Capítulo um — Superação

3017 Words
ASAS DA NOITE Capítulo um — Superação Atualmente... 15 anos depois. O palpitar em meu peito e o frio negativo em minha barriga, causa-me uma falta de ar em um nítido nervosismo. Eu não demoro a ter noção de onde nós estamos. Tão rapidamente, os batimentos de meu coração agitam a minha fraca respiração. Um forte sufocamento me causa uma apreensão quase incontrolável. O meu organismo sempre adota as mesmas sensações agonizantes quando eu me aproximo deste local temido. ― Dê o primeiro passo para vencer os seus medos, Sophia. Ashley Hummel, minha prima, pronuncia as suas palavras em um tom compreensivo na percepção da bagunça emocional que ocorre em meu interior, enquanto ela arruma apressadamente o colarinho de seu jaleco branco. A peça de vestuário, grafada com o seu nome, evidencia a sua competência na equipe de enfermagem. Seu breve sorriso destinado a mim é confortante, trazendo as mesmas covinhas herdadas de meu tio. Por um breve momento, o seu rosto angelical toma a expressão de um susto ao pousar a atenção de seus olhos no relógio digital presente no painel de seu carro. ― Preciso ir, eu estou atrasada. ― Ela pronuncia rapidamente ao juntar uns documentos, apressada. Hesitante, eu apenas assinto, ainda consumida por um certo nervosismo, mas eu consigo forçar os meus movimentos para sair do carro em sua companhia. Os fios castanhos de seu cabelo se movimentam em desgoverno com a fria corrente de vento, na qual os seus passos se apressam em direção oposta, recordando de seu atraso. O hospital temeroso, à minha frente, parece zombar de meus passos desequilibrados. Eu inspiro uma grande quantidade de oxigênio, como se de alguma forma isto pudesse vir a me ajudar a manter o meu equilíbrio mental, antes de eu ter que por fim o adentrar. A cena típica de um grande hospital, poderia ser facilmente definida como um terror ao meu emocional. Na recepção, eu encontro desde pessoas doentes até macas passando às pressas com pessoas inconscientes. Alguns choros se escutam, confundindo-se entre pessoas lamentando por seus entes queridos, ou, pessoas já não aguentando as dores de enfermidades. As minhas pernas bambeiam em um nervosismo compulsivo. Os efeitos traumáticos me atingem. Os meus batimentos cardíacos se assemelham a uma metralhadora, causando palpitações em meu peito que produzem uma dor quase insuportável. O frio na barriga anuncia uma possível náusea, e a tremedeira em meu corpo me faz quase perder o equilíbrio. Eu estou aérea. Ashley, que conversava com a recepcionista, faz um sinal com as suas mãos para que eu me aproxime. Eu respiro profundamente ao dar o próximo passo, ainda trêmula, em sua direção. Porém, descuidadamente, eu esbarro em uma pessoa, sem intenções, o que me faz pedir desculpas imediatamente. Mas o homem à minha frente apenas me encara superiormente, sem nada a dizer. Eu franzo o meu cenho com a sua rispidez e em rápidos passos, eu me afasto, seguindo novamente os meus passos à Ashley. Ao meu lado, repentinamente passa uma maca com uma mulher gritando ao estar com a sua perna em um estado e***********o. Em resposta a isto, o meu organismo novamente ameaça perder o equilíbrio, demonstrando que eu não sou forte o suficiente para ver essas cenas tão pesadas. De imediato, eu procuro mudar o meu foco ao tentar pronunciar o meu nome para a recepcionista, a quem conferirá o meu cadastro, mas as palavras estão fora de meu alcance, como se em um feitiço aterrorizante eu esquecesse o alfabeto. O meu coração parece brincar de pula corda dentro de minha caixa torácica. Um pulo mais alto que o outro, quase a sair para fora. ― Está tudo bem. ― Ashley diz em um tom compreensivo perante o meu estado. ― Eu já informei, agora apenas espere no assento próximo. Assim que o horário de visita abrir, ela te chamará. Eu assinto em afirmativo a sua instrução, destinando-a um tímido sorriso em agradecimento por a sua compreensão. Em resposta, ela me destina um olhar reconfortante enquanto em seguida ela precisa rapidamente acompanhar uma equipe de enfermeiros adentro dos cômodos. Ainda nervosa, eu me sento no assento próximo. O velho banco range ao aguentar o meu peso, prevendo que o frágil móvel já faz parte da recepção deste hospital há tanto tempo que possui um desgaste extremamente visível. Apreensiva, eu encaro as minhas mãos, na intenção de desviar o meu olhar do sofrimento alheio presente nos demais pacientes. As sensações antagônicas me sufocam de uma forma assustadora. Estar aqui, faz com que eu não consiga evitar com que os meus pensamentos se foquem exclusivamente em minha mãe. Injustamente, ela vive um coma irreversível por nove anos. Todos os meses, eu venho visita-la, porém os sentimentos impotentes sempre são os mesmos ao pisar os meus pés neste local. O trauma em vê-la acamada e desacordada enfraquece o meu espírito, e enlouquece o meu organismo, deixando-me dependente de medicamentos controlados na luta de uma séria ansiedade e depressão. Meu pai, mesmo tarde da noite, quando termina o seu expediente, sempre passa no local na esperança de receber uma noticia de seu acordar. O desespero que em ambos cresce ao vê-la tão frágil e impotente, sempre vem arrebatador como uma sombra n***a que nos arrasta para a escuridão do desanimo, resultando em lágrimas dolorosas e corações partidos pela dor causada pelo c***l destino que a tomou de nós. Aquele terrível acidente de carro mudou drasticamente as nossas vidas. Os médicos dizem que o melhor para ela será que nós enfim a deixássemos descansar em paz. Mas nós não conseguimos nos despedir, a verdade é que nunca estaremos prontos para isto. Os custos financeiros com as despesas hospitalares são extremamente altos, fazendo com que eu e meu pai nos dediquemos arduamente ao trabalho. Os dias estão sendo exageradamente corridos. Todos os dias da semana, eu saio ás presas do meu trabalho número um para pegar o ônibus de rota três, e enfim, conseguir chegar ao trabalho número dois, e posteriormente ao trabalho de número três, enquanto nas noites de fim de semana eu aproveito para ganhar um extra como babá. Uma checagem rápidas em minhas horas exageradas no trabalho, eu diria que uma CLT passou extremamente longe. Uma simples barra de cereal é tudo o que eu como durante o dia. Tarde da noite, quando eu chego em casa é que vou me privilegiar com uma refeição decente. Uma rotina nada saudável, mas que me recompensa com o salário necessário, que juntamente ao de meu pai, conseguimos dividir os altíssimos gastos nas despesas hospitalares de minha mãe. Hoje, o meu expediente de número dois foi interrompido devido a uma desinfestação de pragas que ocorria no local, então, aproveitando o tempo livre, pensei em vir visita-la. Visitar este ambiente por tantos anos, deveria me trazer uma normalidade em minha rotina, mas ao contrário disto, eu nunca estou pronta para aqui vir novamente. Está longe de ser algo que eu vou me acostumar algum dia. Eu desperto de meus pensamentos ao focar, inconscientemente, o meu olhar num panfleto grudado na parede próxima a mim. "Você viu essa garota? Por favor, entre em contato com a família e amigos." O papel traz a foto de Sarah, uma amiga do tempo de faculdade. Há um ano atrás, eu me aventurei em um curso jurídico, mas apesar de gostar das matérias, o trabalho árduo me forçou a trancar o curso. Neste meio tempo, eu e Sarah acabamos nos distanciando. E infelizmente, há duas semanas atrás, eu soube de seu desaparecimento. A sua família e seus amigos se juntam para encontrá-la, temendo o pior. Uma preocupação maior gira em torno dos diversos sequestros que terrivelmente a nossa pequena cidade tem sido vítima. Os denominados cruéis "Sombras Negras", chamados dessa forma devido a máscara preta combinadas com as suas vestes escuras que os denominam. São tão frios quanto a temperatura mais baixa. Alguns defendem que os sequestros são parte da terrível lenda de Wachowski, um suposto ser das trevas que vive escondido nas montanhas, e os Sombras Negras são os seus fiéis que sequestram pessoas puras para sacrifícios com os seus sangues. Outra corrente para uma possível explicação destes sequestros, adota um caráter mais lógico. Gira em torno da sustentação do mercado n***o, em que eles sequestram pessoas para q retirada de órgãos. Particularmente, eu não acredito em lendas ou mitos, portanto eu defendo a corrente mais lógica para isto. Na minha opinião, a lenda de Wachowski não passa de um mito antigo para manter as crianças longe das montanhas. Em minhas suplicas mais sinceras, eu d****o que Sarah esteja bem e que não seja mais uma vítima dos terríveis sequestros. Repentinamente, o grito em desespero de um homem ao adentrar no hospital carregando uma mulher desmaiada, chama e alarma a tenção de médicos prontos a ajuda-lo. Uma profissão extremamente digna, mas eu não teria as mesmas forças. O desespero do homem, implorando para que a salvem, faz o meu coração