Escuridão

1538 Words
Rafael resmungou baixinho, frustrado com a insistência do avô. Aquela dor latejante na cabeça tornava cada som mais insuportável, e ele não tinha forças para lidar com o autoritarismo de Getúlio naquele momento. Ele finalmente cedeu, decidindo que era melhor enfrentar logo a situação. Inspirou fundo, sentindo o peso de Belle ainda ao seu lado, e abriu os olhos. Ou, pelo menos, ele achou que havia aberto. Tudo o que encontrou foi escuridão, uma escuridão absoluta. Nenhuma luz, nenhum borrão, nada que sugerisse que seus olhos estavam funcionando. Rafael franziu a testa, confuso. "Será que ainda estou desacordado?", pensou por um instante, sentindo uma angústia crescente. Ele tentou piscar, talvez fosse só uma questão de ajustar o foco, mas a escuridão continuava, inabalável. O pânico começou a subir por sua espinha, gelando-o por dentro. Fechou os olhos novamente e os esfregou com dificuldade. Suas mãos estavam fracas, e o simples movimento parecia exigir mais esforço do que o normal. Rafael abriu os olhos mais uma vez, forçando a visão, tentando captar qualquer indício de luz. Mas não havia nada. Nem mesmo um vulto, nem mesmo um mínimo sinal de que seus olhos estavam abertos. Os aparelhos ao seu redor começaram a apitar com mais intensidade, seus batimentos cardíacos acelerando conforme o pânico crescia. Ele tentou se manter calmo, lutando para não entrar em desespero, mas o pensamento era inevitável: algo estava terrivelmente errado. "Por que não consigo ver?", murmurou para si mesmo, sua voz rouca e trêmula. Belle, sentada ao seu lado, percebeu a mudança no ritmo da respiração de Rafael e olhou para ele, preocupada: "Rafael?" chamou ela, a voz já quebrada pelas lágrimas que m*l havia contido minutos antes. Rafael não respondeu. Ele estava preso naquela escuridão sufocante, sentindo seu peito apertar. Foi quando o som dos aparelhos se intensificou, como se cada batida de seu coração estivesse gritando por socorro. Logo um médico entrou apressado no quarto, com a expressão tensa. Getúlio, que ainda estava ali, resmungou alto, irritado com a situação: "O que está acontecendo agora?", exigiu ele, avançando alguns passos. O médico, pálido e claramente desconfortável, verificou os sinais vitais de Rafael e, ao perceber a crescente agitação do paciente, rapidamente entendeu que algo mais sério estava em jogo. Antes que pudesse falar, Getúlio avançou ainda mais, sua voz imponente como sempre: "O que tem de errado com o meu neto? Resolva isso agora!" Rafael, incapaz de suportar a pressão, sentiu o pânico o dominar por completo. A voz de Getúlio parecia distante, abafada pelo som do medo que agora tomava conta de sua mente. Ele não podia ver. Ele não podia enxergar nada, e isso o aterrorizava. Seu corpo começou a tremer, e ele agarrou os lençóis com força: "Tire eles daqui! Agora!" gritou ele, sua voz estridente, algo que nunca antes acontecera. Belle soluçou ao ouvir o grito, e as lágrimas começaram a cair novamente. Ela tentou tocar Rafael, mas ele afastou a mão bruscamente: "Rafael, o que está acontecendo?" perguntou ela, em pânico. "Eu disse, tire eles daqui!" Rafael gritou novamente, sua voz beirando o desespero. Era como se o peso do quarto, das pessoas ao redor, estivesse sufocando-o, e a escuridão em seus olhos só aumentava sua sensação de impotência. O médico olhou para Getúlio, claramente em pânico. Ninguém gostaria de ofender o velho magnata, mas a crescente agitação de Rafael deixava claro que sua presença e a de Belle não estavam ajudando: "Senhor Getúlio..." começou o médico, hesitante. "Acho que seria melhor se vocês esperassem lá fora por um momento." "Eu não vou a lugar nenhum", retrucou Getúlio, com a voz firme e cheia de autoridade. "Ele é o meu neto, e vou ficar aqui até resolverem isso!" "Saia daqui p***a, saia!" Rafael gritou, sua voz agora desesperada. Ele nunca havia perdido o controle assim antes, nunca havia gritado com o avô daquele jeito, e isso chocou a todos no quarto, inclusive Getúlio. O velho olhou para Rafael, pasmo, como se estivesse vendo uma nova faceta do neto pela primeira vez. Finalmente, Getúlio deu um passo para trás. Ele viu o rosto pálido e tenso de Rafael, e algo o fez recuar. Talvez fosse o medo de perder o controle sobre a situação, ou talvez fosse a primeira vez que ele verdadeiramente percebia a gravidade da condição de Rafael. Com um grunhido de desaprovação, ele pegou Belle pelo braço. "Vamos", disse ele, sem olhar para trás. Belle, ainda chorando, olhou uma última vez para Rafael, mas ele estava de olhos fechados, respirando com dificuldade. Com relutância, ela seguiu Getúlio para fora do quarto, deixando