" Ren brincou, jogando na direção do imediato uma adaga afiada, que com facilidade foi pega por ele entre os dedos. "Certamente, minha capitã" ele respondeu antes de sair. O príncipe, que parecia inquieto desde sua pergunta, continuava sentado como uma criança obediente. Era verdade que ela o havia levado para fora da cela por pena - ele parecia indefeso e em pânico. Ele parecia prestes a quebrar. Mas agora você está prestes a cruzar a linha, Renriel! Ela tentou lembrar a si mesma. Ainda era por pena que ela estava fazendo tudo aquilo? Não se torne uma pessoa burra, Renriel. Beerin não devia ser seu problema. Lucien e ele não eram iguais. Mas aquele olhar… Sim, havia sido aquele maldito olhar - quando ergueu o rosto dele para cima - que a fez questionar. A fez repensar. Lucien era forte, ela tinha que se lembrar. Mas e se ele não tivesse sido? Seus olhos voltaram a recair sobre Beerin. Lucien havia salvo sua vida. Lucien a tinha protegido com sua própria vida. O Lucien que Mark tanto amava. O Lucien que deu a uma criança perdida e quebrada, um lugar para chamar de casa. Ele teria acabado assim se não tivesse sido tão forte? Ombros arqueados, semblante assustado. Olhos sempre baixos, lábios machucados e tantas… marcas. Lucien já havia estado dessa forma? Ele havia sofrido assim… Talvez pior, se pegou pensando e sem notar, estalou a língua em descontentamento. Beerin que estava quieto, estremeceu como um bichinho prestes a ser maltratado. Que se dane! Ela decidiu. O inferno era o que a esperava de qualquer forma, então porque diabos deveria se importar? O que a impedia? Nada. Nada nunca irá me impedir. Mark voltou, deixou as frutas, pães e pratos sobre a pequena mesa redonda e com o olhar preocupado fitou Beerin e em seguida Renriel - ele era tão óbvio. Era um nítido pedido - não o machuque. Se ainda restasse na capitã um pouco de humor, ela riria. "O que aconteceu, não está com fome?" perguntou ao notar que Beerin nem mesmo tinha se movido após certo tempo. "A senhorita disse para não tocar em nada..." ele respondeu com delicadeza. Ren bufou uma risada sem graça e com cautela, ergueu-se da confortável cadeira de estofado dourado. Era realmente curioso que a criança que a levou até a cama na noite anterior, ainda parecesse tão obediente. O que ele responderia se ela o provocasse a respeito da noite passada? Entraria em pânico. A resposta veio rapidamente e isso de certa forma a irritou. "Você é bem obediente, majestade" brincou, espetando um pêssego com um pequeno punhal de prata e o levando aos lábios "mas fique a vontade para comer, apenas não toque em meus pergaminhos". Como uma criança obediente, Beerin o fez. Suas mãos ainda tremiam, como se ele temesse que ela mudasse de ideia em algum momento, mas isso não iria acontecer. Por minutos, Ren permaneceu ali, com o rosto apoiando em uma das mãos. Observando cuidadosamente enquanto Beerin se alimentava. Ele era delicado, mas ela não esperava que seus movimentos e gestos fossem de certa forma tão... - graciosos. Como alguém conseguiu ser tão c***l com esse garoto? Embora fosse relativamente mais alto que ela, era como se não passasse de uma criança gentil e assustada. Alguns nobres precisam de guerreiros, outros apenas são cruéis. Lembrou-se de que Lucien certa vez a disse. Então esse era o caso daqueles que maltrataram Beerin? "Quem fez isso com você?" O garoto congelou, deixando a taça cair ao chão sem qualquer sinal de vida. Seus olhos estavam assustados, seus ombros retraídos e pareciam se encolher enquanto ele tremia. Ela sabia onde aquilo ia parar. "Shiii... se acalme" Ren sussurrou erguendo-se da cadeira e pegando o alaúde que sempre era deixado sobre sua mesa. O dedilhar começou e ela viu as lágrimas rolarem pelas bochechas de Beerin. "Tudo vai ficar bem agora". Ela murmurou quando ele ergueu o olhar em sua direção. "Então, me diga. Quem fez isso com você?" Ele mordeu o lábio com força, o olhar caído enquanto sussurrava uma única palavra: "guardas..." Ren respirou profundamente, lembrando-se que quebrar a melodia era tornar o feitiço completamente inútil e trazer a Beerin todas as sensações que estava tentando afastar. Seus dedos que agora pareciam mais frios e rígidos - ela os forçou a tocar. "Como... como caralhos o rei não os impediu?" ela perguntou entre dentes. Beerin fechou as mãos em punhos trêmulos e ela soube que a resposta a enfureceria ainda mais. "Ele... que os permitiu..." As garras da capitã arrebentaram as cordas do instrumento e um som quase ensurdecedor, invadiu seus ouvidos. A ligação de um bardo e seu instrumento era realmente irritante - quando algo assim acontecia. Mas para Renriel, que tinha os olhos em plena tempestade, nada disso era lembrado e a dor em seus tímpanos era quase insignificante perto do que ela sentia queimar em suas veias. Você não é seu filho? Ela queria perguntar, mas ao ver o garoto em choque quando a canção parou, a trouxe de volta a realidade. Ele apenas sentiria ainda mais medo. Assim como Lucien, Beerin havia sido tratado como lixo por aquele que o devia proteger. Sem a canção para acalmar suas emoções e o deixar estável - o garoto agora tremia com os olhos paralisados. Seu corpo estava prestes a colapsar. "Eu sinto muito..." ela disse se aproximando dele. Suas mãos segurando firmemente os dedos gélidos e finos de Beerin entre os seus "Eu sinto muito, Beerin..." Como se estivesse apenas esperando palavras de conforto, ele cedeu. As lágrimas desciam como cascatas e seu corpo parecia desabar enquanto se jogava para frente. O quanto você sofreu sozinho? Ela se perguntou e sem mesmo notar, envolveu os braços em volta daquela criança, o puxando para si e acalentando como se ali - em seus braços -, nada pudesse atingi-lo novamente. Ela ainda teria que devolve-lo, ela sabia. Ele ainda teria que retornar para aquele lugar e aquele maldito - que se dizia seu pai -, ainda poderia toca-lo mais uma vez. Renriel não precisava de detalhes para saber dos horrores que Beerin havia sofrido, não quando ele tremia daquela forma em seus braços. Não quando chorava de forma tão desesperada. Então, o que vai fazer? Deixa-lo viver sua vida livremente longe de Asaph? Causar uma guerra entre reinos por algo tão t**o? Ela se enfurecia a cada momento que novas dúvidas vinham a sua mente. Por que diabos ela precisaria pensar tanto? Ela era uma pirata no fim das contas. Só havia uma coisa que ela precisava fazer. Uma única coisa era suficiente para que Beerin estivesse em segurança e sua mente se sentisse tranquila em devolve-lo a Asaph. O rei deveria morrer. ✶✶✶ .•*¨*•.¸¸♪ Sumário♪¸¸.•*¨*•. Asaph: reino localizado no continente n***o do sul. Governado por Abellio – Rei regente. Reino de onde Beerin é o príncipe herdeiro. Amsel: Família nobre do continente leste. Foi o sobrenome que Lucien - antigo capitão de Sírius -, recebeu quando jovem. Após abandonar a nobresa, Lucien abandonou o sobrenome Amsel e se nomeou como Lucien Callan.
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