➸ 29 de março
— Kei — O alfa abria a porta do grêmio para o presidente e lhe aguardava ao lado da mesma dando passagem ao menor. O sorriso brincalhão novamente despontava nos lábios do garoto, deixando o ômega fraquejar internamente. — Me chame de Kei.
O ômega apenas assentira tendo seu rosto ruborizado, era um passo que dava para que seu amor aprofundasse mais do que deveria.
Era para ser um romance de colegial, algo que proporcionasse apenas uma experiência e não que lhe afetasse em demasia. Se deixasse guiar por aquele sorriso tão cordial, os brilhos de seus olhos poderia se ver no futuro chorando em seu quarto por jamais se esquecer de alguém como Kei.
Com passos firmes e soltando um pigarrear baixo, Yuji caminhava dentro do grêmio o encontrando completamente lotado. A mesa redonda com alguns assentos estavam praticamente todos ocupados.
Imaginava que os garotos ali estariam para ajudar os lideres a cumprirem de seu castigo. De qualquer forma previa um desconforto grande para as próximas semanas, pois os olhares maliciosos de um dos garotos pareciam furtar a alma.
Sentando-se em seu lugar habitual, ajeitara a pilha de folhas e olhara para os dois ômegas que desviavam o olhar para si.
— O que foi? — Sussurrava o presidente, vendo o vice se inclinar para si.
— Os rapazes trouxeram ajuda, mas o clima está bem tenso.
Olhando em volta, Kei se sentava à direita ao lado de dois outros rapazes. De frente para eles estava Ryu com o mesmo número de garotos. Os seis sentados de forma despreocupada enquanto se encaravam em total desgosto.
Pigarreando alto e cerrando o cenho, tentando encontrar sua fisionomia mais máscula que poderia transpassar aos rapazes, o ômega se ajeitara e olhara seriamente para os lideres.
— Bom rapazes, hoje irei entregar à vocês suas listas de afazeres. Como trouxeram ajuda, fica a critério de vocês o modo como irão redistribuí-los. — Separando a pilha em três pequenos montes, entregando dois ao seus colegas do grêmio que começavam de imediato a separar as atividades — E lembrem-se, estarei de olho em vocês, espero que não tenham qualquer problema.
Um dos rapazes de Zagan, cabelos descoloridos e sorriso travesso puxara o ar para comentar algo malicioso ao presidente, mas os olhos de seu líder o fez recostar na cadeira.
Não poderiam lhe dirigir uma palavra maliciosa. O garoto estava sensível com as brincadeiras, e agora que tinha o poder de controlar seus históricos. Não seria engraçado vê-lo rasgar as folhas os dizendo para serem catadores de lixo.
Meros pensamentos que não se podiam dizer reais. Talvez não chegaria a tal situação e era fácil de compreender que a vida acadêmica não terminaria por conta de um mau humor. Mesmo assim todo cuidado era pouco.
Naoki ao terminar de separar as listas olhava para seus companheiros, se recusava a olhar para o rapaz de cabelos descoloridos que estava de frente para si. Os olhos dele tinha algo quente e com o sorriso zombeteiro saberia que seus pensamentos não eram dos melhores.
Possivelmente ele já conseguiria sentir de seu cheiro, estava prestes a entrar no cio. Ficaria um tempo fora e já doía em seu peito deixar o presidente do grêmio sozinho com aqueles alfas. Iriam lhe judiar tanto, até conseguia imaginar as cenas. O pobre garoto romântico sendo humilhado e torturado por causa de suas emoções.
Queria tanto ser um beta naquele momento, para poder proteger o garoto e manter sua inocência.
Soltando de um suspiro, entregara as atividades para os dois lideres, evitando olhar para seus companheiros enquanto explicava as listas com cuidado.
Haru ajeitava os papéis com os relatórios e entregava em seguida, explicando as mesmas regras e enfatizando-as. Olhando para o alfa dos Phenex mantinha-se firme enquanto seu interior parecia querer cair em pedaços diante da beleza daquele garoto.
Claramente estava afeiçoado à ele, mas com as brincadeiras do dia anterior ficara receoso quanto a se juntar à gangue apenas para ficar ao lado de Ryu. Deixando os fios castanhos claros cobrir de seus olhos e esconder a pequena vergonha. O garoto voltava a fazer de suas tarefas habituais assim que terminara sua função para aquele dia.
Yuji apenas dera a palavra final e dispensara os rapazes. A sala do grêmio era pequena tendo poucas janelas para ventilar o ar de dentro. Sendo assim, permanecera por trinta minutos dentro da sala com o cheiro doce daquele alfa de Zagan. Estava se controlando ao máximo para não pular em seu colo e cheirar daquele pescoço.
O problema seria que aquilo o excitaria demais, tendo sua primeira f**a totalmente destruída por impulsos instintuais. Queria romance, beijos, caricias, elogios e olhares calorosos além de uma boa pegada e longas horas de prazer.
