Máscaras

1029 Words
Rafael estava mais calmo em seu quarto, mas a tensão ainda pairava no ar. A noite havia sido longa e cheia de inquietações, e ele sabia que o oftalmologista mundialmente famoso chegaria no dia seguinte para examiná-lo. O simples pensamento sobre o que poderia ser revelado o deixou inquieto, mas ele não podia mostrar fraqueza. Em seu mundo, fraquezas eram inaceitáveis. A porta se abriu com um leve rangido, e Getúlio e Belle entraram. O velho magnata, com seu jeito autoritário, dirigiu-se a Rafael sem rodeios: "Olha aqui, seu moleque, quero saber agora—" "Eu estou temporariamente cego," Rafael interrompeu, sua voz fria e cortante como uma lâmina. O impacto das palavras fez Getúlio parar abruptamente, necessitando se sentar, como se o peso da revelação tivesse lhe tirado o ar. Belle, tomada pela preocupação, correu até a cama e segurou a mão de Rafael. Mas ele estava longe de se sentir grato pela atenção. Com um movimento brusco, afastou sua mão da dela, a irritação transparecendo em sua voz: "Essa informação não pode sair daqui. Para o mundo lá fora, estou bem e me recuperando. Entenderam?" Belle assentiu, a expressão de preocupação em seu rosto se misturando com a frustração. Por um instante, esqueceu que Rafael não podia vê-la, que seus olhos estavam fechados para ela. Getúlio, por outro lado, parecia recuperar sua compostura rapidamente. "Claro, nós não temos fraquezas," disse Getúlio, o tom determinado. "Custe o que custar, você voltará a ser normal." A necessidade de afastar Getúlio e Belle começou a consumir Rafael. Ele não queria que a presença deles fosse um lembrete constante de sua fragilidade: "Vocês podem voltar para a Itália," disse ele, com a voz tensa. "Eu me viro por aqui." Belle protestou, um brilho de determinação em seus olhos: "Rafael, não podemos deixar você assim!" "Para de tocar em mim!" Rafael gritou, a raiva explodindo em seu peito. O tom elevado fez Belle recuar, mas o estrondo de suas palavras soou ainda mais pesado em seu coração. Getúlio percebeu que manter Belle perto de Rafael naquele momento poderia ser um erro. O neto estava imerso em uma maré de emoções que o tornavam imprevisível. "Está bem," disse Getúlio, com uma firmeza que não aceitava objeções: "Nós voltaremos para a Itália. Mas não antes de eu ligar para Douglas e Renato e contratar uma enfermeira de confiança para você." Rafael não respondeu, sentindo que a presença de Belle e Getúlio, embora fosse um peso em sua mente, era também um reflexo da pressão que ele precisava evitar. A última coisa que queria era preocupar mais ainda as pessoas que se importavam com ele. Na manhã seguinte, enquanto a cidade despertava, Getúlio e Belle já estavam a caminho do aeroporto. O jato particular os aguardava, pronto para levá-los de volta à Itália. Belle olhou pela janela enquanto o carro se movia pelas ruas de Nova York, sentindo um misto de tristeza e ansiedade. Ela se perguntava se a decisão de deixar Rafael sozinho era a correta, mas o tom de sua voz e a explosão de raiva que ele demonstrou a deixavam insegura. "Ele ficará bem, não ficará?" Belle perguntou, quebrando o silêncio no carro. Getúlio, firme em sua decisão, respondeu: "Ele aprenderá a lidar com isso. É um Bilionário, um CEO. Ele sempre se recupera." Belle apenas assentiu, a inquietação permanecendo em seu peito. O avião decolou e, enquanto as nuvens cobriam a cidade, ela se perguntava se Rafael conseguiria superar mais esse obstáculo, essa nova batalha em sua vida. Lá, em seu quarto, Rafael estava sozinho, cercado apenas pelo som dos aparelhos que monitoravam seus sinais vitais. Ele sabia que não poderia se permitir ser fraco. Havia muito em jogo, e a pressão de ser o homem que todos esperavam dele era uma constante em sua vida. Mas, no fundo, algo começava a se agitar dentro dele. A escuridão em que estava mergulhado não era apenas a ausência de luz, mas também uma reflexão de tudo que havia enfrentado até ali. E, enquanto os dias se passavam, a necessidade de enfrentar seus demônios se tornava cada vez mais clara. Belle se sentou na poltrona do jato particular, os pensamentos agitados enquanto olhava pela janela. As nuvens passavam rapidamente, uma sequência de brancas e cinzas que pareciam refletir o turbilhão dentro dela. Era a primeira vez que ela se sentia insegura em relação aos planos de Getúlio. O seu avô tinha certeza de que casar ela com Rafael era a solução perfeita, e Belle sempre amou essa ideia. Rafael sempre tinha sido seu amor, mesmo que não houvesse nada mais entre eles do que um carinho fraternal. Ela sabia que era apenas uma questão de tempo até que ele a enxergasse como a mulher que ela era, a mulher que havia sido preparada desde a infância para ser tudo o que ele precisava. Mas agora, vendo Rafael daquele jeito — ferido, cego e vulnerável — seu coração se apertava. A ideia de casar com um homem cego, por mais bonito e rico que ele fosse, a deixava assustada. Ela não queria isso, não assim. A lembrança de Rafael tratando-a com frieza a abalava ainda mais. Ele sempre a havia tratado como uma princesa, e agora ela estava percebendo que tudo podia mudar. O fato de ele a ter afastado quando mais precisava de conforto e apoio a deixava insegura. Belle sempre acreditou que ele nunca a descartaria, mas agora isso parecia incerto. A realidade a fez perceber que ela não poderia ignorar a gravidade da situação. Ela fingiu relutar quando Rafael mandou que eles voltassem para a Itália, mas no fundo, estava aliviada. A ideia de vê-lo naquela condição a incomodava, e ela sabia que era melhor esperar até que tudo estivesse no lugar. O que ela queria era voltar para a vida dele quando ele estivesse totalmente recuperado e forte novamente, pronto para enxergá-la como a mulher que ela sempre foi. “Ele vai ficar bem”, murmurou para si mesma, repetindo o mantra que tentava acreditar. A esperança era tudo o que lhe restava, e enquanto olhava para as nuvens, desejava que os dias de incerteza e medo acabassem logo.
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