Capítulo 13

1223 Words
Leonardo Martins 5 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil Eu ainda sentia o gosto de sangue na boca, o impacto do soco de Pedro ecoando em minha mandíbula. Mas não era a dor física que me atingia mais fundo. Era a expressão de pura dor e traição nos olhos dele. Eu sabia que esse momento chegaria, sabia que em algum momento a verdade viria à tona, mas nada poderia ter me preparado para a sensação de ter meu filho me olhando como se eu fosse o pior inimigo que ele já teve. Sentei-me no sofá, passando a mão pelo rosto, ainda sentindo o peso da pancada. Meu peito doía, mas não por causa do soco. Era o peso de ter destruído a confiança de Pedro, a única coisa que eu sempre achei que seria inabalável entre nós. Minha esposa, Teresa, entrou na sala logo depois de Pedro ter saído furioso. Ela havia visto tudo. Não disse uma palavra, mas a expressão no rosto dela era suficiente para me destruir ainda mais. Não era apenas Pedro que eu havia traído. Teresa, minha companheira de tantos anos, estava ali, silenciosa, me observando, tentando entender como tudo aquilo tinha acontecido. — Por quanto tempo isso está acontecendo, Leonardo? — ela perguntou finalmente, sua voz firme, mas carregada de dor. Eu fechei os olhos, sem conseguir encarar o olhar dela. Sabia que estava prestes a confessar tudo, a admitir minha falha, e não havia como aliviar o golpe. — Meses — respondi, minha voz baixa, carregada de arrependimento. — Alguns meses. Ela respirou fundo, e eu pude ouvir o impacto daquela revelação. Sabia que cada palavra que eu dizia estava destruindo mais um pedaço da vida que havíamos construído juntos. — Como você pôde fazer isso com o Pedro? Comigo? — Teresa perguntou, sua voz ainda firme, mas cheia de um choque que ela claramente ainda estava processando. Eu a olhei nos olhos, sabendo que não havia justificativa para o que eu tinha feito. Não havia explicações ou desculpas que pudessem aliviar a dor que causei. Ela estava certa em me odiar, em me ver como o traidor que eu era. — Não sei como isso aconteceu, Teresa... Eu... — Minha voz falhou, e a culpa me esmagava. — Eu não planejei isso. Foi algo que cresceu entre mim e Clara... e antes que eu percebesse, estávamos envolvidos de uma maneira que eu não conseguia mais controlar. Ela balançou a cabeça, lágrimas começando a escorrer por seu rosto. — O Pedro te idolatrava... Ele confiava em você. Como você pôde, Leonardo? — Sua voz quebrou, e eu sabia que estava vendo o que restava do nosso casamento desmoronar diante dos meus olhos. Fiquei em silêncio. Não havia mais o que dizer. Não havia palavras suficientes para explicar ou justificar o que eu fiz. Teresa se levantou lentamente, e eu sabia que ela estava processando o fim de tudo o que havíamos construído. — Vou ficar na casa da minha irmã — ela disse, seca, sem me olhar. — Preciso de tempo para pensar. Eu a observei sair da sala, e quando ouvi a porta bater, senti o peso de uma solidão que eu nunca havia experimentado antes. A casa que sempre fora um símbolo de estabilidade agora parecia vazia, fria. Levantei-me, ainda atordoado, e fui até o bar. Eu precisava de algo forte para me fazer enfrentar o que estava acontecendo. Peguei um copo de uísque e bebi em um único gole, sentindo o calor do álcool queimar minha garganta, mas isso não era nada comparado à dor que ardia no meu peito. Clara. Eu sabia que, apesar de tudo, precisava falar com ela. Precisava saber como ela estava depois do confronto com Pedro. Ela havia carregado esse fardo tanto quanto eu, e agora que tudo estava exposto, eu não sabia o que nos restava. Peguei o telefone e disquei o número dela, sentindo o coração bater forte no peito. Ela atendeu no segundo toque. — Clara... — Minha voz saiu rouca, e houve um momento de silêncio do outro lado da linha. — Oi, Leonardo... — A voz dela estava carregada de uma tristeza que eu conhecia bem. — Pedro veio aqui... — Comecei, tentando encontrar as palavras para explicar o que havia acontecido, mas Clara já sabia. — Ele me encontrou no café — ela disse, interrompendo-me. — Eu contei tudo. Ele está devastado. Fechei os olhos, sentindo a dor no tom dela. Sabia que Clara também estava se sentindo perdida, culpada, tanto quanto eu. — Eu sinto muito, Clara. Eu... — Não sabia o que mais dizer. A culpa que me consumia era tão grande que parecia que cada palavra era insuficiente. — Eu também sinto, Leonardo — ela disse, a voz baixa. — Eu não queria que as coisas fossem assim... mas não tínhamos outra escolha, não é? — Não, não tínhamos. — Respondi, finalmente aceitando a realidade. Nós tínhamos tomado essas decisões. Nós havíamos causado essa dor. O silêncio entre nós se prolongou, pesado e cheio de tristeza. — Eu não sei o que vai acontecer agora, Leonardo — Clara disse finalmente. — Mas estou com medo de perder tudo. Eu sabia o que ela queria dizer. Havia uma parte de mim que também temia isso. Temia que, agora que tudo estava exposto, não houvesse mais espaço para nós. — Eu não vou deixar você sozinha nisso — prometi. — Vamos passar por isso juntos, de alguma forma. O que quer que aconteça, eu estarei ao seu lado. Houve um momento de silêncio, e então ela suspirou. — Eu só espero que um dia o Pedro possa me perdoar... — A tristeza na voz dela cortou meu coração. Sabíamos que o perdão de Pedro era algo distante, talvez inalcançável. — Ele vai precisar de tempo — respondi, embora eu mesmo não soubesse se isso era verdade. — Mas eu espero que um dia ele entenda. Eu sabia que as chances eram pequenas. Sabia que a traição que cometemos poderia ser imperdoável para ele. Mas, por mais que a dor fosse insuportável, eu também sabia que Clara era agora uma parte de mim. E eu estava disposto a lutar por isso, por nós, mesmo que o preço fosse alto demais. — Quero te ver — disse, minha voz baixa, mas firme. — Não quero ficar longe de você agora. Clara hesitou, mas então, suspirou. — Tudo bem. Nos encontramos no apartamento... em uma hora? — Estarei lá — respondi, sentindo o peso do que estava por vir. Desliguei o telefone e olhei ao redor da casa, agora vazia e silenciosa. A vida que eu conhecia estava desmoronando, e tudo o que eu podia fazer era tentar juntar os pedaços que restavam. Caminhei até a janela, observando a cidade lá fora, o horizonte escurecendo enquanto a noite caía. Sabia que as consequências dos meus atos ainda estavam longe de terminar. Pedro, Teresa, Clara... todos haviam sido afetados pelas escolhas que eu fiz. E agora, não havia como voltar atrás. Mas uma coisa eu sabia: o que eu sentia por Clara era real. E, por mais que o caminho à frente fosse difícil, eu estava disposto a enfrentar tudo por ela. Respirei fundo e saí de casa, pronto para encarar o próximo capítulo de nossas vidas, por mais incerto e doloroso que fosse.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD