Capítulo 34

1455 Words
Clara Oliveira 28 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil A mensagem de Pedro queimava em minhas mãos enquanto eu olhava para a tela do celular. Precisamos conversar. Suas palavras eram diretas, e, depois de tudo o que Luísa havia acabado de me contar, sabia que isso não era um simples pedido de conversa. Pedro estava desmoronando de maneiras que eu não havia previsto, e agora ele estava tentando me puxar de volta para esse caos. — O que ele disse? — perguntou Luísa, com os olhos arregalados. Mostrei o celular para ela, e a expressão dela imediatamente se contorceu em preocupação. — Clara, você não pode encontrá-lo sozinha — disse ela, enfática. — Ele está descontrolado. Eu sei que vocês têm uma história, mas isso não é seguro. Algo está muito errado com ele. Eu sabia que Luísa estava certa. A última coisa que eu deveria fazer era me encontrar com Pedro, especialmente sabendo que ele estava mostrando um comportamento tão errático. Mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim sentia que precisava resolver isso de uma vez por todas. Pedro estava tentando se apegar a algo que não existia mais. — Eu vou falar com Leonardo sobre isso — respondi, sentindo meu estômago revirar com a ideia de contar mais essa complicação para ele. — Ele precisa saber. Luísa assentiu, mas pude ver que ela ainda estava tensa. — Tome cuidado, Clara. Pedro não é mais o cara que você conhecia. E eu sinto que ele está ficando obcecado com você de uma maneira perigosa. Fiquei em silêncio por um momento, tentando processar tudo o que estava acontecendo. Pedro sempre foi uma pessoa emocionalmente intensa, mas o que Luísa descreveu — ele perseguindo-a, agindo de forma estranha — era algo muito além do que eu poderia imaginar. Despedi-me de Luísa e voltei para o apartamento de Leonardo, o coração apertado com a incerteza do que estava por vir. Como eu iria contar para ele? Leonardo já tinha tanto nas costas com o divórcio, os problemas com Teresa, e agora Pedro estava prestes a trazer mais caos para nossas vidas. Quando entrei no apartamento, Leonardo estava no sofá, olhando para alguns documentos. Ao me ver, ele sorriu levemente, mas sua expressão rapidamente mudou ao notar minha tensão. — O que foi? — ele perguntou, já se levantando, preocupado. Eu suspirei, tentando encontrar as palavras certas. — Precisamos conversar — disse, com a voz baixa. A mesma frase que Pedro havia usado. Leonardo se aproximou, claramente sentindo que havia algo errado. — O que aconteceu? Respirei fundo, sentindo meu coração disparar. — É sobre Pedro. Ele está... não está bem, Leonardo. Luísa acabou de me contar que ele está perseguindo ela, mandando mensagens estranhas, aparecendo nos lugares onde ela está. Ele está obcecado. E agora ele quer me encontrar de novo, para ‘conversar’. — Minha voz tremia um pouco, a tensão se acumulando em meu peito. Leonardo ficou em silêncio por um momento, absorvendo as informações. Seus olhos escureceram, e vi sua mandíbula se apertar. Ele não disse nada imediatamente, mas pude ver que estava tentando controlar sua raiva. — Ele mandou uma mensagem para você? — perguntou ele, a voz baixa e tensa. Eu assenti, mostrando o celular para ele. Leonardo olhou a mensagem por alguns segundos antes de me devolver o aparelho, sua expressão dura. — Você não vai se encontrar com ele — disse Leonardo, sua voz agora mais firme, cheia de autoridade. — Não depois do que Luísa te contou. Pedro está agindo de maneira irracional, e eu não vou deixar ele te arrastar para isso. Eu sabia que Leonardo estava certo. Eu não deveria me encontrar com Pedro. Mas, ao mesmo tempo, sentia que precisava encerrar aquilo de uma vez por todas. Pedro estava tentando manter algo vivo que não existia mais, e, se eu não fosse clara com ele, talvez as coisas piorassem ainda mais. — Eu sei, Leonardo. Eu também não quero me envolver nisso. Mas ele está desmoronando, e sinto que, se não falar com ele, vai continuar me perseguindo, vai continuar tentando interferir na nossa vida — respondi, tentando manter a calma. — Eu preciso fazer isso. Leonardo me olhou, sua expressão endurecendo ainda mais. — Clara, eu entendo que você queira resolver as