Capítulo 17 - De volta a floresta

916 Words
Depois da nossa conversa eu fiquei bem mais calma. Afinal de contas, não adiantava de nada tentar meter na minha cabeça essa tal história de que existem vidas passadas. Eu fui criada em uma religião que não acredita nisso. E não estou nem um pouco afim de mudar de religião agora. Mas eu não iria discutir isso com Conceição. Ela já havia me dito que eles não possuem religião. Deus, Jesus ou qualquer outro personagem da Bíblia estão presentes em várias religiões. Não vou tentar impor a minha como correta. Mas ela mesma me disse que meus sonhos contém lições que eu devo aprender. Isso me fez pensar de uma maneira diferente na minha sogra. E ver que ela me lembra a madrasta da menina me fez pensar em tudo que ela faz de maneira diferente. Está certo que eu sempre pensei que ela não gosta de mim e por isso não queria o meu casamento com Pedro. Mas hoje vejo que não é bem assim. Eu preciso voltar na floresta e ver o restante desse sonho. Chegar até o final dele, custe o que custar. Depois eu penso em como acordar meu corpo lá no hospital. Com essa determinação, eu fui até a floresta. Conceição mais uma vez me avisou que estaria ali para tudo que fosse necessário. Quando eu mergulhei em minha visão, já não estava mais na casa de campo de antes. Eu agora estava morando em uma pequena cidade. Pela forma como as casas se apresentavam pra mim, eu acredito que ali deva ser a Espanha. Então a menina dos meus sonhos morava em algum lugar da Espanha. Eu vi seu pai saindo para trabalhar com o semblante triste. Ele já não olhava para a filha do mesmo jeito que antes. Aí eu pensei em Pedro. Em como ele iria reagir quando eu lhe contar sobre os sonhos e sobre o quanto eles atrapalharam nossa vida. Provavelmente era essa a expressão que eu veria no rosto dele. A mesma expressão triste do pai da menina. Conceição tinha razão. Eu preciso aprender muito. Agora precisava saber como mudar a forma que o pai da menina olha para ela. A menina, agora, estava mais próxima de sua madrasta. Talvez essa seja a questão. Eu nunca deixei que minha sogra se aproximasse de mim. A menina andava por aquelas ruas de pedra de cabeça baixa e envergonhada. Sabia que não era mais pura. Nessa época, isso era uma coisa muito importante. A virgindade. Numa dessas ruas ela viu uma sombra. Uma sombra muito conhecida. Um arrepio percorreu a espinha da menina e a minha ao mesmo tempo. A sombra foi se aproximando e, dessa vez eu pude ver nitidamente o rosto. Era um homem moreno claro, com a barba grande e cabelos m*l cortados. Estava sujo e cheirava a vacas e cavalos. A menina não tinha reação. Eu queria gritar. Tive vontade de arrastar ela dali, mas meus pés não se moviam. Não levou mais que alguns segundos para que alguém gritasse "bois, corram"!. E de repente o homem correu para um lado e a menina para o outro. Um gado estourou e estava correndo por todas as ruas da cidade. Era um gado bravo e muito arredio. Quem eles pegassem, podiam até mesmo matar. A menina correu bastante e conseguiu chegar em sua casa. Uma casa de paredes amarelas e de dois andares. Ela rapidamente fechou a velha porta de madeira e puxou sua madrasta pelos pulsos para cima. De lá, as duas puderam ver a correria e o pânico que esses bois estavam espalhando pela cidade. Já mais calmas, a menina contou a madrasta que viu o homem que lhe fez m*l. Ela disse que sabia que era ele pelo cheiro e pela forma como ele olhou para ela. De fato a expressão no rosto do tal homem não era algo que eu esqueceria. Ele olhava para ela com cara de desdém e um pouco de surpresa por ver que ela ainda estava viva. Se ele morava nesse povoado, elas precisavam sair de lá ou tomar muito cuidado para que ele não descubra onde ela mora e venha atrás dela novamente. Nessa hora a madrasta colocou uma de suas mãos na barriga da menina. Bem na região do útero. Um choque me atingiu em cheio. Ela estava grávida! O canalha além de lhe fazer m*l, ainda deixou um herdeiro. Quando o pai da menina voltou, ambas lhe contaram o que viram. O homem recomendou cuidado a elas e disse que mandaria a menina para a casa de uns parentes, no campo, para ter o bebê. E a menina não saiu mais de casa. Ela m*l abria a janela de seu quarto, com medo que o tal homem estivesse lá embaixo. A madrasta, todos os dias, a chamava para comer na mesa. Mas ela se recusava a descer. Ela m*l se alimentava na verdade. O pânico, a dor e o sofrimento que ela sentia por todo o m*l que aquele homem lhe causou. Junto ao fato de estar carregando um filho dele, tornava a vida dessa pobre garotinha insuportável. Ali perto de sua nova casa, havia um penhasco. Ela chegou a pensar em se jogar de lá de cima e acabar com o seu sofrimento e a vergonha que ela se tornou para seu pai. Mas ela pensava na pobre criança crescendo dentro dela. Por mais que era filha de um desconhecido que lhe fez m*l, a pobre criatura não tinha culpa de nada.
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