Rafael sozinho com o médico. Assim que a porta se fechou, o quarto mergulhou em um silêncio pesado, interrompido apenas pelo som dos monitores. Rafael apertou os olhos, tentando de novo e de novo, mas a escuridão continuava. O medo de estar preso naquele estado para sempre o envolveu completamente. O médico retornou ao quarto, sua expressão carregada de preocupação: "Senhor Rafael, preciso que me diga o que está errado", ele disse, a voz firme, mas a ansiedade evidente. Rafael sentiu um frio na barriga ao ouvir aquelas palavras. Havia uma parte dele que queria evitar a verdade, um medo profundo de que ao pronunciá-la, ela se tornasse realidade. Mas a pressão da situação era esmagadora, e ele sabia que precisava resolver isso rapidamente, sem que ninguém soubesse da gravidade do que estava enfrentando. Respirou fundo, sentindo a tensão aumentar: "Chame o melhor oftalmologista do mundo. Eu estou cego", disse ele, a voz tremula, mas decidida. O médico arregalou os olhos, mas não perdeu tempo. Ele assentiu rapidamente, a urgência na voz de Rafael o movendo: "Está bem, vou fazer os testes imediatamente", ele respondeu, antes de se apressar para fora do quarto. Rafael sentiu o coração acelerar enquanto o médico se afastava. Ele sabia que a confirmação viria em breve, e a ideia de estar realmente cego o atormentava. A escuridão não era apenas física; era uma prisão que o mantinha distante de tudo que ele conhecia. O medo crescia a cada segundo, e ele precisava de respostas. Alguns minutos depois, o médico voltou, trazendo uma lanterna e outros equipamentos. Ele começou a realizar os testes, e Rafael tentava manter a calma. Mas, à medida que as luzes piscavam na frente dele, não havia resposta. Ele não reagiu à luz, não sentiu nada além da escuridão profunda que o envolvia. "Rafael, por favor, olhe para mim", disse o médico, sua voz agora mais ansiosa. "Tente focar na luz." Rafael apenas ficou ali, incapaz de fazer qualquer coisa. Ele se sentia desolado e impotente. O médico fez mais alguns testes, mas a confirmação era cada vez mais clara: Rafael realmente estava cego. "Senhor Rafael..." O médico hesitou, sabendo que as palavras que estava prestes a pronunciar mudariam tudo. Rafael interrompeu-o. "Não diga isso para ninguém", ele ordenou, sua voz cortante como uma faca. "Se essa notícia vazar, vou destruir sua carreira e este hospital. Se você acha que deve ter medo do meu avô, imagine o que sou capaz de fazer. Chamam-me de 'CEO Demônio' por um motivo." O médico gaguejou, tentando processar a gravidade da situação: "P-pode deixar", ele disse, um nervosismo evidente em sua voz. Com isso, virou-se e saiu do quarto apressado, ignorando os chamados de Getúlio que ecoavam do corredor. Rafael sentou-se em silêncio, a mente girando. A escuridão era opressiva, e ele se sentia cada vez mais isolado. A ideia de não conseguir ver nunca mais era um fardo pesado, e a pressão para manter isso em segredo só aumentava sua angústia. As memórias de sua vida passada passaram por sua mente, as cores vibrantes, as luzes brilhantes, tudo que ele poderia perder. Mas havia algo mais que o incomodava: a responsabilidade. Ele não podia deixar que essa fraqueza se espalhasse, não poderia permitir que outros vissem sua vulnerabilidade. Com a pressão do mundo dos negócios sobre seus ombros, qualquer sinal de fraqueza seria uma oportunidade para rivais. Ele fechou os olhos novamente, tentando se concentrar, buscar um ponto de equilíbrio na escuridão. A mente girava, o medo ameaçava dominá-lo, mas ele sabia que tinha que lutar. Não poderia se deixar vencer, não agora. Ele era Rafael, o CEO que enfrentou tempestades e superou adversidades. E isso não seria diferente. Mas enquanto ele tentava encontrar essa força, o peso da incerteza ainda o seguia, e a única coisa que ele sabia era que precisava manter o controle, não apenas sobre sua vida, mas também sobre o que estava prestes a acontecer. A ideia de depender de alguém, de um médico ou de qualquer outro, era insuportável. Rafael fez um esforço para se acalmar, buscando uma respiração profunda, mesmo no meio daquela tempestade emocional. Precisava de um plano. Precisava agir rápido. A primeira coisa que tinha que fazer era garantir que ninguém soubesse sobre sua condição. Ele tinha que ser o que sempre foi: um líder forte e imbatível. Mas a verdade era que a escuridão o cercava, e, por mais que tentasse, ele não podia escapar dela. No entanto, a luta estava apenas começando. Ele não ia deixar que a cegueira definisse seu futuro. Com um pouco de sorte, ainda poderia encontrar um caminho de volta para a luz.
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