♤Capítulo 3♤

1465 Words
Mika —Mika, você tem certeza que vai viajar para o Brasil agora? —A Danda me pergunta preocupada. —Eu preciso voltar, Danda, eu quero voltar. —Mika, você sabe muito bem da sua atual situação, esse não é o momento. —Danda, é justamente por isso que eu preciso voltar lá agora, talvez eu não tenha outra chance, me entende? —Mika, você sabe que isso não vai ser fácil, você não está preparada para voltar lá agora. Porque você não me ouve! —Diz, agora um pouco nervosa. —Danda, eu preciso ir. —Seguro sua mão —minha mãe está sozinha agora, ela precisa de mim, faz muitos anos já, não vai ser tão r**m. —Eu não estou falando disso, Mika você tem certeza que está preparada para revê uma certa pessoa? —Ela me olha atentamente. A Danda está realmente preocupada, eu entendo a preocupação dela, eu também não sei como vou reagir quando estiver frente a frente com ele. Se arrependimento matasse pode ter certeza que eu estaria morta, essa frase é clichê, mas é a mais pura verdade. Se eu pudesse voltar no tempo eu jamais teria escolhido ir embora, foi meu maior erro. Agora eu vou voltar lá e vou ter que vê toda a felicidade que eu perdi de perto, e isso vai doer demais. —Já que eu não consegui te fazer desistir — ela suspira profundamente —boa viagem, Mika, e me liga assim que chegar lá. —Ela me dá um abraço apertado. —Eu vou ligar sim. Vou ligar todos os dias, não vou deixar de falar com você nem um dia sequer! —Eu respondo com um sorriso. —Você está levando os remédios, certo? — Ela pergunta quando eu começo a me afastar. —Sim, eu estou. É sério, Danda, não precisa ficar preocupada, eu só estou indo visitar minha mãe e volto no próximo mês. —Eu mostro minha passagem de volta. Ela balança a cabeça e me dá outro abraço, dessa vez ela me solta com relutância. Foram dez horas de vôo, pousamos no aeroporto Internacional de Guarulhos às dezenove horas, depois fui esperar o próximo vôo para Belo Horizonte. Seis horas da manhã eu desci do ônibus em Vale verde. Meu coração parece que vai pular para fora do peito, são muitas emoções juntas, saudade, ansiedade, medo... eu estou com uma bagunça de sentimentos brigando por espaço. Quando eu estou tirando minhas malas eu ouço minha mãe gritando: —Mika é você? —Ela me olha atentamente. Ela envelheceu tanto, emagreceu, dá pra vê o sofrimento explícito no seu rosto cansado. Isso me deixa com o coração ainda mais pesado. —Sim mãe, sou eu —eu agarro ela e abraço forte, muito forte. —Mika, você voltou, você voltou... —Ela repete isso várias vezes. Nós choramos, nos abraçamos, eu senti tanta falta disso. —Mãe, eu senti tanta falta desse abraço, eu senti tanta falta do seu colo, mãe eu senti tanto, me perdoa, me perdoa... —Eu choro alto, choro até soluçar. —Mika, está tudo bem, está tudo bem agora, você está aqui. —Ela acaricia minha cabeça com carinho, enquanto me consola. Quando saímos da rodoviária para ir até o carro, eu senti os olhares das pessoas em nós, eu percebi o desconforto da minha mãe, acho que os quinze anos não foram suficientes para tirar a má impressão sobre a minha pessoa. —Então, mãe, como a senhora está? A cidade virou outra, está tudo diferente e bonito. —Ela me olha com um pesar antes de responder. Ela sabe que eu ainda amo o Bruno, isso eu nunca escondi dela. —A cidade cresceu bastante, agora temos fábrica de ração, usina hidrelétrica, tem o centro de pesquisa, escolas particulares e até uma faculdade aqui, tem shopping center também. —Ela vai me contando tudo o que mudou aqui. —Nossa! Então as coisas por aqui evoluíram bastante, antes m*l tinha praça pública pra gente sentar à noite. —Falo surpresa. —É, o Bruno fez muitos investimentos aqui. Tem a fazenda dele, de animais de raça que gera muitos empregos, tem a fábrica de ração, tem plantações, tem o centro de pesquisas, e o hotel cinco estrelas. —Eu fiquei muito surpresa por tudo que ele tem aqui, ele realmente nunca cogitou a idéia de se mudar. —Nossa, ele