Pesadelo.

981 Words
Acordei em meu quarto, na mansão Anghel. Percorri o olhar por todo o ambiente, tentando reconhecê-lo o mais depressa possível e confirmar se aquilo havia sido apenas um sonho r**m. Com dificuldade, me levantei da cama, recebendo as memórias de todo o ocorrido da noite passada. Um frio na espinha percorreu meu corpo e corri na direção do banheiro. Arranquei todas as minhas roupas, conferindo onde estavam os hematomas. E não havia mais nenhum. Exceto uma pequena cicatriz no formato de uma estrela no pulso. No modo automático, vesti-me e sentei na cadeira da cômoda para pentear os cabelos. Meu olhar estava perdido, era como se eu fosse uma hóspede no meu próprio corpo. Eu me sentia completamente... Oca. Atentei-me ao colar desconhecido ao lado da escova de cabelo, só então, reparei na carta que o acompanhava. Quebrei o selo do envelope e retirei a carta de dentro dele... Ela estava completamente em branco. Uma interrogação formou-se na minha cabeça. Quem mandaria uma carta em branco? Antes que pudesse descartá-la, fui surpreendida pelas letras douradas que sugiram sobre o papel, como num passe de mágicas. "O Sigilo de Lúcifer é mais do que um simples símbolo – é um lembrete constante de sua busca pela luz interior, coragem para desafiar convenções e libertar-se das amarras impostas. Ele irradia uma energia transformadora e inspiradora, ajudando você a renascer e se tornar a melhor versão de si mesma." Segurei o colar nas minhas mãos, observando o sigilo desenhado sobre o broche n***o e redondo. A arte dele era muito semelhante ao brasão Scorpius. "Deixe-o guiá-lo em sua jornada pessoal de iluminação e liberdade. Deixe-se envolver pela dualidade e pelo equilíbrio que este símbolo traz, enquanto abraça sua verdadeira natureza." Não sei ao certo o que eu estava pensando ao colocar aquele cordão no meu pescoço. E quando a carta queimou diante dos meus olhos e se transformou em cinzas, temi que não tivesse feito uma boa escolha. — O café está pronto, senhorita. — Ludovica avisou, batendo na porta. Fui subitamente devolvida para o meu corpo. Para a minha consciência e sanidade. — Pode entrar. — Avisei, levantando-me depressa. A governanta entrou no cômodo e abriu as cortinas, pronta para arrumar o quarto. — Está se sentindo bem essa manhã, senhorita? — Questionou atenciosa. — Sim... Acho que sim. — Respondi confusa. — Ludovica... — Sussurrei, ganhando a atenção da senhora. — Como cheguei em casa noite passada? — O motorista do duque a trouxe. — Ela disse. Eu me atentei. — O motorista do duque? — Perguntei incerta. Ludovica assentiu, confusa. — Por que? — Eu não... Me lembrava. — Divaguei. A última coisa que me lembro foi de ter sido afogada por Leonard. O que ele fez comigo? — Você está bem? — Sim, sim. Não se preocupe. — Forcei um sorriso para confortá-la e saí do quarto. Descendo pelas escadas, avistei uma série de buquês de rosas vermelhas nas mãos dos empregados. A sala de visitas ficou repleta delas em pouco tempo. — O que é isso? — Perguntei curiosa. — Bom dia, querida. — Mamãe disse. Ela parecia animada. — Recebemos essas flores durante toda a manhã. — De quem? — Seth. — Sorriu. — Fico feliz em saber que logo estará casada com um homem tão romântico. — Comemorou. Eu fechei o rosto no mesmo instante, engolindo seco. — As mande de volta. Não as quero! — Cuspi entredentes. Mamãe me olhou com espanto, devolvendo um dos buquês para o último garçom a deixar a sala. — O que houve, querida? — Não posso me casar com Seth. — Afirmei. — É claro que pode. E irá! — Papai ordenou ao entrar de surpresa, sentando-se no sofá com seu jornal. — Não posso. Ele... Ele não é o que vocês pensam. — Disse afoita, cuspindo as palavras. Papai e mamãe me olharam com atenção. Mamãe parecia confusa e papai irritado. — O que quer dizer com isso? — Ela indagou. — Todos temos defeitos, Astryd. Vocês passarão por cima disso. — Papai disse indiferente, retomando a atenção para o jornal. — Não vamos! — Gritei. — Não vamos passar por cima disso. Eu não vou! Ele amassou o jornal, jogando em cima da mesinha de centro. — De que diabos você está falando? — Seth me estuprou! — Confessei, sentindo o choro preso na garganta outra vez. Não achei que falaria sobre isso para alguém. Principalmente, não para os meus pais. — Ele o que? — Mamãe perguntou enfurecida, vindo na minha direção. — Ele fez o que? — Repetiu. Papai ficou em silêncio por um momento. Seu olhar foi então se transformando, assumindo uma conformidade que eu não esperava que viesse dele. — Seth será seu marido muito em breve. Casais fazem essas coisas. — Disse indiferente, me deixando irritadiça. — O que está dizendo? — Mamãe intercedeu. — Ouviu o que nossa filha acabou de dizer? Ele a forçou! — Ouvi, Artemisia. E Seth é noivo de Astryd, ele tem certos direitos sobre ela. — Não acredito que está dizendo isso. — Mamãe disse inconformada. Eu não disse nada. Não consegui acreditar no que ouvia. — Pare de choramingar. Devia cumprir direito o seu papel de mãe e ensinar a nossa filha como agradar o futuro marido para que isso não aconteça outra vez. — Ele disse duro. — Não devo esperar muito de você não é mesmo? Não é capaz sequer de agradar a mim, imagine ensinar alguma coisa a alguém. Mamãe entreabriu a boca para falar algo, mas papai levantou-se depressa e deixou a sala, gritando para que não falássemos mais nem uma palavra sobre aquele assunto. Doeu quando me dei conta de que nada o faria desistir desse casamento. Pelo meu pai, eu poderia morrer nos braços de Seth contanto que ele lucrasse algum dinheiro com isso. Eu estava condenada!
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