05. Carolina Narrando
Acordei com o barulho do meu despertador, me virei na cama, e quando olhei para o relógio digital que tinha do lado da minha cama, percebi que estava atrasada. Dei um pulo da cama, ainda sonolenta, e corri pro banheiro. Tomei um banho rápido, a água gelada me ajudando a despertar.
Enrolei a toalha no corpo e fui correndo para o quarto, tentando me arrumar o mais rápido possível. Vesti minha roupa, uma calça branca legging e uma blusa grande por cima tapando a b***a, coloquei minha croc branca com varios stick de bichinhos em cima e fui para a cozinha, pegando um pão e passando manteiga enquanto mastigava apressadamente. Enchi um copo de café e fui bebendo, ainda quente, sentindo a adrenalina de estar atrasada.
Voltei pro quarto e parei na frente do espelho penteando meus cabelos, por sorte era rapido, passei um corretivo nas olheiras, e um blush de leve pra da uma cor no rosto, passei um liptint nos labios bem leve mesmo. Engoli o resto do café e sai do quarto.
Saí pela porta da frente com a bolsa pendurada no ombro, guardando meu celular na bolsa e tentando organizar minha mente para o dia que viria pela frente. Assim que abri o portão, dei de cara com o Barão, parado ali olhando o relogio em seu pulso.
— Já está atrasada, Ana Carolina — ele falou com aquela voz séria, o olhar serio me olhando dos pés a cabeça.
eu revirei os olhos — Acordei um 15 minutos depois do horario, hoje seria meu dia de folga, né? depois de ontem eu esqueci ate de despertar. — respondi, tentando manter a calma, mesmo que meu coração estivesse acelerado.
Ele não disse nada, apenas deu um passo para o lado, me dando espaço para passar. Subi na moto, e ele acelerou, nos levando de volta ao posto de saúde. Cada segundo na garupa dele parecia uma eternidade, e eu só conseguia pensar no que mais poderia dar errado hoje.
Quando chegamos ao posto, desci rapidamente da moto e fui direto para dentro, sem olhar para trás. Estava determinada a fazer o meu trabalho e não deixar que o Barão, ou qualquer outra coisa, me intimidasse.
Passei pelas portas do posto de saúde, sentindo o peso de tudo o que estava por vir, mas também a determinação de não me deixar abater. Eu sabia que tinha um trabalho importante a fazer, e não ia deixar ninguém, nem mesmo o dono do morro, me impedir de fazer o que era certo.
Eu entrei na sala onde guardamos as bolsas e puxei meu jaleco colocando, fechei ele e botei o celular no bolso dele e sai andando pelos corredores do posto. Não se falava em outra coisa a não ser o tal do Capoeira que estava ali, e todos estavam aflitos sobre ser o braço direito do Barão e ele estar com um olhar ameaçador pra todo mundo. Mas ele não me intimidava nenhum pouco, ele faria o que comigo? Me matar? me poupe.
Prendi meu cabelo num r**o de cavalo no alto e fiz um coque por cima e andei pro quarto onde estava o Capoeira e o Doutor Felipe ja estava lá ouvindo os desaforos e ameaças do Barão. Eu entrei eles me olharam, eu fechei a porta e segurei a prancheta na mão e me aproximei fazendo as anotações dos sinais vitais do paciente em silencio, mas só ouvindo a discussão deles.
— Da licença? — eu virei pra eles que me olharam — você sabe que o paciente ouve tudo? voce acha que faz bem a ele voce aqui falando alto com todo mundo enquanto ele se recupera e a gente faz o nosso trabalho? — eu falei com o Barão que ficou parado me olhando — Voce tem que entrar aqui com uma boa energia pro seu amigo, não é essa energia pesada que você tem que faz as pessoas tremerem de medo quando olham pra mim, quer dizer, nem todos, mas alguns, sim. O hospital ja é um ambiente pesado, com a energia horrivel e você vem de la de fora assim, pode se acalmar? Todo mundo sabe o seu lugar, sabe fazer o seu trabalho. Se voce quer um trabalho bem feito, para de pressionar as pessoas. Voce tem que pedir a Deus pra que ele se recupere, nós somos apenas uma parte disso. — eu falei e respirei fundo. O Dr estava me olhando com os olhos arregalados e em silêncio com cara de quem não acreditou que eu tive a coragem.
— Você ta marolando com a p***a da minha cara? — o Barão me perguntou com raiva
— Você acha ? — eu falei e baixei a mão — Você acha que tem alguém aqui a passeio? Vai tomar um banho de ervas, numa rezadeira, ou em qualquer outro lugar, voce esta nervoso demais e entra aqui com essa energia r**m brigando com todo mundo. Sobre pressão não tem quem trabalhe direito. — eu falo e volto a atenção pro paciente.
— Quem deu um emprego na minha favela pra essa garota? — ele falou e saiu do quarto pisando forte
— Meu deus Carolina.. — o Dr falou me olhando e eu dei os ombros — e se ele conseguir tirar o seu emprego por isso?
— Ai, você acha que eu vou esquentar a cabeça se ele quiser me tirar o emprego? Eu volto a atender no quiosque na beira da praia, vendo açai na areia, sanduiche natural e qualquer coisa digna igual eu cresci trabalhando pra me sustentar e sustentar minha faculdade. Não vai ser aqui que eu vou baixar a minha cabeça pra ninguém, ele pode ser o dono do planeta amor, ja passei por muita coisa na minha vida. Se eu to aqui é por que eu mereço estar, não subi em ninguém pra conseguir nada. Se ele nao gostar e quiser colocar outra tecnica no meu lugar, seja ela bem vinda, porem tera que aturar ele, igual eu to fazendo num dia que era pra ser minha folga. — Eu acabo falar enquanto anoto e viro dando de cara com o Barão que tava atras de mim ouvindo tudo que falei, eu engulo e mantenho minha cabeça erguida olhando pra ele.
— Você é linda mesmo, uma pena que fala demais, mas calada deve ser perfeita. Faz então o teu trabalho que é pra eu não ter que falar com você. — ele disse me olhando — Mais tarde eu volto aqui. — ele saiu e fechou a porta me deixando ali sozinha.
Eu ri baixo e coloquei a prancheta na mesa ali, e me aproximei do paciente fazendo todo cuidado com ele. Banho no leito, ajuste de medicamento e verificando tudo certinho, e revisando se esqueci alguma coisa, por que o senhor dono do planeta terra com certeza ficaria em cima de mim as 12hrs de trabalho.