Dois dias haviam passado desde a festa e Lucas voltou à sua rotina habitual. Alan estava grato por isso. Ele estava ainda mais feliz porque Lucas parecia ter esquecido suas últimas ordens, e Alan foi poupado de uma conversa constrangedora com Sarah sobre uma possível gravidez.
Na verdade, Alan não pensava muito nisso. Certamente, ele não era um especialista em anatomia feminina, considerando que ele próprio era gay, mas ele sabia que a fertilidade de uma mulher flutuava ao longo do mês. Alguns casais tentavam conceber por anos antes de conseguir, então as chances de Lucas e Sarah conseguirem em apenas uma noite, embora não sejam nulas, são certamente muito baixas. De qualquer forma, a última coisa que ele queria fazer era perguntar a uma mulher sobre seus ciclos menstruais.
Lucas saiu do elevador em direção ao seu escritório, apenas para ser parado por Sonya. "Com licença, senhor."
"O que foi?" Suspirou Lucas.
Embora Madeline fosse sua secretária de acordo com a lista de funcionários da empresa, ela nunca aparecia no escritório para trabalhar de fato. Na verdade, Sonya é quem cuidava do trabalho real, o que Lucas agradecia imensamente. Sonya era experiente e gerenciava o trabalho de forma competente.
"Senhor, o Senhor Tailor Reeve está aqui para vê-lo."
"Reeve? Não conheço nenhum Reeve. Ele tem um horário marcado?" Perguntou Lucas. Normalmente, ele não marcava compromissos tão cedo no dia, preferindo lidar com eles à tarde. As manhãs costumavam ser dedicadas a resolver questões internas e visitar vários departamentos.
"Não, senhor. Ele está esperando há meia hora." Sonya balançou a cabeça. "Ele diz que está aqui para entregar alguns documentos, então isso só levará um minuto do seu tempo."
"Se são apenas documentos, por que ele não os deixou com você?"
"Eu sugeri isso, mas ele insistiu que precisava entregá-los pessoalmente a você."
"Tudo bem." Lucas acenou para que ela fosse embora. Ele odiava ter sua rotina interrompida, mas se fosse apenas por um minuto, que assim seja. Não seria difícil voltar ao normal.
Entrando em seu escritório, ele viu um senhor mais velho esperando quieto em sua mesa. O homem era alto e magro, não tendo a barriga normalmente comum em homens de meia-idade. Seus cabelos estavam grisalhos, mas seu olhar era perspicaz. Ao ver Lucas entrar, ele imediatamente se levantou para cumprimentá-lo.
Lucas evitou um aperto de mão ao notar que o visitante usava um terno comum, "Senhor Reeve, não é?"
"Isso mesmo. O senhor Lucas Stanton, suponho?"
"Supõe corretamente." Lucas circulou até sua cadeira. "Sente-se."
"Está tudo bem. Não vou demorar muito e não quero tomar seu tempo valioso." Tailor se abaixou para pegar sua maleta, abrindo-a na beira da mesa e entregando a Lucas uma única folha de papel. "Assine aqui, por favor."
"O que é isso?"
"Um aviso. Simplesmente afirma que estou entregando isso diretamente a você pessoalmente."
Com um grunhido, Lucas assinou e entregou de volta antes de aceitar um envelope grosso e amarelo, "E isso é?"
"Papéis de divórcio." Tailor respondeu fechando sua maleta. "Bem, tenha um bom dia, senhor Stanton."
"O quê?" Lucas se levantou rapidamente. "Isso é algum tipo de piada?"
"Talvez eu devesse me apresentar." Tailor respondeu calmamente. "Sou Tailor Reeve, advogado de sua esposa. Ela pediu o divórcio. Sugiro que você examine os termos cuidadosamente com seu advogado e me ligue se houver alguma dúvida. Senhores, bom dia."
Lucas riu, "Minha esposa quer se divorciar de mim? Com base em quê?"
"Diferenças irreconciliáveis."
Lucas dobrou-se. "Não sei quanto ela está te pagando por essa brincadeira, mas não é o suficiente. E também é meu dinheiro, então tecnicamente você trabalha para mim."
"Na verdade, estou fazendo isso pro bono." Tailor respondeu sem um traço de humor. "Sou amigo da família e garanto que não é uma brincadeira. É tudo perfeitamente legal e vinculante. Minha cliente já assinou. Se você concordar com os termos e assinar, eu posso protocolar hoje mesmo, se desejar."
"Pode esquecer."
"É uma escolha sua. Como eu disse, examine-os cuidadosamente com seu advogado. Você tem vinte dias antes da audiência ser marcada. Bom dia para você, senhor Stanton." Sem dizer mais uma palavra, Tailor se retirou, deixando Alan para lidar com Lucas furioso.
"Lucas..."
"Ligue para ela agora mesmo! Eu quero respostas."
"Certo." Alan relutantemente pegou o telefone e a selecionou em sua lista de contatos, já que Lucas nem se deu ao trabalho de salvar o número dela no próprio telefone. Ele franziu a testa com a resposta.
"O que foi?" Lucas percebeu sua expressão.
"Vai direto para a caixa postal. Ou está desligado ou sem bateria."
"Por que isso não me surpreende?" Lucas resmungou. "Essa mulher não sabe cuidar de nada." "Posso tentar ligar para ela novamente."
"Não se incomode. É apenas um chamado por atenção." Suspirou Lucas, empurrando o envelope para o lixo.
"Você não deveria ao menos olhar para isso?"
"Por quê? Os papéis provavelmente estão em branco. Eu estou te dizendo que tudo isso é uma brincadeira para chamar minha atenção. Mas não vai funcionar."
"Tudo bem. Se você diz." Alan concordou, mas não estava convencido.
Apesar das preocupações de Alan, nada mais aconteceu a respeito desse encontro estranho e nas semanas seguintes ele esqueceu o assunto, assim como Lucas.
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Tailor Reeve arrumou sua gravata enquanto esperava em frente ao escritório do juiz. Ele era um homem de poucas palavras, mas quando falava, os outros sabiam que deviam prestar atenção. Depois de quase meio século de prática, era um advogado muito respeitado e gostava muito do seu trabalho, principalmente no que dizia respeito a casos de direito familiar. Esse certamente não seria seu primeiro julgamento de divórcio, embora fosse muito mais pessoal, considerando que sua cliente era filha de seu melhor amigo e uma pessoa que ele considerava como sobrinha.
"Senhor Reeves, o Juiz Matthews está pronto para recebê-lo."
"Obrigado, Janet." Ele se levantou e entrou no escritório, que era relativamente pequeno.
Normalmente, esse julgamento seria realizado em uma sala de audiência, mas como a outra parte não estava presente, parecia não haver necessidade de teatralidades. O Juiz Matthews se levantou e estendeu a mão para um homem que ele conhecia há quase tantos anos quanto havia exercido a advocacia e bem antes de se tornar juiz.
"Bom te ver, Tailor. Gostaria que fosse em circunstâncias melhores."
"Eu também."
"Bom, sente-se." O Juiz Matthews pegou sua cópia do acordo de divórcio e o leu enquanto perguntava. "Então, qual é o caso aqui?"
"Minha cliente deseja se divorciar de seu marido."
"Hmm. Ela alega diferenças irreconciliáveis."
"Sim. Ele tem sido infiel."
"Um caso extraconjugal? Ela tem provas?"
"Bom, são circunstanciais. Aqui está uma impressão das mensagens de texto que a amante dele tem enviado para ela.” Tailor ofereceu várias folhas de papel. Mesmo sendo uma pequena amostra, já formava um monte considerável. "Ela também recebeu ameaças de morte da irmã e da mãe do marido."
"Meu Deus." Matthews analisou os documentos com uma expressão de preocupação.
Não era a primeira vez que ele testemunhava um comportamento perturbador entre famílias chamadas de elite. Talvez o pior exemplo tenha sido quando um pai acusou a própria filha de ser viciada em drogas na tentativa de obter a custódia dos netos, mas esse caso certamente chegava perto.
"Hmm. Diz aqui que ela renuncia a todos os direitos sobre a propriedade e os bens compartilhados. Ela até está recusando pensão alimentícia."
"Isso mesmo. Ela não quer nada, apenas se divorciar."
"Ela vai ficar bem?"
"Sim. Acredito que sim, assim que ela se afastar dele um pouco."
"Percebo que ela não está aqui."
"Não. Ela já saiu do estado. Garanti a ela que não era necessário comparecer a uma audiência não contestada."
"E o marido dela?"
"Entreguei os papéis pessoalmente a ele. Aqui está o aviso."
Matthews analisou a única folha de papel, observando a assinatura antes de dizer: "E ele optou por não comparecer, hein?"
"Considerando que a divisão é toda a favor dele, imagino que ele não tenha visto motivo para estar aqui."
Matthews assentiu, colocando os papéis sobre a mesa. Como ele mesmo tinha uma família, sempre era difícil ver um casamento acabar, especialmente em termos ruins, mas nesse caso provavelmente era o melhor. Normalmente, ele teria usado a infidelidade para favorecer a esposa, mas ela já havia tomado essa decisão por ele.
"Filhos?"
"Nenhum."
"Acho que isso é uma bênção." Suspirou Matthews. Divórcios sempre eram piores quando havia crianças envolvidas. "Sua cliente está ciente de que, se ela mudar de ideia no futuro, não poderá pleitear fundos futuros do marido com base nesse acordo?"