Capítulo 12

1297 Words
Pedro Martins 5 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. As palavras de Clara ainda ecoavam na minha cabeça como um trovão, cada sílaba perfurando meu peito como uma faca. Meu pai? Olhei para ela, esperando que ela começasse a rir e dissesse que tudo aquilo era uma piada de mau gosto, que estava apenas testando minha paciência. Mas não. Havia lágrimas nos olhos dela, o tipo de lágrimas que vêm quando alguém faz algo imperdoável e sabe disso. — Meu pai? — Minha voz saiu mais alta do que eu pretendia, cheia de incredulidade e raiva. — Como isso aconteceu? Como... como você pôde fazer isso comigo? Clara abaixou a cabeça, as lágrimas caindo silenciosamente em suas mãos. Ela não disse nada, e o silêncio dela foi como um tapa na cara. A realidade começou a se formar diante de mim, e a dor que veio com ela foi esmagadora. — Como você pôde? — perguntei novamente, minha voz quebrada. Eu não sabia o que esperar dela, mas alguma explicação parecia essencial naquele momento. Eu precisava entender, por mais que doesse. Clara respirou fundo, enxugando o rosto com a mão, antes de finalmente me encarar. — Eu não planejei isso, Pedro. Eu nunca quis te machucar. — A voz dela era frágil, quase inaudível. — Mas aconteceu. Eu... eu me apaixonei pelo seu pai, e eu tentei... eu tentei resistir, mas... — Resistir? — interrompi, minha raiva crescendo. — Resistir? Clara, isso é o meu pai! Como você pode dizer que tentou resistir, quando está me traindo com ele? O homem que me criou? A realidade de suas palavras finalmente me atingiu como um soco. Clara, a mulher com quem eu planejava o futuro, estava envolvida com meu pai. As peças começaram a se encaixar, cada momento estranho, cada vez que meu pai parecia distante ou mais silencioso que o normal, tudo fazia sentido agora. Eles estavam juntos, pelas minhas costas. — Por quanto tempo isso está acontecendo? — perguntei, minha voz tremendo. Eu precisava saber. Precisava entender o tamanho da traição. — Não faz muito tempo... — ela começou, mas minha paciência se esgotou. — Quanto tempo, Clara? — gritei, meu corpo tenso, pronto para explodir a qualquer momento. Ela hesitou por um segundo, como se soubesse que cada palavra machucaria mais, mas então, murmurou: — Alguns meses. Meses. Eu fiquei ali, sentindo o chão sumir sob meus pés. O tempo todo, enquanto eu fazia planos para nós, enquanto passávamos os dias juntos, enquanto eu acreditava que nosso relacionamento estava sólido, ela estava com ele. Meu pai. — Eu confiei em você, Clara. — Minha voz agora estava mais baixa, cheia de dor. — Eu te amava. E o que você fez? Com meu pai? Como você pôde? Ela soluçou, as lágrimas escorrendo pelo rosto dela, mas naquele momento, eu não tinha empatia. Não havia espaço para compaixão. — Pedro, eu sei que... eu sei que nada do que eu disser vai te fazer sentir melhor. Mas eu me apaixonei por ele, e não consegui evitar. — As palavras dela saíram hesitantes, como se ela soubesse o quão profundas seriam as feridas. — Se apaixonou por ele... — Eu ri, um riso amargo e cheio de dor. — Como pode dizer isso? Como pode dizer isso sabendo que está me destruindo, sabendo que está acabando com tudo o que nós tínhamos? Eu me levantei bruscamente, a cadeira quase tombando atrás de mim. Eu precisava sair dali. O ar parecia espesso, como se estivesse me sufocando. Clara tentou se aproximar, mas eu dei um passo para trás, levantando a mão. — Não encosta em mim — avisei, minha voz mais fria do que jamais havia sido. Ela parou, os olhos arregalados, cheios de lágrimas, como se finalmente percebesse que havia passado de qualquer limite que