Clara Oliveira
22 de outubro de 2023 | São Paulo, Brasil
No fim de semana, Pedro sugeriu uma viagem para o interior, um lugar tranquilo para relaxarmos e, talvez, me distrairmos das preocupações da faculdade. Ele sabia que eu estava estressada, e a ideia de escapar da rotina parecia tentadora. O problema era que, desde aquela visita inesperada de Leonardo, eu me sentia em um constante estado de alerta, como se estivesse esperando algo acontecer, mas não sabia o quê.
— Um final de semana longe de tudo, só nós dois, vai ser ótimo — Pedro disse, enquanto dirigia pela estrada sinuosa que levava ao chalé da família. Era um lugar que ele sempre mencionava com carinho, um refúgio nas montanhas onde ele passava as férias de infância.
Eu sorri, tentando afastar os pensamentos turbulentos. Pedro estava empolgado, e eu queria estar presente para ele, queria aproveitar aquele momento, mas a sombra de Leonardo pairava sobre mim, e eu não sabia como afastá-la.
— Vai ser ótimo, sim — murmurei, olhando pela janela, vendo a paisagem verdejante passar rapidamente.
O chalé era tudo o que Pedro havia descrito: acolhedor, cercado pela natureza, com uma vista de tirar o fôlego. Assim que chegamos, ele começou a descarregar o carro, animado para me mostrar tudo. Havia um lago próximo, trilhas para caminhadas e, claro, uma lareira aconchegante para as noites frias. Parecia o lugar perfeito para relaxar, e eu me forcei a deixar os pensamentos sobre Leonardo de lado, pelo menos por um tempo.
Passamos a tarde explorando a propriedade, e Pedro, sempre atencioso, fazia de tudo para me ver sorrir. Ele preparou um piquenique à beira do lago, e nós rimos enquanto comíamos sanduíches e falávamos sobre coisas banais, como filmes e viagens que queríamos fazer juntos. Mas, no fundo da minha mente, a dúvida persistia: como eu podia estar aqui, com Pedro, uma pessoa tão boa e amorosa, e ao mesmo tempo sentir uma atração tão forte por outra pessoa, especialmente por Leonardo?
Mais tarde, enquanto Pedro acendia a lareira, eu me enrolei em uma manta no sofá, tentando me aquecer tanto do frio quanto da confusão interna que me envolvia. Ele sentou-se ao meu lado, me puxando para mais perto, e eu me aninhei em seu peito, buscando conforto. O calor do fogo e a proximidade dele deveriam ter sido suficientes para me acalmar, mas a verdade era que eu estava lutando contra uma tempestade dentro de mim.
— No que você está pensando? — Pedro perguntou, a voz suave enquanto passava os dedos pelo meu cabelo.
— Só... sobre a faculdade, as provas, você sabe como é — menti novamente, a culpa apertando meu coração. Eu odiava mentir para ele, mas como poderia explicar o que realmente estava acontecendo na minha cabeça?
— Vai ficar tudo bem, você sempre se sai bem nas provas — ele disse, com aquele otimismo que eu adorava nele. — E eu estou aqui, sempre que precisar.
Eu sorri, mas era um sorriso triste, cheio de uma culpa que eu não conseguia expressar. Pedro não merecia isso. Ele era o namorado perfeito, e eu deveria estar completamente feliz ao seu lado. Então por que não estava?
Naquela noite, Pedro adormeceu rapidamente, o cansaço do dia finalmente o vencendo. Eu, por outro lado, fiquei acordada, olhando para o teto enquanto a lua iluminava suavemente o quarto. O pensamento de Leonardo voltou a me assombrar. Aquele olhar intenso, a maneira como ele parecia enxergar mais do que eu queria revelar... Era como se ele tivesse um poder sobre mim que eu não conseguia entender.
Me virei na cama, tentando encontrar uma posição confortável, mas o sono não vinha. Tudo o que eu conseguia pensar era em como minha vida havia se complicado desde que o conheci. O que antes parecia simples e claro agora estava envolto em uma névoa de incertezas e sentimentos proibidos.
Na manhã seguinte, Pedro sugeriu uma caminhada até um mirante nas montanhas. Ele disse que a vista era incrível, e eu concordei em ir, mesmo com minha mente distante. Enquanto subíamos a trilha, o silêncio entre nós era confortável, mas minha mente estava a quilômetros de distância. Pedro continuava a falar sobre o futuro, sobre como ele via nossa vida juntos, e cada palavra dele fazia meu coração doer um pouco mais. Eu queria esse futuro, queria poder amá-lo sem reservas, mas aquela atração por Leonardo era como uma sombra, sempre presente, sempre me puxando para longe do que era certo.
Chegamos ao mirante, e a vista era realmente espetacular. As montanhas se estendiam em todas as direções, e o céu estava pintado com tons de azul e dourado. Pedro me abraçou por trás, descansando o queixo no meu ombro.
— Lindo, né? — ele sussurrou.
— Muito... — respondi, mas minha voz estava distante, como se eu estivesse vendo tudo através de uma neblina.
Pedro me girou de frente para ele, segurando meu rosto entre as mãos.
— Clara, eu te amo. Você sabe disso, né?
Meu coração deu um salto. Claro que eu sabia. Pedro me amava de uma maneira que eu nunca tinha experimentado antes. Ele era tudo o que eu poderia querer em um parceiro. Então, por que eu estava arruinando tudo?
— Eu também te amo, Pedro — disse, e era verdade. Eu o amava, mas ao mesmo tempo, sentia que estava me afastando dele, como se algo maior estivesse me puxando em outra direção.
Ele me beijou, e eu tentei me perder naquele beijo, me esquecer de tudo o que estava me incomodando. Por um momento, consegui. Por um momento, era só eu e Pedro, e nada mais importava. Mas quando o beijo terminou e nos separamos, a realidade voltou a me golpear com força.
Passamos o resto do dia explorando a região, mas minha mente continuava a vagar. À noite, de volta ao chalé, Pedro preparou o jantar, e eu me forcei a sorrir, a participar das conversas, a ser a namorada que ele merecia. Mas havia uma parte de mim, uma parte crescente, que não conseguia parar de pensar em Leonardo.
Depois do jantar, nos sentamos em frente à lareira novamente, e Pedro, percebendo meu cansaço, sugeriu que fôssemos dormir cedo. Concordei, aliviada por finalmente poder encerrar aquele dia. Mas quando deitei na cama, percebi que a batalha interna estava longe de acabar.
O fim de semana passou em um borrão de atividades e tentativas de parecer normal, mas quando finalmente voltamos para a cidade, eu estava exausta, tanto física quanto emocionalmente. Pedro me deixou em casa, me beijou e prometeu que nos veríamos no dia seguinte. Eu assenti, tentando sorrir, mas a verdade era que eu precisava de um tempo sozinha, precisava colocar meus pensamentos em ordem.
Quando finalmente fiquei sozinha em meu quarto, desabei na cama, sentindo o peso do mundo sobre meus ombros. Eu sabia que não podia continuar assim, dividida entre Pedro e Leonardo, mas também sabia que não seria fácil resolver isso. E enquanto olhava para o teto, a mesma pergunta me assombrava: como eu fui me meter nessa confusão?