QUEM É VOCÊ? - CONTINUAÇÃO

1889 Words
LAURA Me viro e Dimitri estar na minha frente, seus olhos avaliando-me devagar, reviro os olhos com tédio, ele não havia mudado nada. — Queria ter mesmo certeza que era você... Está ainda mais linda. - diz abrindo um sorriso macabro. — Deixa a minha irmã em paz! - diz se pondo em minha frente. — Oh, que lindo! O irmãozinho defendendo a pequena irmã. — O que você quer, Dimitri? — Não deveria fazer essa pergunta, pois quero muitas coisas. - diz passando a língua nos lábios. — Nojento... — Já chega, Dimitri! Não vou permitir que provoque meus filhos, hoje é o velório do meu irmão, você não vai estragar isso. Ele apenas abre um sorriso e saí calado, solto o ar que nem sabia que prendia. — Ele é um desgraçado! - fala com raiva. — Não vale muito a pena. - pego uma taça com um garçom que passa por nós. Lucas olha para mim quase que perfurando minha alma. — Isso é apenas água, Lucas! - falo irritada. Ele olha melhor e comprova que falo a verdade. — Que saco! Eu não sou mais uma criança. - saio irritada. Caminho para a varanda e observo o céu escuro, alguém se aproxima de mim e olho para trás. — Você me assustou... - falo bebendo um gole d'água. — Desculpe, não tive a intenção. - acende um cigarro. — Você está sendo bem misterioso. - pego o cigarro de sua mão. Ele olha para mim sorrindo. — Odeio mistérios... Então diz logo o que eu quero ouvir. — Mesmo que não goste? — Mesmo que eu não goste. — Eu sou primo do Gustavo, Beatriz era minha tia... Fico calada e ele entende que é para continuar. — Estava em uma missão importante, quando voltei, meu tio Marcos pediu para que eu fosse até a ilha. — Eu era o seu trabalho? Ele confirma com a cabeça. — Gustavo sabia? — Sim. — Você me usou, tudo foi mentira... — Tudo foi o mais real possível. Tudo que senti naquela ilha foi real, gostei de você desde que te vi pela primeira vez. Te entrego o cigarro. — Então não gosta mais? - abro um pequeno sorriso. Ele se aproxima cautelosamente, nossos rostos estão próximos demais, sinto seu hálito quente em meu rosto, dava para perceber que havia tomado whisky, seu olhar era profundo e sensual, eu queria aquele homem. — Laura? Olho para o lado para ver Gustavo parado na porta, seu olhar cai sobre nós e ele parece querer matar o Gabriel agora mesmo. Gabriel se afasta e traga o cigarro, ele não parece nem um pouco abalado ou envergonhado. — Sim? — Sua mãe está te procurando... — Conversamos depois. Passo por ele e sigo para a sala, sinto minhas costas queimarem, um dos dois está me observando, ou até mesmo os dois. — Estava me procurando? - pergunto colocando a taça em uma bandeja. — Queria te dizer que para mim é importante sua presença aqui, eu sei o quanto você está tentando ser forte, vou conversar com o Lucas sobre os seus filhos, eles devem permanecer ao lado da mãe. - diz emocionada. Eu ainda não sabia, mas tudo tinha um motivo, ela queria que eu fosse forte para algo que estava se aproximando de nós. — Obrigada, mamãe... - lhe abraço forte. Minutos se passaram e começou o velório, havia algumas pessoas bastante emocionadas, principalmente mamãe, Gustavo estava aéreo a tudo em sua volta, seu silêncio significava sua tristeza, eu sabia bem disso. Abraçada a mamãe eu pude ver Estela me avaliar do outro lado, seus olhos demonstravam raiva e mágoa. Por mais que quisesse, não conseguia derramar uma lágrima, aquele ato já era bem difícil para mim, meu coração se apertou em tristeza, eu não era mais a mesma, antigamente estaria me desmanchando em lágrimas, sempre fui muito emocional. Gustavo falou algumas palavras, como outras pessoas próximas ao meu tio também. Subi para o quarto exausta, fazia dias que não me permitia descansar de verdade, nem sabia o que era dormir, e isso já fazia tempo. Bastou meu corpo encostar na cama para eu apagar, pela primeira vez em anos, dormia sem usar medicamento algum. (…) O dia já estava amanhecendo quando acordei, me sentei na cama e olhei para o meu corpo, ainda estava vestida com a mesma roupa de ontem, segui para o banheiro e comecei a me despir, sentia uma leve dor de cabeça, mas não iria tomar remédio algum, tentaria ficar limpa pelos meus filhos. Entrei debaixo do chuveiro e respirei profundamente, teria que descer e olhar para a cara daquela família, eu estava contando os dias para voltar logo para casa. Saio do banheiro enrolada em uma toalha, meu celular começou a tocar em cima da mesinha, pego atendendo a ligação, o número era desconhecido por mim. Ligação on — Alô? A linha estava muda, ninguém do outro lado dizia nada. — Quem é? Eu consigo ouvir sua respiração... Ligação off E então desligam a ligação, aquele ato era muito estranho, sento na cama pensativa, ninguém tem o meu número pessoal, há não ser minha família. Caminho para o closet, não vou pensar mais nisso, pego uma blusa preta de manga longa e gola alta, uma calça da mesma cor e visto, prendo meus cabelos num coque alto e deixo os fios totalmente alinhados. Saio do quarto e quando vou descendo as escadas encontro Gustavo, ele olha para mim com os olhos intensos e apaixonados, mas já não sou mais uma menina para me iludir com tão pouco. — Está linda... - diz