Balançando da cabeça fez seu discurso o mais rápido para ver os garotos fora de sua sala, para que pudesse soltar o ar de seus pulmões e voltasse a respirar normalmente.
Encostando-se em sua cadeira vendo a porta ser fechada, os três ômegas pareciam suspirar aliviados por ter aquela tensão tirada de suas costas. E ainda precisavam continuar com os relatórios e alguns assuntos pendentes.
Aquele ano eles teriam de adiantar conteúdos já que no ano seguinte novos alunos iriam suceder seus cargos. Precisavam preparar o baile de formatura, a viagem de formatura, a semana cultural e a semana de jogos dentro de dez meses. Adiantando assim os primeiros planos para que a diretoria pudesse comprar dos equipamentos e preparar orçamentos que estejam de acordo com a escola.
Naoki era perfeito para aquilo, ótimo em contas e sem falar no seu controle das finanças. Com ele nada era esquecido. Sendo assim preparava a lista de opções de lugares onde no final do ano os alunos poderiam viajar.
Haru era criativo e tinha liderança e saberia arrumar os alunos. Principalmente dos clubes de teatro e publicidade durante a semana cultural.
Yuji era o líder, sabia conversar com os adultos de uma forma impecável e ainda resolvia dos problemas com maestria. Era um ótimo presidente da qual a escola se recordaria sempre. Ficava sempre supervisionando todas as atividades, fazendo questão de ouvir as opiniões dos alunos, mesmo que fossem divergentes. Nenhum assunto em especifico ficava consigo, ele cuidava de tudo e mais um pouco.
O silêncio fora quebrado quando a porta se abrira mostrando a figura esguia de um professor desajeitado. O peito que subia e descia rapidamente em uma respiração ofegante, o jeito que arrumava os óculos que estavam tortos em sua face.
Algo errado.
— Nakamura pode cuidar da estufa para mim?
— O quê? — O ômega piscara algumas vezes tentando se situar através da fala apressada do professor.
— Minha mulher está em trabalho de parto, preciso urgente ir ao hospital. Cuida da estufa, regue as plantas menores, pode as rosas, plante as margaridas perto das azaleias. Ah deixei tudo escrito — O professor limpava as mãos suadas em seu jaleco cheio de manchas de terra, olhando para o aluno sorriu cordialmente e assentia. — Conto com você, obrigado.
Saindo em disparada deixando os três estudantes surpresos. Os dois ômegas soltaram uma risada baixa em ver o espanto na face do presidente do grêmio. Yuji suspirava se levantando da cadeira, pegando de sua mochila seguindo para a estufa.
O local era isolado e apenas para as aulas de jardinagem. Na verdade os alunos m*l iam a essa aula por não terem tanto interesse. Yuji sempre a cursava por achá-las relaxantes e sedutoras. Adorava as flores e as achavam belas.
A estufa ficava atrás do terceiro prédio, onde encontravam os alunos dos segundos anos. Teria de cruzar praticamente todo o terreno da escola para chegar ao local, era longe em demasia.
Olhando em volta alguns estudantes frequentavam de seus clubes esportivos e corriam pelas quadras. Olhava para as salas de aulas nos prédios alguns alunos tinham aulas de reforço.
Cruzando o estacionamento dos professores chegara em frente ao muro coberto de musgo. Afastando algumas folhas encontrara a maçaneta e a girou adentrando no caminho de terra cercado por árvores folhosas.
Ah era primavera, havia se esquecido de que na época nasceria tantas plantas belas. Fechando a porta atrás de si, seguia a trilha até chegar ao jardim propriamente dito. E como estava belo aquele local.
O verde era intenso, a grama estava aparada, conseguia sentir de seu cheiro, e tinha alguns enfeites como pedras brancas.
Pulando sobre elas para evitar pisar nas folhas verdes, o ômega passava pela horta do professor que já estava grande. Olhando os frutos, sorria largo em ver que em breve a cantina iria receber novos alimentos suculentos. Chegara na pequena calçada, virando-se de frente para o jardim, conseguia ter total visão de sua beleza natural. Árvores grandes ao fundo, de um lado hortas e do outro estavam as flores.
Deveria ser ali que o professor iria cuidar naquela tarde.
Aproximara-se da pequena casinha onde tinham os materiais necessários. Ao fundo uma pequena sala com a porta aberta mostrando ser o cantinho em que o professor ficava.
Entrando na mesma encontrara sobre a mesa bagunçada a lista de afazeres. Realmente ele queria que Yuji cuidasse, estava com o nome do garoto no papel.
Lendo as instruções, deixara sua mochila sobre a cadeira e logo pegara do avental o amarrando em seu corpo. Seguindo pela pequena construção, pegara a tesoura e seguia para o jardim procurando pela fileira de rosas vermelhas.
As pétalas majestosas brilhavam à luz do sol. Sorrindo largo o ômega se agachava diante da flor e acariciava as pétalas macias soltando uma risada baixa. Eram tão belas. “Agora sei por que te usam como presente”.
