Capítulo 14

1191 Words
Clara Oliveira 5 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil O silêncio do meu apartamento era sufocante. Parecia que todo o ar havia sido drenado do ambiente, deixando apenas o peso da culpa e da tristeza pairando sobre mim. Depois de contar a verdade para Pedro, parecia que uma parte de mim tinha sido arrancada à força. Eu sabia que essa conversa ia me devastar, mas nada poderia ter me preparado para a dor de vê-lo machucado daquela maneira. Meu coração ainda doía com a lembrança da expressão no rosto dele quando falei. A incredulidade, seguida pela raiva e, por fim, pela devastação completa. Pedro não merecia aquilo, e, no entanto, eu o tinha magoado de uma forma irreparável. Sentei-me no sofá, encarando o celular, o eco das palavras de Leonardo ainda rodando na minha cabeça: “Vamos passar por isso juntos, de alguma forma.” Ele disse que estaria ao meu lado, e parte de mim acreditava nisso. Mas outra parte, aquela parte que estava afundada em medo e incerteza, se perguntava como poderíamos seguir em frente depois de tudo o que aconteceu. Tudo parecia tão frágil agora. Pedro, Teresa... nada seria o mesmo. E, no fundo, eu sabia que tinha sido eu quem havia causado essa tempestade. Levantei-me e fui até o banheiro. A água fria no meu rosto me trouxe um pouco de alívio, mas o nó na garganta não desaparecia. Quando me olhei no espelho, m*l me reconheci. Meus olhos estavam inchados de tanto chorar, e eu me senti exausta, como se cada decisão que eu tivesse feito nos últimos meses estivesse me sugando a energia. Eu queria acreditar que Leonardo e eu podíamos seguir em frente, que de alguma forma encontraríamos uma maneira de fazer isso dar certo. Mas a realidade me atingia com força. O preço que estávamos pagando por esse amor era alto demais. E, por mais que eu quisesse acreditar que o amor seria suficiente para superar tudo, eu não tinha mais tanta certeza. O celular vibrou na bancada, me tirando dos pensamentos. Era uma mensagem de Leonardo: "Estou chegando no apartamento. Te vejo lá." Eu respirei fundo, sentindo uma mistura de alívio e ansiedade. Ver Leonardo, estar perto dele, sempre fazia com que tudo parecesse mais simples, mais suportável. Mas, ao mesmo tempo, eu sabia que a conversa de hoje seria pesada. Havia muito a ser discutido, muitas coisas a serem enfrentadas. E, no fundo, eu temia o que o futuro reservava para nós. Quando cheguei ao apartamento de Leonardo, ele já estava lá, sentado no sofá, esperando por mim. Havia uma garrafa de vinho aberta na mesa de centro, e o ambiente, geralmente acolhedor, agora parecia carregado de tensão. Ele se levantou assim que me viu, o olhar preocupado, como se estivesse tentando adivinhar o que eu estava sentindo. — Clara... — ele começou, mas antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa, me aproximei e o abracei. Precisava sentir o calor dele, a segurança que ele sempre me transmitia. Por um momento, ficamos ali, em silêncio, apenas nos segurando, como se ambos soubéssemos que o mundo lá fora estava desmoronando. — Como você está? — Leonardo perguntou, sua voz baixa e preocupada, enquanto me puxava suavemente para o sofá. Eu respirei fundo, me afastando um pouco, encarando-o. Não sabia como responder àquela pergunta. Nada estava bem. Pedro estava destruído, Teresa provavelmente também, e tudo o que eu conseguia sentir era uma mistura de culpa e medo. — Não sei... — admiti, minha voz falhando. — Eu me sinto... perdida. Ele assentiu, como se compreendesse exatamente o que eu estava sentindo. — Pedro me confrontou hoje. — As palavras saíram devagar, e eu pude ver a dor no rosto de Leonardo quando ele as ouviu. — Ele me odeia. E eu não posso culpá-lo. — Eu sei — Leonardo disse, sua voz carregada de arrependimento. — Ele veio até mim também. Tivemos... uma discussão. — Ele passou a mão pelo rosto, como se estivesse tentando apagar a lembrança. — Clara, eu sabia que esse dia chegaria, mas nada pode preparar alguém para ver o próprio filho o odiando dessa forma. Eu me encolhi um pouco, sentindo a dor nas palavras de Leonardo. Eu sabia o quanto Pedro significava para ele, e sabia que essa traição não era algo que ele havia feito levianamente. Mas, ao mesmo tempo, o que havia entre nós dois era tão intenso, tão forte, que parecia inevitável. — O que vamos fazer agora, Leonardo? — perguntei, minha voz quebrada. — Como podemos seguir em frente depois de tudo isso? Ele ficou em silêncio por um momento, olhando pela janela, como se estivesse tentando encontrar uma resposta que fizesse sentido. Quando finalmente falou, sua voz estava calma, mas havia uma determinação nela que me surpreendeu. — Eu não sei o que o futuro nos reserva, Clara. Mas o que eu sei é que eu não quero te perder. Não agora. Não depois de tudo o que passamos. — Ele se inclinou para frente, segurando minha mão com firmeza. — Eu sei que as coisas estão complicadas, e que vamos enfrentar muitos obstáculos... mas eu estou disposto a lutar por isso. Por nós. As palavras dele me aqueceram por dentro, mas ao mesmo tempo, o peso da realidade ainda estava lá. — E quanto ao Pedro? — perguntei, minha voz hesitante. — E quanto à sua família? Teresa? Tudo está desmoronando, e eu sinto que... eu sou a causa disso. Leonardo balançou a cabeça, sua expressão firme. — Clara, você não é a causa disso. Eu tomei minhas próprias decisões, e agora estou lidando com as consequências. Mas eu nunca vou culpar você por isso. O que temos é real, e isso vale a pena ser protegido. Mesmo que isso signifique enfrentar as piores tempestades. Eu o encarei, vendo a seriedade em seus olhos, a promessa de alguém que estava disposto a lutar pelo que acreditava. E, por mais que o medo ainda estivesse lá, algo dentro de mim se acalmou. Leonardo estava comigo. Ele estava disposto a enfrentar o que viesse, e isso me deu forças. — Eu também não quero te perder — sussurrei, sentindo as lágrimas escorrerem silenciosamente pelo meu rosto. — Mas estou com tanto medo, Leonardo... Medo de que, no final, tudo desmorone. Ele me puxou para mais perto, suas mãos segurando meu rosto com firmeza. — Nós vamos encontrar uma maneira. Juntos. A noite passou devagar, cada conversa que tínhamos parecia mais carregada de significado, mais intensa do que nunca. Leonardo e eu estávamos prontos para enfrentar o que viesse, mas sabíamos que o caminho seria difícil. A culpa e a dor ainda estavam presentes, mas, de alguma forma, senti que estávamos prontos para lutar. Nos próximos dias, as coisas ficariam ainda mais complicadas. Pedro, Teresa, e até o mundo ao nosso redor iriam se virar contra nós. Mas pela primeira vez em muito tempo, eu me permiti acreditar que, com Leonardo ao meu lado, talvez pudéssemos encontrar uma forma de superar tudo. O amor, apesar de toda a dor e confusão, ainda estava lá. E, por enquanto, isso era o suficiente.
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