06. Barão Narrando
Aquele dia já tinha começado torto e tava longe de melhorar. Saí do hospital com a cabeça a mil, a preocupação com o Cachoeira me corroendo. O cara era meu braço direito, não podia deixar ele na mão. Carolina tinha se mostrado corajosa, mas eu ainda tava com a raiva entalada na garganta.
Sai do posto e cheguei na boca e já fui direto pra salinha. Tinha que resolver um monte de coisa, mas a p***a do pensamento no hospital não saía da minha cabeça. Precisava botar a cabeça no lugar, mas tava difícil.
— E aí, Barão? — um dos meus homens perguntou, entrando no escritório. — Como tá o Capoeira?
— Tá na luta, mas vai sair dessa — respondi, tentando manter a calma. — E a operação? Tudo certo? — eu acendi meu baseado
— Tudo certo. Mas a invasão da polícia deixou um rastro de merda pra trás — ele disse, balançando a cabeça. — Muita gente assustada.
Suspirei, sabendo que aquilo ia dar mais trabalho do que eu queria. Mas era minha responsa manter a ordem.
— Vamos reforçar a segurança dos becos. E avisa a rapaziada pra ficarem espertos. Não quero mais surpresas hoje — ordenei, e ele assentiu, saindo do escritório.
Decidi dar uma volta pela favela, precisava ver com meus próprios olhos como tava a situação. O clima tava tenso, mas todo mundo me respeitava. Sabiam que eu não tava pra brincadeira.
A Rebeca e o Thomas me pediram pra buscar na escola, e quando é assim eu ja sei que é problema, eu peguei o carro da boca e busquei os dois na escola e eles ja entrando sorrindo — E ai, qual foi? — eu olhei eles e sai dirigindo
— Você levar a gente pra almoçar, queria comer baião de dois — a Rebeca falou sorrindo e eu sorri de lado e sai dirigindo pro restaurante nordestino, o baião daqui dava aulas pô.
A gente entrou e sentou e minutos depois a Vanessa entrou sentando também, eu deixei eles pedirem tudo que queriam comer, eu fiquei olhando eles
— Pai.. — A rebeca comecou, e chegou onde eu tava achando estranho e eu olhei pra ela — Eu posso dormir na casa da Paulinha hoje? É a noite das meninas, todas as meninas vão.
— Paulinha, aquela que mora no pé do morro que vai pro baile rebolar no pente dos meus moleques ? — eu falei e ela ficou me olhando — não. — eu falei e o Thomas riu
— Eu avisei que ele não deixaria — ele disse bebendo a lata de coca dele
— Só por que ela vai pra baile, eu nao posso ser amiga dela?
— Eu não disse que voce nao pode ser amiga de ninguém, eu disse que você não dormiria na casa de ninguém. Sabe em quem eu confio? Ninguém. Você tem 15 anos, é linda demais pra ta dormindo fora de casa. Sem chances.
Ela respirou e ficou em silencio, a comida chegou e a gente comeu conversando e rindo das merdas que o Thomas falava, e a Rebeca aos poucos desamarrou a casa, quando eu disse que ela podia ir comprar, se assim ela ficasse feliz. Eu paguei a conta e levei todo mundo pra casa.
Voltei pra boca e fiquei lá trabalhando obrado o resto do dia, papo reto? Capoeira tem que voltar logo. Mais tarde eu desci pra fazer um recolhe na ultima boca.
Quando passei pelo posto de saúde de novo, vi Carolina saindo. Ela parecia exausta, mas ainda com aquele olhar desafiador. Parei a moto e desci, caminhando em direção a ela.
— Pra onde você pensa que vai? — falei, cruzando os braços.
Ela revirou os olhos, claramente irritada. — Cê me deu 12 horas, lembra? Eu cumpri no tempo certo, são 19h05 da noite — respondeu, sem baixar a cabeça.
— E se eu dissesse que mudei de ideia? — provoquei, me aproximando mais.
— Aí eu te diria que não vou deixar você intimidar o pessoal do hospital. A gente tá aqui pra ajudar, não pra ser refém das suas ameaças — ela respondeu, firme.
Aquilo me pegou de surpresa. Não era qualquer um que tinha coragem de falar comigo daquele jeito. — Cê é corajosa, eu te dou isso. Mas cuidado, coragem demais pode ser perigoso por aqui — falei, tentando manter a voz calma.
— Eu não tenho medo de você, Barão. Tô aqui pra fazer meu trabalho, e vou fazer do meu jeito. Se isso te incomoda, problema é seu — ela rebateu, virando as costas e indo embora.
Fiquei ali, olhando ela se afastar. A raiva ainda tava lá, mas agora misturada com uma ponta de respeito. Não era qualquer um que falava comigo daquele jeito e saia impune. Mas ela... ela tinha algo diferente.
Subi na moto de novo e acelerei, sentindo o vento bater no rosto. Precisava esfriar a cabeça. O dia ainda não tinha acabado, e eu tinha que manter a ordem na favela. Mas uma coisa era certa: Carolina tinha ganhado meu respeito, mesmo que não soubesse disso.
O resto da noite foi um corre-corre. Tive que resolver um monte de pendências, falar com a galera, garantir que tudo tava no lugar. Mas a imagem da Carolina, me enfrentando e batendo de frente comigo, não saia da minha cabeça. Quando a noite chegou, eu já tava exausto. Voltei pra salinha, sentando na cadeira e olhando pro caderninho do confere na mesa, essa p***a era trabalho do Caporeira, agora alem de tudo eu ainda vou ter que fazer confere, um por um?
A vida na favela era difícil, mas eu sabia que tava fazendo o que era preciso pra manter a ordem. E agora, com Capoeira fora de ação por um tempo, eu ia ter que ser ainda mais cuidadoso.
Fechei os olhos por um segundo, tentando relaxar pegando minha onda no balão. Mas sabia que aquilo não ia durar muito. A vida na favela nunca permitia descanso por muito tempo. E com Carolina no hospital, talvez as coisas ficassem ainda mais complicadas, eu não sabia ate quando eu ia permitir que ela me enfrentasse.
Eu sai da boca e muntei na moto indo pra casa devagar olhando a rua, passei pelo Bar do Boiadeiro e vi a Carolina de longe sentada numa mesa, onde tinha uns caras e umas meninas, ela ria com aquele sorriso bonito dela e eu nem tinha reparado, os dentes branquinhos e ela tava linda com um conjunto de saia e top vermelho e eu vi reparei na argola dela, eles estavam conversando e ela dando gargalhada com um copo de bar com cerveja na mão.
Eu subi e ela nem me viu, eu fui pilotando pra casa e entrei dando de cara com a Vanessa sentada no sofá — Oi amor
— Oi — eu respondi e suspirei, tirei a arma da cintura e coloquei no mesmo lugar de sempre, em cima da bancada que dividia a cozinha da sala
— Quem é a loira que tava na sua garupa hoje cedo ? — ela perguntou e cruzou os braços e eu olhei pra frente andando pra cozinha
— Na minha garupa? mulher? — eu sabia que ela tava falando da Carolina
— Jhonny.. quem era? — ela perguntou me olhando enquanto eu abria a geladeira
— É a enfermeira que ta cuidando do Capoeira, dei uma carona pra ela chegar mais rapido no posto, ela mora aqui em cima po, ia demorar muito ate chegar lá e ja estava atrasada no horario em que eu mandei ela estar lá. — ela bufou e eu conheço quando ela esta com ciumes e eu ignorei isso, por que seria uma discussão sem sentido e eu não to afim pô. Bebi o suco que tava la, joguei a caixa no lixo e passei por ela subindo, entrei no quarto e fui direto pro banheiro tomar um banho.
Fiquei lá dentro, em baixo do chuveiro, sentindo a agua gelada cair pelo meu corpo. Eu sai do banho enrolado na toalha e sentei na cama, respirei fundo e peguei o celular, abri o wpp e exclui sem abrir mensagens de algumas mulheres, hoje eu não tava muito afim, eu to cansadão.
— Amanhã quero você as 7h no posto, ta bebendo e vai trabalhar amanhã — eu mandei pra Carolina e ela não demorou muito pra me responder
— O que? O trabalho no posto é 24/48 e você ta me fazendo trabalhar fora do contrato, sabia? Eu não ganho nada alem do valor normal — ela respondeu e eu li e sorri
— É dinheiro? Eu te p**o. Amanhã as 7h — eu envio e fico olhando a foto dela que apareceu pra mim, sinal que salvou o contato
— Que dinheiro? Amanhã é a minha folga, não quero seu dinheiro. Eu estudo também, eu tenho uma vida você sabia? E importunação fora de horario de trabalho é ilegal, estou ocupada. Boa noite!
— Amanhã as 7h — eu falei e gargalhei quando ele disse sobre algo ser ilegal, logo pra mim? qual é pô.
Agora eu sei que ela se irrita e vou pertubar ela, vai ser a minha diversão. A Vanessa entrou no quarto e me olhou, eu suspirei e bloquiei o celular
— Ta conversando com quem tão engraçado? — ela perguntando andando no quarto e eu levantei indo no armario e vestindo uma cueca e uma roupa
— Com os moleques falando besteira, por que? Cade a Rebecca ? — eu vesti uma camisa e ela ficou em silencio — Ta de s*******m que você passou por cima de mim, né? Ta zoando ? — eu perguntei puto imaginando que a Rebeca tinha ido pra onde eu disse que nao era pra ir
— Meu Deus, o que tem ela dormir na casa da amiga com as amigas ? Ela não ta fazendo nada — ela sentou na cama
— Voce sabe? Tu sabe se elas nao estão fazendo nada? Voce lembra que na idade dela voce dizia pra sua mae que ia pra casa das amigas e vinha t*****r comigo? Passava o final de semana inteiro transando comigo dizendo pra mae que tava dormindo na casa das amigas, parece maluca, p***a! Você ta brincando comigo, num fode — eu falei puto e vesti uma camisa e coloquei meu cordão passando perfume — Quando eu voltar, eu quero a Rebeca dentro de casa. Da o teu jeito! — eu sai batendo a porta e desci
Odeio quando a Vanessa faz essa p***a, eu falo A e ela faz B, p***a! Se a Rebeca fizer alguma merda, ela que vai pagar na minha mão. Eu peguei a arma e sai de casa pra esfriar a cabeça.