eu pudesse perdoar. — Pedro... me desculpa, por favor... — A voz dela estava quebrada, mas eu não queria mais ouvir desculpas. Nada que ela dissesse mudaria o que ela tinha feito. — Não... Clara, não há desculpa para isso. Você destruiu tudo. — Minha voz era cortante. — E quanto ao meu pai... — Eu respirei fundo, tentando controlar a raiva que borbulhava dentro de mim. — Eu não sei como vou olhar para ele de novo. Vocês dois... Vocês dois me traíram da pior maneira possível. Clara não respondeu. Ela sabia que não havia nada mais a ser dito. Eu me virei e saí do café, o coração pesado, o estômago embrulhado. A dor era insuportável, como se eu estivesse perdendo tudo de uma vez. Caminhei pelas ruas sem rumo, meus pensamentos embaralhados, minha cabeça latejando. Meu pai. Clara. Como aquilo havia acontecido? Como eu não tinha percebido antes? Em algum lugar no fundo da minha mente, uma voz sussurrava que eu deveria ter notado, que as pequenas mudanças no comportamento de Clara e de meu pai não eram coincidências. Mas eu não quis ver. Não quis acreditar que as duas pessoas mais importantes da minha vida seriam capazes de fazer isso. A raiva começou a ferver dentro de mim, cada passo que eu dava alimentava o ódio que sentia. Meu pai... ele tinha tudo. Ele já tinha vivido sua vida, tinha uma carreira, dinheiro, poder. E agora, ele tinha levado Clara de mim. Como ele pôde fazer isso comigo? Como ele pôde me trair assim? Eu precisava enfrentá-lo. Precisava entender por que ele fez isso. E, naquele momento, a única coisa que eu queria era confrontá-lo cara a cara. Cheguei à casa dos meus pais, meu coração acelerado e o sangue pulsando em minhas têmporas. A raiva tomava conta de cada pensamento. Eu bati na porta com força, o som ecoando pela entrada silenciosa. Alguns segundos depois, meu pai abriu a porta, uma expressão neutra no rosto. — Pedro? — Ele parecia surpreso, mas eu não estava ali para conversar calmamente. — Como você pôde? — explodi, entrando na casa sem esperar permissão. — Do que você está falando? — Meu pai fechou a porta atrás de mim, sua expressão endurecendo. Eu me virei para ele, os punhos cerrados, o corpo tremendo de raiva. — Clara! Você e Clara! — gritei, sem conseguir segurar o ódio. — Como você pôde fazer isso comigo? Ele congelou por um segundo, e foi o suficiente para eu saber que era verdade. Havia uma sombra de culpa em seu olhar, e aquilo foi como jogar gasolina na fogueira da minha raiva. — Pedro... — ele começou, mas eu já não queria mais ouvir. Avancei em sua direção, a raiva transbordando. — Você é meu pai! — berrei, meu corpo todo em chamas de fúria. — E você me traiu da pior forma possível. Você tomou tudo de mim! Antes que pudesse me controlar, meus punhos voaram, e acertei o rosto dele com toda a força que tinha. Ele cambaleou para trás, a mão no rosto, e por um momento, o mundo inteiro pareceu explodir em silêncio. Eu não queria parar. Tudo o que eu queria era ver a dor nos olhos dele, a dor que ele havia causado a mim. Mas, antes que pudesse fazer qualquer outra coisa, minha mãe apareceu, gritando, tentando me afastar dele. — Pedro, pare! — ela implorou, as mãos estendidas. Eu parei, o peito arfando, ainda tomado pela raiva, mas não consegui fazer mais nada. Meu pai me olhou com os olhos arregalados, o rosto marcado pelo soco, e eu soube que aquele era o fim. Nada seria mais como antes. Sem dizer uma palavra, saí da casa, deixando para trás a vida que eu conhecia. Minha relação com Clara estava destruída. Minha confiança no meu pai, irreparável. E eu? Eu não sabia quem eu era mais.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD