Capítulo 05

1077 Words
Clara Oliveira 29 de outubro de 2023 | São Paulo, Brasil O fim de semana chegou com uma sensação estranha no ar, como se algo estivesse prestes a acontecer, mas eu não sabia o quê. Pedro, como prometido, planejou uma noite especial para nós, e eu me forcei a entrar no clima, mesmo que minha mente estivesse longe, pensando em Leonardo e em nosso último encontro. — Pensei que poderíamos ir ao nosso restaurante favorito — disse Pedro enquanto me ajudava a colocar o casaco. Ele estava tão animado, e meu coração se apertava por saber que eu não estava completamente presente. — Parece ótimo — respondi, sorrindo o melhor que pude. Dirigimos em silêncio até o restaurante, um lugar pequeno e aconchegante que costumávamos frequentar quando começamos a namorar. As lembranças dos nossos primeiros encontros inundaram minha mente, me fazendo sentir ainda mais culpada por estar dividida entre ele e Leonardo. Assim que entramos, fomos recebidos pelo aroma familiar de comida italiana e pelo calor acolhedor do ambiente. Pedro parecia aliviado por finalmente estarmos ali, como se esse jantar fosse uma oportunidade de nos reconectar, de esquecer qualquer tensão que pudesse ter surgido nos últimos dias. — Estava pensando... — começou Pedro, enquanto olhava o cardápio. — Depois das provas, poderíamos viajar novamente. Talvez passar um final de semana na praia, só nós dois. Sorri, tentando ignorar a pontada de culpa que me atravessou. Ele estava fazendo de tudo para me agradar, e eu sabia que ele merecia mais do que estava recebendo de mim. — Seria ótimo. Acho que precisamos de um tempo juntos, longe de tudo. — Tentei parecer entusiasmada, mesmo que meu coração estivesse pesado. Pedro sorriu, satisfeito, e logo começamos a conversar sobre coisas leves: filmes, séries que queríamos assistir, lugares que ainda queríamos visitar. Por um momento, me permiti relaxar e apenas aproveitar a companhia dele. Afinal, Pedro era o namorado perfeito, e eu sabia que precisava lutar contra os sentimentos confusos que estavam me distraindo. O jantar seguiu tranquilamente, e aos poucos, a tensão que eu sentia começou a diminuir. Estávamos rindo de algo bobo que ele havia dito, quando, de repente, ouvi uma voz familiar do outro lado do restaurante. Meu corpo inteiro ficou rígido, e eu soube, antes mesmo de me virar, quem era. Leonardo estava lá, a poucos metros de nós, conversando com alguém em outra mesa. Ele não tinha me visto ainda, mas o simples fato de estar no mesmo lugar que ele fez meu coração disparar. Pedro percebeu que algo estava errado. — Clara? O que foi? Eu tentei disfarçar, mas sabia que estava pálida como um fantasma. — Nada... só achei que vi alguém conhecido — menti, meu estômago se revirando. Pedro olhou ao redor, mas não parecia ter notado Leonardo. Eu tentei me acalmar, tentando ignorar o fato de que a simples presença dele tinha o poder de desestabilizar tudo. — Quer sair daqui? Podemos ir para outro lugar... — Pedro sugeriu, preocupado. — Não, está tudo bem. De verdade. — Forcei um sorriso, tentando parecer convincente. — Vamos continuar nosso jantar. Pedro parecia aliviado com minha resposta, mas eu sabia que não estava realmente bem. Passamos o restante da refeição em uma nuvem de tensão que só eu parecia sentir. Eu conseguia ouvir a voz de Leonardo ao fundo, cada risada sua era como um lembrete doloroso do que eu estava tentando enterrar. Quando finalmente terminamos o jantar, Pedro sugeriu que fossemos caminhar pela orla do rio que ficava próximo ao restaurante. Concordei, na esperança de que o ar fresco ajudasse a clarear minha mente. Caminhamos em silêncio por alguns minutos, o som suave da água batendo nas pedras ecoando ao nosso redor. — Clara, você está estranha hoje. — Pedro finalmente quebrou o silêncio, me olhando com preocupação. — Aconteceu alguma coisa? Eu sei que a semana foi difícil, mas parece que tem algo mais. Eu parei de andar, meu coração apertando com a culpa. Eu sabia que ele merecia saber a verdade, mas como poderia dizer que seus medos eram mais reais do que ele imaginava? — É só a pressão das provas... e talvez um pouco de estresse acumulado. — Minha voz saiu fraca, e eu sabia que ele não estava convencido. — Se tiver algo que você queira falar, estou aqui. Sempre estou. — Ele se aproximou, segurando minhas mãos, e o carinho em seus olhos me fez querer chorar. — Eu sei, Pedro... e eu te agradeço por isso. Só preciso de um pouco de tempo para colocar meus pensamentos em ordem. — Era uma meia verdade, e ele parecia aceitar isso por enquanto. Ele me puxou para um abraço apertado, e eu descansei minha cabeça em seu ombro, tentando absorver o calor e a segurança que ele sempre me oferecia. Mas, por mais que tentasse, a sombra de Leonardo ainda pairava sobre mim, impossível de ignorar. Voltamos para o carro em silêncio, e o trajeto de volta para casa foi igualmente silencioso. Pedro me deixou na porta do meu prédio, me deu um beijo de boa noite e prometeu que tudo ficaria bem. Eu sorri, tentando acreditar nisso, mas sabia que algo estava prestes a mudar. Quando entrei em casa, me joguei no sofá, exausta emocionalmente. Eu sabia que não podia continuar assim, dividida entre Pedro e os sentimentos que não deveria ter por Leonardo. Mas, ao mesmo tempo, sabia que estava presa em uma situação sem saída. O telefone vibrou, e meu coração deu um salto ao ver uma mensagem de Leonardo. Leonardo Martins: "Desculpe pelo encontro inesperado hoje à noite. Espero que esteja tudo bem." Eu deveria ignorar. Eu sabia que deveria. Mas, como se minhas mãos tivessem vontade própria, acabei respondendo. Clara Oliveira: "Tudo bem... foi só uma coincidência infeliz." Houve um longo momento de silêncio, e eu achei que ele não responderia. Mas então, outra mensagem chegou. Leonardo Martins: "Precisamos conversar novamente. Há algo importante que preciso dizer." Meu coração disparou. Eu sabia que deveria recusar, que deveria colocar um ponto final nisso antes que fosse tarde demais. Mas, mesmo sabendo de tudo isso, acabei concordando. Clara Oliveira: "Certo. Quando e onde?" Ao enviar a mensagem, senti uma mistura de ansiedade e culpa, sabendo que estava me metendo em algo que não tinha controle. Mas a verdade era que, por mais que tentasse negar, meu coração já estava dividido. E eu não sabia quanto tempo mais conseguiria fingir que estava tudo bem.
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