.•*¨*•.¸¸♪ Capítulo 5 ♪¸¸.•*¨*•.

1767 Words
.•*¨*•.¸¸♪ Aquele onde Beerin se apresenta ♪¸¸.•*¨*•. Beerin pensou que estava sonhando e mesmo surpreso, seus dedos não tremeram, sua coluna, não gelou e seu ar não foi tomado. Dessa vez, o medo do príncipe, nem mesmo se comparava ao sentimento de admiração que sentiu ao ver aquelas velas de céu estrelado. Eram tão brilhantes, com um fundo tão n***o e azulado que quase se fundia ao céu verdadeiro em uma noite escura. As estrelas que brilhavam nas velas, pareciam tão perto que ele se viu estendendo a mão para cima, como uma criança sorridente que corre atrás de uma borboleta. Foi então que a canção parou, e como um aviso, seu coração bateu acelerado. Ela não estava mais cantando. Beerin moveu-se o mais rápido que pôde e aos tropeços, se viu voltando para a cabine. Estava suando frio – quando Renriel entrou na cabine. Seus passos pareciam tão suaves e ao mesmo tempo aterrorizantes. Ela o mataria se soubesse que a espionou? Por que ela havia jogado uma coroa tão cara no mar? Piratas não deviam ser obcecados com ouro? Por que ela estava chorando? Ela se irritaria se soubesse que ele saiu da cabine sem avisar? Afinal, mesmo sem algemas ou fora daquela cela fedida, ele ainda era um prisioneiro. Naquele momento, Beerin tremeu ao pensar que, talvez... Ren não o matasse, mas o jogasse lá embaixo de novo. O jogasse para a escuridão da qual ele estava tentando fugir. Seus ossos gelavam com a simples ideia de retornar ao fundo do poço que havia sido jogado desde a infância. Ele se conhecia o suficiente para saber o quão fraco era. Fraco demais para se reerguer mais uma vez. Fraco demais para prender a escuridão em um lugar afastado, da mesma forma que era fraco demais para encarar seu pai. “Lava as minhas cicatrizes com tuas lágrimas Sonha uma vez com os nossos sorrisos Eu estarei, a caminhar, em busca do nosso único destino” a capitã cantou, a voz falha e embargada pelo choro. Berrin, deitado sobre o sofá, estático – pelo medo de ser descoberto –, resistiu à vontade de abrir seus olhos e observar Renriel. Mas em seus pensamentos, ele ainda via os lábios rosados e machucas pronunciando cada uma daquelas palavras. Por que? Ele ainda se perguntava. E então, em algum momento entre as palavras antigas cantadas pela capitã, ele adormeceu. Não houveram pesadelos nessa noite. Mas ao despertar, haviam garrafas jogadas pelo chão e Renriel – vestida apenas com uma camisa amarelada que parecia grande demais para pertencer-lá, estava jogada sobre a mesa de mapas. Adormecida - talvez pelo vinho, talvez pelo cansaço. As ondas cor de cobre de seus cabelos, estavam bagunçadas, emaranhadas e algumas mechas, completamente grudadas em seu rosto. Os braços sujos da tinta de alguns pergaminhos e em sua mão ainda restava um copo de cristal com um pouco de whisky. Apenas de se aproximar, era notório o cheiro de tinta e álcool, mas pela primeira vez, o fedor do álcool não incomodou Beerin. A única coisa que ele conseguia pensar, era em como o rosto de Renriel parecia angelical quando adormecido. Você não deveria, ele se repreendeu, mas ainda assim, seus dedos tocaram a bochecha da garota. Como podia alguém que parecia tão jovem, ser uma capitã pirata? Como podiam as lendas estarem tão erradas? Ela era realmente humana? Beerin estava tão perdido em perguntas, que quando voltou a si, carregava em seus braços o corpo de Renriel. O rosto dela recostado em seu peito de forma tão frágil, fez o coração do príncipe acelerar. Ela era realmente linda, não conseguiu evitar de pensar. Ela te mataria facilmente, repreendeu a voz de sua consciência. Mas ainda é linda, ele insistiu. Vale a pena morrer por algo belo? A voz questionou com descrença. Talvez... ele se viu pensando, enquanto deitava Renriel em sua cama. Tolice. A voz rosnou e Beerin não pode contrariá-la. Ele decerto era um t**o, mas foi por ser um t**o, que resistiu aos anos de tortura e abusos. A tolice nos manteve vivos, sussurrou. E agora, você deseja nos matar, criança tola! Beerin bufou uma risada sem graça. Ali, parado de joelhos ao lado da cama de Renriel, ele sorriu pela primeira vez em muito, muito tempo. Apenas olhar algo tão belo, era o suficiente naquele momento. Mesmo que essa beleza, pudesse matá-lo. Daquela vez, ele não adormeceu e antes que Renriel acordasse – com os gritos e risos dos marujos no deck do navio –, Beerin retornou ao sofá. Ele sentia que não precisava dormir, e até que não queria. E se no fim, ele acordasse na torre escura? E se aquelas mãos voltassem a tocá-lo? “Acorde, princesa” Disse Renriel, o pegando totalmente de surpresa. Seus pensamentos tinham se nublado, a ponto de nem mesmo ver o tempo passar. Ela agora, estava acordada. Com cuidado, Beerin virou-se na direção da capitã, com o olho violeta coberto por seu cabelo. “Você é bem obediente, para um príncipe”, ela brincou sentando na poltrona ao lado do sofá e colocando os pés sobre a mesinha de centro de mogno, com detalhes entalhados em ouro. O que eu deveria responder? Ele se questionou, apertando a barra da camisa entre os