Capítulo 08

930 Words
Leonardo Martins 1 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil Eu a vi sair do quarto de hotel, e um vazio quase imediato tomou conta de mim. Clara. Por mais que tentasse manter o controle sobre o que estava acontecendo entre nós, sempre que ela ia embora, a sensação de perda era esmagadora. Ela carregava consigo uma parte de mim que eu não sabia como recuperar. Encostei a cabeça contra a porta por um momento, tentando ordenar meus pensamentos, mas era impossível. Clara havia entrado na minha vida como uma tempestade, destruindo todas as barreiras que eu havia erguido. Eu sabia que aquilo não tinha volta. Cada encontro, cada toque, apenas me afundava mais nesse sentimento. E Pedro... Meu filho. Ele nem desconfiava do que estava acontecendo, e isso me corroía por dentro. Eu estava dividindo o tempo entre ser pai e ser um homem apaixonado, e a linha entre essas duas coisas estava ficando cada vez mais confusa. Havia dias em que eu olhava para Pedro e sentia uma onda de culpa tão forte que quase me derrubava. Ele confiava em mim, e eu estava traindo essa confiança da pior maneira possível. Afastei-me da porta e olhei pela janela do hotel, observando as luzes da cidade abaixo. Havia algo em São Paulo que sempre me acalmava – o movimento constante, as pessoas correndo de um lado para o outro, todos vivendo suas vidas sem saber dos dramas pessoais dos outros. Mas hoje, nem isso me trazia alívio. Peguei o celular no bolso e, por um instante, pensei em ligar para ela, pedir que voltasse, dizer que não conseguiria ficar longe dela mais uma vez. Mas me contive. Clara precisava de tempo. Estava claro que ela estava tão perdida quanto eu, e forçar qualquer coisa agora só pioraria a situação. Ela estava dividida entre mim e Pedro, e eu sabia que, por mais que me doesse admitir, ela ainda amava meu filho. Meu filho. Uma nova onda de culpa me atingiu. Eu sabia que, cedo ou tarde, ele descobriria. E quando isso acontecesse, não havia como voltar atrás. Eu perderia Pedro para sempre. Só a ideia já me tirava o ar. Peguei o casaco, decidido a sair daquele quarto sufocante. O silêncio estava me matando, e eu precisava de um pouco de ar, de espaço para pensar. Não queria mais ser o CEO controlado, o homem que todos viam como uma rocha inabalável. Eu era apenas um homem, apaixonado, confuso e completamente fora de controle. Saí pelas ruas de São Paulo, caminhando sem rumo, perdido em meus pensamentos. A cidade, com toda a sua agitação, parecia pequena em comparação ao que estava acontecendo dentro de mim. A cada passo, sentia o peso das decisões que havia tomado. Eu sabia que estava arriscando tudo – minha relação com Pedro, minha carreira, minha reputação. Mas o que eu sentia por Clara ia além de qualquer coisa que eu pudesse controlar. Passei por um café que eu costumava frequentar com Pedro quando ele era mais novo. Ele adorava aquelas tardes em que passávamos juntos, apenas nós dois, longe do trabalho e das responsabilidades. Eu o ensinava sobre negócios, sobre como lidar com as pessoas, sobre a vida. Eu era o pai que ele admirava, e agora... Agora eu era o homem que estava traindo tudo o que eu o havia ensinado. Sentei-me em um banco próximo, deixando que a realidade me atingisse com força. Como eu havia chegado até ali? Como tinha permitido que meus sentimentos por Clara tomassem conta de mim de uma maneira tão avassaladora? Eu, que sempre controlei cada aspecto da minha vida, agora estava à mercê de algo que não conseguia parar. Pensei em Clara, nas expressões dela, nas palavras que trocamos mais cedo. "Eu não quero parar." Suas palavras ecoavam na minha mente. Ela também estava perdida, e por mais que tentássemos resistir, o que havia entre nós já era incontrolável. O celular vibrou no meu bolso, me arrancando dos meus pensamentos. Quando olhei a tela, vi que era Pedro. Meu coração pulou no peito. Por um segundo, temi que ele soubesse, que tivesse descoberto algo, mas sacudi a cabeça, me forçando a respirar. Não. Ele não sabia. Atendi, tentando soar normal. — Alô? — Minha voz saiu mais firme do que eu esperava. — Pai! — A voz de Pedro era animada, sem sinal de desconfiança. — Eu e Clara almoçamos juntos hoje, foi ótimo. Eu queria saber se você está livre amanhã para tomarmos café da manhã. Faz tempo que não passamos um tempo só nós dois. Fechei os olhos, sentindo a culpa me esmagar de novo. Ele ainda falava de Clara com carinho, como se tudo estivesse como deveria ser. Como se eu não estivesse arruinando tudo pelas costas dele. — Claro, Pedro — respondi, lutando para manter a voz firme. — Amanhã de manhã, café. Vou marcar um lugar. — Beleza! Te vejo amanhã então. — Ele desligou, sem perceber o caos que estava acontecendo do outro lado da linha. Fiquei ali sentado por mais alguns minutos, encarando o celular. Amanhã. Como eu poderia encarar Pedro agora, sabendo o que eu sabia? Como eu conseguiria olhar nos olhos dele e fingir que tudo estava bem? Eu estava sendo consumido por essa paixão, e a cada dia que passava, a linha entre o certo e o errado ficava mais tênue. Eu precisava de Clara. E, ao mesmo tempo, sabia que precisava encontrar uma maneira de consertar o que estava quebrado com Pedro. Mas, no fundo, eu temia que isso já não fosse mais possível.
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