de forma carinhosa. — Obrigada! - respondo secamente. — Por que me trata assim? — Eu apenas não tenho motivos para ser carinhosa com você. — E com ele tem? - pergunta enciumado. — Com quem? — Eu vi como vocês estavam ontem na varanda, estavam quase se beijando. — Eu sou uma mulher solteira e que eu saiba ele também. Qual seria o problema? — Ele é meu primo, te enganou. — Ele é seu primo, falou certo. E ele não me enganou totalmente sozinho, né? Mas não precisa se preocupar, já sou bem grandinha para saber me cuidar. - falo descendo as escadas. Na mesa todos já estavam sentados, beijo a cabeça da minha mãe e me sento ao seu lado, logo Gustavo aparece também e se senta na ponta da mesa, do seu lado direito estar Ana Liz e do esquerdo Gabriel, nossos olhos se cruzam rapidamente. Um silêncio se faz presente no local, é como se todos aqui se odiassem, ninguém dizia uma única frase, até agora. — Como você está, Laura? - Estela pergunta olhando para mim. Olho para ela sem entender o motivo da pergunta. — Estou bem. - respondo bebendo meu suco. — Não parece muito... Fiquei sabendo que teve problemas com álcool e remédios. - diz secamente. Eu não era burra, sabia que aquele assunto tinha um propósito, ela queria me deixar irritada. Vi quando Ana Liz abafou um risinho, aquilo só me deixou com mais raiva. — Isso não é mais um problema para mim. — Espero mesmo que não, il senso di colpa é sempre un problema. - toma um gole do café. (A culpa sempre é um problema.) — Não precisa atormentar minha filha assim, Estela. - mamãe diz firme. — Eu não fiz nada. — Tudo bem, mamãe. - seguro sua mão. Meu olhar se volta para Gabriel, ele encara tudo em silêncio, seu olhar avalia cada pessoa dessa mesa, ele me olha nos olhos e abre um pequeno sorriso. O café da manhã termina e eu até mesmo agradeço, já estava ficando insuportável todo aquele ar poluente. Seguimos para o jardim da casa, todos já aguardavam a família, iniciaria o sepultamento do meu tio, minha mãe chorava muito dessa vez, sabia o quanto era difícil para ela tudo aquilo, coloco o óculos de sol e me permito chorar pela primeira vez, uma mão segura a minha e olho para o lado vendo Gabriel, ele parecia bem triste. Gustavo do outro lado olhava tudo atento, Ana Liz se pós ao seu lado e olhou para onde seu marido olhava, ela então fechou as mãos em punhos de tanta raiva que sentia. O padre começou a falar algumas palavras de acalento para a família e amigos, depois ele passou a palavra para Gustavo. — Во-первых, я хотел бы поблагодарить всех, кто пришел сегодня... Для тех, кто знал моего отца, вы знаете, что он был добрым и справедливым человеком... Всему, чему я научился, он научил меня, если я человек, которым я являюсь, это благодаря ему... Пусть он покоится с моей дорогой мамой... - disse a última parte olhando para Henrique. (Primeiro gostaria de agradecer todos que vieram hoje... Para quem conhecia meu pai, sabe que ele era um homem de bom coração e justo... Tudo que aprendi foi ele quem me ensinou, se sou o homem que sou, é graças a ele... Que ele descanse em paz junto a minha querida mãe...) Todos batem palmas, o padre fala mais algumas palavras e logo o caixão começa a descer, Ana Liz segura a mão de Gustavo que estava bastante triste, logo algumas pessoas se aproximam dele para conforta-lo, meu tio foi enterrado do lado de sua amada Beatriz, várias flores enfeitavam os túmulos dos dois. Caminho distraída pelo jardim, fumava um cigarro e observava a babá brincando com a filha de Gustavo, ela parecia bastante com a mãe, rezava que fosse apenas na aparência, senti alguém atrás de mim e me virei para ver Estela olhando a mesma cena que eu. — Onde ele está? - pergunta ainda sem me olhar. — Quem? - pergunto confusa. — Meu filho, Laura... O seu corpo, onde está? Meu coração começa a bater mais rápido, sinto minhas mãos começarem a tremer. — Eu não sei... Ela me olha nos olhos, seus olhos levemente marejados. — Eu só quero enterrar o meu filho, você é mãe agora... Ou pelo menos fingi ser... — Não sei do que você está falando, e também não vou aceitar que diga algo que não sabe. - apago o cigarro com a sola da bota. — Eu gostava de você como uma filha... você não faz ideia de tudo que tirou de mim... Abro um sorriso sarcástico. — Não sabia que você desejava para Ana Liz todas as coisas que passei... É muita hipocrisia da sua parte, Estela, você e sua família que não fazem ideia de tudo que tirou de mim. — Você é mãe e faria qualquer coisa pelos seus filhos, foi o que eu fiz. Olho para ela desacreditada, não conseguia entender como alguém poderia ser assim. — Então, pronto. Procure você o corpo do seu filho, agora me deixe em paz. - Saio andando com raiva. — VOCÊ VAI SE ARREPENDER, LAURA! - grita com histeria. Corro para longe da casa, meu coração doía mais que tudo, meus olhos já não conseguiam segurar as lágrimas, me jogo no chão de joelhos, eu só queria que tudo isso acabasse, não queria lembrar dele, do que eu fiz, eu havia matado alguém, matado o pai dos meus filhos, tinha medo que eles não me perdoassem nunca por isso. Eu tinha medo de lembrar do que eu queria esquecer.
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