partir em mil pedaços. O meu organismo volta a se desestabilizar diante da situação. O seu desespero passa a mim, aflorando os meus medos e liderando a minha ansiedade em um desgoverno descomunal. As palpitações em meu peito rasgam as minhas esperanças, deixando-me a um triz de uma parada cardíaca. Sentindo o meu corpo fraquejar pelo pânico, eu lembro que preciso tomar outra dose de meu medicamento. Isto me faz levantar imediatamente, ao apressar os meus passos rumo ao bebedouro de água, um pouco distante. Rapidamente, eu coloco água no copo, e retiro de minha pequena bolsa prateada o pequeno frasco de vidro, abrindo-o imediatamente e tomando a dose prescrita pelo meu neurologista. Eu suspiro frustrada, dependente dos medicamentos. Eu encho novamente o meu copo, ansiando pela água que eu julgo ter alguma calmaria nesse mar de desequilíbrio. Enquanto isto, inconscientemente, o meu olhar se foca ao mesmo homem que eu esbarrei um tempo atrás, ao agora estar me encarando friamente. No mesmo instante, um calafrio temeroso sobe por a minha espinha, trazendo sensações extremamente negativas. Eu percebo que o seu olhar lentamente se guia ao copo em minha mão. Assim que o acompanho, o susto me atinge de imediato, fazendo com que eu não consiga evitar um grito pavoroso ao soltar o copo ao chão, contendo agora um liquido avermelhado semelhante a sangue. As pessoas a minha volta me encaram assustadas, e tão prontamente, a minha prima surge a minha frente, destinando a sua preocupação a mim. ― O que houve? ― Ela questiona, fazendo-me brevemente direciona-la o meu olhar. ― Tem sangue... ― Eu interrompo a minha fala ao encarar o mesmo líquido, agora em um caráter novamente transparente da água derramada ao chão. Eu engulo ruidosamente em seco em uma extrema confusão, constatando que a diferença anterior. Eu poderia jurar que o líquido anterior se tratava de sangue. Imediatamente, eu volto a guiar o meu olhar ao homem que me encarava anteriormente, julgando que estranhamente este possa ser algum responsável pelo mistério que acabou de ocorrer. Este, agora, está com um breve sorriso em um deboche ao se divertir com o meu susto e a confusão. ― Quem é este homem? ― Eu pronuncio o meu questionamento em altos pensamentos. ― Que homem? ― Minha prima responde em uma confusão ainda maior que a minha, guiando o seu olhar na direção fixa em que eu estou a olhar. ― Há apenas uma mulher amamentando o seu filho. O breve segundo que eu desvio o meu olhar para a mulher que ela descreve ao lado do homem misterioso, foi o suficiente para que ele desaparecesse. Eu o procuro ao meu redor, mas não consigo mais o encontrar, como se em um passe de mágica ele sumisse misteriosamente sem deixar rastros. Eu inspiro profundamente, piscando os meus olhos por diversas vezes ao pensar que eu possa estar alucinado. As minhas crises de ansiedade, agora, estão a me deixar a enlouquecer. ― Acho melhor, você ir ver sua mãe por agora. Este ambiente não está a te fazer bem. ― Ashley diz, percebendo o meu estado neurótico que este local me entrega. Ela faz um gesto a recepcionista, e logo me guia pelo imenso corredor do hospital. A cada passo trêmulo e desconcertado, mais eu me teletransporto para um mundo repleto com lembranças. Eu poderia até mesmo ouvir a voz de minha querida mãe a me dizer: "Eu te amo, minha pequena Sophia... mamãe sempre te amará..." Eu respiro fundo, na intenção de me encorajar a continuar. Mesmo que a minha mãe não me responda devido ao seu estado em coma, eu ainda conversarei com ela. Eu preciso que ela sempre se lembre que nós não desistimos e que continuamos lutando, mesmo que todos os médicos nos digam que nós chegamos ao fim. ― Você quer que eu entre com você? ― Ashley demonstra a sua preocupação, porém, eu apenas limito a levemente negar a sua pergunta. Eu preciso de um tempo sozinha com a minha mãe. Ao adentrar ao quarto hospitalar que por muito tempo a abriga, a cena de meus piores pesadelos está diante de meus olhos amedrontados. Aqui está minha mãe, nesta cama hospitalar, ligada a diversos equipamentos essenciais para manter parte de seus órgãos em funcionamento. Os meus olhos lagrimam em dor. O meu mundo treme, diante de que o extremo desespero quer a todo custo me invadir violentamente. As árvores da esperança plantadas em meu coração são desmatadas com o poderoso e afiado machado da tristeza, que derruba sem dó qualquer sinal de positividade. Há quanto tempo ela está nesse lugar... Há quanto tempo que ela não voltou para mim... As lágrimas descem violentamente, rasgando dolorosamente a pele de meu rosto, causando um ardente rastro da chama do sofrimento. O meu corpo pesa com a densa cortina da desesperança. A minha respiração falha, enquanto eu tento inspirar o ar profundamente, porém apenas uma pequena quantidade de oxigênio consegue chegar aos meus pulmões. Por um momento, eu penso não ter o controle de meus movimentos. Não é reconfortante vê-la tão frágil, mas eu preciso continuar, uma vez que eu tenho que informá-la que eu continuo aqui. Eu engulo ruidosamente em seco. E a contagem reinicia lentamente a cada profunda inspiração: 1.. 2.. 3.. 4.. 5.. 6.. 7.. 8.. 9.. 10... Não que essa técnica seja a mais eficiente, mas me ajuda a chegar no início do caminho certo para encontrar a tão desejada calma. Agora, eu só preciso iniciar a caminhada nesse longo e dificultoso trajeto. Inspiro novamente o ar, e seguro por alguns breves segundos antes de soltá-lo levemente pela boca. Eu posso ver o medo presente em minha respiração, zombando de mim. Hesitante, eu dou o primeiro passo, mas as minhas pernas quase não obedecem os meus comandos. A tremedeira em meu corpo ameaça me fazer perder o equilíbrio. Engulo novamente em seco, a minha garganta arranha com a sede que tão repentinamente me atinge. É o nervosismo arrombando a porta. Forço os meus movimentos, avançando mais alguns lentos passos. Cada vez, ela está mais próxima. Eu já posso vê-la com precisão. O seu rosto rosado, agora, está tão pálido quanto um fantasma. Os seus lábios cheios de sorrisos alegres, agora estão ressecados e tristes. Os seus lindos olhos castanhos que possuíam o brilho mais revigorante, agora se encontram cobertos com pesadas e escuras pálpebras. Uma mulher tão cheia de vida, agora se encontra a mercê da morte. A tristeza me devasta. O meu coração se parte em tantos pedaços fragilizados como o porcelanato mais fino sendo arremessado no concreto ríspido. Eu sou consumida pelo medo de nunca mais poder ver a tão esperançosa luz que emana de sua alma, acessa novamente. O seu brilho foi tomado violentamente por um destino c***l. ― Mamãe... ― O meu sussurro quase não sai. A fraqueza golpeia arrogantemente a minha alma. Hesitante, eu toco levemente em seu rosto. O trêmulo toque de meus dedos tem toda delicadeza que ela merece. Uma verdadeira rosa delicada deve ser tratada com todo amor, carinho e ternura. ― Eu não vou desistir de você, mamãe. Eu prometo. ― Apesar de minha fraqueza, as minhas palavras são firmes. Eu não desistirei, colocarei toda a minha força em trazê-la de volta. Em meios de tantas súplicas, eu sei que pelo menos uma deve ser ouvida. Em nenhum momento, eu deixarei de confiar no meu Deus. ― Sophia... ― De repente, eu escuto uma voz máscula e conhecida. Viro-me ao focar o meu olhar em Ryan, meu melhor amigo, parado na porta do quarto. ― Ashley me avisou que você estava aqui. Ryan Mckenna é meu melhor amigo desde a infância. Carregamos um pelo outro uma grande admiração, respeito, companheirismo e fidelidade. Sempre juntos a enfrentar todas as situações que se coloquem no nosso caminho. Ele tem me protegido durante toda a minha vida. É o meu porto seguro em meio à tempestade, aquele a quem sempre me faz ver algo positivo mesmo no meio de situações ruins, e quem me rouba sorrisos e risos inevitáveis. O seu semblante está carregado de preocupação, o que me faz com facilidade ter a percepção da tristeza que dele emana. Em lentos passos, ele caminha até mim. Eu fecho os meus olhos levemente ao sentir o seu toque delicado em meu rosto. Sinto os seus braços fortes me envolverem em um abraço confortador. Em seus braços, sentindo-me em meu porto seguro, enfim eu me permito desabar no sofrido choro compulsivo. ― Calma. ― Ele sussurra. ― Tenha fé acima de tudo! A fé move montanhas. ― Lembro-me do que um sábio professor de processo civil me disse uma vez. ― As dificuldades aparecem, mas não devemos temê-las. Devemos ser fortes e corajosos. Pois a vitória pode até demorar, mas virá. Às vezes, nós não entendemos o porquê passamos por situações difíceis. Mas aquela mesma situação te tornará mais forte, será responsável com que o seu espírito cresça e a sua alma renasça revigorada. Apesar de todas as dificuldades, Deus não te desamparará. Confie nEle, e com o tempo verás que o melhor já estava por vir. Em breve, tudo o que nós passamos fará sentido.
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