Capítulo 11

1280 Words
Clara Oliveira 5 de novembro de 2023 | São Paulo, Brasil Acordei antes do sol nascer, o corpo quente ao lado de Leonardo, e, por um breve momento, tudo parecia calmo. Não havia o peso da culpa nem a pressão das escolhas que precisávamos fazer. Era apenas nós dois, naquele apartamento, longe do mundo e de todas as complicações que ele trazia. Mas a paz durou pouco. Enquanto observava o amanhecer pela janela, a realidade começou a se infiltrar novamente. Pedro. Meu estômago revirou ao pensar nele, ao imaginar como ele reagiria quando descobrisse. Porque, eventualmente, ele descobriria. Eu sabia disso. Levantei-me com cuidado para não acordar Leonardo e fui até a cozinha. Precisava de café e, mais do que isso, precisava de tempo para pensar. Eu sabia que amava Leonardo. Cada toque, cada palavra, cada olhar confirmava isso. Mas a realidade era muito mais complicada do que apenas estar apaixonada. Como eu contaria a Pedro? Como eu explicaria que, enquanto ele acreditava que estávamos bem, eu havia me apaixonado por seu pai? Senti meus olhos se encherem de lágrimas. Não importava o quanto eu tentasse racionalizar, a verdade era que eu estava prestes a destruir o homem que tinha sido tudo para mim por tanto tempo. Pedro não merecia isso. E, no entanto, aqui estava eu, prestes a despedaçar o coração dele. — Clara? A voz suave de Leonardo me tirou dos pensamentos. Ele estava encostado na porta da cozinha, os cabelos bagunçados e uma expressão preocupada no rosto. — Não consegui dormir mais... — murmurei, tentando disfarçar o turbilhão de emoções que estava me engolindo. Ele se aproximou e, sem dizer nada, passou os braços ao redor de mim, me puxando para perto. Ficamos ali em silêncio, seu calor me confortando, mas não aliviando o peso no meu peito. — Você está pensando em Pedro, não está? — Ele perguntou suavemente, seus lábios próximos ao meu ouvido. Assenti, incapaz de responder em palavras. Não havia sentido em mentir, ele sabia o que estava passando pela minha cabeça. — Eu sei que isso não será fácil. — Leonardo suspirou, me segurando com mais força. — Mas não podemos mais viver essa mentira. Aquelas palavras, embora verdadeiras, me machucaram profundamente. Eu sabia que tínhamos que contar a Pedro. Sabia que essa farsa não poderia continuar, mas o medo de como isso o afetaria me paralisava. — Ele vai nos odiar... — minha voz falhou, e uma lágrima escapou dos meus olhos. — Eu não posso suportar a ideia de machucar o Pedro assim. Leonardo se afastou levemente, segurando meu rosto em suas mãos, forçando-me a olhar nos olhos dele. — Clara, eu nunca quis que isso acontecesse assim. Eu nunca quis te magoar ou magoar o Pedro. — Ele respirou fundo. — Mas o que temos é real. E, por mais que eu ame meu filho, eu também te amo. Não podemos continuar vivendo uma mentira. Aquelas palavras ecoaram em minha mente: “Eu também te amo.” Era a primeira vez que ele dizia aquilo com todas as letras, e, por mais que o momento fosse doloroso, meu coração se aqueceu. Eu sabia que Leonardo estava sendo sincero. Ele realmente me amava. — Eu também te amo — sussurrei, deixando que as palavras saíssem com um peso que eu ainda estava processando. Ele sorriu suavemente, um sorriso triste, e me beijou de leve na testa. — Então vamos fazer isso juntos. Eu vou estar ao seu lado, não importa o que aconteça. Eu sabia que ele estava falando sério. E, por mais que o medo estivesse presente, senti uma pontada de esperança. Talvez, de alguma forma, poderíamos superar isso. Mais tarde, naquela tarde, de volta ao meu apartamento, o peso da realidade voltou com força total. Eu sabia que precisava falar com Pedro. Precisava acabar com