Capítulo 02/ Uma notícia.

1389 Words
LUCAS COLLINS NARRANDO. LONDRES. Desde pequeno, fui cercado por tudo o que o dinheiro podia comprar, mas havia um vazio que nada preenchia. Perdi a minha mãe quando tinha apenas seis anos. A dor da perda, combinada com a ausência emocional de meu pai, moldou a minha infância e, eventualmente, a minha vida adulta. Fui criado por uma sucessão de babás, cada uma mais distante e indiferente do que a outra. Elas se revezavam, cuidando de mim de maneira mecânica, sem nunca preencher o buraco deixado pela morte de minha mãe. Me lembro de olhar pela janela do meu quarto, esperando que a porta se abrisse e ela voltasse, mas isso nunca aconteceu. Ao invés disso, fiquei com um pai que estava sempre ocupado, imerso no mundo das joias e negócios. Charles Collins, dono de uma renomada empresa no ramo de joias, era um homem duro, focado apenas em aumentar a sua fortuna e manter o seu status. Cresci revoltado, sentindo que havia sido deixado de lado. A mansão onde morávamos era fria, tanto no clima quanto na atmosfera. Sempre tive dinheiro e luxo, mas faltava o essencial: amor e atenção. Com o tempo, aprendi a me virar sozinho. Eu era aquele garoto problemático nas escolas particulares, sempre envolvido em brigas e problemas. A minha revolta se refletia nas minhas ações, e o meu pai apenas respondia com mais distanciamento. Dinheiro era a única coisa que ele me dava, e eu usava isso para preencher o vazio, mesmo sabendo que era inútil. Na adolescência, me tornei um homem que sempre conseguia o que queria. Festas, carros, mulheres. Nada era suficiente, mas eu continuava procurando algo que me fizesse sentir completo. Foi assim que conheci Angel. Ela era diferente das outras, havia algo em seu olhar que me intrigava. Nos envolvemos em um caso que, para mim, era apenas mais uma tentativa de preencher o vazio. Era um dia comum, ou pelo menos eu achava que seria, até o jantar. Estávamos sentados na imensa sala de jantar, o ambiente decorado com peças que custavam mais do que a maioria das pessoas ganhava em um ano. O jantar era servido, e o meu pai estava sentado à cabeceira da mesa, com o seu olhar calculista fixo em mim. — Lucas, precisamos conversar sobre algo importante. — Ele disse, com a sua voz firme e inabalável. Eu sabia que algo estava por vir, mas nada poderia ter me preparado para o que ele diria a seguir. — Você vai se casar com Larissa Miller. — Ele afirmou, como se fosse a coisa mais natural do mundo. Eu parei de mastigar e olhei para ele, tentando entender se aquilo era uma piada. — O quê? — Perguntei, com a raiva começando a borbulhar dentro de mim. — Você só pode estar brincando, pai. Não vou me casar com uma falida que só quer saber do nosso dinheiro. Charles manteve a calma, como sempre. — Esta é uma decisão final, Lucas. A família Miller está em dificuldades financeiras, e este casamento é a solução para fortalecer as nossas alianças e consolidar o nosso poder. Você fará isso pelo bem da família. Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. O meu pai estava realmente tentando me vender, me usar como uma ferramenta para seus negócios. — Eu não sou uma peça no seu jogo de xadrez, pai. — Eu disse, batendo as mãos na mesa com força. — Não vou me casar com Larissa Miller. Não vou me casar com ninguém que você escolher. Ele apenas me olhou com aqueles olhos frios e calculistas, sem nenhuma emoção. — Você vai fazer o que for necessário, Lucas. Não temos tempo para suas birras. A raiva tomou conta de mim. Me levantei com raiva, fazendo a cadeira cair para trás. — Você vai ver o que eu vou fazer! — Gritei, antes de sair da sala de jantar. Subi as escadas a passos largos, cada fibra do meu corpo vibrando de fúria. Quando cheguei ao meu quarto, estava tão furioso que não conseguia pensar direito. Olhei ao redor, procurando algo para descontar a minha raiva. Os meus olhos pousaram no abajur sobre a mesa de