Cap. 6

1044 Words
Maribel narrando. Estar nessa casa não me deixa nem um pouco a vontade, as lembranças de tudo o que passamos é muito recente e acho que qualquer lugar que a gente vá, jamais nos sentiremos completas, sempre vai faltar o papai, as nossas sextas de pizza, nossos passeios e cada aprendizado. Eu esqueci completamente do meu celular, não sabia se alguém havia entrado em contato ou os meus amigos da escola afinal, eu ainda estava estudando, faltava somente uma semana para terminar, mas não tenho dúvidas de que eu passei de série e posso me considerar oficialmente uma garota formada. Pensando bem, é melhor estar com outro celular, outro chip e desaparecer de verdade, já que tentaram nos matar, não duvido que tenham colocado uma escuta no nosso celular ou até mesmo nas nossas coisas. Eu só estava pensando em como vamos fazer, precisamos de roupas, sapatos, tudo novo, já que tudo se explodiu junto com a nossa casa. — Até que não é tão r**m, né Mari? — Clarice perguntou analisando os detalhes da casa. — Claro que não, até porque nós temos um jardim enorme e uma piscina no quintal. — Eu revirei os olhos. — Ah, faça o favor Clari... isso aqui é péssimo, mas não temos escolha... — Melhor que um barraco de madeira, como as outras pessoas moram. — Ela deu de ombros e eu fingi não ouvir. — Quero os meus lençóis, isso eu não abro mão. — Eu falei pegando um dos cartões na bolsa. — Não podemos levantar suspeita. — Ela deixou claro. — Vamos ao supermercado primeiro, precisamos comer. — Você vai cozinhar? — Ergui a sobrancelha. — Porque eu não sei nem fritar ovo. — Eu posso fazer isso, fica tranquila. — Ela sorriu e começou a abrir os armários para ver o que tinha dentro. Os armários tinham alguns copos e pratos dentro, mas não era suficiente, parecia que quem morava aqui não fez nem questão de levar as coisas, eu estava louca para ir as compras, queria acabar com essa parte chata logo e poder tomar um banho para dormir tranquila, ou tentar. Eu e a minha irmã chamamos mototaxi e eles nos deixaram na entrada do morro, eu não sabia que a gente precisava avisar caso quisesse ir para fora do morro, aqui era mais seguro que o nosso antigo condomínio e olha que a gente morava na zona militar pelo fato do nosso pai ter sido político e pela forma que ele morreu. O cara que estava na hora que a gente chegou ficou analisando para onde a gente ia e o que iríamos fazer, tivemos que pedir autorização para que um uber entrasse no morro para deixar as compras que havíamos feito. Foi jogo rápido, compramos algumas roupas básicas para o dia a dia, alguns sapatos, toalhas de banho, rosto, lençóis para as camas, alguns utensílios e dois celulares para mim e minha irmã. Iríamos ao supermercado do morro mesmo, porque não ia caber muita coisa dentro do Uber e como têm um lugar grande lá, preferimos ir, caso faltasse algo, a gente voltaria na rua para pegar, mas, por gora era isso. Eu estava morta de fome, mas ainda tinha que ir comprar as coisas, foi tanta coisa de uma vez que acabamos esquecendo que o nosso corpo precisava de alimento para se manter de pé. Eu voltei para o portão para pagar a viagem e abaixar o portão da garagem quando começou um corre corre sem fim, o motorista do Uber foi embora sem receber, certamente deve ter ficado com medo e em seguida os tiros começaram, era ensurdecedor. Eu tentei me esconder, me proteger, mas era impossível, um moleque com uma pistola me viu e veio na minha direção, provavelmente ele queria se esconder na minha casa, porque todos que estavam com ele já estavam no chão, eu corri para o portão e quando fui abaixar, ouvi um barulho e o meu braço começou a arder. Fala sério, que merda... primeiro dia nesse inferno e eu já levei um tiro, não é possível que eu seja tão cagada assim. Se fosse a minha irmã, eu não diria nada, ela sempre teve os dois pés esquerdos, mas eu... — CLARISSE... — Eu gritei a minha irmã. — CLARI TRÁZ UM PANO... EU FUI ATINGIDA... Ela veio correndo até mim, antes de me entregar o pano ela começou a chorar, como se eu tivesse morrendo, ela se abaixou ao meu lado e ficou olhando o sangue que estava saindo do local. — Ai meu Deus... — Ela falava chorando. — Ai, e agora?! O que eu faço, Jesus... — Preciso ir para o hospital... — Eu falei sentindo os meus olhos ficarem pesados... — Maribel o nosso hospital fica fora do morro, como vamos fazer, ainda mais depois desse tiroteio todo? — Ela falou andando de um lado para o outro. Eu não tinha pensado nisso, como eu ia fazer para poder conseguir atendimento do meu convénio? Como eu vou chegar até lá se a minha irmã está desequilibrada e eu m*l consigo ficar em pé? Nós ouvimos fogos de artifício cobrindo o céu e em seguida uma moto parou ao nosso lado, eu me lembro de quase iniciar uma discussão e depois simplesmente apaguei, não sei se foi fome, sangue ou adrenalina. Eu acordei em uma sala branca, óbvio, um hospital. O meu braço já estava com um curativo e uma faixa cobrindo o ferimento, quanto tempo eu dormi? Eu olhei para o lado e vi a minha irmã. — Finalmente... — Ela veio até mim e alisou o meu cabelo. — Não foi nada sério e podemos ir para casa. — Ótimo... preciso descansar. — Eu respondi tentando me sentar, mas apoiei o peso sob o braço machucado. — Ai... — Calma aê burguesa, se tu tentar sozinha, vai f***r esses pontos. — MK falou e eu me surpreendi por ver ele ali. — A sua namorada não surtou por tu estar aqui, não? — Debochei. — Sai do nosso pé, tu nem conhece a gente. — Ordens do patrão. — Ele ajeitou o boné. — Melhor se prepararem, mais tarde tem baile de comemoração, por incrível que pareça, tu foi a única baleada nessa invasão.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD