O Vô e Belle

1101 Words
Rafael foi levado às pressas para um hospital particular de renome no centro de Nova York. As sirenes ecoavam pelas ruas enquanto a ambulância atravessava o caos da cidade, carregando consigo a vida de um dos empresários mais poderosos do país. A situação era grave, e o silêncio tenso dentro da ambulância refletia a urgência do momento. Os paramédicos faziam o possível para estabilizá-lo, mas sabiam que a batalha pela sua vida seria decidida na sala de cirurgia. Enquanto isso, Clara, ainda envolta no caos do acidente, sentia uma estranha sensação de vazio. Ela sabia que, por mais que quisesse, não veria Rafael novamente. Ele estava sendo levado para um hospital de elite, um lugar distante de sua realidade como enfermeira de um hospital público. E mesmo que tivesse salvo sua vida no local do acidente, Clara não teria o privilégio de acompanhar sua recuperação. Ainda assim, os olhos intensos de Rafael, seu olhar de dor e vulnerabilidade, ficaram gravados na mente dela. E a palavra que ele murmurara, chamando-a de "anjo", ecoava em seus pensamentos. Tentando afastar aquela lembrança, Clara voltou sua atenção para os outros feridos. Havia mais vidas a salvar, mais gente precisando de cuidados. Mas, por mais que se concentrasse, não conseguia tirar Rafael da cabeça. Será que ele sobreviveria? Será que aquele homem poderoso voltaria a ser o mesmo depois de tudo? No hospital particular, os médicos agiam com rapidez. Uma tomografia revelou a gravidade da situação: o impacto da queda havia causado um grande coágulo no cérebro de Rafael, pressionando partes vitais, incluindo o nervo óptico. A única solução era uma cirurgia de emergência, algo delicado e arriscado. Os médicos sabiam que, sem a intervenção imediata, Rafael poderia não sobreviver. A notícia sobre o estado de Rafael chegou rapidamente à Itália, onde vivia seu avô, Getúlio DiAngelo. Getúlio era um homem duro, temperamental, e, ao receber o telefonema, sua reação foi explosiva. Gritou ordens em italiano, exigindo que a vida de seu neto fosse salva a qualquer custo. "Façam o que for necessário! Eu não quero saber de custos. Salvem a vida de Rafael!" As ordens do velho magnata eram claras, e não havia espaço para erros. Getúlio imediatamente tomou providências para viajar a Nova York, determinado a estar ao lado do neto durante a recuperação. Mas Getúlio não estava sozinho em sua preocupação. Belle, uma jovem de apenas vinte e um anos, também estava presente quando a notícia chegou. Belle havia perdido toda sua família em um acidente e fora criada por Getúlio, que a acolhera como sua própria filha. Criada em meio ao luxo e à influência, Belle havia se tornado uma mulher deslumbrante, com pele clara e longos cabelos negros. Ela sempre estivera ao lado de Getúlio, sendo moldada por ele para se tornar a mulher ideal para Rafael. No entanto, Rafael nunca a viu dessa forma. Para ele, Belle era como uma irmã mais nova, alguém a quem ele protegia e mimava, mas sem jamais enxergá-la como uma possível parceira. Apesar dos planos de Getúlio, Rafael sempre a tratara com um carinho fraternal, incapaz de vê-la como mais do que uma amiga querida. Assim que receberam a notícia sobre o acidente, Getúlio e Belle embarcaram em um jato particular rumo a Nova York. A ansiedade tomava conta de ambos, mas o velho magnata estava determinado a salvar a vida de Rafael, não importava o que custasse. Belle, por sua vez, estava silenciosa, lutando para manter a calma enquanto temia pelo futuro do homem que considerava quase como um irmão. No hospital, a equipe médica já estava pronta para a delicada operação. A cirurgia foi longa e complicada. Durante horas, os cirurgiões trabalharam para remover o coágulo e reparar os danos no cérebro de Rafael. Cada minuto era crucial, e o risco de algo dar errado pairava no ar. Os médicos lutavam contra o tempo, cientes de que qualquer deslize poderia ser fatal. Após horas de tensão, a cirurgia finalmente terminou. O coágulo havia sido removido, e Rafael estava estável, mas ainda havia incerteza. O principal cirurgião explicou que o procedimento havia sido bem-sucedido, mas que era impossível saber se Rafael teria sequelas até que ele acordasse. Para permitir que seu cérebro se recuperasse e desinchasse, ele seria mantido em coma induzido por pelo menos três dias. Quando Getúlio e Belle chegaram ao hospital, foram imediatamente informados sobre o estado de Rafael. Getúlio, conhecido por sua impaciência e temperamento explosivo, exigiu saber se seu neto acordaria sem sequelas. O médico, porém, foi cauteloso ao responder. "Fizemos o que podíamos. Agora, só o tempo dirá se ele terá algum tipo de sequela. Ele está em coma induzido para dar ao cérebro tempo de se recuperar." Getúlio não ficou satisfeito, mas sabia que não havia mais nada que pudesse fazer no momento. Enquanto isso, Belle estava sentada em silêncio, os olhos fixos no chão. Ela tentava processar a possibilidade de que Rafael pudesse não ser o mesmo ao acordar. O pensamento de perdê-lo, de vê-lo debilitado, a fazia sentir um vazio profundo no peito. Nos dias que se seguiram, a tensão no hospital foi palpável. Getúlio, em sua impaciência, circulava pelos corredores, exigindo atualizações constantes. Belle, por outro lado, permanecia quieta, refletindo sobre tudo o que estava acontecendo. Apesar de saber que Rafael não a via como mulher, a verdade era que ela sempre se fantasiava como esposa de Rafael ,ela porém não tinha pressa sabia que Rafael descartava todas as mulheres com quem dormia a única constante em sua vida era ela, por isso Belle sentia que tinha todo tempo do mundo para fazer com que Rafael a visse como a mulher que era e não uma garotinha. Rafael era, para ela, um porto seguro, alguém que sempre estivera ao seu lado como um irmão mais velho, protetor e carinhoso. Agora, tudo o que restava era esperar que Rafael acordasse. E, quando isso acontecesse, o mundo inteiro mudaria, tanto para ele quanto para aqueles ao seu redor. Enquanto isso, em Nova York, Clara se esforçava para retomar sua rotina. Mesmo com a sensação de perda ao saber que não veria mais Rafael, ela tentava se concentrar no trabalho, no compromisso que tinha com os outros pacientes. Mas os olhos dele, aquele instante em que ele a chamou de anjo, ainda ressoavam em sua mente, como um eco distante, impossível de ignorar. A vida continuava para Clara, assim como para todos à sua volta, mas o impacto daquele dia, tanto para ela quanto para Rafael, já havia traçado uma linha invisível no destino de ambos, uma linha que talvez os unisse novamente algum dia.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD