Paixão entre conflitos no Morro

Capítulo 3 - Laiz

LAIZ NARRANDO

Oi gente, me chamo Laiz Alves, tenho 27 anos e sou formada em psicologia. Não é bem a minha praia. Só fiz esse curso porque achei mais fácil e rápido, foi por causa da pressão dos meus pais. Meu pai é médico cirurgião e minha mãe é psicanalista. Moro no Leblon, quer dizer, morava antes de uma grande tragédia acontecer.

Sou morena e tenho cabelos cacheados, quase um Black. Amo meus cachos e me acho perfeita assim. Não sou tão magra, tenho estatura mediana, s***s fartos e b***a grande.

Tenho mais dois irmãos. Um acabou de se formar em medicina e se especializou em cardiologia, e o outro ainda está cursando o ensino médio.

Minha família é rica e temos muitas posses, então vivo uma vida de luxo. Carro importado, roupas e artigos de grife, e em nossa mansão temos pessoas para fazer de tudo.

Tenho um consultório que fica no mesmo prédio que o da minha mãe. Já tenho uma boa clientela e tento gostar do que faço.

Meu hobby favorito é dançar. Amo me divertir e sair para baladas com meus amigos. Às vezes, até encontro alguns pacientes, mas fora do consultório não gosto que me chamem de doutora; prefiro que me chamem pelo meu nome.

No quesito romance, já fui casada. Namorei dois anos, passei um ano noiva e dois meses casada. Definitivamente, relacionamentos que te prendem em todos os aspectos da vida não são a minha praia.

Não digo que não sou de me apaixonar, porque já me apaixonei muitas vezes nessa vida. Mas paixão é uma coisa que vem e passa, perde o encanto e a magia, e o príncipe vira sapo. Já o amor de verdade, acho que nunca senti.

Nessas baladas da vida, conheci a Ana Paula. Ela sai com um dos meus amigos, o Álvaro. Ana mora no complexo do Alemão e fiquei super curiosa para conhecer a comunidade. Nunca fui no morro, sempre tive vontade de conhecer um baile funk, daqueles bem pesadões, mas ainda não tive coragem.

Fiquei sabendo que vai ter um baile no complexo de Israel. Álvaro me chamou, e Ana Paula também vai. Mandei mensagem para ela e ela me garantiu que é seguro, a não ser que tenha uma invasão da polícia ou de algum comando rival.

Mesmo com medo, decidi ir. Me arrumei de forma provocante, bem gostosa. Dizem que o melhor sexo é com os famosos "cintura ignorante", mas não foi bem isso que aconteceu. Vou contar para vocês a minha experiência no primeiro baile funk da minha vida.

Álvaro me buscou na porta do condomínio onde moro com meus pais. Fomos para o complexo de Israel. Assim que chegamos na entrada do morro, tinha uma barricada e muitos homens armados. Meu coração acelerou, mas não tinha como voltar atrás.

Álvaro já foi várias vezes em bailes funk, então ele sabia como funcionava. Descemos do carro e passamos por um tipo de revista. Comigo, só pediram para abrir a bolsa. Tivemos que subir o morro de mototáxi. O som era contagiante e a energia da galera, maravilhosa. Só tocava funk pesadão, muita droga rolando, todo mundo dançando e se divertindo.

Mas teve uma surpresa no meio do baile, e essa surpresa destruiu a minha vida.

O chefe do tráfico, que todos chamavam de Cascavel, podia escolher qualquer mulher para passar a noite com ele, e o infeliz me escolheu. Sem nem perguntar se eu queria ou não. Ele até é bonito, mas não passa de um escroto nojento.

Ana Paula me incentivou, Álvaro ficou com medo mas não tinha nada que ser feito, não podia dizer não ao chefe no seu camarote. Todo mundo aplaudiu e ele me beijou, retribui o beijo até aí tudo bem.

Tive que sentar no colo dele, tudo para mim era tão novo e estranho. O cara nem me conhecia e ficou acariciando as minhas pernas, beijando meu ombro, sempre me puxava para um beijo de língua.

Ficamos até um certo horário, quando ele me chamou para ir embora, me despedi da Ana Paula, e do Álvaro. Fui para casa do maluco com ele, eu estava morrendo de medo. Tivemos uma noite frenética. Até que foi gostoso. Mais no dia seguinte, quando eu decidi ir embora o cascavel me prendeu.

A partir daí começou todo o meu tormento, eu implorei para que ele me deixasse ir embora, e o que ganhei foi uma surra, ele me bateu que passei dias com o corpo dolorido.

Todas as noites Cascavel abusava de mim, me manteve presa dentro de um barraco velho por dias, tudo que eu queria era que tivesse a invasão, que a polícia invadisse e matasse todos os traficantes. Eu passei Dias chorando, tinham rapazes que traziam água e comida, produto de higiene, roupa eu tinha de tudo mas não tinha Liberdade e nem escolha, a maioria das vezes que o cascavel veio me ver e estava bêbado e drogado.

Até que um dia um dos rapazes que trazia comida deixou a porta aberta, e um papel junto da marmitex.

" Vou deixar a porta aberta e te espero na barreira, foge na madruga, cuidado"

Esperei tudo ficar em silêncio, abri um pouquinho a porta e por um milagre não tinha ninguém na frente do barraco, saí correndo igual uma louca. os becos desse lugar são verdadeiros labirintos, tomei todo cuidado sempre que eu via uma pessoa baixava a cabeça. Eu estava com um casaco de capuz, então cobri os meus cabelos.

Consegui chegar na barreira, o garoto que me mandou fugir estava em cima da moto quando ele me viu e ligou subindo a moto e a gente saiu, fiquei preocupada com ele. Mas ele estava com uma mochila e disse que tava metendo o pé para São Paulo, que a casa do Cascavel tava caindo.

Pedi para ele me deixar no complexo do Alemão, fui atrás da Ana Paula, preciso entrar em contato com a minha família. Mas primeiro preciso explicar o que aconteceu e estou morrendo de medo que o cascavel vá atrás dos meus pais e dos meus irmãos, preciso tomar alguma providência o quanto antes.

Estava tendo baile, me deixaram passar, pedi alguém para me deixar no barraco da Ana Paula e o rapaz foi muito gentil e se apresentou com o nome de bombinha. Ele me deixou na frente do barraco e me pediu para esperar, quando voltou a Ana Paula veio junto com ele na garupa. Perguntei para ela tudo o que aconteceu, vou ficar aqui escondido por um tempo, até as coisas se acertarem e eu poder retomar a minha vida. Tomara que o dono do Alemão não seja tão maluco quanto o cascavel.