essa mentira antes que ele descobrisse de alguma outra maneira. Eu estava sentada no sofá, encarando meu celular, sabendo que precisava ligar para ele, mas sentindo como se cada minuto que passava estivesse adiando o inevitável. Então, antes que minha coragem fugisse novamente, peguei o telefone e disquei o número de Pedro. Ele atendeu no segundo toque. — Oi, amor! — A voz dele era animada, calorosa, como sempre. Meu coração se apertou. Amor. Ele ainda me chamava assim, como se nada estivesse errado, como se eu não estivesse prestes a destruir o mundo dele. — Oi, Pedro... — minha voz saiu hesitante, e ele notou o tom diferente. — Tudo bem? Você parece meio estranha. Eu fechei os olhos por um momento, tentando encontrar forças para continuar. — Precisamos conversar... — Eu odiava o clichê, mas era tudo o que consegui dizer naquele momento. Houve uma pausa do outro lado da linha, e eu imaginei que ele estivesse processando o que aquilo significava. A tensão na linha era palpável. — Sobre o quê? — Ele finalmente respondeu, e eu pude ouvir o tom preocupado em sua voz. — É melhor a gente se encontrar... pessoalmente. — Eu não conseguia fazer isso por telefone. Era covardia demais. Pedro merecia mais do que isso. — Certo... — Ele hesitou, claramente preocupado. — Me encontra no café de sempre em uma hora? — Sim. — Murmurei, desligando antes que ele pudesse dizer mais alguma coisa. A culpa pesava sobre mim como uma tonelada de tijolos. Eu sabia que estava prestes a destruir a confiança de alguém que nunca havia me feito nada além de me amar. E, ainda assim, eu sabia que precisava fazer isso. Porque, no fundo, eu não pertencia mais ao Pedro. Meu coração pertencia a Leonardo. Cheguei ao café com antecedência, as mãos suadas e o coração acelerado. Estava nervosa, tensa, como se estivesse prestes a confessar um crime. E, de certa forma, era isso mesmo. Pedro chegou logo em seguida, com um sorriso suave no rosto, como se nada estivesse errado. Ele me beijou no rosto antes de se sentar, e meu coração se partiu ao perceber o quanto ele confiava em mim. — Então, sobre o que você queria falar? — Ele perguntou, inclinando-se para a frente, os olhos curiosos, mas com um toque de preocupação. Eu respirei fundo, sentindo as palavras presas na garganta. Como eu poderia começar a dizer aquilo? Como destruir alguém sem que isso o quebre completamente? — Pedro... — comecei, sentindo o nó apertar ainda mais na minha garganta. — Eu não sei como dizer isso, mas... eu preciso ser honesta com você. A expressão dele mudou, uma sombra de dúvida passou pelos seus olhos. Ele já sabia que algo estava errado. — Clara, o que está acontecendo? — Ele perguntou, agora mais sério. Eu engoli em seco, as palavras finalmente saindo, mesmo que de forma hesitante. — Eu me apaixonei por outra pessoa. Vi a confusão em seu rosto, seguida pela dor que lentamente começou a surgir. Seus olhos se estreitaram, e ele ficou em silêncio por alguns segundos, como se processasse o que eu havia acabado de dizer. — Outra pessoa? Quem? — A voz dele saiu dura, cheia de incredulidade. Eu sabia que aquele era o momento. Não havia mais volta. — Seu pai. Pedro ficou imóvel. O silêncio que se seguiu foi tão pesado que parecia esmagar o ar ao nosso redor. Ele me olhou, e eu pude ver a mistura de dor, raiva e traição tomando conta de seu rosto. — Você está... você está falando sério? — Ele sussurrou, a voz quase quebrada. Eu assenti, sentindo as lágrimas encherem meus olhos. Sabia que o que eu acabava de fazer era irreparável. — Me desculpa... — Foi tudo o que consegui dizer. Mas eu sabia que desculpas nunca seriam suficientes.
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