AURORA - ELEONORA
CINCO DIAS DEPOIS
Olho para fora da janela do jato particular do meu marido, em breve chegaremos a Dallas e eu estou bem ansiosa para ver a nossa casa nova. Durante esses dias não tocamos mais no assunto Nêmesis, será mesmo que Matteo não sabe de quem se trata? E se, de repente, ele não quis dizer nada para não me preocupar mais? Se realmente ele estiver me omitindo algo, eu vou descobrir.
— Tudo bem, querida? — Saio dos meus devaneios com a voz e o toque de Matteo na minha mão.
— Só estou ansiosa, quero saber como ficou a nossa casa. — Abro um sorriso largo, ele parece me avaliar com suas grandes íris azuis.
— Valentina e Carmem devem ter feito um bom trabalho. — Balanço a cabeça concordando. — O jato tem duas suítes, pode ir descansar se quiser.
— Não, obrigada — digo voltando a olhar para fora da janela do avião.
— Eu prometo que vou descobrir quem é esse Nêmesis. — Ele chama minha atenção.
— Por que está dizendo isso?
— Porque te conheço o suficiente para saber que ficou preocupada. — Solto uma respiração pesada.
— Amor, tem certeza que não sabe de quem se trata?
— Claro que não, querida, acha que esconderia isso de você?
— Com a desculpa de que estaria me protegendo, sim, esconderia. — Ele me puxa para a sua poltrona, ao meu lado, e me coloca em seu colo, vou de bom grado e ele leva uma mão na minha cintura e a outra no meu rosto.
— Somos marido e mulher, e em breve, pais, um casamento com mentiras seria horrível. Eu já quase te perdi por causa disso, acha que seria i****a em fazer de novo?
— Sim. — Del Frari sorri e me beija.
— Sua pouca fé em mim é admirável.
— Só conheço muito bem o homem com quem me casei e vou construir uma família. — Dou de ombros.
— Sabe, estava pensando em te levar em uma das minhas boates em Dallas. — Olho para ele surpresa.
— Boates?
— Sou um empresário, essas são boates em que sou sócio ou comprei de pessoas falidas. — Isso me faz lembrar do jantar na casa de Dalton onde Matteo era o anfitrião.
— Eu só fui a uma, apenas uma vez, e foi com o… — Não termino de falar.
— Não vou ficar com raiva, sei que teve uma vida antes de mim, uma droga de vida, mas teve, e sei que antes de Gustavo se tornar um monstro era bom com você. No entanto, agora, o que importa é que ele está pagando por tudo que fez a você e a outras mulheres também.
— Isso me deixa bem feliz.
— Mas, enfim, o que acha? Tenho de ir mesmo para ver como andam as coisas por lá e aproveitamos e nos divertimos. — Faço uma careta.
— Nunca imaginei alguém como você em uma boate, sempre reservado e ninguém sabia nada sobre você.
— Uma fachada, amor, mas agora com você quero ser eu mesmo. Jamais vou cansar de te agradecer por me tirar da escuridão que era a minha vida. — Agora eu lhe beijo.
— Acho que vai ser divertido.
****
Os enormes portões de grade escura se abrem sozinhos e logo fico babando no jardim em volta da casa. Tem um caminho de pedras até a porta da mansão de cor branca e preta, posso ver de longe uma enorme parede de vidro no segundo andar, um chafariz com um anjo enorme no meio e uma espécie de corredor feito com árvores; logo lembro da fazenda de Matteo.
— Logo te mostro. — Ele sussurra no meu ouvido.
O novo motorista que Matteo contratou parou em frente à casa e uma emoção e ansiedade me toma.
Essa é a minha casa!
Matteo sai do carro antes que o motorista abra a porta para ele e faz questão de ele mesmo abrir para mim, segura a minha mão e quando saio do carro ele diz:
— Bem-vinda a sua casa, senhora Del Frari.
Oh meu Deus! Eu sou a senhora Del Frari! Quem, em sã consciência, imaginaria algo desse tipo?
— Eleonora! — Valentina exclama da enorme porta de madeira escura. Ela vem até mim e me puxa para um abraço, logo em seguida faz o mesmo com Matteo.
— Oi, mamãe, você e Carmem fizeram um excelente trabalho cuidando de toda a decoração da casa, inclusive do lado de fora. — Ela abre um sorriso orgulhosa.
— A tia de Matteo ajudou com os arredores da casa, ela disse que você adorou a fazenda e queria fazer algo parecido, Matteo concordou em lhe fazer essa surpresa. — Olho para meu marido, que fez uma carinha de culpado.
— Obrigada, meu amor, eu adorei. — Ele me puxa pela cintura e me beija.
— Tudo por você.
— Venha, querida, você precisa ver como a casa ficou por dentro, espero que goste. — Me puxa com entusiasmo para adentrar a mansão, Matteo apenas sorri.
Me surpreendo demais com o lado de dentro, ela tem uma aparência rústica e com alguns toques modernos, um lustre enorme dá um charme ao hall, uma escada enorme, sem corrimão, dá um ar de luxo à casa. Piso liso de granito claro e no teto gesso rebaixado com alguns desenhos. Andamos até uma entrada do lado esquerdo da escada e me surpreendo com a sala de estar, um sofá enorme em que deve caber umas seis pessoas ou mais, algumas poltronas e uma televisão de LED enorme embutida na parede escura, já as outras são brancas; uma enorme janela de vidro do lado direito dando visão à parte de trás da mansão e arregalo os olhos ao ver diversas flores e arbustos bem aparados atrás e bem ao fundo posso ver uma tenda; um sorriso se abre em meus lábios ao vê-la.