cabeceira. Sem pensar, agarrei e o arremessei contra a parede, o vidro se estilhaçando em mil pedaços. — Ele vai ver o que eu vou fazer! — Eu gritei, com a minha voz ecoando no quarto vazio. Eu sabia que precisava sair daquela casa, daquele ambiente sufocante. Precisava pensar em um plano, algo que mostrasse ao meu pai que eu não era uma marionete que ele podia manipular a seu prazer. Me sentei na cama, tentando acalmar a minha respiração e organizar os meus pensamentos. A ideia de casar com Larissa Miller era insuportável. Eu a conhecia apenas de vista, e tudo o que sabia sobre ela era que a sua família estava falida e desesperada. Para mim, ela não passava de uma oportunista, alguém que só queria se aproveitar da nossa fortuna. Eu não queria ser preso a uma vida que não escolhi, não queria ser forçado a um casamento sem amor, sem escolha. Mas, ao mesmo tempo, sabia que o meu pai não desistiria facilmente. Charles Collins era um homem de negócios implacável, acostumado a conseguir o que queria, não importava o custo. Eu precisava ser mais esperto, precisava encontrar uma maneira de sair dessa armadilha sem destruir tudo o que eu tinha. A minha mente estava uma tempestade de pensamentos e emoções. Olhei para a bagunça no chão, o abajur quebrado espalhado por todo o quarto. Aquilo era um reflexo de como eu me sentia por dentro, despedaçado e sem rumo. Mas eu não podia deixar o meu pai vencer. Não desta vez. Me levantei, determinado a encontrar uma solução. Peguei o meu celular e enviei uma mensagem para Angel. Precisava de alguém em quem pudesse confiar, alguém que não estivesse envolvido nesse jogo de poder e controle. — Angel, preciso te ver. Agora. — Escrevi, e enviei a mensagem. Enquanto esperava a resposta, comecei a me arrumar. Precisava sair daquela casa, pelo menos por um tempo, para pensar claramente. Quando o celular vibrou com a resposta de Angel, senti um alívio momentâneo. — Claro, estou em casa. — Ela respondeu. Peguei a minha jaqueta e saí do quarto, descendo as escadas com a mesma determinação com que havia subido. Passei pela sala de jantar, onde o meu pai ainda estava sentado, e nem me dei ao trabalho de olhar para ele. — Onde você pensa que vai? — Ele perguntou, mas eu não respondi. Apenas continuei andando, sem olhar para trás. Saí da mansão e entrei no meu carro, acelerando pela estrada. Enquanto dirigia, a minha mente trabalhava a todo vapor. Precisava de um plano, precisava encontrar uma maneira de evitar esse casamento e, ao mesmo tempo, mostrar ao meu pai que não podia me controlar. Quando cheguei à casa de Angel, ela estava me esperando na porta. Os seus olhos mostravam preocupação, mas ela não disse nada, apenas me abraçou. Aquele simples gesto de carinho foi o suficiente para me fazer sentir um pouco mais forte. — O que aconteceu, Lucas? — Ela perguntou, quando entramos. — Meu pai quer que eu me case com Larissa Miller. — Respondi, sentindo a raiva voltar. — Larissa Miller? A filha dos Miller? — Angel parecia surpresa. — Sim. Ele acha que pode me usar para resolver os problemas financeiros deles. — Eu disse, sentindo a frustração borbulhar novamente. Angel ficou em silêncio por um momento, antes de falar. — E o que você vai fazer? — Eu não sei ainda. — Admiti. — Mas uma coisa é certa: eu não vou deixar o meu pai decidir a minha vida por mim. Não desta vez. Ela assentiu, e eu senti um peso ser aliviado. Pelo menos, tinha alguém do meu lado, alguém que me entendia. — Vamos encontrar uma maneira. — Ela disse, com determinação nos olhos. — Juntos, podemos fazer isso. Senti uma pequena chama de esperança se acender dentro de mim. Talvez, com a ajuda de Angel, eu pudesse encontrar uma saída, uma maneira de recuperar o controle da minha vida. E, enquanto isso, o meu pai veria que não sou um peão em seu jogo. Eu sou Lucas Collins, e vou lutar pelo meu próprio destino.
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