Capítulo 04.

1212 Words
No corredor do orfanato, Paolo fitava Pietro com uma expressão carregada. O recrutamento forçado não era o que desejavam, mas a sobrevivência os forçou a isso. Exilados da Rússia aos 16 anos, os irmãos se encontraram desamparados, mas determinados. Pietro, sempre o estrategista, usou as roupas de marca que tinham para levantar algum dinheiro. Com isso, começou a desenhar um plano de vida. Na pequena cidade onde se estabeleceram temporariamente, as oportunidades eram escassas, mas a necessidade os uniu ainda mais. Paolo, astuto, decidiu investir parte do que restava em ações no banco. O sucesso dos investimentos permitiu que ambos começassem a frequentar cassinos mexicanos, onde a adrenalina e o risco se tornaram parte do cotidiano. Com o tempo, chamaram a atenção de El Mayo, um dos líderes do tráfico na região, que viu nos irmãos uma chance de expandir seus negócios. A conexão inicial foi casual, mas rapidamente se transformou em uma aliança que misturava ambição e perigo, colocando-os em um caminho onde a sobrevivência exigia decisões cada vez mais arriscadas. Enquanto se aprofundavam nesse novo mundo, a união entre os irmãos crescia. Pietro manteria o foco nos negócios, enquanto Paolo era atraído pela vida perigosa e sombria do submundo. Seu temperamento taciturno era um contraste com a leveza de Pietro, que por debaixo dessa máscara era tão c***l ou até pior que Paolo. O que havia começado como uma luta pela sobrevivência agora os empurrava para um abismo que poderia consumir ambos. — Sem distrações, Pietro, vamos acabar logo com isso. — Não venha me falar que a bonequinha não chamou sua atenção? Pergunta com ar de sorriso. — Você sabe que sim. — A bonequinha vem com a gente. A porta da sala onde o padre Tomás estava foi aberta. O homem estava vestido, de batina preta, longa e sóbria, com um colarinho branco impecável. A batina tinha um corte clássico, ajustado no peito, e fluía livremente até os tornozelos. Nos pés, usava sapatos pretos polidos. — Sabe, Padre, quem te vê vestido assim até acredita que é um homem de Deus! Pronunciar Pietro, sentando-se na cadeira que ficava em frente para a pequena mesa de madeira onde o padre colocava alguns papéis e um computador antigo. Paolo estava encostado na parede, sua aura sombria causava arrepios no padre que se tremia da cabeça aos pés. — El mayo me deu um prazo de um mês, eu juro, eu pagarei a dívida, olhe, até juntei dinheiro da verba que o governo mandou para o orfanato. — O seu tempo esgotou, Tomás, acha que pode nos passar a perna? Sua ligação para o Cartel colombiano foi rastreada, você entregaria nossas mercadorias a eles, padre Tomás? Indaga com um sorriso presunçoso nos lábios. Padre Tomás engoliu em seco, sua expressão era de desespero. Ele sabia que estava em uma encruzilhada, cercado pela fúria dos irmãos. — Eu não faria isso! — Ele disse, levantando as mãos em um gesto de rendição. — Vocês precisam entender, eu só... só queria ajudar o orfanato! Pietro inclinou-se para frente, seus olhos afiados como lâminas. — Ajudar? Como com as orgias, ou melhor dizendo, com a suruba coletiva entre você e as freiras? Não somos ingênuos, Tomás. Você nos subestimou. Paolo cruzou os braços, o olhar penetrante sobre o padre. — Se não conseguimos honrar nossas promessas, o que você acha que acontecerá com você? A tensão no ar era palpável. O padre olhou de um para o outro, buscando uma saída, mas sabia que estava preso. — Olhem, eu posso conseguir mais dinheiro! Um empréstimo, um patrocinador... Levem as garotas de 17 e 18 anos uma garantia do dinheiro que devo. Pietro balançou a cabeça, cortando-o. — E quem vai confiar em um padre endividado? O tempo está contra você, Tomás. El Mayo não é um homem paciente. A mente do padre girava, buscando uma solução. — E se eu trouxer algo mais valioso? Algo que o interesse, algo que prove a minha lealdade? Paolo ergueu uma sobrancelha, curioso e com um ar de sarcasmo. — O que você tem em mente? Tomás hesitou, mas a necessidade de sobrevivência o impelia a arriscar. — Conheço uma rota de contrabando. Se eu puder trazê-los informações sobre isso, poderíamos... — Sua voz falhou, mas Pietro o interrompeu. — Você realmente acha que isso será suficiente? A traição pode custar caro, Tomás. O padre se recompôs, decidindo que não tinha escolha. — Uma carga valiosa essas garotas que estou oferecendo. Vão precisar de proteção, e eu sei como lidar com isso. Paolo se aproximou, seu tom baixo e ameaçador. — Se você nos decepcionar, não haverá perdão. Você não só perderá a vida, mas também todos aqueles vídeos das orgias vira a público, você não quer seu nome na lama não e mesmo Tomás? Tomás assentiu, um misto de medo e determinação nos olhos. — Eu entendo. Farei o que for preciso. Pietro se levantou, puxando Paolo com ele. — Então, que comece o jogo. Mas lembre-se: a lealdade é um fio fino. Ao sair da sala, Pietro lançou um olhar para o padre, uma sombra de dúvida cruzando seu rosto. — Você realmente acredita que ele pode cumprir? Paolo sorriu, uma expressão fria. — Não importa. O que importa é que agora temos uma vantagem. E com vantagem, sempre se deve estar preparado para o pior. Os irmãos deixaram a sala do padre, suas mentes fervilhando com planos e estratégias, sabendo que a linha entre a sobrevivência e a traição era mais tênue, do que o padre estava disposto a pagar. No lado de fora, o caminhão baú estava estacionado, homens armados começaram a invadir o orfanato. — Somente as garotas de 17 e 18 anos, a Madre Maria, irá mostrá-las para vocês. — Não é mesmo, Madre? Pergunta Paolo, com a voz forte, sem dar escolhas para recusar. — Sim, apenas me sigam, as garotas ficam na parte de cima do orfanato. Os soldados entraram no orfanato guiados pela Madre, que os conduziu com um terço nas mãos e fazendo uma reza. As portas dos quartos eram abertas e as garotas eram arrastadas dos quartos, algumas tentavam fugir, mas nada que um tiro nas pernas não evite a fuga. As crianças menores foram levadas para as salas de aula, por exigência de Paolo. Assim, os livrava de um trauma psicológico severo. No caminhão, a contagem era feita, os irmãos sabiam os nomes de cada jovem que ali estava, os olhos inquietos de Pietro denunciavam sua apreensão, a bonequinha não estava entre as garotas. Ele havia entrado no orfanato com os soldados e Paolo ficou no caminhão fazendo a conferência. A frustração dos gêmeos era visível. — Onde ela está, Madre? Indaga, puxando a freira pelo colarinho branco da sua batina. — Ela quem? Fala a Madre com a voz trêmula e arrastada pelo sufocamento. — Micaela Sánchez, esse nome te traz recordações, Madre. — Longe, muito longe daqui! Consegui salvar pelo menos uma. — Isso não foi inteligente da sua parte, Madre. Tirando sua arma do coldre, Paolo dispara na testa da mulher, que vai ao chão imediatamente. — Coloque o corpo dela no baú. Ordena para um dos soldados que arremessar o corpo sem vida da Madre no baú do caminhão e o fecha.
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