10 - Aprendendo

970 Words
Mais uma vez, Conceição me fez voltar para a casinha e fazer minhas refeições. Ela sempre me dizia que, apesar de eu estar ali para cuidar de minha mente, eu não poderia descuidar do bebê que estava aninhado em meu ventre. Como sempre, sua comida era deliciosa. Após a refeição, eu resolvi sentar na varanda e observar o canto dos pássaros e as estrelas. A sensação de paz que eu sentia ali era indescritível. Parecia que meus problemas haviam sumido. Era o lugar dos sonhos de qualquer pessoa. Calmo, apenas o barulho de pássaros e insetos. O barulho da água corrente de um riacho ali perto e das árvores sendo estraladas pelo vento. Estava tão absorvida por tudo isso que me assustei quando Conceição se aproximou. _ Aprendendo a ouvir? _ Ai... Me assustei! Não te vi chegando. _ Eu sei. Desculpa pelo susto. Eu fiquei observando você enquanto ouvia os sons aqui de fora. E achei que posso te ensinar a ouvir os sons de dentro agora. _ Como assim os sons de dentro? _ De dentro da sua mente. Sons que fazem morada em sua cabeça. Os seus pensamentos. E te ajudar a filtrar cada um deles para não ser dominada por eles. _ E como eu faço isso? _ Feche os olhos! Agora deixe sua mente vagar, não se prenda a nenhum pensamento. Agora preste atenção ao pensamento que vai ficar aí na frente dos outros e me diga qual é. _ Meu marido. Estou preocupada com ele. _ Isso muito bem! Consegue ouvir o que sua preocupação quer dizer? _ Não. Está tudo muito barulhento.. É como se mil vozes falassem ao mesmo tempo! _ Eu já esperava por isso. Acalme os pássaros que cantam em sua cabeça. Domine sua mente. Se concentre apenas no pensamento de sua preocupação com seu marido e ouça o que ela quer dizer. Eu me esforcei. Me concentrei no rosto de Pedro. A como ele é lindo! Percebi minha mente tentando fugir para outra coisa e me concentrei novamente. Mais uma vez o barulho gigante dentro da minha cabeça. Era como pássaros frenéticos gritando ao mesmo tempo. Eu só pude ver a imagem do meu marido. Mal conseguia me concentrar em seu rosto. Até que me veio a ideia de olhar fixamente para esse pensamento de preocupação. Eu o encarei e, quanto mais me concentrava em ver esse pensamento, menos barulho eu ouvia. Mais distantes ficavam as vozes dos pássaros. Até que o barulho cessou. E eu pude ouvir minha preocupação dizer que Pedro poderia estar sentindo minha falta como eu sentia a dele. Abri meus olhos. Conceição estava ali com um sorriso esperto de quem havia conseguido mais uma vez. _ Não precisa me dizer sua preocupação. Apenas se lembre desse exercício para aprender a filtrar seus pensamentos. _ Eu sei que isso vai ser benéfico para mim, Conceição. Mas porque me ensinou a dominar meus pensamentos? _ Uma pessoa que não domina sua própria mente, não domina nada em sua vida. É necessário que haja foco em tudo que vai fazer. Ou você só conquistará coisas superficiais. Coisas que não terão valor algum pra você e que serão passageiras. _ Mas eu consegui conquistar meu próprio emprego e meu apartamento! Meu casamento! _ Sim! Você está indo super bem no seu emprego atualmente, não é mesmo? Me lembrei do meu emprego. Lembrei que, desde o acidente, eu m*l podia me concentrar em tudo o que fazia ali. Já não ajudava tão bem as pessoas quanto fazia antes dos sonhos começarem. _ Agora me diga! - Conceição continuou. - Quanto ao seu próprio apartamento, está realizada com esse bem? Eu pensei na felicidade que foi comprar aquele apartamento. Ele era longe o suficiente dos meus pais e dos pais do Pedro. Eu me sentia sozinha ali. Muito afastada da minha família. De qualquer família. _ Ótimo! Então acho que deve ter uma boa resposta a respeito do seu casamento, já que não me respondeu as outras perguntas! Conceição m*l terminou isso e eu já havia abaixado minha cabeça em direção ao chão. Meu casamento quase terminou por conta desses sonhos que estavam me dominando. Eu passei a esconder coisas do homem que amo. Agia de maneira estranha e m*l percebia Pedro ali. Eu sempre amei observar ele, estudar e fazer suas coisas, agora m*l estava com ele. E nossa i********e então. Quase não tivemos uma boa i********e. Conceição tinha razão! Eu precisava conquistar coisas que seriam duradouras em minha vida. Já estava tarde. Ela me levou para dentro. Eu precisava descansar pois o dia amanhã seria bem difícil. E foi. No dia seguinte, m*l amanheceu e já voltamos à floresta. Eu precisava voltar ao mundo dos sonhos. Agora a pequena garotinha que corria em meio ao gramado, já não era mais tão pequena assim. Ela devia ter não mais que dez anos. O seu amado e querido pai estava doente. Ela olhava para fora, pela videira que subia grudada em sua casa, e pensava em seu paizinho. Ela já havia perdido a mãe. Não queria perder o pai também. Sua madrasta continuava olhando para ela de cara feia. Porém, agora, não mais implicava com a menina. Ela estava muito ocupada tentando cuidar do marido. Eu observei melhor pela janela do quarto da menina e pude ver que um córrego corria ali atrás da casa. Logo depois desse córrego, uma casa de paredes amarelas com uma grande horta. Não sei porque essa casa me trouxe uma sensação r**m. Mas a menina não sabia dessa sensação. Ela olhava para casa como se já a conhecesse bem e já a tivesse visto. Era quase familiar para ela. E eu permaneci ali olhando a garotinha que estava em uma camisola muito branca, olhando o céu lá fora e a casa depois do córrego.
Free reading for new users
Scan code to download app
Facebookexpand_more
  • author-avatar
    Writer
  • chap_listContents
  • likeADD