Capítulo 18 - O campo

933 Words
Depois do que vi, Conceição achou melhor me levar de volta à casinha. Ela sempre cuidava de mim muito bem e gostava que eu descansasse muito. Acho que por conta da gravidez ou talvez por conta de eu ainda estar presa ao corpo no hospital. Ela deveria pensar que se cuidar de minha alma vai estar cuidando também de meu corpo. Como Conceição era uma enfermeira que cuidava bem de seus pacientes, assim como eu fui, sempre obedecia ela. Mais um dia se foi e outro dia raiou. Uma manhã limpa, quase sem nuvens e com um sol delicioso. Não um dia quente. Mas havia nascido uma manhã daquelas perfeitas. Eu saí do quarto rapidamente, afim de tomar meu café da manhã. Estava bem melhor e mais animada por ver que a garotinha ficaria bem. Pelo menos é o que eu pensava. Afinal, se ela estivesse indo para a casa dos tios, aquele homem não a seguiria e nem a faria m*l novamente. A única coisa que me preocupava era o bebezinho que a menina esperava. Aquele bebê é fruto de um estupro. Um crime e de um criminoso. Além do mais, a menina é realmente apenas uma menina. Não é fácil para uma mulher já adulta cuidar de uma criança, imagina só para outra criança. Eu deveria estar claramente ansiosa pois Conceição interrompeu meus pensamentos. _ Se lembre de respirar! - Ela falou me observando. _ Desculpa! - Eu sorri. - Estava pensando em tudo que vi. Que coincidência ela estar grávida assim como eu. A diferença é que o bebê dela é de um abuso. _ Não existem coincidências! Existem os planos de Deus. É necessário uma mãe para entender a outra. - Conceição ponderou, mais pra ela mesma que pra mim. _ Como assim? Tem alguma coisa que vai acontecer que eu precise entender? - Eu fiquei nervosa. _ Você precisa saber apenas que o olhar de uma mãe é mais doce para sua cria e feroz para o mundo. O amor de mãe é o mais próximo que temos de saber o amor de Deus por seus filhos. E que somente uma mãe entende o que a outra passa. - Conceição falou. Depois ela mudou. - Venha, temos que ir para a floresta. A história já está chegando ao final. Eu me levantei e fui seguindo Conceição. Dessa vez eu senti uma necessidade tremenda de colocar em prática todas as lições que Conceição havia me ensinado. E assim eu fiz. Acalmei minha mente primeiro. Depois fui me concentrando nos sons e, quando finalmente chegamos, eu olhei com os olhos de quem está pronta para perdoar o homem que fez m*l a garotinha. Mergulhei novamente em meu sonho. E lá estava a menina indo para outro lugar, acompanhada de seu pai. A viagem foi longa. Mas ela estava se sentindo bem e em paz. Foi bom eu limpar minha mente pois pude sentir o que a menina sentia. Ela sorria e cantarolava a viagem toda. Era bom ver que finalmente ela estava bem. Que toda a maldade do homem já não a atingia mais. Mas também, por outro lado, a barriga dela estava crescendo. Ficando maior a cada dia. Quando o pai finalmente chegou, era uma cabana simples e modesta. Os parentes que receberam a menina fizeram isso com gosto e contentes, apesar da situação. A cabana ficava em um campo enorme e plano. Algumas poucas árvores espalhadas aqui e acolá emprestavam suas sombras para quem quisesse se abrigar debaixo delas. Elas lhe traziam paz. O canto dos pássaros em volta lhe dava a sensação que tudo ficaria bem. E, observando essa cena, pude perceber que a menina, mesmo não falando em Deus, tinha mais fé e confiança em tudo que o amanhã reservava a ela que eu que estava sempre na igreja. Pelo menos, sempre que podia. Vi o quão falha e medíocre era a minha fé e a minha confiança. Eu estava ali recebendo a melhor ajuda possível e ainda permanecia resmungona e reclamona. Nada nunca estava bem o suficiente. Nada nunca era o suficiente. Conceição havia sido enviada para me socorrer. Ela estava sempre perto de mim me guardando e me guiando. E até agora eu não disse um obrigada sequer a ela. Não me lembro de lhe agradecer o carinho e o cuidado que ela estava tendo comigo. Eu nem agradeci a Deus por ainda estar viva e menos ainda por estar recebendo essas lições. E, ao enxergar tudo isso, me sentei de frente com a menina. Ela estava ali, com uma paz indescritível nos olhos e exalando por seu pequeno corpo. Vez ou outra, ela acariciava sua barriga e sorria. E eu olhava perplexa para tudo aquilo. Ela estava amando a criança dentro dela. Como ela podia ser tão elevada assim para amar o filho do homem que mais lhe fez m*l? Foi então que resolvi mudar a minha forma de olhar para a cena. E nessa hora, a menina voltou seu olhar diretamente na minha direção. Os olhos eram claros e estavam apertados por conta da claridade do sol. Seu rosto, que estava respondo pela gravidez, era de uma paz absoluta. Um sorriso largo e nítido nos lábios compunham seu semblante. Nessa expressão eu pude ver que a paz que ela sentia vinha de dentro dela. Ela estava em paz com tudo que lhe aconteceu. Já não sentia mais a dor que lhe causaram. Ela havia perdoado o tal homem no exato instante em que sentiu seu filho se mexer em seu ventre. O amor de mãe ensinou a menina o amor pelo perdão.
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