Capítulo 06

1043 Words
Clara Oliveira 30 de outubro de 2023 | São Paulo, Brasil O peso da escolha estava sempre comigo, cada vez mais difícil de ignorar. Leonardo tinha me mandado uma mensagem, e agora eu estava aqui, andando de um lado para o outro no meu quarto, tentando decidir o que fazer. Minhas mãos suavam enquanto olhava para o celular na mesa, como se fosse um objeto perigoso prestes a explodir. Eu sabia que me encontrar com ele era um erro. Sabia disso mais do que qualquer outra coisa, mas, ao mesmo tempo, uma parte de mim se agarrava à ideia de vê-lo, de estar perto dele. Era como se minha mente e meu coração estivessem jogando em lados opostos, e eu estivesse presa no meio dessa batalha. Cada encontro com Leonardo tornava tudo mais intenso, e eu estava começando a perder o controle da situação. — Você vai ver o Pedro hoje? — perguntou Luísa, minha colega de apartamento, interrompendo meus pensamentos enquanto mexia em algumas roupas na cadeira. Eu hesitei antes de responder. Pedro havia me ligado mais cedo, perguntando se eu queria sair, mas eu inventei uma desculpa qualquer sobre estar exausta. Ele tinha acreditado, claro, porque ele sempre acreditava em mim. E era isso que me fazia sentir tão horrível. — Não... Vou ficar por aqui mesmo, descansar um pouco. Semana de provas, sabe como é... — menti novamente, sentindo o peso da culpa esmagando meu peito. — Não te culpo. Essa semana tá sugando a vida de todo mundo — respondeu ela com um sorriso. — Vou sair, me manda mensagem se precisar de algo, tá? Eu assenti, forçando um sorriso. Assim que a porta se fechou atrás dela, olhei para o celular. Leonardo Martins: "Pode vir agora? Preciso te ver." Antes que eu pudesse pensar duas vezes, já estava pegando minha bolsa. Cada passo que eu dava até a porta era uma mistura de ansiedade e culpa. Sabia que não deveria fazer isso, mas parte de mim queria. Queria demais. O táxi me levou até o endereço que Leonardo tinha mandado, um hotel discreto no centro da cidade. Quando cheguei, senti meu estômago revirar. Isso estava acontecendo. Eu estava mesmo indo ao encontro dele, e o pior de tudo era que não conseguia pensar em Pedro naquele momento. Só conseguia pensar em Leonardo. Entrei no hotel sem que ninguém me notasse. O silêncio no corredor era quase sufocante, e o som dos meus saltos ecoava pelas paredes enquanto me dirigia ao quarto que ele tinha indicado. Cada passo parecia aumentar a pressão no meu peito, e minha mente gritava que eu deveria voltar, sair correndo dali. Mas, antes que pudesse mudar de ideia, a porta se abriu. Leonardo estava lá, com a mesma expressão séria de sempre, mas seus olhos diziam algo mais. Algo que eu não conseguia decifrar completamente, mas que me atraía, me puxava para mais perto dele. — Clara... — ele começou, mas eu o interrompi. — Isso é loucura. — As palavras saíram antes que eu pudesse segurá-las, mas, ao mesmo tempo, eu já estava dentro do quarto. — Eu sei. — A voz dele era firme, mas havia uma suavidade nela, algo que me fez ficar onde estava, mesmo sabendo que deveria sair. Por um momento, o silêncio caiu entre nós. Eu podia ouvir minha própria respiração, pesada e descompassada. Leonardo se aproximou lentamente, seus olhos não deixando os meus por um segundo. Quando ele finalmente estava perto o suficiente para que eu sentisse o calor do seu corpo, algo dentro de mim cedeu. Ele ergueu a mão, tocando meu rosto com delicadeza, e eu fechei os olhos por um segundo, tentando absorver o que estava acontecendo. Tudo parecia errado, mas, ao mesmo tempo, incrivelmente certo. — A gente não deveria... — eu sussurrei, mas não me movi. — Eu sei. — Leonardo repetiu, a voz baixa e cheia de desejo contido. — Mas eu não consigo mais ficar longe de você. As palavras dele foram como uma onda me engolindo. Ele se inclinou para me beijar, e naquele momento, todo o dilema, toda a culpa, desapareceram. Tudo o que importava era ele. Leonardo. O beijo foi intenso, carregado de tudo o que ambos estávamos segurando. Era como se cada toque fosse uma liberação de todas as emoções que havíamos reprimido durante semanas. Suas mãos seguraram minha cintura, me puxando para mais perto, e, por um instante, eu me permiti esquecer do resto do mundo. Esquecer de Pedro, esquecer de tudo. Havia apenas Leonardo. Quando nos afastamos, o peso da realidade caiu sobre mim como uma enxurrada. O que estávamos fazendo? Eu me afastei, passando a mão pelos cabelos e tentando recompor minha respiração. — Isso... isso não pode continuar assim — eu disse, ainda ofegante. — Pedro... Leonardo balançou a cabeça, e por um momento, vi a dor em seus olhos. Ele sabia que eu estava certa. Mas também sabia, assim como eu, que não conseguiríamos parar. — Eu também não quero machucar o Pedro — ele disse, e dessa vez sua voz estava mais suave, quase quebrada. — Mas, Clara... não consigo ignorar o que sinto por você. Aquelas palavras mexeram comigo de uma maneira que eu não conseguia explicar. O homem que estava à minha frente não era apenas o CEO poderoso e inacessível que eu conhecia. Ele era alguém vulnerável, alguém tão confuso quanto eu. Eu olhei para ele, e o que vi me desarmou completamente. Leonardo não estava tentando me manipular ou jogar comigo. Ele estava sendo sincero. Ele também estava perdido. — Eu preciso de tempo — consegui dizer, minha voz quase um sussurro. Leonardo assentiu, mas antes de eu sair, ele segurou minha mão. Foi um gesto pequeno, mas cheio de significado. — Não desista de nós... — ele murmurou, e meu coração disparou. Saí do hotel com as pernas trêmulas, minha mente uma confusão de emoções. Tudo estava fora de controle, e eu sabia que a partir daquele momento, as coisas nunca mais seriam as mesmas. No caminho de volta para casa, eu me sentia como se estivesse andando sobre uma linha tênue, sabendo que, em algum momento, ela iria se romper. O problema era que, quando ela se rompesse, tudo ao meu redor desabaria junto.
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