nunca saiu daqui mesmo. —Falo forçando um sorriso. —Ele gosta daqui, ele e a Nora são muito felizes aqui, Mika, todos aqui na cidade adoram eles, não tem porque irem embora. —Eu fico feliz por eles, os dois merecem tudo isso que está acontecendo. Pelo caminho eu vejo os prédios, praças, o shopping, tudo muito mudado, nem parece o mesmo lugar. —Então, mãe, como estão as coisas lá em casa, com a morte do pai? —Não está sendo fácil, Mika, você sabe que o sítio é nosso único ganha pão, mesmo que você tem mandado ajuda todos esses anos, não está dando conta. Depois que o seu pai foi diagnosticado com câncer e precisou começar o tratamento, nós tivemos que vender os animais e as lavouras pararam também. —Eu sinto muito mãe, eu não imaginei que fosse tão difícil assim. Eu sei que não deveria ter saído daquele jeito... —Essa história já é passado, Mika, você fez sua escolha e acredito que se não foi a escolha certa, você pagou o preço por ela. —Eu concordo com a cabeça. Eu realmente paguei o preço e foi alto, muito alto. Nós chegamos em casa e tinha um homem esperando por minha mãe, ele me olhou dos pés à cabeça, foi bem rápido, mas eu notei. Ele se aproximou e nos cumprimentou. —Bom dia, Marisa, bom dia, senhorita? —Mikaela, mas pode me chamar de Mika. —Respondi. —Bom dia, Mika, eu sou o Ricardo. Aqui Marisa eu trouxe isso pra você, é para cobrir os gastos do funeral e dar um alívio nas contas por uns meses. —Muito obrigada, Doutor Ricardo, agradeça ao Bruno por mim. —Minha mãe diz, pegando o cheque. Meu coração dispara quando ouço o nome do Bruno, eu também fico surpresa por ele está ajudando meus pais. É bom saber que o meu erro não mudou a pessoa boa que ele é. Depois que o homem sai, minha mãe me conta um resumo de tudo que aconteceu nos últimos anos, meu coração dói quando ela fala tudo que o Bruno sofreu, a humilhação no casamento que não aconteceu, no sofrimento dele depois, ele quase se afundou no vício em álcool. Minha mãe também fala do julgamento das pessoas em cima deles e que até hoje tem gente que ainda olha f**o pra ela. É, eu acho que meu erro fez mais estragos que eu imaginei. Eu dormi o resto do dia, eu tomei meu remédio e apaguei. Estava muito cansada, tão cansada que acabei esquecendo de ligar para a Danda. Quando eu acordei tinha mais de vinte mensagens no w******p, ela está realmente preocupada comigo. Eu retornei a ligação e nós conversamos por um tempo, ela me fez uma lista de recomendações, disse que colocou mais dinheiro na conta pra mim, que é pra eu cuidar da minha alimentação, enfim, a lista é grande, eu rir pois ela parece uma mãe quando o filho sai de férias pela primeira vez. Depois de tomar um banho para dispertar meu corpo eu coloco um shorts jeans curtindo, uma camiseta e um tênis bem confortável, dicidi dar uma volta pelo sitio. Está exatamente tudo igual por aqui, nada aqui evoluiu, pelo contrário está tudo jogado às traças, apenas a casa está limpa, mas o paiol, o curral, está tudo largado. Eu ando por uns trinta minutos até chegar na árvore, na nossa árvore. Eu olho a imensidão de pastagem e no lugar onde tinha um pequeno sítio hoje tem uma enorme construção, uma fazenda cheia de luzes. Já são quase sete horas da noite e lá está tudo iluminado, assim eu vejo pelas luzes o quanto o lugar é grande. Eu me sento de costas para a árvore e fico olhando as luzes, era aqui que eu e o Bruno nos encontrávamos antes, ele sempre chegava no horário certo que eu me sentava aqui para desenhar, ele me trazia presentes, cesta de piquenique, ele sempre foi um príncipe comigo, mas eu joguei tudo fora quando escolhi abandoná-lo. Eu fecho os meus olhos e sinto as lágrimas descendo pelo meu rosto quando lembro dos nossos beijos e toda a sensação que eu tinha em cada toque dele, era tão bom, eu estou perdida em pensamentos quando ouço a voz atrás de mim. —Então você finalmente voltou! Continua...
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