Capítulo 09

1092 Words
Clara Oliveira 2 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil Eu m*l conseguia olhar para mim mesma no espelho. Tudo estava errado. Cada vez que eu pensava no que fiz com Leonardo na noite anterior, uma mistura de emoções tomava conta de mim. Havia o desejo, claro, aquele desejo avassalador que parecia me consumir toda vez que estávamos juntos. Mas também havia a culpa, afiada como uma lâmina, me lembrando do que eu estava arriscando. Pedro me ligou hoje cedo, animado como sempre, contando sobre os planos para tomar café da manhã com o pai dele. E lá estava eu, fingindo, sorrindo ao telefone, agindo como se minha vida estivesse perfeitamente normal. Mas não estava. A realidade era um caos dentro de mim. Como eu poderia continuar com Pedro, sabendo que meu coração e meu corpo estavam completamente entregues a outra pessoa? Como eu poderia encará-lo, sentar-me à mesa com ele, sabendo que seus olhos brilhavam de amor por mim, enquanto eu mentia descaradamente? Fui até a janela do meu quarto, observando as ruas movimentadas de São Paulo lá embaixo. A cidade nunca parava, as pessoas nunca paravam. E eu me sentia parada, presa em uma espiral de emoções que não conseguia controlar. Meus dedos ainda podiam sentir o toque de Leonardo, e meu coração disparava toda vez que eu me lembrava do jeito que ele me olhou, do jeito que ele me fez sentir. Era como se ele tivesse o poder de parar o tempo, de me tirar de qualquer lugar seguro e me jogar no desconhecido, onde tudo era perigoso e intenso. Fechei os olhos, tentando afastar os pensamentos, mas era inútil. Estava ficando cada vez mais difícil fugir. Como eu poderia continuar me enganando assim? Eu sabia que, a cada encontro com Leonardo, a linha entre o certo e o errado ficava mais nebulosa. E sabia que estava ficando sem tempo. Tentei me concentrar nos estudos, mas as palavras nos livros dançavam diante dos meus olhos, sem fazer sentido. Cada página virada era apenas uma tentativa inútil de desviar minha atenção do que realmente estava acontecendo. E, claro, não funcionava. Nada funcionava. Perto do meio-dia, decidi sair para caminhar. Talvez o ar fresco me ajudasse a clarear as ideias. Peguei minha bolsa e saí pelas ruas de São Paulo, sem um destino certo. Apenas precisava me mover, afastar o peso da culpa e do desejo que me consumiam por dentro. As ruas estavam cheias de vida, pessoas correndo, carros buzinando, vendedores gritando ofertas nas esquinas. Era estranho como a vida continuava normalmente para todos os outros, enquanto dentro de mim parecia que estava tudo ruindo. Enquanto caminhava, meu celular vibrou. Meu coração deu um salto involuntário. Peguei o aparelho com mãos trêmulas, já sabendo quem era antes de ver o nome na tela. Leonardo Martins: "Como você está?" Parei por um momento, encostando-me à parede de um prédio, tentando controlar a onda de emoção que tomou conta de mim. Ele. Sempre ele. Minhas mãos hesitaram sobre a tela antes de responder. Clara Oliveira: "Não sei. Confusa." Enviei a mensagem, esperando que aquilo fosse o suficiente para transmitir o caos que estava dentro de mim. A resposta dele veio rapidamente. Leonardo Martins: "Também estou. Podemos nos encontrar? Precisamos conversar." Eu sabia que encontrar Leonardo significava cair ainda mais fundo nessa confusão. Sabia que cada vez que nos víamos, o abismo entre o que era certo e o que eu realmente queria ficava maior. Mas, no fundo, eu também sabia que queria vê-lo. Sempre queria. Meus dedos pairaram sobre a tela por alguns segundos, e então, contra todo o bom senso que ainda me restava, eu respondi. Clara Oliveira: "Sim. Onde?" Dessa vez, ele sugeriu algo diferente. Um parque afastado da cidade, onde poderíamos caminhar e conversar longe de tudo e de todos. Era quase irônico, eu pensei. Nós, tentando encontrar um lugar tranquilo para lidar com o turbilhão de emoções que estávamos enfrentando. Cheguei ao parque cerca de uma hora depois. O céu estava nublado, e havia poucas pessoas por ali, o que era um alívio. Caminhei até o local combinado, e o vi de longe, parado ao lado de um banco, com as mãos nos bolsos. O coração disparou no mesmo instante. Leonardo. Ele tinha uma presença que me desestabilizava completamente, como se o mundo ao redor perdesse a cor quando ele aparecia. Aproximei-me, e ele me olhou, com aquela expressão que sempre parecia entender o que eu estava sentindo, mesmo quando eu não dizia nada. — Clara... — disse ele, sua voz baixa, mas carregada de emoção. — Leonardo... — respondi, quase num sussurro. Ficamos ali, em silêncio, por alguns segundos, como se nenhum de nós soubesse como começar. Até que ele quebrou o silêncio. — Isso está nos destruindo. Eu sinto que estou te machucando. — Havia dor nos olhos dele, e aquilo me atingiu de um jeito que eu não esperava. — Eu... não sei o que fazer — confessei, minha voz falhando. — Amo o Pedro. Não deveria ser assim. Ele se aproximou lentamente, tocando meu braço de forma suave, mas firme, como se precisasse sentir minha presença para se manter firme também. — Eu sei que você ainda o ama, Clara. Mas o que está acontecendo entre nós... não é algo que podemos simplesmente apagar. Eu não consigo mais. — Leonardo respirou fundo. — Não sei se você sente o mesmo, mas... você mexe comigo de uma maneira que eu nunca imaginei. E não consigo parar de te querer. Suas palavras eram como uma confissão que ecoava o que eu sentia, mas não tinha coragem de admitir em voz alta. Eu queria Leonardo. Queria demais. E, ao mesmo tempo, sabia que querer ele significava destruir tudo o que eu e Pedro tínhamos construído. — Isso vai nos destruir — murmurei, abaixando os olhos. Leonardo suspirou, me puxando para mais perto. Ele levantou meu rosto gentilmente, forçando-me a olhar para ele. — Já está nos destruindo. Então, talvez seja hora de parar de lutar contra isso. Quando ele disse isso, algo dentro de mim quebrou. A resistência que eu vinha tentando manter se desfez completamente. Eu sabia que Leonardo estava certo. Continuar fingindo que tudo entre nós era errado e que poderíamos ignorar isso estava apenas nos machucando mais. Ele me beijou, e dessa vez não havia mais culpa. Era como se, naquele momento, tivéssemos aceitado o que estava acontecendo. Eu estava apaixonada por ele, mesmo que isso significasse perder Pedro. Quando nos afastamos, ambos sabíamos o que aquilo significava. Não havia mais volta.
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