dedos. Mas ainda assim, nenhuma uma única palavra lhe veio à mente. Renriel o olhava como certo interesse e quando notou que nada sairia do príncipe, estalou a língua no céu da boca em descontentamento antes de levantar e dizer “troque-se, deve estar desconfortável com roupas sujas e fedorentas”. Eu estou acostumado, Beerin quase respondeu. Mas antes que conseguisse concluir seu pensamento, roupas foram jogadas em seu colo. Renriel sorria enquanto o provocava “O que foi? Preciso sair para dar mais privacidade a princesa?” Seu rosto esquentou ao ouvi-la e até suas orelhas tomaram a coloração avermelhada; mas Beerin não respondeu – não conseguiria sem gaguejar e se enrolar ao tentar negar a provocação. Então, ergueu-se e começou a se trocar. Ele pode sentir o calor dos olhos de Ren em suas costas e por um momento, a vergonha que o atingiu não se restringiu a estar se trocando em frente a uma mulher. Quando a respiração dela falhou e os passos se aproximaram dele, Beerin entendeu - nem todas as cicatrizes haviam sumido. Não quero que ela saiba, foi o que ele pensou. Seu corpo se encolhendo como um bichinho assustado enquanto seus dedos trêmulos se apressavam para puxar a camisa, mas ela foi mais rápida e quando o toque gélido de sua mão tocou uma das cicatrizes, uma corrente electrifica percorreu seu corpo. O toque foi mínimo e com a mesma rapidez que ela o tocou, se afastou. "Vá para o quarto se trocar, vou pedir a Mark que me traga a refeição para a cabine" Ela disse bruscamente quando Beerin se encolheu. Então, ele a obedeceu. Não é a primeira vez que te tocam, uma voz resmungou. Sim, ele simplesmente respondeu. Aquela realmente não era, mas aquela era realmente diferente de todas as outras vezes. "Sente-se" Renriel disse assim que ele terminou de se vestir. O rosto ainda cabisbaixo. "Am?" Questionou sem entender. "Sente-se aqui" ela disse apontando para a poltrona onde antes - ela estava sentada. Ele obedeceu, mesmo que se sentisse inquieto com o olhar da capitã sobre si. "Vou ajudá-lo com seus cabelos" Os olhos de Beerin se arregalaram. Por que? Ele queria perguntar, mas "não precisa!" foi o que ele disse de imediato. "Eu não perguntei se precisa, princesa" Ren o respondeu com deboche "trate como um capricho meu". Um capricho... acho que devo me contentar com isso, o príncipe concluiu. Os dedos de Ren eram quentes e delicados, eram cuidadosos e por algum motivo - diferentes da maioria -, não o causava repulsa. Ela tocou os fios negros e os penteou com cuidado. A gentileza que o pente e os dedos da garota deslizavam por seus cabelos e couro cabeludo, o fez corar com os olhos fixos nos joelhos. Mas quando os dedos se entrelaçaram a uma fita dourada, Beerin se viu segurando o pulso de Ren. "Não..." ele pediu com a voz falha. "Por que?" ela perguntou sem entender o motivo de tal ação. "Eu... prefiro assim..." ele mentiu. Apertando o tecido entre os dedos com força. Ele não preferia, ele não queria ver tudo com os fios negros rodeando seu olhar..., mas assim, ela não riria dele novamente. Assim, ela não o acharia nojento ou aborrecido. Assim... ela não veria algo tão feio. Ela talvez conseguisse esquecer a verdade sobre ele ser... uma aberração. Apenas me deixe me enganar... Ren se manteve em silêncio a ponto de Beerin se questionar sobre ela ter entendido seu real motivo, mas quando a fita foi posta de lado e seus cabelos foram soltos, ela simplesmente respondeu com um "como quiser, majestade.", antes de voltar a sentar-se na mesa atrás dos inúmeros pergaminhos e com um olhar de descaso, jogar papéis para o lado em busca de uma nova garrafa embaixo da mesa. "Beerin..." ele murmurou a fazendo erguer uma sobrancelha e voltar a fitá-lo. "Como?" "Meu nome, meu nome é Beerin..." A capitã sorriu apoiando o queixo em uma das mãos. "Oh... entendo, é um nome bonito. É um prazer te conhecer, príncipe Beerin". Ele não havia sido tão pretensioso a ponto de pensar que ela diria seu nome, então ao ouvi-lo, Beerin sentiu que seu coração havia errado as batidas. Talvez, aquele t**o havia esquecido a velocidade certa para continuar bombeando sangue em seu corpo. "Se-seu... seu nome..." ele se viu falando rápido demais para que conseguisse conter suas palavras insolentes. Era essa a gota de água final? Ela certamente o mandaria para as masmorras dessa vez. Mas para sua surpresa, a capitã bufou uma risada antes de responder "Renriel. Renriel Callan" respondeu enquanto seus lábios se abriam em um sorriso divertido. Aquelas eram palavras que ele não havia esperado ouvir. Renriel, ele sussurrou mentalmente. Como seria a sensação de chama-la por seu nome? Lembrava os nomes dados aos solares supremos - seres celestiais de poder magnifico. Qualquer um que fitasse o céu estrelado que ela carregava em seus olhos, pensaria que o nome lhe caia muito. Afinal, quem melhor que um anjo para deter estrelas em seu olhar? Naquele momento, Beerin se viu sorrindo - e os olhos céu estrelado se arregalaram ao ver isso, como se algo os tivesse surpreendido. ✶✶✶
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