Pegando da tesoura começava a podar e retirar dos espinhos. Teria calma em fazer, pois não poderia se machucar, entretanto haviam grandes quantidades a serem feitas. O professor simplesmente adorava rosas e as plantava imensamente. Yuji suspirava se sentando na terra, e cortava com maestria as folhas irregulares.
Ao fundo do jardim o alfa observava o ômega trabalhar. Na verdade se perguntava o motivo de segui-lo até ali, e ficara espantado com o lugar bonito que a escola tinha. Não conhecia aquele pedaço, as aulas de jardinagem não eram de seu interesse, sendo assim nunca as frequentou.
Assustara-se quando o ômega havia saído de seu campo de visão, mas se aliviou ao vê-lo retornar com um avental e tesoura em mãos. Agora o observava atentamente com as mãos no bolso, e se aproximava silenciosamente.
— Eae Yuji — O ômega se assustara quando ouvira a voz do alfa. Olhando sobre o ombro soltou de um suspiro enquanto se virava para Ryu. — O que está fazendo?
— Eu que pergunto, o que faz aqui? — O garoto ajeitava os fios de sua franja, olhando para o alfa que se agachava ao seu lado.
— Ah eu te vi passar e resolvi te seguir — O sorriso largo do garoto fez o outro estremecer — Não irei te bater ou sei lá o que já fizeram contigo.
— O que fizeram comigo por sua causa? — Yuji voltara a dar atenção em cortar os espinhos da rosa, com sua voz debochada e um sorriso leve mostrando o aparelho em seus dentes. — Se for ficar aqui então irá me ajudar.
— Se sua intenção é me espantar — O alfa sorria se sentando ao lado do menor estendendo a mão — Não deu certo.
Fazendo uma careta o ômega entregou outra tesoura ao garoto. Não iria lhe espantar dali, já que poderia ajudar a fazer das tarefas mais rápido.
Silêncio reinava entre os dois que apenas mexiam nas rosas delicadamente. Ryu observava o ômega ao seu lado pelo canto dos olhos, via sua expressão se suavizar e até mesmo encontrava a fisionomia concentrada do garoto, “será que fica assim na sala de aula?”. Balançando a cabeça e voltando a mexer nas folhas, o alfa suspirava baixo ainda perdido em seus pensamentos.
— Deve me ver como um i****a — Sussurrava Ryu, apenas olhando a próxima flor começando a podá-la com cuidado. — Pelo o que eu fiz.
— Um i****a não — Respondia calmamente o ômega — Talvez como um i*****l.
— Imaginei que fosse.
— Espero que jamais faça isso de novo — Desviando a atenção para o ômega, Ryu prendera a respiração. Talvez fosse o maldito sol que se punha atrás do garoto o deixando radiante. Yuji parecia bonito daquele jeito. — Sabe, envolver outras pessoas em seus assuntos.
— E mesmo assim você me trata como uma pessoa comum.
— Te xingar te bater não vai mudar o que fez. — O ômega voltava a mexer nas plantas, tendo suas feições avermelhadas por conta da vergonha. Se tornava cada vez mais adorável para o maior. — Ele irá se esquecer disso e então tudo voltará ao normal.
— É...eu espero que ele esqueça também.
O murmúrio final do alfa não passara despercebido pelo ômega, que apenas fingia tê-lo não ter escutado.
Passando pelas rosas lentamente as podando com cuidado, os dois garotos terminaram da tarefa. Yuji e Ryu conversavam calmamente. Ambos esquecendo quaisquer raiva e ódio que o dia a dia escolar proporcionava, enquanto plantavam as sementes em um canto direcionado pelo professor.
Talvez fosse essa uma característica do ômega que jamais havia descoberto antes. Mesmo o alfa tendo feito algo humilhante consigo não o odiaria por completo, afinal de contas as emoções eram suas. Não se culparia por amar um garoto popular já que foi algo inesperado e sem controle. E fora seu descuido em deixar o diário cair.
— Yuji — Haru aparecera ofegante no jardim, encontrando o ômega junto com Ryu conversando calmamente sobre as atividades da semana desportiva. Ajeitando sua roupa apressadamente, o vice-presidente aproximara do ômega quando o mesmo lhe direcionou atenção. — Duas ômegas estavam brigando por conta de um alfa, a diretora está lhe chamando.
— Ah esse pessoal.
Resmungava o ômega retirando do avental e indo para a estufa, deixando os outros dois sozinhos. O rosto avermelhado de Haru não passava despercebido por Ryu, que arqueava a sobrancelha levemente irritado por ter sido interrompido. O mais velho se aproximava com a mochila e olhara para o alfa sorrindo levemente
— Bom até que foi confortável conversar contigo. Mas ainda assim termine as tarefas não vai se livrar do seu castigo tão cedo.
— Ah que presidente malvado.
Yuji apenas rira acenando para o alfa ao se retirar junto com o outro ômega. Ryu voltava a olhar para o jardim e suspirara baixo mordendo o lábio inferior.
— Até por alguém eu vou ter que brigar contigo irmãozinho.
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