Ah senhor Del Frari!
— A casa está belíssima. — Matteo elogia.
— Mãe, onde está o restante do pessoal? — Ela dá uma breve olhada para Matteo.
— Salvatore e Álvaro estão na Itália, Edgar ajudando Marco e Damien na empresa e Lídia está vindo para cá. Já Carmem foi para casa buscar Ana e seu irmão.
— Por que Álvaro e Salvatore foram para a Itália? — Novamente ela olha para Matteo e eu logo me adianto. — Para de olhar para ele como se estivesse pedindo permissão para falar, não quero ser mantida no escuro.
— Estão investigando e procurando saber quem é esse tal de Nêmesis; deduziram que pode ser alguém do passado de Matteo, então começaram pela Itália.
— Mas ele mandou algo para nossa nova casa; e se ele estiver aqui em Dallas?
— Damien, Marco e Edgar estão cuidando disso também — responde meu marido.
— Espero que encontrem esse cara logo — murmuro.
— E vão sim, minha filha, pode ficar tranquila. Temos uma máfia inteira ao nosso dispor e de uma certa forma, isso é bem útil.
— Você parece falar com certo orgulho disso, mãe.
— A máfia não é de tão todo r**m, isso depende de quem a comanda. O fato de sermos de uma família assim nos dá privilégios, um deles é ter contatos importantes e que podem ser muito úteis nessa investigação.
— Se não fossemos da máfia, isso nem estaria acontecendo.
— Há vários “e se” nessa questão, meu amor, mas a mais importante é que se não fosse ela, Matteo e você não estariam casados; ele estaria com outra mulher e você talvez com outra pessoa. Parece sádico e doente, pois nesse meio morreram pessoas inocentes, mas há coisas que acontecem com algum propósito, basta nós descobrirmos qual. Eu passei anos presa em uma casa sem saber se um dia sairia de lá viva, mas a única coisa que me mantinha de pé era saber que um dia poderia te encontrar. — Valentina diz tudo com lágrimas nos olhos e eu me aproximo para segurar suas mãos.
— Você foi uma verdadeira guerreira e o mais lindo é que o amor que você sentia pelo meu pai nunca acabou, muito pelo contrário, só aumentou, mesmo pensando que ele havia morrido; tenho um orgulho muito grande de ser sua filha. — Agora eu estou chorando, droga de hormônios.
— Vocês duas são mulheres incríveis e eu sou um homem de sorte por ser casado com Aurora e por ter sido criado por você, Valentina, que por anos, na verdade até hoje, a considero como minha mãe. — Valentina estende a mão para Matteo, que abre um sorriso lindo ao se aproximar de nós duas segurando a mão dela.
— Eu sou a mãe, a sogra e a avó mais orgulhosa deste mundo, me sinto no dever de zelar pela felicidade de vocês dois.
— Oh, interrompemos algo? — Olho para a entrada da sala e vejo Lídia, Carmem, Ana e Rubens.
Uma louca e baixinha pessoa com cabeleira ruiva corre na minha direção e eu me abaixo para abraçá-la.
— Aurora, eu senti muito a sua falta — diz envolvendo seus braços em meu pescoço.
— Eu também, minha irmãzinha.
— Oi, Aurora. — Olho para cima e Rubens me olha com um sorriso tímido, isso me enche de alegria; depois de tudo que aconteceu, tivemos uma conversa bem séria que foi regada de choro e muitos pedidos de perdão.
Me levanto para abraçá-lo, que retribui de bom grado. Logo depois vem Carmem com um sorriso enorme no rosto.
— Filha, senti tanto a sua falta — murmura me abraçando.
— Eu também, mãe.
— Como foi a lua de mel? — pergunta Lídia se aproximando.
— Foi perfeita, adorei conhecer Paris. — Ela me abraça também.
— Ei, ninguém sentiu a minha falta não? — Matteo murmura e Ana corre para abraçá-lo. Durante esse tempo, os dois se aproximaram muito e acho bonito ver como Matteo a trata, como uma irmã mais nova; ele a mima demais.
— Quando vai me levar para Paris também? — Ana pergunta fazendo todos rirem.
— Quando estiver de férias, furacão ruivo. — Ele só a chama assim agora e acho engraçado.
— E quando viaja para a Itália, Rubens? — pergunto.
— Hoje ainda, só passei aqui para ver vocês, meu voo sai em breve. — Salvatore conseguiu um emprego na empresa da família De Angelis e meu irmão aceitou logo de cara. Eu sei que o fato de estar indo para outro país não é só pelo bom emprego, mas para ficar longe de Christina e tentar esquecê-la, já que ela está prestes a se casar com outro; isso estava o deixando deprimido e me dói vê-lo assim, mas talvez essa viagem realmente seja boa para ele.
Matteo mudou Edgar de cargo, agora é ele quem comanda dezenas de seguranças na nossa nova casa e isso é perfeito, não há pessoa melhor para isso.
— Vou pedir ao motorista que leve você ao aeroporto, Rubens. — Ele concorda e meu marido e meu irmão saem da sala.
Olho em volta e vejo todos conversando com animação e entusiasmo, isso me enche de alegria e novamente repito, não posso deixar que façam m*l a ninguém, ou eu não me chamo Aurora Johnson, melhor dizendo, Eleonora De Angelis.