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870 Words
**Capítulo 2** Alguns meses depois... Minha vida virou de cabeça para baixo após a morte de Antônio. A primeira mensagem chegou meses depois do seu falecimento, e o que estava escrito nela fez minhas certezas desmoronarem. Eu nunca quis duvidar de Antônio, mas cada mensagem que chega ao meu celular me faz ficar ainda mais ansiosa e nervosa. Evidências surgem apontando para uma possível vida dupla ou segredos enterrados no passado dele. Eu o amava tanto, foram sete anos de casamento, e agora me custa acreditar que eu era casada com um completo desconhecido. Antônio e eu nos conhecemos na faculdade, nos apaixonamos, e desde então nunca mais nos largamos. A última mensagem que recebi foi um baque total. Fotos dele, seus documentos e sua certidão de nascimento – coisas que eu nunca sequer pensei em ver. Sempre foi ele quem cuidou de tudo relacionado a documentos, desde nosso casamento até nossos bens e finanças. Eu nunca tive a curiosidade de olhar para sua certidão de nascimento, sempre confiando plenamente nele. A última mensagem revelou algo que eu nunca imaginei: Antônio era herdeiro do Morro do Alemão. Descobri que lá ele tinha uma mãe, um irmão e muitos amigos. Não sei se ele alguma vez visitou o morro enquanto estávamos casados, mas ele nunca mencionou nada sobre isso. Antônio sempre foi reservado. Falava da família com carinho, mas sempre dizia que seus pais haviam falecido. Ele era do interior de Minas e havia perdido contato com seus parentes após vir para o Rio ainda adolescente, depois da morte dos pais. Ele falava com tanta convicção que nunca cheguei a duvidar de nada. Minha família também sempre foi distante. Depois da perda dos nossos pais, minha irmã era a única família que eu tinha, além de Antônio. — Serena, eu nunca achei que eu te diria isso – Maisa diz, olhando-me com uma expressão de surpresa e preocupação. – Mas seu currículo foi aceito na escola. Você vai poder trabalhar no Alemão. Eu olho para ela, um sorriso forçado nos lábios, tentando esconder a tempestade interna que se desenrola. — Você tem certeza de que quer ir para o Morro do Alemão? — Maisa pergunta, a preocupação evidente na voz. — Essa escola me traz muitas lembranças. Quero fugir daqui — falo, tentando parecer convincente. – Um novo desafio. Acredito que será muito bom. — E fugir para o morro? As pessoas normalmente fogem de lá — ela ri, um som nervoso. — Quando você disse que precisava recomeçar, não pensei que fosse dessa forma. — Acho que vai ser bom respirar novos ares — respondo, a voz um pouco trêmula. — Estou achando que você está maluca — Maisa diz, seu tom de voz misturando descrença e preocupação. — Ainda não — eu digo, encontrando o olhar dela. — Isso tem a ver com as mensagens que você vem recebendo sobre a morte de Antônio? — Ela pergunta, os olhos penetrantes. — Eu nunca mais recebi nada — eu minto, tentando esconder a dor. — Acho que era algum trote, talvez de algum aluno ou até de uma ex-namorada dele. — Pode ser — ela concorda, mas o olhar dela ainda está cheio de dúvidas. O marido de Maisa trabalha dentro do morro, entre os traficantes, junto com Yan, que seria o irmão de Antônio. Às vezes, olho para Maisa e tenho a impressão de que ela sabe algo mais, mas quando ela aceitou me ajudar a conseguir o trabalho na escola do Alemão, fiquei com a sensação de que ela não está ciente do que está acontecendo. Depois das mensagens e de tudo que descobri sobre o passado de Antônio, estou cada vez mais convencida de que sua morte não foi acidental e que o Morro do Alemão está envolvido. Talvez até seu próprio irmão, já que Antônio era o irmão mais velho e poderia ter sido uma ameaça ao comando. Mesmo que Antônio nunca tenha mencionado a família ou o lugar onde morou, a verdade está se tornando cada vez mais clara. Estou decidida a ir para o morro, quero descobrir mais sobre a vida dele. Talvez ninguém lá saiba quem eu sou, e acredito que para meu currículo ser aceito, ele passou pelas mãos do comando do tráfico. Também quero entender o quanto tempo Antônio ficou afastado e por que ele saiu de lá. São tantas perguntas sem resposta, tantos mistérios a serem desvendados. Quando chego em casa, pego a foto do nosso casamento e as lágrimas começam a rolar pelo meu rosto. — Quem era você de verdade? — murmuro para mim mesma, a dor transparecendo em cada palavra. — Será que vou me decepcionar com você? Eu acreditava que você era um homem que jamais mentiria para mim! — Uma lágrima escorre pela minha face. — Mas, mesmo assim, não consigo deixar de te amar! Enxugo as lágrimas e largo minha bolsa em cima do sofá, tentando encontrar um pouco de calma em meio ao turbilhão de emoções que sinto. A decisão de enfrentar o desconhecido, de ir ao Morro do Alemão, é um passo que sinto ser necessário, mesmo que isso me leve a uma verdade que eu talvez não esteja pronta para enfrentar.
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