Anjo

1036 Words
O Hospital Geral de Nova York estava em ebulição. O som incessante dos telefones tocando, passos apressados ecoando pelos corredores e o murmúrio nervoso dos médicos e enfermeiros formavam uma sinfonia caótica. O chefe de enfermagem, com o rosto tenso, havia acabado de convocar todos os profissionais de saúde disponíveis para lidar com uma emergência de grandes proporções. Um acidente massivo acontecera nas ruas de Manhattan, envolvendo vários veículos, explosões e inúmeros feridos graves. O tempo era o maior inimigo, e muitos poderiam perder a vida sem receber os primeiros socorros. Clara, uma enfermeira dedicada e com uma reputação impecável, já havia terminado seu turno. A exaustão pesava sobre seus ombros, mas ela não podia ignorar a urgência da situação. Seu coração acelerou quando ouviu a convocação do chefe de enfermagem. Mesmo com o corpo cansado, ela sabia que não conseguiria simplesmente ir para casa sabendo que tantas vidas estavam em risco. Respirando fundo, Clara se ofereceu imediatamente. "Eu vou também", disse ela com determinação, apertando os lábios enquanto se preparava mentalmente para o que estava por vir. O chefe de enfermagem assentiu com alívio: "Precisamos de todos que pudermos, Clara. Obrigado." Pouco tempo depois, Clara estava dentro de uma ambulância, a cidade passando rapidamente pela janela. Ao chegar ao local do acidente, ela arfou ao ver o caos que dominava as ruas. Havia tantos feridos que, por um breve momento, ela ficou imóvel, sem saber por onde começar. Carros destruídos estavam espalhados pela rua como brinquedos quebrados, e o cheiro de fumaça e gasolina era sufocante. Gritos de dor e pânico ecoavam por todos os lados. Pedestres feridos estavam caídos nas calçadas, e alguns ainda presos nos veículos retorcidos. Clara respirou fundo, lutando para manter a calma: "Você foi treinada para isso", disse a si mesma, reprimindo o choque inicial. Rapidamente, sua mente voltou ao foco. Ela se abaixou junto ao primeiro ferido que viu, um homem com um grave ferimento na cabeça, e começou a aplicar os primeiros socorros. Ela movia-se com eficiência, passando de um ferido a outro, verificando sinais vitais, estancando sangramentos e acalmando os que estavam em estado de choque. Cada segundo era crucial. Havia tanto a ser feito, mas Clara era incansável. Em um canto de sua mente, os traumas de sua própria infância ressurgiam, como um lembrete de por que ela havia escolhido essa profissão. Ela entendia o que era dor, desespero e o sentimento de estar perdido. Mas ali, em meio ao caos, seu papel era ser a luz em um momento de escuridão. Enquanto Clara se concentrava em estabilizar uma mulher que havia sido atingida por estilhaços, algo chamou a atenção de Rafael. Ele estava um pouco afastado, ajudando os paramédicos e ainda segurando a pasta que havia recuperado. Mesmo no meio da destruição, uma figura se destacava. Ele avistou Clara por entre a fumaça, seu corpo pequeno e ágil movendo-se com rapidez e precisão, ajudando os feridos com uma calma extraordinária. Por um momento, Rafael ficou parado, observando-a. "Quem é ela?", pensou, seus olhos presos na jovem enfermeira. Clara tinha uma aura quase angelical, e mesmo coberta de suor e sujeira, com os cabelos loiros presos de forma apressada, ela parecia brilhar em meio ao caos. A imagem dela curvada sobre os feridos, com um semblante de compaixão e profissionalismo, ficou gravada na mente de Rafael. Ele piscou, sacudindo a cabeça. Tinha muito o que fazer. Sabendo que mais ajuda estava chegando e que Clara parecia ter a situação sob controle, Rafael se preparou para voltar ao seu edifício, onde sua vida corporativa esperava. Os documentos confidenciais que recuperara estavam seguros, e ele podia retomar o controle das coisas. No entanto, assim que ele deu alguns passos em direção ao prédio, um estrondo ensurdecedor tomou conta do ar. Uma nova explosão aconteceu em um dos carros movidos a gás que ainda estava no local. O impacto foi imediato e devastador. Rafael, que estava perigosamente próximo do veículo, foi lançado violentamente para trás. Ele voou pelo ar, e seu corpo bateu com uma força brutal contra o meio-fio. Sua cabeça encontrou a sarjeta com um som oco, e tudo ao redor dele se tornou uma mistura de dor extrema e um zumbido ensurdecedor. Rafael ficou imóvel por alguns segundos, seus olhos fechados e sua mente mergulhada na escuridão. A dor era tão intensa que ele m*l conseguia respirar. O mundo ao redor parecia distante, como se ele estivesse preso em um túnel de silêncio. Clara, que havia acabado de estabilizar outro ferido, viu a explosão e, instintivamente, correu na direção do impacto. Seus olhos rapidamente localizaram Rafael, jogado no chão, o corpo contorcido e sangrando. Sem pensar duas vezes, ela correu até ele, ajoelhando-se ao seu lado. "Senhor? Senhor, você pode me ouvir?", disse Clara, com a voz cheia de urgência, tentando avaliá-lo rapidamente. Seu coração disparou ao ver o estado de Rafael, mas ela manteve a calma. Rafael abriu os olhos lentamente, a visão turva. Tudo o que ele conseguiu distinguir foi o rosto de Clara, debruçado sobre ele. Seus olhos verdes, brilhantes de preocupação, eram a única coisa que ele conseguia focar. Por um momento, ele pensou que estivesse sonhando. A dor pulsante em sua cabeça misturava-se com uma estranha sensação de paz ao ver Clara. "Anjo...", murmurou ele, a voz fraca e entrecortada. E então, tudo ficou escuro. Rafael desmaiou. Clara rapidamente verificou seus sinais vitais e gritou por ajuda. Um dos paramédicos que estava próximo correu até eles, e logo o identificou. "Meu Deus, é o Rafael Dantas!", exclamou o paramédico. "Ele precisa ser levado imediatamente ao melhor hospital." Sem perder tempo, eles o colocaram na maca com cuidado. Rafael foi levado às pressas para o hospital mais renomado da cidade, sua condição era grave, mas ele ainda tinha uma chance. Enquanto a ambulância se afastava, Clara ficou ali, observando o veículo desaparecer entre as sirenes e as luzes, sentindo um estranho aperto no peito. Ela não sabia o porquê, mas algo naquele homem havia mexido com ela de um jeito diferente. E, por mais que se dissesse que tudo estava sob controle, uma sensação incômoda a dizia que, a partir daquele momento, sua vida e a dele estariam ligadas de alguma forma.
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