coisas, mas Pedro não é mais o mesmo. Ele está obcecado, e isso pode ser perigoso. Eu não quero que você se coloque em uma posição vulnerável. Eu sabia que ele estava certo, mas havia algo dentro de mim que me dizia que eu precisava resolver aquilo. Precisava encarar Pedro e deixar claro, de uma vez por todas, que não havia mais espaço para ele na minha vida. — Eu não vou encontrá-lo sozinha — disse, minha voz agora mais firme. — Mas eu preciso encerrar isso, Leonardo. Eu preciso falar com ele e dizer que acabou. De verdade. Talvez ele finalmente me deixe em paz. Leonardo continuou me olhando, a tensão em seu corpo ainda visível, mas, finalmente, ele suspirou e assentiu. — Está bem. Mas eu vou com você. Não vou te deixar sozinha com ele, especialmente depois de tudo isso. Eu sorri, sentindo o alívio de ter Leonardo ao meu lado. — Obrigada. Eu... realmente não quero fazer isso sozinha. No dia seguinte, Leonardo e eu estávamos nos preparando para encontrar Pedro. Decidimos nos encontrar em um lugar público — uma cafeteria no centro da cidade — para garantir que nada saísse do controle. Eu estava nervosa, mas sabia que aquilo precisava ser feito. Quando chegamos, Pedro já estava sentado em uma mesa ao fundo, seu rosto sério e tenso. Quando nos viu, sua expressão se fechou ainda mais, e, por um momento, senti uma onda de arrependimento por ter concordado em vê-lo. Leonardo permaneceu ao meu lado, sua presença me dando a confiança que eu precisava. Pedro levantou o olhar para nós dois, e, assim que nos sentamos, o ambiente ficou carregado de tensão. — Eu pedi para falar com você, Clara, não com ele — Pedro disse, sem rodeios, seus olhos fixos nos meus. Leonardo permaneceu em silêncio, mas pude sentir a tensão crescente ao meu lado. — Pedro, eu não ia vir aqui sozinha — respondi, tentando manter a calma. — Não depois do que está acontecendo. Pedro franziu o cenho, como se não entendesse. — O que está acontecendo? — perguntou ele, com uma falsa inocência na voz. Eu respirei fundo, olhando diretamente para ele. — Luísa me contou tudo, Pedro. Ela disse que você está mandando mensagens estranhas, aparecendo nos lugares onde ela está. Isso não é normal, e não é saudável. — Minhas palavras foram diretas, sem espaço para rodeios. — Você precisa parar com isso. Pedro ficou em silêncio por um momento, seus olhos escurecendo com uma raiva silenciosa. — Eu não estou perseguindo ninguém — ele disse, a voz baixa, mas carregada de ressentimento. — Luísa está exagerando. Ela está tentando me afastar de você. Assim como ele está. — Ele lançou um olhar frio para Leonardo, cheio de rancor. Leonardo finalmente falou, sua voz firme e controlada. — Pedro, você está fora de controle. Não adianta tentar colocar a culpa nos outros. Clara seguiu em frente. E você precisa fazer o mesmo. Pedro deu uma risada curta, amarga. — Seguiu em frente? — Ele olhou para mim, os olhos agora carregados de mágoa e raiva. — Como você pode dizer que seguiu em frente, Clara, depois de tudo o que passamos? Minha garganta apertou, mas eu sabia que precisava ser firme. — Pedro, nós terminamos. Não podemos voltar atrás. Eu sinto muito, mas o que tínhamos acabou. E você precisa aceitar isso. Pedro ficou em silêncio, mas eu pude ver a luta interna em seus olhos. Ele estava se segurando, tentando manter o controle, mas algo dentro dele parecia estar à beira de desmoronar. — Então é isso? — ele perguntou, sua voz quase um sussurro. — Você vai escolher ele, depois de tudo? Eu assenti, sentindo meu coração pesado, mas sabendo que aquela era a única verdade que ele precisava ouvir. — Sim, Pedro. Eu escolhi Leonardo. E você precisa deixar isso para trás. Por um momento, o silêncio entre nós foi insuportável. Pedro parecia lutar com suas emoções, e, por um segundo, achei que ele fosse explodir. Mas, em vez disso, ele se levantou, os olhos fixos em mim com uma mistura de dor e raiva. — Você vai se arrepender disso, Clara. Todos vocês vão. E com essas palavras, ele saiu da cafeteria, deixando um rastro de tensão e incerteza no ar. Eu fiquei parada ali, sentindo o peso de suas palavras e a sensação de que algo muito pior estava por vir.
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