Capítulo 33

1193 Words
Clara Oliveira 27 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil O amanhecer após a noite intensa com Leonardo trouxe uma paz que eu há muito não sentia. Estávamos nos reconectando de maneiras que me faziam acreditar que, por mais caótico que o mundo lá fora fosse, nosso relacionamento era forte o suficiente para aguentar qualquer coisa. Eu ainda estava deitada na cama, envolta nos lençóis, quando o telefone de Leonardo vibrou na mesa de cabeceira. Ele estava no banheiro, se preparando para uma série de reuniões importantes, então, peguei o aparelho, apenas para conferir quem era. Teresa. Meu coração deu um salto. Mesmo sabendo que o divórcio estava em andamento, sempre havia uma tensão quando se tratava de Teresa. Por que ela estaria ligando tão cedo? Uma parte de mim ainda carregava inseguranças sobre o que ela significava para Leonardo — afinal, eles tinham uma longa história juntos. Assim que ele voltou do banheiro, enxugando o cabelo com uma toalha, eu levantei o celular. — Teresa te ligou — disse, tentando parecer tranquila. Leonardo franziu o cenho e pegou o celular das minhas mãos. Quando viu o nome dela na tela, seus olhos escureceram por um momento. Ele respirou fundo antes de atender. — Teresa — ele disse, com a voz firme, mas neutra. Eu observei enquanto ele ouvia a outra linha, sua expressão ficando cada vez mais tensa. A conversa parecia curta, mas o que quer que ela tenha dito não era bom. — Tudo bem, eu vou resolver — ele disse, antes de desligar e jogar o telefone no sofá com um suspiro pesado. — O que foi? — perguntei, já sentindo a ansiedade se formar no fundo do meu estômago. Leonardo se sentou ao meu lado na cama, esfregando o rosto com as mãos. — Teresa está com problemas — ele começou, a voz carregada de frustração. — O advogado dela está pressionando para acelerar o processo do divórcio, e agora ela está lidando com algumas complicações financeiras na empresa dela. Ela... — ele hesitou por um segundo, como se estivesse ponderando as palavras. — Ela quer que eu ajude. O nome de Teresa flutuava no ar como uma sombra entre nós. Por mais que eu quisesse ser compreensiva, ouvir que ela estava pedindo ajuda a Leonardo fazia uma parte de mim se encolher de insegurança. Eles ainda estavam conectados, de alguma maneira. E mesmo que o relacionamento entre eles estivesse terminado, o vínculo deles nunca desapareceria completamente. — E você vai ajudar? — perguntei, minha voz saindo mais fria do que eu pretendia. Leonardo me olhou, percebendo imediatamente a tensão em minha expressão. — Clara, ela é a mãe do meu filho — ele começou, escolhendo as palavras com cuidado. — E, por mais que eu queira seguir em frente, não posso simplesmente virar as costas para ela, especialmente quando envolve questões legais e financeiras. O que quer que ela precise, vou tentar resolver da maneira mais rápida possível. Eu sabia que ele estava certo, mas o desconforto continuava ali, como uma pedra no meu peito. Teresa fazia parte do passado de Leonardo, mas era um passado que nunca iria embora. Como eu poderia competir com isso? — Está tudo bem — disse, tentando sorrir. — Só... espero que isso não complique ainda mais as coisas. Leonardo suspirou e se inclinou para me beijar na testa. — Eu vou resolver isso. E prometo que não vou deixar que isso atrapalhe a gente. Eu queria acreditar nele, mas a sensação de que algo estava fora do nosso controle não me deixava em paz. Mais tarde naquele dia, enquanto Leonardo estava fora em reuniões e lidando com as questões de Teresa, decidi sair para espairecer. Ficar no apartamento, sozinha, enquanto minha mente corria solta, não era uma boa ideia. Fui até um café próximo para estudar e tentar focar em algo que não fosse o drama contínuo ao meu redor. O café estava relativamente calmo, o som de xícaras e conversas abafadas era reconfortante. Eu estava quase conseguindo me concentrar no que estava lendo quando alguém se aproximou da minha mesa. Levantei os olhos, e o que vi me fez congelar por um segundo. Era Luísa. — Clara? Posso sentar? — perguntou ela, já puxando uma cadeira, sem esperar pela resposta. Eu sorri de maneira forçada, surpresa por vê-la ali. Luísa era minha amiga, mas havia algo diferente em sua postura hoje, algo tenso. — Claro, senta. Tudo bem com você? — perguntei, tentando ser educada, mesmo sentindo que algo estava fora do lugar. Ela assentiu, mas seus olhos me analisavam como se estivesse tentando encontrar algo que eu não havia percebido. O que estava acontecendo? — Clara... tem uma coisa que eu preciso te dizer — ela começou, sua voz mais baixa, quase um sussurro. Meu estômago revirou. Isso não parecia ser uma boa notícia. — O que foi? — perguntei, tentando manter a calma, mas já esperando o pior. Luísa respirou fundo antes de continuar. — Eu não sabia se deveria te contar, mas... nos últimos dias, eu percebi algo estranho acontecendo. — Ela olhou ao redor, como se tivesse medo de que alguém estivesse ouvindo. — Pedro veio me procurar. Pedro? Meu coração disparou ao ouvir o nome dele novamente. Por que Pedro estava se envolvendo com Luísa? — Ele está... me mandando mensagens, Clara. Ele está obcecado. — As palavras dela eram carregadas de preocupação. — No começo, eu achei que ele só queria desabafar, porque, sabe, vocês dois terminaram. Mas as coisas ficaram estranhas. Ele começou a aparecer nos lugares onde eu estou, a tentar se aproximar de mim de maneiras que não fazem sentido. O que? Minha cabeça girou. Pedro estava... perseguindo Luísa? Isso era inacreditável. — Eu não sabia se deveria te contar, mas está começando a me assustar. Ele não está lidando bem com a situação, Clara — ela continuou, a voz quase trêmula. — Eu não quero causar mais problemas entre você e Leonardo, mas precisava te avisar. Minha mente começou a processar tudo rapidamente. Pedro estava se descontrolando. O que antes parecia apenas mágoa agora estava se transformando em algo mais sombrio. Ele estava tentando usar Luísa, ou pior, estava obcecado pela ideia de causar problemas para mim e Leonardo. — Eu... nem sei o que dizer — admiti, com a voz fraca. — Isso é... bizarro. E perigoso. Luísa assentiu, visivelmente aliviada por ter contado. — Eu só queria que você soubesse, porque acho que isso não vai acabar bem. Pedro está desmoronando. E, francamente, não sei até onde ele pode ir. O alerta de Luísa me deixou em estado de choque. Pedro não era mais só um ex-namorado magoado. Agora, ele parecia estar trilhando um caminho perigoso, e eu não sabia como lidar com isso. Enquanto eu tentava processar as informações, meu telefone vibrou com uma nova mensagem. Quando olhei para a tela, meu coração quase parou. Era Pedro. Pedro Martins: "Precisamos conversar. Não vai demorar muito." Eu olhei para Luísa, que pareceu entender imediatamente o que estava acontecendo. Algo dentro de mim sabia que aquilo estava prestes a explodir — de uma forma ou de outra.
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